ESMOLA OU CARIDADE ?

A revista Época (n. 541, de 29 Set 08), publicou uma matéria sob o título UMA OBRA QUE FALA AO ESPÍRITO, em que a autora faz uma leitura do filme sobre a vida do médico espírita Bezerra de Menezes e explica porque ele é hoje um fenômeno de bilheteria nos cinemas.
Na publicação seguinte (n. 542, de 16 Out 08), a revista informou que aquela matéria sobre o filme foi a mais comentada, com 30% das mensagens recebidas. Isto demonstra o grande interesse que o espiritismo desperta na população.
Mas o que me chamou mesmo atenção, foi a divulgação do comentário de um leitor, que aqui transcrevo, omitindo apenas o seu nome e estado: Essa história de que “sem caridade não há salvação” é mais um engano propagado pelo espiritismo. Nenhum ser humano pode “comprar” a salvação por esforço próprio. Deus seria injusto em não conceder a salvação para os mais carentes e, por isso, impossibilitados de praticar a caridade.
Realmente, no decorrer do filme, Bezerra de Menezes coloca que “fora da CARIDADE não há salvação”, o que é uma máxima da Doutrina Espírita. Veja que ele não disse “fora da ESMOLA não há salvação. O ENGANO esta justamente aí, e é da parte do nobre leitor da revista Época.
A ESMOLA material possui também os seus méritos. Considerada a filha da caridade, ela é exercida como um ato de compaixão e tem o objetivo claro de amainar uma situação de emergência. Por envolver, entre outras, a doações de medicamentos, vestuários, alimentos e dinheiro, ela deve ser evitada, pois humilha e degrada a pessoa que recebe. Em alguns casos, pode até levá-la ao vício de receber o que necessita, sem manifestar o interesse no trabalho enobrecedor. As pessoas que fazem a doação da esmola, por não se envolverem emocionalmente com a aflição do próximo, tendem a despertar em si os sentimentos de superioridade, orgulho e vaidade, por acharem que aliviaram a sorte de um desgraçado.
É necessário esclarecer que a prática da CARIDADE não exige recursos financeiros. Ela é maior que a esmola por ser uma virtude que aprimora, enaltece e aperfeiçoa. (1) Ela é a prática do amor e da misericórdia que não se detém diante do sacrifício. É o socorro que devemos prestar aos nossos irmãos pela inteligência, pelo coração, pela mão direita, deixando a outra na ignorância do que fez. (2).
Caridade é a doação de algo pessoal e único que trazemos dentro de nós e que somente nós podemos oferecer; é o esquecimento do eu para louvar os outros; é a anulação do direito que nos compete para consagrar o direito de alguém; é o silêncio de nossa voz para que se faça ouvir uma voz mais frágil que a nossa; é a sufocação de toda tristeza nossa para acentuar a alegria no coração de outrem...(3)
A caridade é servir sem descanso; é cooperar espontaneamente nas boas obras; é aperfeiçoar-se para ser útil; é auxiliar os parentes sem reprovação; é suportar sem revolta a bílis do companheiro; é rejubilar-se com a prosperidade do próximo; é ensurdecer-se para a difamação; é respeitar cada pessoa e cada coisa, na posição que lhe é própria...(4)
A caridade é a esmola maior que o dinheiro não consegue comprar.
Para se praticar a caridade, não é necessário comprar nada, principalmente a SALVAÇÃO, conforme mencionou em seu comentário o leitor da revista Época. Que ele possa, muito em breve, ser orientado e esclarecido pelas pessoas caridosas, para que a verdade o liberte da angústia da ignorância.
Muita Paz.
(1) XAVIER, Francisco Cândido, Lázaro Redivivo. Pelo Espírito Irmão X;
(2) ROUSTAING,J.B. Os Quatro Evangelhos;
(3) VIEIRA, Waldo, Seareiros de Volta. Diversos autores espirituais;
(4) XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas. Pelo Espírito Irmão X.