AUTISMO
TEORIAS EXPLICATIVAS
Garcia Barata
Este texto baseia-se no artigo Espelhos
Quebrados – Uma Teoria Sobre O Autismo,
escrito por Vilayanur S. Ramachandran e Lindsay M. Oberman (2006), neurocientistas da University of California/ San
Diego, e publicado na Revista Scientific American/Brasil
– Edição Especial de Aniversário/ dezembro de 2012, sendo citado como um dos dez melhores artigos científicos dos últimos dez anos.
Segundo os autores, o autismo é uma síndrome estudada pela primeira
vez no ano 1940 por dois médicos, o psiquiatra americano Leo Kanner e o pediatra
austríaco Hans Asperger, que a descreveram como um distúrbio que afeta o
desenvolvimento de milhares de crianças. Esses dois profissionais estudaram
esse transtorno separadamente (um não sabia do outro) e deram o mesmo nome - autismo, originado do grego “authos” que significa “de si mesmo”. O autismo é caracterizado, basicamente, pelo isolamento do mundo
exterior e a perda de interação social. Mantendo um padrão de sintomas
característicos, há uma variedade de graus e por isso hoje se diz “TRANSTORNOS
DO ESPECTRO DO AUTISMO”.
Desde a década de 90, cientistas da Universidade da Califórnia, em San
Diego, da Universidade de Londres, na Inglaterra e da Universidade de Parma, na
Itália, têm feito estudos em vários setores da neurociência tentado explicar
partes dos fenômenos da sintomatologia apresentada pelos autistas.
Os principais sinais clínicos da criança autista são: isolamento social,
ausência de contato visual, pobreza de expressão verbal, vocalização, inexistência
de empatia, e outros menos percebidos e não menos importantes, como dificuldade
de imitar sinais, não compreensão de metáforas e a interpretação literal das
mesmas, preocupação exagerada com coisas insignificantes (para nós), não levam
em conta aspectos sociais no seu entorno e demonstram extrema aversão a
determinados sons.
Os cientistas sabem que as causas têm propensão hereditária e que
fatores ambientais exercem importância no desenvolvimento da doença. Os neurocientistas
e estudiosos das universidades citadas apresentaram propostas de teorias para
explicar o autismo e as dividem em dois grupos: o anatômico e o psicológico. Um
terceiro grupo, o da “mãe geladeira”, baseado na ideia da frieza emocional materna
como causa da doença, foi logo rejeitado.
pré-frontal. Com a técnica da Estimulação Magnética Transcraniana, que induz correntes elétricas no córtex motor produzindo movimentos
musculares, os pesquisadores constataram movimentos menos intensos nas crianças autistas.
Embora não se saiba quais os fatores genéticos ou ambientais
de risco que impedem o desenvolvimento ou alteram o funcionamento dos
neurônios-espelho, os resultados desses estudos são a confirmação incontestável
da tese de que as pessoas com autismo sofrem de disfunção do sistema de
neurônios-espelho.
Distúrbios na fabricação de neurotransmissores,
desequilíbrios químicos intraneuronais e capacitação de receptores nas
sinapses, seriam estudos que estão em desenvolvimento pelos neurocientistas
para completar o conhecimento do autismo.
A hipótese dos neurônios-espelho não explica por si só outros
sintomas do autismo como movimentos repetitivos, contorções, ausência de
contato visual, hipersensibilidade, aversão a determinados sons.
Foi então que o grupo liderado pelo autor deste artigo (Vilayanur
S. Ramachadran), da Universidade da Califórnia, desenvolveu a Teoria do Mapa Topográfico
Emocional.
(Figura 5)
fig 5
Como funciona a resposta autonômica frente a estímulos do cotidiano e
sua valorização emocional?
Recebemos inúmeros estímulos sensoriais visuais, auditivos, gustativos,
olfatórios, que após serem processados nas áreas respectivas do córtex
cerebral, são transmitidas para a amígdala (região intracerebral) que atua como
portal do sistema límbico (unidade responsável pelas emoções). Utilizando conhecimentos
armazenados, a amígdala determina como devemos agir emocionalmente: se frente a
um ladrão – medo; se frente à pessoa amada – sensualidade; se frente a episódio
insignificante – reagimos com indiferença. Essas mensagens – medo, sensualidade
ou indiferença – atingem o sistema límbico numa reação
em cascata, chegando ao sistema nervoso autônomo
que prepara o corpo para uma ação: correr, carinho, neutralidade, por exemplo.
Com o tempo a amígdala cria um mapa topográfico emocional do ambiente interno de cada um de nós.
Os autores citados decidiram explorar a ideia de que os autistas
teriam uma conexão deformada das áreas do córtex, amígdala e sistema límbico,
comprovando hiper-reações da criança autista frente a fenômenos simplórios, triviais
ou indiferença a estímulos considerados fascinantes. Assim, um grupo de 37
crianças autistas tiveram suas respostas autonômicas
monitoradas através da condutância da pele pela sudorese. Nos
autistas, esta condutância estaria aumentada quando confrontadas com objetos e
situações simples ou estressantes que desencadeariam reações alarmantes na
resposta autonômica.
Também em situações de febre, o autista diminuía a intensidade de sua
sintomatologia. A crise convulsiva, que é comum no autista e em outras
síndromes do lobo temporal, explicaria a presença desordenada dos movimentos
corporais, pelo desordenamento dos impulsos pelas malhas neurais de conexão
entre o córtex visual e a amígdala, fortalecendo uns e enfraquecendo outros
sinais e sintomas.
A teoria do mapa topográfico emocional poderia elucidar os movimentos
corporais repetitivos e as pancadas autoinfligidas na cabeça pelas crianças
portadoras do transtorno autístico. Esses movimentos autoestimulados diminuiriam
ou atenuaria as tempestades autonômicas. A autoestimulação além do efeito
calmante, diminuiria a condutância da pele.
Essa constatação trouxe a possibilidade de uma terapia sintomatológica
para tratar o autismo. Hirstein criou um colete portátil acionado por um
medidor de condutância da pele através eletrodos. Quando a descarga autonômica
iniciava, aumentava a condutância da pele monitorada por eletrodos e disparava
um dispositivo no colete que promovia uma suave compressão no corpo da criança,
como se fosse um abraço gentil e amoroso, e assim o estímulo negativo se abrandava
ou desaparecia.
No filme autobiográfico, Temple Grandin, autista que se tornou bióloga
e engenheira, constrói uma máquina de madeira, em que ela, frente a situações
estressantes, entrava nesta e acionava gradativamente uma alavanca que promovia
uma compressão através de almofadas e a fazia se sentir protegida. Vale a pena assistir
este filme.
Os autores terminam o artigo com o seguinte parágrafo: “Nossas duas
teorias candidatas a explicar os sintomas do autismo – DISFUNÇÃO DOS NEURÔNIOS-ESPELHO
e DISTORÇÃO DO MAPA TOPOGRÁFICO EMOCIONAL – não são necessariamente opostas. É
possível que a mesma ocorrência que distorce o mapa topográfico – conexões
embaralhadas entre o sistema límbico e as demais regiões cerebrais – danifique
também os neurônios-espelho. Ou então, as conexões límbicas alteradas seriam um
efeito colateral dos mesmos genes que desencadeariam as disfunções do sistema
de neurônios-espelho. Muitos experimentos serão necessários para testar com
rigor essas hipóteses. A verdadeira causa do autismo permanece um mistério.
Enquanto ele não é desvendado, nossas especulações talvez ofereçam uma base
útil para futuras pesquisas”.
EM TEMPO
Vamos aguardar a evolução da ciência nos estudos sobre
neuroplasticidade, na capacidade neuronal de desenvolver novas sinapses,
ampliando e reverberando as informações em outros neurônios.
Outro setor que deverá ter grande desenvolvimento será o
da neurogênese. Até então se achava que o ser vivo animal (humano especificamente)
nascia e morria com o mesmo número de células neuronais (aproximadamente 100
milhões de neurônios).
Hoje, estudos e pesquisas sobre células tronco
embrionárias, consta-taram a presença de células tronco neurais localizadas em áreas
cerebrais, como no hipocampo e região periventricular, que migram para a região
do bulbo olfatório e de lá são estimulados a substituírem células nervosas,
lesadas ou envelhecidas, em outros setores do sistema cerebral.
A bioquímica intracelular tem avançado com a descoberta de
substâncias facilitadoras e desencadeadoras de estímulos (fatores de
crescimento), alterações cromossômicas nos neurônios de determinadas patologias
neurodegenerativas, proteínas que alteram o metabolismo celular e promovem
depósito de substâncias provocando a morte do neurônio, estudos dos
neuro-hormônios e seus receptores, novas drogas farmacêuticas na tentativa de
salvar o neurônio do envelhecimento, tudo isso sendo exaustivamente
pesquisado desde a década 1990.
Também grande importância tem sido dada às células da glia
(tecido de sustentação dos neurônios), principalmente os astrócitos e
oligodendrócitos, que têm função de defesa e na
facilitação de impulsos entre os circuitos neurais das
diversas áreas cerebrais.
O conhecimento das novas conquistas da ciência pode e,
sempre que possível, deve ser usado na prática do Magnetismo, ajudando assim a
favorecer a melhora do paciente.
Existem na literatura espírita, dois livros de autoria do
eminente professor e espírita Hermínio C. Miranda, Autismo – Uma Leitura
Espiritual e
Alquimia da Mente, que abordam o tema autismo sob a ótica espírita, trazendo
grandes esclarecimentos sobre seus “porquês” para facilitar nosso entendimento
acerca desse transtorno, que, segundo nos relatou Ana Vargas, é de grande
seriedade e de difícil abordagem.
Dentro da atividade do Magnetismo temos dois grupos
espíritas que trabalham no tratamento do transtorno autístico e das doenças com
distúrbio neuropsicomotor. São eles: a Sociedade de Estudos Espíritas Vida, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, sob a
orientação de Ana Vargas, e o Instituto Espírita Paulo de Tarso, em Aracaju, Sergipe, sob a atenção criteriosa de Marcella
Colocci e sua equipe.
Aqueles interessados em estabelecerem em seus núcleos de
trabalho atividades afins devem estabelecer contato com os grupos citados, a
fim de receberem orientações e observarem resultados práticos quanto às
técnicas aplicadas.
Assim sendo, aconselhamos a leitura dos livros citados e
também o contato com os responsáveis pelos dois núcleos espíritas atuantes na
causa do autismo.□
FONTES DE PESQUISA:
Revista Scientific American/Brasil – Edição Especial de Aniversário, dezembro 2012, Departamento
de Neurociência, artigo Espelhos quebrados e as
imagens do autismo, por
Vilayanur S. Ramachandran e Lindsay M. Oberman.
Revista Mente e Cérebro – edição de novembro 2007, artigo
especial Fim de um dogma: o cérebro e
refaz - novas esperanças para a cura de doenças degenerativas.
Revista Mente e Cérebro – edição de dezembro 2007, artigo
especial Emoção: a outra inteligência.
Apostila do Estudo do Passe e do Magnetismo
de Adilson Mota. adilsonmota1@gmail.com
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