“É preciso propagar a moral e a verdade.” – Mums.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA.
Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA.
Será a última? Será a mais alta expressão da Humanidade civilizada? Não.
A inteligência nem sempre constitui garantia de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades.
Por outro lado, a moralidade, isolada, muita vez pode ser incapaz.
A união dessas duas faculdades, inteligência e moralidade, é, pois, necessária para criar uma preponderância legítima, a que a massa se submeterá cegamente, porque lhe inspirará plena confiança, pelas suas luzes e pela sua justiça. Será essa a última aristocracia, a que se apresentará como consequência, ou, antes, como sinal do advento do reinado do bem na Terra. Ela se erguerá muito naturalmente pela força mesma das coisas.
Quando os homens de tal categoria forem bastante numerosos para formarem uma maioria imponente, a massa lhes confiará seus interesses.
Como vimos, todas as aristocracias tiveram sua razão de ser; nasceram do estado da Humanidade; assim há de acontecer com o que se tornará uma necessidade.
Todas preencheram ou preencherão seu tempo, conforme os países, porque nenhuma teve por base o princípio moral; só este princípio pode constituir uma supremacia durável, porque terá a animá-la sentimentos de justiça e caridade.
A essa aristocracia chamaremos: aristocracia intelecto-moral.
Mas semelhante estado de coisas será possível com o egoísmo, o orgulho, a cupidez que reinam soberanos na Terra? Respondemos claramente: sim; não só é possível, como se implantará, por ser inevitável.
Hoje, a inteligência já domina; é soberana, ninguém o pode contestar.
É tão verdade isto que já se vê o homem do povo chegar aos cargos de primeira ordem. Essa aristocracia não será mais justa, mais lógica, mais racional do que a da força bruta, do nascimento ou do dinheiro?
Por quê, então, seria impossível que se lhe juntasse a moralidade?
– Porque, dizem os pessimistas, o mal domina sobre a Terra.
– Quem, porém, ousará dizer que o bem não o suplantará um dia?
Os costumes e, por conseguinte, as instituições sociais não valem cem vezes mais hoje do que na Idade Média? Cada século não se caracteriza por um progresso?
Por que, então, a Humanidade se deteria, quando ainda tem tanto a fazer?
Por instinto natural, os homens procuram o seu bem-estar; se não o acharem completo no reino da inteligência, procurá-lo-ão em outro lugar; e onde poderão encontrá-lo, senão no reino da moralidade?
Para isso, torna-se preciso que a moralidade sobrepuje numericamente.
É incontestável que se tem que fazer muita coisa; mas, ainda uma vez, seria tola pretensão dizer-se que a Humanidade chegou ao apogeu, quando é vista a avançar continuamente pela senda do progresso.
Digamos, antes de tudo, que os bons, na Terra, não são absolutamente tão raros quanto se pensa; os maus são numerosos, é verdade; entretanto, o que faz que eles pareçam ainda mais numerosos é que têm mais audácia e sentem que essa audácia lhes é indispensável ao bom êxito.
E, contudo, compreendem de tal modo a preponderância do bem que, não podendo praticá-lo, com ele se mascaram.
Os bons, ao contrário, não fazem alarde das suas boas qualidades; como não se põem em evidência, parecem tão pouco numerosos.
Pesquisai, no entanto, os atos íntimos praticados sem ostentação e, em todas as classes da sociedade, encontrareis criaturas de natureza boa e leal em número bastante a vos tranquilizar o coração, de maneira a não desesperardes da Humanidade.
Depois, cumpre também dizê-lo, entre os maus existem muitos que o são apenas por arrastamento e que se tornarão bons, desde que submetidos a uma influência boa. Admitamos que, em 100 indivíduos, haja 25 bons e 75 maus; destes últimos, 50 o são por fraqueza e seriam bons se observassem bons exemplos e, sobretudo, se tivessem sido bem encaminhados desde a infância; dos 25 francamente maus, nem todos serão incorrigíveis.
No estado atual das coisas, os maus estão em maioria e ditam a lei aos bons. Suponhamos que uma circunstância qualquer opere a conversão de 50 por cento deles: os bons ficarão em maioria e a seu turno ditarão as leis; dos 25 outros, absolutamente maus, muitos sofrerão a influência dos bons, restando apenas alguns incorrigíveis sem preponderância.
Tomemos um exemplo para ilustrar o que acabamos de dizer: há povos no seio dos quais o assassínio e o roubo são a normalidade, constituindo o bem a exceção. Nos povos mais adiantados e mais bem governados da Europa, o crime é a exceção; acossado pelas leis, ele não exerce qualquer influência sobre a sociedade. O que nesses povos ainda predomina são os vícios de caráter: o orgulho, o egoísmo, a cupidez e todo o seu cortejo de misérias.
Por que, então, com o progresso, o vício desses povos não se tornaria a exceção, como o são hoje os crimes, ao passo que os povos inferiores alcançariam o nosso nível?
Negar a possibilidade dessa marcha ascendente seria negar o progresso.
Certamente, chegar a tal estado de coisas não pode ser obra de um dia, mas, se há uma causa capaz de apressar o seu advento, essa causa é, sem sombra de dúvida, o Espiritismo.
Fator, por excelência, da solidariedade humana, por mostrar que as provas da vida atual são a consequência lógica e racional dos atos praticados nas existências anteriores, por fazer de cada homem o artífice voluntário da sua própria felicidade, a vulgarização universal do Espiritismo terá como resultado, necessariamente, uma sensível elevação do nível moral da atualidade.
Embora apenas elaborados e coordenados, os princípios gerais da nossa filosofia já congregaram, em imponente comunhão de ideias, milhões de adeptos espalhados por toda a Terra.
Os progressos realizados pela sua influência, as transformações individuais e locais que eles têm provocado em menos de quinze anos, nos permitem apreciar as modificações imensas e radicais que operarão no futuro.
Mas, se graças ao desenvolvimento e à aceitação geral dos ensinos dos Espíritos, o nível moral da Humanidade tende constantemente a elevar-se, enganar-se-ia singularmente quem supusesse que a moralidade preponderará sobre a inteligência. O Espiritismo, com efeito, não quer que o aceitem cegamente; faz apelo à discussão e à luz.
“Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, ele diz: fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. A fé precisa de uma base e esta base consiste na inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender.” (O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Portanto, é na melhor forma de direito que podemos considerar o Espiritismo como um dos mais fortes precursores da aristocracia do futuro, isto é, da aristocracia intelecto-moral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário