4 – Fenômenos de Materialização
Vários
leitores nos fazem perguntas sobre os fenômenos de materialização de espíritos.
“Isso é verdade? Os espíritos se materializam, se tornam tangíveis e podem ser
fotografados? Esses fenômenos são de fácil obtenção? Até mesmo em círculos
incultos é possível o aparecimento de materializações legítimas? E por que o
escuro? Por que não aparecem as materializações em plena luz? Essa fotofobia
não justifica as acusações de fraude, formuladas em todos os casos?”
O problema
das materializações é realmente um dos mais complexos da ciência espírita.
Todas essas perguntas têm razão de ser. Mas, por outro lado, todas elas tem
resposta e as respostas já foram dadas há muito tempo, por investigadores
espíritas e não espíritas, alguns deles representando nomes honrosos nas
ciências materiais. Para começar, diremos que é verdade. Sim, os espíritos
realmente se materializam e, quanto a isso, não pode haver a menor dúvida, por
parte das pessoas que tenham procurado conhecer o problema. Já não somos nós,
os espíritas, que dizemos isso: são os cientistas que realizaram experiências a
respeito, no passado e no presente.
Que as
materializações são tangíveis e podem ser fotografadas, também é indiscutível.
Aí estão as experiências de Crookes e Richet; o “Tratado de Metapsíquica”, com
suas magníficas ilustrações, as investigações atuais, realizadas nos Estados
Unidos e na Europa; as experiências felizes efetuadas em nosso país. Desde o
caso célebre da médium Ana Prado, no Pará, até o das materializações luminosas
do médium Peixotinho, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, atestadas pelo
livro recente do delegado Ranieri.
Quanto à
facilidade na obtenção dos fenômenos, tudo depende, como em todos os casos em
que desejarmos “interrogar a natureza”, seja no plano das ciências materiais,
seja no Espiritismo, da existência de condições favoráveis e de aparelhagem
suficiente. Não podemos obter fenômenos de materialização se não dispusermos de
um médium especial, de um grupo de pessoas capazes de nos auxiliarem em
trabalho sério e persistente, de local adequado para as experiências. Dispondo
de todos esses elementos e, ainda, se o médium estiver em condições físicas e
psíquicas normais, obteremos os fenômenos com relativa facilidade.
A produção
desses fenômenos em círculos incultos é também possível. Acontece, porém, que
nesses círculos não há condições para verificação da legitimidade das
aparições. Por outro lado, não havendo conhecimento das dificuldades para
obtenção dos fenômenos, nem uma compreensão ampla da sua significação, esses
círculos são mais sujeitos a fraudes e mistificações, não raro produzidas pelos
próprios espíritos. A bibliografia espírita, e mesmo a não espírita, registram
numerosos casos de fenômenos de materialização em tribos selvagens. O professor
Ernesto Bozzano escreveu um belo livro a respeito, recentemente reeditado em
Verona, por Edizioni Europa, com o título: “Popoli Primitivi e Manifestazioni
Supernormali”.
No tocante
ao problema da luz, devemos acentuar que a escuridão não é condição obrigatória.
As sessões de Crookes, por exemplo, as mais importantes realizadas na Europa no
século XIX, foram quase todas com luz. Atualmente, nos Estados Unidos, segundo
relatos da sra. Marshall, para a “Revista Internacional do Espiritismo”,
numerosas experiências foram realizadas, com pleno êxito, à luz do dia. No
Brasil também há casos de materialização nessas condições.
Em geral, os
médiuns sensíveis à luz precisam submeter-se a uma espécie de treinamento, para
suportá-la. Em muitos casos, a luz afeta as formações ectoplásmicas,
prejudicando o médium, mas há o recurso de conservar-se o médium num gabinete
escuro, do qual saem as formas materializadas para uma sala com luz tênue. De
qualquer maneira, o problema da luz não justifica as acusações de fraude, pois
sabemos que muitos fenômenos químicos e biológicos somente se realizam no
escuro. As materializações envolvem melindrosos e ainda não esclarecidos
problemas nesses dois campos da ciência.
O médico
italiano Enrico Imoda efetuou numerosas experiências, na primeira década do
século XX, para obtenção de fotografias mediúnicas. Obteve êxito notável nas
sessões realizadas com a médium Linda Gazzera, uma jovem de vinte e dois anos,
e elaborou um trabalho que foi publicado logo após a sua morte, com o título de
“Fotografie di Fantasmi”. Essas fotografias foram tiradas pelo antigo sistema
de lâmpadas a magnésio, o que basta para confirmar que as formas materializadas
resistem à luz, por mais forte que esta se apresente. Embora se tratasse, em
geral, de fenômenos ideoplásticos, a prova tem o mesmo valor, pois a
ideoplastia é também materialização, não de espíritos, mas de formas mentais
produzidas pelo médium ou pelos espíritos que o assistem.
A srta.
Linda Gazzera apresentava uma mediunidade curiosa, capaz de produzir fenômenos
físicos com extrema rapidez, mal se apagava a luz. Guillaume de Fontenay,
experimentador francês que participou das sessões, observou que em menos de um
minuto os fenômenos começavam a produzir-se, de maneira intensa e variada.
Entretanto, a médium não suportava a luz e o seu guia espiritual, Vincenzo,
exigia sempre que se fizesse plena escuridão na sala de trabalhos. Fontenay
entendia que essa fotofobia da médium podia ser vencida aos poucos. De qualquer
maneira, os fenômenos obtidos por Imoda, e depois também por richet, com Linda
Gazzera, provam a excelência dos seus dons mediúnicos.
Temos,
portanto, dois casos clássicos de materializações que se realizavam em condições
contrárias: o de William Crookes, com a jovem médium Florence Cook, cujas
aparições se produziam com luz, e o de Enrico Imoda, com linda Gazzera, que
exigia escuridão. Vê-se que o problema da luz está ligado, de certa forma, às
condições pessoais do médium, seja no plano psíquico, seja no fisiológico.
Outras numerosas experiências, e várias ocorrências de aparições espontâneas em
pleno dia, mostram que não há uma fotofobia generalizada, nos casos de
materialização. Não se pode dizer, portanto, que o escuro seja condição
essencial para a produção dos fenômenos, que podem realizar-se também em plena
luz.
Guillaume de
Fontenay, que foi vice-presidente da Seção de Paris da Sociedade Universal de
Estudos Psíquicos, formulou uma curiosa teoria sobre os fenômenos de materialização.
Segundo essa teoria, os fenômenos apresentam vários estados, dos quais se
destacam três fundamentais. Desses três, os dois primeiros podem ser
considerados como estágios, como fases preparatórias da materialização
completa. Parece que a luz exerce influência negativa apenas no primeiro
estágio. A teoria de Fontenay foi confirmada por experiências de Ochorowicz em
Varsóvia, com a médium Stanislawa. Fontenay, pelo menos, assim considerou o
resultado daquelas experiências.
Em carta
dirigida a Demaison, e publicada no livro de Enrico Imoda, “Fotografie di Fantasmi”
(Edições Fratelli Bocca, Turim, 1912), Fontenay expõe a sua teoria nos
seguintes termos: “Considero que as materializações de formas apresentam vários
estados. O primeiro – e o segundo, creio –, o mais fácil de obter-se, é o
estado em que elas são tangíveis, consistentes, capazes de se moverem e de
movimentar objetos, mas permanecem invisíveis, mesmo em plena luz. Num segundo
estado, as formas materializadas são, ao contrário, visíveis, mas inconsistentes.
Pode-se atravessá-las com a mão, sem experimentar nenhuma sensação tátil, a não
ser, por vezes, a que alguns observadores chamaram “sensação de teia de
aranha”. Afinal, num terceiro estado, que parece ser o mais difícil de
obter-se, a materialização se completa, o que quer dizer que as formas criadas
revestem todos os atributos normais da matéria: consistência, poder mecânico,
visibilidade.”
Essas
explicações de Fontenay, segundo nos parece, respondem às perguntas de vários
leitores sobre o problema da luz nos fenômenos de materialização. Ao caso
particular de Linda Gazzera, a teoria se aplica de maneira admirável. Linda não
tolerava a luz, mas os fenômenos produzidos pela sua mediunidade apresentavam
mobilidade, força mecânica e consistência. Daí a conclusão de Fontenay, de que
a médium podia desenvolver a capacidade de produzir fenômenos completos em
plena luz.
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