PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quarta-feira, agosto 12, 2015

ADÃO E O PARAÍSO NA CONCEPÇÃO ESPÍRITA

Consultando O Livro dos Espíritos, obra básica do Espiritismo, na questão 50 – Povoamento da Terra, Adão – percebemos o gênio curioso de Allan Kardec, ao fazer aos Espíritos esta pergunta: “A espécie humana começou por um único homem?” Em resposta, os mensageiros espirituais esclarecem: “Não, aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra.
Como vemos, a resposta dos Espíritos é clara e objetiva. Não deixa margem à dúbia interpretação.
  Assim, as crenças religiosas que fundamentam seus princípios doutrinários na Bíblia devem ter muita cautela. Porque os textos bíblicos interpretados ao pé da letra podem nos conduzir ao fanatismo, que ao longo dos séculos tem sido motivo de rivalidades, perseguições e guerras entre as religiões que se dizem cristãs.
   Em primeiro lugar, diríamos que incorreria em absurdo equívoco toda criatura que considerasse a Bíblia como sagrada, por ser ela a palavra  de Deus. Afirmaríamos, simplesmente, que esse livro não é santo, nem tampouco representa a palavra do Senhor de tudo e de todas as coisas. Desse modo, quem a estudar com atenção e senso crítico constatará que ela é contraditória (ou aparentemente contraditória ) em algumas de suas partes.
  Para confirmação do que afirmamos, basta este exemplo:  Gênesis, primeiro livro do Pentateuco de Moisés, reza que o primeiro homem a povoar a Terra foi Adão. Depois, tirou-se-lhe uma costela para formação de Eva. Após esse acontecimento, nasceram seus dois primeiros filhos, Caim e Abel. Logo, naquela longínqua época, havia somente quatro pessoas. Caim matou  Abel, ficaram apenas três criaturas. Caim, envergonhado, fugiu para outras terras e, lá encontrou uma jovem com quem casou e formou família. ( Gênesis: cap. 2 a 5 ).
Agora, uma pergunta: a jovem tinha pais, avós, bisavós... De onde veio esse povo?
Eis aí, pois, a frontal contradição.
O Livro dos Espíritos (LE) tem razão ao afirmar que Adão não foi o primeiro nem o único a povoar o mundo.
Com as luzes da Filosofia espírita, apoiada pelas pesquisas científicas, hoje sabemos que a raça humana surgiu em diversas partes do Planeta e em diferentes épocas, fato causal que vem confirmar as teorias da diversidade das raças. E, como é lógico, do entrecruzamento das raças, surgiram outros modelos raciais (LE, questão 53 ).
Dessa forma, bom seria que, com o Espiritismo, considerássemos os personagens Adão e Eva, bem como os seis dias da criação do mundo, o paraíso, a serpente, a maça, etc., como seres se lugares, acontecimentos e coisas mitológicas ou lendários, já que a Bíblia se constitui verdadeiro celeiro de alegorias. Alegorias, por trás das quais se ocultam grandes verdades.

VAMOS QUESTIONAR?

Retirando a capa que envolve as alegorias, as figuras Adão e Eva não representariam a Humanidade? Os seis dias da Criação não seriam as primeiras idades do planeta Terra e, em seu conjunto, um longo período de milhões de anos como preparação para surgirem os seres vivos? O paraíso, alegoricamente falando, não representaria um planeta superior, de onde emigrou parte da raça humana? A serpente não seria  a personificação do mal em geral, sendo a maça a alegoria dos arrastamentos ao mal?
Segundo a Bíblia, Deus expulsou Adão do Éden, por desobediência, e pôs um anjo com espada para guardar o paraíso. Para explicar esse fato, passamos a palavra ao mestre Allan Kardec, que, em seu livro A Gênese ( Ed. FEB, cap. XII, item 23), afirma: “O paraíso terrestre, cujos vestígios têm sido inutilmente procurados na Terra, era, por conseguinte, a figura do mundo ditoso, onde vivera Adão, ou, antes, a raça dos Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o momento em que esses Espíritos vieram encarnar entre os habitantes do mundo terráqueo e a mudança de situação foi a conseqüência da expulsão. O ajo que, empunhando um espada flamejante, veda a entrada do paraíso simboliza a impossibilidade em que se acham os Espíritos dos mundos inferiores, de penetrar nos mundos superiores, antes que o mereçam pela sua depuração.”
Confirmando as interpretações de Allan Kardec, acima, o guia espiritual de Chico Xavier, o venerável Espírito Emmanuel, em seu A Caminho da Luz ( Ed. FEB ), explica que o paraíso da Bíblia, do qual, simbolicamente, a figura lendária de Adão fora expulsa por Javé, representa a expulsão de milhares de Espíritos rebeldes de um planeta que pertence ao sol Capela, distante da Terra cerca de 42 anos-luz.
Segundo ainda informações desse elevado Espírito, aqueles Espíritos, como exilados, reencarnaram em nosso mundo e, assim, formaram a raça adâmica.
É importante assinalar que esse fato não ocorre apenas há quatro mil anos antes do Cristo, como indica a Bíblia. A idade exata perde-se na noite dos tempos. Isto significa que muito antes do personagem Adão – ou pessoa mitológica -, já existiam homens espalhados por diversas localidades do Planeta. É o que também confirma a Ciência, através das escavações, pesquisas e estudos dos fósseis, como afirma Allan Kardec.
Além dessa sensata afirmativa, o Codificador do Espiritismo diz que tal idéia não e nova, acrescentando: “La Peyrère, sábio teólogo do século dezessete, em seu livro Preadamitas, escrito em latim e publicado em 1655, extraiu do texto original da Bíblia, adulterado pelas traduções, a prova evidente de que a Terra era habitada antes da vinda de Adão e essa opinião e hoje a de muitos eclesiásticos esclarecidos.” ( A Gênese, cap. XII – nota do item 25)
Em nossa atualidade, se enxergarmos a realidade com a visão espiritual, verificamos que muitos teólogos, em nome da religião, têm empreendido mudanças em suas mentalidades. Citemos como exemplo o Papa João Paulo II que, recentemente, aboliu o dogma “céu, inferno e purgatório”. Em seu fundamento, alegou que esse dogma é mero estado da alma de cada criatura. Portanto, não faz mais arte da lista dos dogmas da Igreja Católica Romana.
Assim, pouco a pouco, as religiões irão fazendo suas necessárias e úteis transformações, ajustando-se melhor aos ensinamentos do Cristo.
Por tudo isso, pode-se afirmar que estamos no fim dos tempos? Claro que não! Segundo os Evangelhos, estamos apenas no começo das mudanças.
Com relação a Eva, que segundo o texto bíblico teria sido formada de uma costela de seu companheiro Adão, também é outra alegoria. Allan Kardec explica: “(...) aparentemente pueril, se admitida ao pé da  letra, mas profunda, quanto ao sentido. Tem por fim mostrar que a mulher é da mesma  natureza que o homem, que é por conseguinte igual a este perante Deus e não uma criatura à parte, feita para ser escravizada e tratada qual hilota”. ( A Gênese, cap. XII, item 11. )
Allan Kardec, no mesmo raciocínio interpretativo, vai mais além: “(...) Tendo-a como saída da própria carne do homem, a imagem da igualdade é bem mais expressiva,  do que se ela for tida como formada, separadamente, do mesmo limo. Equivale a dizer ao homem que ela é sua igual e não sua escrava, e ele a deve amar como parte de si mesmo.” (Idem).
Por tudo isso se vê, mais uma vez, que a Bíblia está envolta num manto de alegorias, que precisa de interpretações e esclarecimentos à luz da Doutrina Espírita.
           

( Reformador – fevereiro de 2003 – Severino Barbosa )

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