Consultando O Livro dos Espíritos, obra básica do
Espiritismo, na questão 50 – Povoamento da Terra, Adão – percebemos o gênio
curioso de Allan Kardec, ao fazer aos Espíritos esta pergunta: “A espécie
humana começou por um único homem?” Em resposta, os mensageiros espirituais
esclarecem: “Não, aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único a
povoar a Terra.
Como
vemos, a resposta dos Espíritos é clara e objetiva. Não deixa margem à dúbia
interpretação.
Assim,
as crenças religiosas que fundamentam seus princípios doutrinários na Bíblia
devem ter muita cautela. Porque os textos bíblicos interpretados ao pé da letra
podem nos conduzir ao fanatismo, que ao longo dos séculos tem sido motivo de
rivalidades, perseguições e guerras entre as religiões que se dizem cristãs.
Em
primeiro lugar, diríamos que incorreria em absurdo equívoco toda criatura que
considerasse a Bíblia como sagrada, por ser ela a palavra de Deus. Afirmaríamos, simplesmente, que esse
livro não é santo, nem tampouco representa a palavra do Senhor de tudo e de
todas as coisas. Desse modo, quem a estudar com atenção e senso crítico
constatará que ela é contraditória (ou aparentemente
contraditória ) em algumas de suas partes.
Para
confirmação do que afirmamos, basta este exemplo: Gênesis, primeiro livro do Pentateuco
de Moisés, reza que o primeiro homem a povoar a Terra foi Adão. Depois,
tirou-se-lhe uma costela para formação de Eva. Após esse acontecimento,
nasceram seus dois primeiros filhos, Caim e Abel. Logo, naquela longínqua
época, havia somente quatro pessoas. Caim matou
Abel, ficaram apenas três criaturas. Caim, envergonhado, fugiu para
outras terras e, lá encontrou uma jovem com quem casou e formou família. ( Gênesis:
cap. 2 a 5
).
Agora,
uma pergunta: a jovem tinha pais, avós, bisavós... De onde veio esse povo?
Eis
aí, pois, a frontal contradição.
O
Livro dos Espíritos (LE) tem razão ao afirmar que Adão não foi o primeiro nem o
único a povoar o mundo.
Com
as luzes da Filosofia espírita, apoiada pelas pesquisas científicas, hoje
sabemos que a raça humana surgiu em diversas partes do Planeta e em diferentes
épocas, fato causal que vem confirmar as teorias da diversidade das raças. E,
como é lógico, do entrecruzamento das raças, surgiram outros modelos raciais
(LE, questão 53 ).
Dessa
forma, bom seria que, com o Espiritismo, considerássemos os personagens Adão e
Eva, bem como os seis dias da criação do mundo, o paraíso, a serpente, a maça,
etc., como seres se lugares, acontecimentos e coisas mitológicas ou lendários,
já que a Bíblia se constitui verdadeiro celeiro de alegorias. Alegorias, por
trás das quais se ocultam grandes verdades.
VAMOS QUESTIONAR?
Retirando
a capa que envolve as alegorias, as figuras Adão e Eva não representariam a Humanidade? Os seis dias da Criação não
seriam as primeiras idades do planeta
Terra e, em seu conjunto, um longo período de milhões de anos como
preparação para surgirem os seres vivos? O paraíso, alegoricamente falando, não representaria um planeta superior, de onde emigrou
parte da raça humana? A serpente não
seria a personificação do mal em geral, sendo a maça a alegoria dos arrastamentos ao mal?
Segundo
a Bíblia, Deus expulsou Adão do Éden, por desobediência, e pôs um anjo com
espada para guardar o paraíso. Para explicar esse fato, passamos a palavra ao
mestre Allan Kardec, que, em seu livro A Gênese ( Ed. FEB, cap. XII, item 23),
afirma: “O paraíso terrestre, cujos vestígios têm sido inutilmente procurados na
Terra, era, por conseguinte, a figura do mundo ditoso, onde vivera Adão, ou,
antes, a raça dos Espíritos que ele personifica. A expulsão do paraíso marca o
momento em que esses Espíritos vieram encarnar entre os habitantes do mundo
terráqueo e a mudança de situação foi a conseqüência da expulsão. O ajo que,
empunhando um espada flamejante, veda a entrada do paraíso simboliza a
impossibilidade em que se acham os Espíritos dos mundos inferiores, de penetrar
nos mundos superiores, antes que o mereçam pela sua depuração.”
Confirmando
as interpretações de Allan Kardec, acima, o guia espiritual de Chico
Xavier, o venerável Espírito
Emmanuel, em seu A
Caminho da Luz ( Ed. FEB ), explica que o paraíso da Bíblia, do qual,
simbolicamente, a figura lendária de Adão fora expulsa por Javé, representa a expulsão de milhares de Espíritos rebeldes
de um planeta que pertence ao sol Capela, distante da Terra cerca de 42
anos-luz.
Segundo ainda informações desse elevado
Espírito, aqueles Espíritos, como exilados, reencarnaram em nosso mundo e,
assim, formaram a raça adâmica.
É importante assinalar que esse fato não
ocorre apenas há quatro mil anos antes do Cristo, como indica a Bíblia. A idade
exata perde-se na noite dos tempos. Isto significa que muito antes do
personagem Adão – ou pessoa mitológica -, já existiam homens espalhados por
diversas localidades do Planeta. É o que também confirma a Ciência, através das
escavações, pesquisas e estudos dos fósseis, como afirma Allan Kardec.
Além
dessa sensata afirmativa, o Codificador do Espiritismo diz que tal idéia não e
nova, acrescentando: “La
Peyrère , sábio teólogo do século dezessete, em seu livro
Preadamitas, escrito em latim e publicado em 1655, extraiu do texto original da
Bíblia, adulterado pelas traduções, a prova evidente de que a Terra era
habitada antes da vinda de Adão e essa opinião e hoje a de muitos eclesiásticos
esclarecidos.” ( A Gênese, cap. XII – nota do item 25)
Em
nossa atualidade, se enxergarmos a realidade com a visão espiritual,
verificamos que muitos teólogos, em nome da religião, têm empreendido mudanças
em suas mentalidades. Citemos como exemplo o Papa João Paulo II que,
recentemente, aboliu o dogma “céu,
inferno e purgatório”. Em seu fundamento, alegou que esse dogma é mero
estado da alma de cada criatura. Portanto, não faz mais arte da lista dos
dogmas da Igreja Católica Romana.
Assim,
pouco a pouco, as religiões irão fazendo suas necessárias e úteis
transformações, ajustando-se melhor aos ensinamentos do Cristo.
Por
tudo isso, pode-se afirmar que estamos no fim dos tempos? Claro que não!
Segundo os Evangelhos, estamos apenas no começo das mudanças.
Com
relação a Eva, que segundo o texto bíblico teria sido formada de uma costela de
seu companheiro Adão, também é outra alegoria. Allan Kardec explica: “(...)
aparentemente pueril, se admitida ao pé da letra, mas
profunda, quanto ao sentido. Tem por fim mostrar que a mulher é da mesma natureza que o homem, que é por conseguinte
igual a este perante Deus e não uma criatura à parte, feita para ser
escravizada e tratada qual hilota”. ( A Gênese, cap. XII, item 11. )
Allan
Kardec, no mesmo raciocínio interpretativo, vai mais além: “(...) Tendo-a como
saída da própria carne do homem, a imagem da igualdade é bem mais expressiva, do que se ela for tida como formada,
separadamente, do mesmo limo. Equivale a dizer ao homem que ela é sua igual e
não sua escrava, e ele a deve amar como parte de si mesmo.” (Idem).
Por
tudo isso se vê, mais uma vez, que a Bíblia está envolta num manto de
alegorias, que precisa de interpretações e esclarecimentos à luz da Doutrina
Espírita.
( Reformador –
fevereiro de 2003 – Severino Barbosa )
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