PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quinta-feira, agosto 13, 2015

OS TRÊS CAMINHOS DE HÉCATE -- J. HERCULANO PIRES

 12 – Cristianismo do Cristo

A posição do Espiritismo no mundo atual é das mais curiosas. Certas pessoas o consideram tão elevado, tão puro, tão exigente no plano moral, que confessam: “Não posso me dizer espírita, pois ainda não atingi a perfeição necessária”. Outras, pelo contrário, sentem arrepios ao simples enunciar do nome da doutrina, pois entendem que Espiritismo é coisa diabólica, imoral, detestável. Entre os intelectuais, uns declaram enfaticamente: “Espiritismo é ciência; o vulgo não pode entendê-lo”. Outros, porém, o desprezam: “Nada tem de científico, pois é simples superstição, sem conteúdo e sem base”.
De vez em quando aparecem figuras de destaque, nos meios científicos ou clericais, revestidas de títulos pomposos, afirmando que os fatos espíritas não passam de trapaças ou de ocorrências de natureza puramente hipnótica. Escrevem livros, fazem conferências, dão entrevistas e chegam a praticar exibições hipnóticas em teatros e estações de televisão, para “provar” que o Espiritismo não existe. Ao mesmo tempo, figuras de destaque, inclusive nos meios clericais, reprovam essas atitudes e entendem que os fatos espíritas merecem maior atenção, maior cuidado no seu trato, não podendo ser confundidos com fenômenos comuns de sugestão e hipnotismo.
Em meio a essas contradições, o espírito do povo poderia sentir-se perplexo. Entretanto, o que se nota é que a perplexidade pertence mais às elites, pois o povo compreende pouco das altas disputas dos “doutores” e está acostumado a espetáculos de toda espécie. Longe de aceitar sugestões perturbadoras, o povo, na sua simplicidade e pureza de coração e entendimento, prefere decidir pela sua própria experiência e esta lhe mostra, dia a dia, que os fatos espíritas são realidades inegáveis e que o Espiritismo é, antes de tudo, uma doutrina consoladora, que tanto socorre as necessidades do homem encarnado, quanto ilumina o espírito a respeito dos problemas que ele terá de enfrentar após a morte.
Essa curiosa situação do Espiritismo lembra exatamente o que aconteceu com o Cristianismo no mundo antigo. O apóstolo Paulo – que era um “apóstolo espiritual”, pois só se converteu e seguiu a Jesus graças a um fato mediúnico –, escreveu que os cristãos pregavam uma doutrina que era “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”. Porque pregavam a Cristo crucificado, num mundo em que o importante era a vitória social do homem. E judeus, gregos e romanos, cheios de ambição e vaidade, apegados aos seus preconceitos religiosos e culturais, consideravam o Cristianismo uma heresia obscura e uma religião de escravos. Apesar disso, a mensagem cristã espalhou-se no meio do povo, produziu os seus efeitos e transformou o mundo.
Pouco importa que os poderosos de hoje, como Paulo antes do episódio mediúnico da Estrada de Damasco, cheios de sabedoria mundana, de ciência imprecisa ou de intransigência dogmática, lutem contra o Espiritismo. A doutrina nascente encerra em seus princípios todos os germes de um mundo novo, que em breve se firmará sobre a Terra. Traz com ela uma nova ciência, uma nova filosofia e uma nova religião. Sua força renovadora é, portanto, imensa e seu processo de penetração é o mesmo da fonte poderosa em que hauriu os seus princípios: o Cristianismo do Cristo, e não o dos seus intérpretes.
Não se inquietem, pois, os meios espíritas, com as ondas de combate à doutrina, que de vez em quando agitam o mundinho estreito do meio em que vivemos. Não se combate senão o que constitui uma ameaça, o que representa alguma coisa. O Espiritismo é combatido justamente por ameaçar os erros dominantes em todos os setores do pensamento contemporâneo, como o Cristianismo combatia os do mundo antigo. Mas, na sua qualidade de prolongamento histórico, e portanto natural e necessário, do Cristianismo, possui o Espiritismo o mesmo impulso dinâmico que levou aquele à vitória.
A mensagem espírita, que é mensagem cristã renovada pelo Consolador, penetra sutilmente nas consciências e nos corações, pelo simples fato de corresponder plenamente aos mais profundos anseios das almas, nesta hora de transição da vida na Terra.
Porque um novo Céu e uma nova Terra estão sendo elaborados, segundo a profecia apocalíptica, e o Espiritismo é a mensagem nova do Cristo aos corações que sonham com um mundo melhor e mais belo. Não importa que haja os que esbravejam contra a alvorada nascente. O sol nunca pediu licença para nascer e iluminar o mundo. Não importa que haja vacilantes e inquietos. Os ventos novos de um novo dia sopram rajadas de coragem e serenidade, nos rumos do futuro.


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