A CAMINHO DA LUZ
HISTÓRIA DA
CIVILIZAÇÃO À LUZ DO
ESPIRITISMO
“ A VINDA DE JESUS ”
FRANCISCO CÂNDIDO
XAVIER
DITADA PELO
ESPÍRITO – EMMANUEL
A MANJEDOURA
A manjedoura assinalava o ponto
inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade
representa a chave de todas as virtudes.
Começava a era definitiva da
maioridade espiritual da Humanidade terrestre, de vez que Jesus, com a sua
exemplificação divina, entregaria o código da fraternidade e do amor a todos os
corações.
Debalde os escritores
materialistas de todos os tempos vulgarizaram o grande acontecimento,
ironizando os altos fenômenos mediúnicos que o precederam. As figuras de
Simeão, Ana, Isabel, João Batista, José, bem como a personalidade sublimada de
Maria, têm sido muitas vezes objeto de observações injustas e maliciosas; mas
a realidade é que somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova,
portadores da contribuição de fervor, crença e vida, poderia Jesus
lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável.
O CRISTO E OS ESSÊNIOS
Muitos séculos depois da sua
exemplificação incompreendida, há quem o veja entre os essênios, aprendendo as
suas doutrinas, antes do seu messianismo de amor e de redenção. As próprias
esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se
acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado
dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões
contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.
O Mestre, porém, não obstante a
elevada cultura das escolas essênias, não necessitou da sua contribuição.
Desde os seus primeiros dias na Terra, mostrou-se tal qual era, com a
superioridade que o planeta lhe conheceu desde os tempos longínquos do
princípio.
CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS DE
ISRAEL
Do seu divino apostolado nada nos
compete dizer em acréscimo das tradições que a cultura evangélica
apresentou em todos os séculos posteriores à sua vinda à Terra, reafirmando,
todavia, que a sua lição de amor e de humildade foi única em todos os tempos da
Humanidade.
Dele asseveraram os profetas de
Israel, muito tempo antes da manjedoura e do calvário: - "Levantar-se-á
como um arbusto verde, vivendo na ingratidão de um solo árido, onde não
haverá graça nem beleza.
Carregado de opróbrios e
desprezado dos homens, todos lhe voltarão o rosto. Coberto de ignomínias, não
merecerá consideração.
É que Ele carregará o fardo
pesado de nossas culpas e de nossos sofrimentos, tomando sobre si todas as
nossas dores. Presumireis na sua figura um homem vergando ao peso da cólera de
Deus, mas serão os nossos pecados que o cobrirão de chagas sanguinolentas e as
suas feridas hão de ser a nossa redenção. Somos um imenso rebanho
desgarrado, mas, para nos reunir no caminho de Deus, Ele sofrerá o peso das
nossas iniquidades. Humilhado e ferido, não soltará o mais leve queixume,
deixando-se conduzir como um cordeiro ao sacrifício.
O seu túmulo passará como o de um
malvado e a sua morte como a de um ímpio.
Mas, desde o momento em que
oferecer a sua vida, verá nascer uma posteridade e os interesses de Deus
hão de prosperar nas suas mãos."
A GRANDE LIÇÃO
Sim, o mundo era um imenso
rebanho desgarrado. Cada povo fazia da religião uma nova fonte de
vaidades, salientando-se que muitos cultos religiosos do Oriente
caminhavam para o terreno franco da dissolução e da imoralidade; mas o Cristo
vinha trazer ao mundo os fundamentos eternos da verdade e do amor.
Sua palavra, mansa e generosa, reunia
todos os infortunados e todos os pecadores.
Escolheu os ambientes mais pobres e
mais desataviados para viver a intensidade de suas lições sublimes, mostrando
aos homens que a verdade dispensava o cenário suntuoso dos areópagos, dos
fóruns e dos templos, para fazer-se ouvir na sua misteriosa beleza. Suas
pregações, na praça pública, verificam-se a propósito dos seres mais
desprotegidos e desclassificados, como a demonstrar que a sua palavra
vinha reunir todas as criaturas na mesma vibração de fraternidade e na
mesma estrada luminosa do amor.
Combateu pacificamente todas as
violências oficiais do judaísmo, renovando a Lei Antiga com a doutrina do
esclarecimento, da tolerância e do perdão. Espalhou as mais claras visões da
vida imortal, ensinando às criaturas terrestres que existe algo superior às
pátrias, às bandeiras, ao sangue e às leis humanas. Sua palavra profunda,
enérgica e misericordiosa, refundiu todas as filosofias, aclarou o caminho das
ciências e já teria irmanado todas as religiões da Terra, se a impiedade dos
homens não fizesse valer o peso da iniquidade na balança da redenção.
A PALAVRA DIVINA
Não nos compete fornecer uma nova
interpretação das palavras eternas do Cristo, nos Evangelhos. Semelhante
interpretação está feita por quase todas as escolas religiosas do mundo,
competindo apenas às suas comunidades e aos seus adeptos a observação do
ensino imortal, aplicando-a a si próprios, no mecanismo da vida de
relação, de modo que se verifique a renovação geral, na sublime
exemplificação, porque, se a manjedoura e a cruz constituem ensinamento
inolvidável, muito mais devem representar, para nós outros, os exemplos do
Divino Mestre, no seu trato com as vicissitudes da vida terrestre.
De suas lições inesquecíveis,
decorrem consequências para todos os departamentos da existência planetária, no
sentido de se renovarem os institutos sociais e políticos da Humanidade, com a
transformação moral dos homens dentro de uma nova era de justiça econômica e de
concórdia universal.
Pode parecer que as conquistas do
verdadeiro Cristianismo sejam ainda remotas, em face das doutrinas
imperialistas da atualidade, mas é preciso reconhecer que dois mil anos já
dobaram sobre a palavra divina.
Dois mil anos em que os homens se
estraçalharam em seu nome, inventando bandeiras de separatividade e
destruição. Incendiaram e trucidaram, em nome dos seus ensinos de perdão e de
amor, massacrando esperanças em todos os corações. Contudo, o século que passa
deve assinalar uma transformação visceral nos departamentos da vida. A dor
completará as obras generosas da verdade cristã, porque os homens repeliram o
amor em suas cogitações de progresso.
CREPÚSCULO DE UMA CIVILIZAÇÃO
Uma nuvem de fumo vem-se formando, há
muito tempo, nos horizontes da Terra cheia de indústrias de morte e destruição.
Todos os países são convocados a
conferirem os valores da maturação espiritual da Humanidade, verificada no orbe
há dois milênios.
O progresso científico dos povos e as
suas mais nobres e generosas conquistas são reclamados pelo banquete do
morticínio e da ambição, e, enquanto a política do mundo se sente manietada
ante os dolorosos fenômenos do século, registram-se nos espaços novas
atividades de trabalho, porque a direção da Terra está nas mãos misericordiosas
e augustas do Cordeiro.
O EXEMPLO DO CRISTO
Sem nos referirmos, porém, aos
problemas da política transitória do mundo, lembremos, ainda, que a lição do
Cristo ficou para sempre na Terra, como o tesouro de todos os infortunados e de
todos os desvalidos.
Sua palavra construiu a fé nas almas
humanas, fazendo-lhes entrever os seus gloriosos destinos. Haja necessidade e
tornaremos a ver a crença e a esperança reunindo-se em novas catacumbas
romanas, para reerguerem o sentido cristão da civilização da
Humanidade.
É, muitas vezes, nos corações humildes
e aflitos que vamos encontrar a divina palavra cantando o hino maravilhoso dos
bem aventurados.
E, para fechar este capítulo, lembrando
a influência do Divino Mestre em todos os corações sofredores da Terra,
recordemos o episódio do monge de Manilha, que, acusado de tramar a liberdade
de sua pátria contra o jugo dos espanhóis, é condenado à morte e conduzido ao
cadafalso.
No instante do suplício, soluça
desesperadamente o mísero condenado - "Como, pois, será possível que eu
morra assim inocente?
Onde está a justiça? Que fiz eu para
merecer tão horrendo suplício?"
Mas um companheiro corre ao seu
encontro e murmura-lhe aos ouvidos: - "Jesus também era inocente!..."
Passa, então, pelos olhos da vítima, um
clarão de misteriosa beleza.
Secam-se as lágrimas e a serenidade lhe
volta ao semblante macerado, e, quando o carrasco lhe pede perdão, antes de
apertar o parafuso sinistro, ei-lo que responde resignado: - "Meu filho,
não só te perdoo como ainda te peço cumpras o teu dever."
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