Francisco
Cândido Xavier – Parnaso de Além-Túmulo
De pé, os mortos!
Pede-me você uma palavra para o introito
do “Parnaso de Além-Túmulo”, que aparecerá brevemente em nova edição[4].
A tarefa é difícil. Nas minhas atuais
condições de vida, tenho de destoar da opinião que já expendi nas contingências
da carne.
Os vivos do Além e os vivos da Terra
não podem enxergar as coisas através de prismas idênticos. Imagine se o
aparelho visual do homem fosse acomodado, segundo a potencialidade dos raios X:
as cidades estariam povoadas de esqueletos, os campos se apresentariam como
desertos, o mundo constituiria um conjunto de aspectos inverossímeis e
inesperados.
Cada esfera da vida está subordinada a
certo determinismo, no domínio do conhecimento e da sensação.
Decerto, os que receberem novamente o
“Parnaso de Além-Túmulo” dirão mais ou menos
O que eu disse[5]. Hão de estranhar que os
mortos prossigam com as mesmas tendências, tangendo os mesmos assuntos que aí
constituíam a série de suas preocupações.
Existem até os que reclamam contra a
nossa liberdade. Desejariam que estivéssemos algemados nos tormentos do
inferno, em recompensa dos nossos desequilíbrios no mundo, como se os nossos amargores,
daí não bastassem para nos inclinar à verdade compassiva.
Individualmente, é indubitável que
possuímos no Além o reflexo das nossas virtudes ou das nossas misérias.
Mas é razoável que apareçamos no mundo,
gritando como alucinados?
Os habitantes dos reinos da Morte ainda
apreciam o decoro e a decência, e o nosso presente é sempre a experiência do
passado e a esperança no futuro.
“Parnaso de Além-Túmulo” sairá de novo,
como a mensagem harmoniosa dos poetas que amaram e sofreram. Cármen Cinira aí está
com os seus sonhos desfeitos, de mulher e de menina. Casimiro com a sua
sensibilidade infantil, Junqueiro com a sua ironia, Antero com a sua rima
austera e dolorosa.
Todos aí estão dentro das suas
características.
Os mortos falam e a Humanidade está
ansiosa, aguardando a sua palavra.
Conta-se que na guerra russo japonesa,
terminada a batalha de Tsushima, o grande Togo reuniu os seus soldados no
cemitério de Oogama, e na tristeza majestosa do ambiente. em nome da nacionalidade,
dirigiu-se aos mortos em termos comovedores; concitou-os a auxiliar as manobras
militares, a visitar os cruzadores de guerra, levantando o ânimo dos
companheiros que haviam ficado nas pelejas.
Uma claridade nova cantou as energias
espirituais do valente adversário da pátria de Stoessel e os filhos de Yoritomo
venceram.
Na atualidade, afigurasse-nos que os
brados de todos os sofredores e infelizes da Terra se concentram numa súplica
grandiosa que invade as vastidões como o grito do valoroso almirante.
De pé, os mortos!... – exclama-se – porque os
vivos da Terra se perdem nos abismos tenebrosos.
Os institutos da Civilização têm sido
impotentes para resolver o problema do nosso ser e dos nossos destinos.
As filosofias e as religiões estenderam
sobre nós o manto carinhoso das suas concepções, mas esses mantos estão
rotos!...
Temos frio, temos fome, temos sede!
E os considerados mortos falam ao mundo
na sua linguagem de estranha purificação. A Ciência, zelosa de suas
conquistas, ainda não ouviu a sua vibração misteriosa, mas os filhos do infortúnio
sentem se envolvidos na onda divina de um novo Glória in excelsis, e a Humanidade sofredora sente-se no caminho
consolador da sublime esperança.
Humberto de Campos[6] (Espírito)
[4]
Refere-se
à 2ª edição, publicada em 1935. (Nota da Editora)
[5]
Alude
às crônicas que ele, quando encarnado, escrevera no Diário Carioca, em julho de
1932, ao surgir a 1ª edição do Parnaso. (Nota da Editora.)
[6]
HUMBERTO DE
CAMPOS Veras, escritor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras,
nascido em Miritiba (hoje Humberto de Campos), MA, em 1886, e desencarnado no
Rio de Janeiro, em 1934. Foi jornalista e deputado federal. Produção literária
variada quão vultosa, conheceu em vida física a 1ª edição do Parnaso de Além Túmulo,
manifestando-se a respeito dela pelo “Diário Carioca”, edições de 10 e 12 de
julho de 1932, com os artigos intitulados “Poetas do outro mundo” e “Como
cantam os mortos” (apud “A Psicografia ante os Tribunais”, de Miguel Timponi,
páginas 60a 64, 4ª ed. FEB). Liberto dos liames da carne, dois anos depois
passou ele a valer-se, como Espírito, das faculdades mediúnicas de Francisco
Cândido Xavier para a transmissão de importantes mensagens, como a que se
inseriu nesta página, acoplada ao mesmo “Parnaso” que ele conhecera aqui na
Terra e oriunda do mesmo “Além Túmulo” por ele tenuemente vislumbrado, entre o assombro
e a esperança, Ditounos 12 livros, sendo 9 sob o pseudônimo de Irmão X,
editados pela FEB. Vale destacar “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do
Evangelho”, já em 9ª edição, o livro confirmador da missão espiritual do
Brasil, que é a de levar as luzes do Evangelho do Cristo a todos os quadrantes
do Mundo, visando à cristianização da Humanidade, sob a orientação do Anjo
Ismael, o Legado do Governador Espiritual do Planeta em Terras de Santa Cruz.
(Nota da Editora)
Nenhum comentário:
Postar um comentário