ESTANTE DA VIDA
PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
PELO ESPÍRITO IRMÃO X
CAPÍTULO 13 ̶ PERTO
DE DEUS
Entre
a alma, prestes a reencarnar na Terra, e o Mensageiro divino travou-se
expressivo diálogo:
—
Anjo bom — disse ela —, já fiz numerosas romagens no mundo. Cansei-me de
prazeres envenenados e posses inúteis...
Se
posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora
deva achar-me entre os homens...
—
Sabes efetivamente a que aspiras? Que responsabilidade procuras? — replicou o
interpelado. — Quando falham aqueles que servem à vida, perto de Deus, a obra
da vida, em torno deles, é perturbada nos mais íntimos mecanismos.
—
Por misericórdia, anjo amigo! Dar-me-ás instruções...
—
Conseguirás aceitá-las?
—
Assim espero, com o amparo do Senhor.
— O
Céu, então, conceder-te-á o que solicitas.
—
Posso informar-me quanto ao trabalho que me aguarda?
—
Porque estarás mais perto de Deus, conquanto entre os homens, recolherás dos
homens o tratamento que eles habitualmente dão a Deus...
—
Como assim?
—
Amarás com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá, nem te
avaliará as reservas de ternura!... Viverás abençoando e servindo, qual se
carregasses no próprio peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca
te fartarás de dar e os que te cercarem jamais se fartarão de exigir...
—
Que mais?
—
Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai celestial; contudo,
qual se faz igualmente até hoje na Terra com o Todo-Misericordioso,
reclamar-se-á tudo de ti, sem que se te dê coisa alguma. Embora detendo o
direito de fulgir à luz do primeiro lugar nas assembleias humanas, estarás na
sombra do último... Nutrirás as criaturas queridas com a essência do próprio
sangue; no entanto, serás apartada geralmente de todas elas, como se o mundo
esmerasse em te apunhalar o coração.
Muitas
vezes, serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas, e conhecerás a
verdade com a obrigação de respeitar a mentira... Conquanto venhas a residir no
regozijo oculto da vizinhança de Deus, respirarás no fogo invisível do
sofrimento!...
—
Que mais?
—
Adornarás as outras criaturas para que brilhem nos salões da beleza ou nos
torneios da inteligência; entretanto, raras te guardarão na memória, quando
erguidas ao fausto do poder ou ao delírio da fama. Produzirás o encanto da paz;
todavia, quando os homens se inclinem à guerra, serás impotente para
afastar-lhes o impulso homicida... Por isso mesmo, debalde chorarás quando se
decidirem ao extermínio uns dos outros, de vez que te acharás perto do
Todo-Sábio e, por enquanto, o Todo-Sábio é o grande anônimo entre os povos da
Terra...
—
Que mais?
—
Todas as profissões no planeta são honorificadas com salários correspondentes
às tarefas executadas, mas o teu ofício, porque estejas em mais íntima
associação com o Eterno e para que não comprometas a obra da divina
Providência, não terá compensações amoedadas. Outros seareiros da vinha
terrestre serão beneficiados com a determinação de horários especiais; contudo,
já que o supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasiões para descanso
certo, porquanto o amor te colocará em permanente vigília!... Não medirás
sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto, verás
teu carinho e abnegação apelidados, quase sempre, por fanatismo e loucura...
Zelarás pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar
por ti... Farás o pão dos entes amados... Na maioria das circunstâncias, porém,
serás a última pessoa a servir-se dos restos da mesa, e, quando o repouso
felicite aqueles que te consumirem as horas, velarás, noite adentro, sozinha e
esquecida, entre a prece e a aflição... Espiritualmente, viverás mais perto de
Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com o ilimitado amor com que Deus
ama...
—
Anjo bom — disse a alma, em pranto de emoção e esperança —, que missão será
essa?
O
emissário divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bênção:
— Serás
mãe!...
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