RECORDAÇÕES DA MEDIUNIDADE
YVONNE DO AMARAL PEREIRA
DITADO PELO ESPÍRITO ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
4 – OS
ARQUIVOS DA ALMA
“Mergulhado na vida corpórea,
perde o Espírito, momentaneamente, a lembrança de suas experiências
anteriores, como se um véu as cobrisse. Todavia, conserva algumas vezes vaga
consciência dessas vidas, que, mesmo em certas circunstâncias, lhe podem ser
reveladas. Esta revelação, porém, só os Espíritos superiores espontaneamente
lha fazem, com um fim útil, nunca para satisfazer a vã curiosidade.”
(Allan Kardec, “O Livro dos
Espíritos”, pergunta 399.)
*
E não é somente após a morte
que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a
perde, pois que, como a experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o
corpo, ocasião em que goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de
seus atos anteriores; sabe porque sofre e que sofre com justiça.”
(Allan Kardec, “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”, capítulo 5, ítem 11.)
O estudo do perispírito, sua
organização, suas propriedades, sua utilidade e necessidade na organização
humana, suas possibilidades verdadeiramente fabulosas, encantadoras,
constituem, por certo, uma das maiores atrações da Doutrina dos Espíritos. Esse
delicado invólucro da alma, inigualavelmente concreto, poderoso nas funções
que foi chamado a exercer na personalidade humana, é também denominado «corpo
fluídico», dada a estrutura da sua natureza, que, segundo os sábios
pesquisadores da Ciência Espírita, é composta de três espécies de fluido: o
fluido elétrico, o fluido magnético e o fluido cósmico universal, este também
considerado pelos espiritistas a quinta-essência da matéria. Esse corpo
fluídico da alma, pois, que jamais a abandona, que, qual ela própria, é
imortal, mas não imutável, pois evolui, partindo dos graus primitivos até galgar
aos pináculos da superioridade, seguindo o mesmo trajeto glorioso daquela
essência divina, ou seja, a alma; esse admirável corpo intermediário, que tanto
participa do fluido imponderável como da matéria sublimada à quinta-essência; o
perispírito, chamado também «mediador plástico», é também o transmissor das
vontades da alma, ou ser inteligente, à ação da matéria humanizada, ou corpo
físico humano; é a sede das sensações que agitam nossas sensibilidades,
sensações que tanto mais amplas serão quanto mais ele próprio progrida; esse
«corpo celeste», como o definiu o grande Paulo de Tarso, corpo astral», no
enunciado dos orientalistas, tão indispensável à alma para os fins da
reencarnação, de onde lhe advém a confirmação do progresso; o perispírito, forma,
esteio que mantém e conserva a própria estrutura do corpo carnal, conservando a
personalidade detida na carne: pensamento, vontade, memória, fisionomia, etc.,
enquanto as células humanas sofrem as variadas renovações periódicas, além de
outras singulares propriedades possui, também, uma das mais importantes que a
mentalidade humana poderia conceber, consoante o provaram numerosas
experiências científiças ele arquiva em seus refolhos, como que superpostos em
camadas vibratórias, todos os acontecimentos, todos os fatos, atos, sensações,
e até os pensamentos que tenhamos produzido através das nossas imensas etapas
evolutivas. Referindo-se a esse magnífico envoltório intermediário, explicam os
grandes mestres da Doutrina Espírita:
— «Como o carvalho que guarda
em si os sinais de seus desenvolvimentos anuais — escreve Léon Denis no
capítulo 23º de «Depois da Morte» —, assim também o perispírito conserva, sob
suas aparências presentes, os vestígios das vidas anteriores, dos estados
(humanos e espirituais) sucessivamente percorridos. Esses vestígios repousam em
nós muitas vezes esquecidos, porém, desde que a alma os evoca, desperta a sua
recordação, eles reaparecem, como outras tantas testemunhas, balizando o
caminho longa e penosamente percorrido.»
E no capítulo 8º, de «O Problema do Ser, do Destino e da Dor»:
— “... no sono, no sonambulismo, no êxtase, desde que à alma se abre uma
saída através do invólucro de matéria que a oprime e agrilhoa, restabelece-se
imediatamente a corrente vibratória e o foco torna a adquirir toda a sua
atividade, O espírito encontra-se novamente nos seus estados anteriores de
poder e liberdade. Tudo o que nele dormia desperta. As suas numerosas vidas
reconstituem-se, não só com os tesouros do seu pensamento, com as reminiscências
e aquisições, mas também com todas as sensações, alegrias e dores registradas
no seu organismo fluídico. É esta a razão por que, no transe, a alma, vibrando
as recordações do passado, afirma as suas existências anteriores e reata a
cadeia misteriosa das suas transmigrações.
As menores particularidades da nossa vida registram-se em nós e deixam
traços indeléveis.
Pensamentos, desejos, paixões, atos bons ou maus, tudo se fixa, tudo se
grava em nós.
Durante o curso normal da vida, estas recordações acumulam-se em camadas
sucessivas e as mais recentes acabam por delir aparentemente as mais antigas.
Parece que esquecemos aqueles mil pormenores da nossa existência dissipada.
Basta, porém, evocar, nas experiências hipnóticas, os tempos passados, e
tornar, pela vontade, a colocar o «sujet» numa época anterior da sua vida, na
mocidade ou no estado de infância, para que essas recordações reapareçam em
massa.»
Tais recordações podem avançar abrangendo o estágio no Espaço, antes da
reencarnação, como é sabido entre os espíritas, até rever a existência
anterior, e, sendo o estado de desprendimento aprofundado, tanto no sono
natural como nos diversos transes possíveis no caso, avançará até duas e mais
existências passadas.
O próprio Léon Denis que cita, na mesma obra acima lembrada, esta belíssima
experiência, também citada por Gabriel Delanne no seu livro «Reencarnação»,
colhida de uma informação que lhe prestaram outros ilustres investigadores dos
segredos contidos nos refolhos espirituais da personalidade humana. Assim se
expressa o grande escritor espírita, no capítulo XIV:
— «O Príncipe Adam Wisznievski, rua do Debarcadere, 7, em Paris,
comunica-nos a relação que se segue, feita pelas próprias testemunhas, algumas
das quais vivem ainda e que só consentiram em ser designadas por iniciais:
— O Príncipe Galitzin, o Marquês de B..., o Conde de R..., estavam
reunidos, no verão de 1862, nas praias de Hamburgo.
Uma noite, depois de terem jantado muito tarde, passeavam no parque do
Cassino e aí avistaram uma pobre deitada num banco. Depois de se chegarem até
ela e a interrogarem, convidaram-na a vir cear no hotel. O Príncipe Galitzin,
que era magnetizador, depois que ela ceou, o que fêz com grande apetite, teve a
ideia de magnetizá-la. Conseguiu-o à custa de grande número de passes. Qual
não foi a admiração das pessoas presentes quando, profundamente adormecida,
aquela que, em vigília, se exprimia num arrevesado dialeto alemão, se pôs a
falar muito corretamente em francês, contando que reencarnara na pobreza por
castigo, em consequência de haver cometido um crime na sua vida precedente, no
século 15. Habitava então um castelo na Bretanha, à beira-mar. Por causa de
um amante, quis livrar-se do marido e despenhou-o no mar, do alto de um
rochedo; indicou o local do crime com grande exatidão. Graças às suas
indicações, o Príncipe Galitzin e o Marquês de B... puderam, mais tarde,
dirigir-se à Bretanha, às costas do Norte, separadamente, e entregarem-se a
dois inquéritos, cujos resultados foram idênticos.
Havendo interrogado grande número de pessoas, não puderam, a principio,
colher informação alguma. Afinal, encontraram uns camponeses já velhos que
se-lembravam de ter ouvido os pais contarem a história de uma jovem e bela
castelã que assassinara o marido, mandando atirá-lo ao mar. Tudo o que a pobre
de Hamburgo havia dito, no estado de sonambulismo, foi reconhecido exato.
Regressando de França e passando por Hamburgo, o Príncipe Galitzin
interrogou o comissário de policia a respeito desta mulher. Este funcionário
declarou-lhe que ela era inteiramente falha de instrução, falava um dialeto
vulgar alemão e vivia apenas de mesquinhos recursos como mulher de soldados.»
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