Chico Xavier será estudado em profundidade após a sua
desencarnação. Afirmação semelhante a esta ouvi de alguém, não lembro quem,
porém, que vibra em minha mente toda a vez que leio algo referente a Chico ou
algumas de suas Obras.
Este é um
trabalho de pesquisa nas Obras da Coleção A Vida no Mundo Espiritual, de André
Luiz, às Pessoas curiosas: Todas as Obras editadas
pela Editora da Federação Espírita Brasileira – FEB.
NOSSOLAR
CAPÍTULO 14
Elucidações de
Clarêncio
André Luis perante o
Ministro do Auxílio Clarêncio para pedir trabalho.
Bastante confundido,
falei: – Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar seus bons ofícios para que me
reintegre no trabalho. Ando saudoso dos meus misteres, agora que a generosidade
do "Nosso Lar" me reconduziu à bênção da harmonia orgânica. Qualquer
trabalho útil me interessa desde que me afaste da inação.
Clarêncio fitou-me
longamente, como a identificar-me as intenções mais íntimas.
“– Já sei. Verbalmente pede qualquer
gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu
gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na
Terra”.
Até aí, as
palavras dele eram jatos de conforto e esperança, que eu recebia no coração,
com gestos confirmativos.
Depois de uma
pausa mais longa, porém, o Ministro prosseguiu:
“– Convém notar, todavia, que às
vezes o Pai nos honra com a Sua confiança e nós desvirtuamos os verdadeiros
títulos de serviço. Você foi médico na Terra, cercado de todas as facilidades,
no capítulo dos estudos. Nunca soube o preço de um livro, porque seus pais,
generosos, lhe custeavam todas as despesas. Logo depois de graduado, começou a
receber proventos compensadores, não teve sequer as dificuldades do médico
pobre, compelido a mobilizar relações afetivas para fazer clínica. Prosperou
tão rapidamente que transformou facilidades conquistadas em carreira para a
morte prematura do corpo. Enquanto moço e sadio, cometeu
numerosos abusos, dentro do quadro de
trabalho a que Jesus o conduziu”.
Ante aquele
olhar firme e bondoso ao mesmo tempo, estranha perturbação apossara-se de mim.
Respeitosamente,
ponderei:
– Reconheço a
procedência das observações, mas, se possível, estimaria obter meios de
resgatar meus débitos, consagrando-me sinceramente aos enfermos deste parque
hospitalar.
“– Impulso muito nobre” – disse Clarêncio sem austeridade –,
“contudo, é preciso convir que toda
tarefa na Terra, no campo das profissões, é convite do Pai para que o homem
penetre os templos divinos do trabalho. O título, para nós, é simplesmente uma
ficha, mas, no mundo, costuma representar uma porta aberta a todos os
disparates. Com essa ficha, o homem fica habilitado a aprender nobremente e a
servir ao Senhor, no quadro de Seus Divinos serviços no planeta. Tal princípio
é aplicável a todas as atividades terrestres, excluída a convenção dos setores
nos quais se desdobrem. Meu irmão recebeu uma ficha de médico. Penetrou o
templo da Medicina, mas sua ação, lá dentro, não se verificou em normas que me
autorizem a endossar seus atuais desejos. Como transformá-lo, de um momento
para outro, em médico de espíritos enfermos, quando fez questão de
circunscrever observações exclusivamente à esfera do corpo físico? Não nego sua
capacidade de excelente fisiologista, mas o campo da vida é muito extenso. Que
me diz de um botânico que alinhasse definições apenas com o exame das cascas
secas de algumas árvores?
Grande número de médicos, na Terra,
prefere apenas a conclusão matemática diante dos serviços de anatomia.
Concordemos que a Matemática é respeitável, mas não é a única ciência do
Universo. Como reconhece agora, o médico não pode estacionar em diagnósticos e
terminologias. Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas.
Muitos profissionais da Medicina, no
planeta, são prisioneiros das salas acadêmicas, porque a vaidade lhes roubou a
chave do cárcere. Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses
inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para essas exceções, reservam-se
as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros”.
Fiquei atônito.
Não conhecia tais noções de responsabilidade profissional.
Assombrava-me a
interpretação do título acadêmico, reduzido à ficha de ingresso em zonas de
trabalho para cooperação ativa com o Senhor Supremo. Incapaz de intervir,
aguardei que o Ministro do Auxílio retomasse o fio das elucidações.
“– Conforme deduz” – continuou ele –, “não se preparou convenientemente para os nossos serviços aqui”.
– Generoso
benfeitor – atrevi-me a dizer –, compreendo a lição e curvo me à evidência.
E, fazendo esforço
por conter as lágrimas, pedi humilde:
– Submeto-me a
qualquer trabalho, nesta colônia de realização e paz.
Com um profundo
olhar de simpatia, respondeu:
“– Meu amigo, não possuo apenas
verdades amargas. Tenho igualmente a palavra de estímulo. Não pode ainda ser
médico em "Nosso Lar", mas poderá assumir o cargo de aprendiz,
oportunamente. Sua posição atual não é das melhores; entretanto, é
confortadora, pelas intercessões chegadas ao Ministério do Auxílio, a seu
favor.”
– Minha mãe? –
perguntei, inebriado de alegria.
“– Sim “– esclareceu o Ministro –, “sua mãe e outros amigos, no coração dos quais
você plantou a semente da simpatia. Logo após sua vinda, pedi ao Ministério do
Esclarecimento providenciasse a obtenção de suas notas, que examinei atentamente.
Muita imprevidência, numerosos abusos e muita irreflexão, mas, nos quinze anos
de sua clínica, também proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil
necessitados. Na maioria das vezes, praticou esses atos meritórios, absolutamente
por troça; mas, presentemente, pode verificar que, mesmo por troça, o
verdadeiro bem espalha bênçãos em nossos caminhos. Desses beneficiados, quinze não
o esqueceram e têm enviado, até aqui, veementes apelos a seu favor. Devo esclarecer,
no entanto, que mesmo o bem que proporcionou aos indiferentes surge aqui a seu
favor”.
Concluindo, a
sorrir, as elucidações surpreendentes, Clarêncio acentuou:
“– Aprenderá lições novas em
"Nosso Lar" e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente
conosco, preparando se para o futuro infinito.”
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