Afeições, Espíritos simpáticos
Saltemos agora para a contradição 12; nesta assim se exprime o autor:
“O Livro dos Espíritos”, pág.131, n. 296, pergunta: “As afeições individuais dos Espíritos são suscetíveis de alteração? Não; nesse sentido não podem enganar-se.” E à pág. 133, n. 303, diz-se:”Podem dois Espíritos simpáticos deixar de o ser? Certamente se um deles for preguiçoso.”
Mas, alteram ou não se alteram nos Espíritos as afeições individuais?
O Reverendo toma os vocábulos na significação que lhe apraz, sem admitir outras, e, daí, os seus ininterruptos enganos.
Assim é que ele supõe que simpatia é sempre estima.
Ora, simpatia é influência, identidade, atração. E dois seres se podem atrair por muita coisa, que não pelo afeto. Pode haver apenas a atração pelos pendores, e podem desatrair-se, sem que o afeto se altere.
E não se diga que estamos ajeitando os vocábulos para justificar a contradição.
Se o opositor tivesse lido o kardec com olhos, não de quem quer fulminá-lo, mas de quem deseja esclarecer-se, veria no n. 131; “A simpatia que atrai um Espírito para outro é a perfeita concordância de seus pendores, de seus instintos...”
Simpatia aqui, portanto, é concordância de pendores, de instintos.
Suponhamos dois operários com os mesmo gostos, com a mesma profissão, achando os mesmos prazeres nas rinhas de galos, nos matches de boxe, nas toiradas, nas pugnas carnavalescas; eis que um deles, em dado momento, abandona esses grosseiros divertimentos e dá para freqüentar o Lírico, dedica-se às artes, entra a compreender as manifestações do belo.
Estes dois seres, primitivamente simpáticos, deixaram de o ser, dada a lacuna na identidade de hábitos, dada a quebra na semelhança de pendores, sem que, por isso, deixassem de ser amigos, sem que suas afeições individuais fossem suscetíveis de alteração.
Deixaram de ser “simpáticos” simplesmente porque um, mais preguiçoso, não acompanhou a evolução espiritual do outro.
Prazer nas homenagens terrenas; falta de vaidade nos Espíritos perfeitos.
Estamos na 13ª contradição do espiritismo.
Apresenta-a o nosso irmão M..., quando cita:
13. “O Livro dos Espíritos” n. 326 diz: “que quando o Espírito chega a certo grau de perfeição já não tem vaidade e compreende que honras tributadas a seus despojos mortais são uma pura futilidade e que só certos Espíritos ainda apegados à matéria é que se importam com estas coisas”.
Ns. 320, 321: “os Espíritos sentem-se felizes quando deles se recordam os queridos da Terra... Apreciam e respondem às homenagens que lhes prestam os queridos da Terra... No dia de finados concorrem em maior número a encontrar-se com os amados que estão na Terra.
E o nosso ilustre amigo interroga:
Mas, por favor, os Espíritos acham prazer nessas homenagens terrenas ou acham-nas uma futilidade?
Desta vez, aliás como quase sempre, o pastor não teve por si nem a letra nem, o espírito da comunicação.
Segundo a letra, a distinção estaria feita; acha uma futilidade em tais honras “o Espírito que chega a certo grau de perfeição”; supõe-nas inúteis “os que já não têm vaidades”; “só se importam com estas coisas”, porém, isto é, desvanecem-se com tais honras os que “ainda estão apegados á matéria”.
Contradição nenhuma, portanto. Os Espíritos perfeitos acham tais honras fúteis; não pensam assim os apegados à matéria. Outro assunto agora; os Espíritos se sentem felizes quando os seus queridos da Terra se lembram deles. Ali se trata de honras, de tributos a despojos, de toda essa encenação tida para com o corpo, onde só fala a vaidade ou, na melhor hipótese, o preconceito humano, as fórmulas humanas. Aqui se cuida das recordações, das homenagens traduzidas pelas lágrimas sinceras, onde o que fala é o amor, onde o tributo é de alma para alma.
As honras que os Espíritos, “os que não têm vaidade”, julgam fúteis, são as honras materiais, as pompas da Terra, as solenidades fúnebres, onde não entra o sentimento, mas o fausto; são as demonstrações da riqueza,do orgulho ou do poder; são as grinalda custosas, onde só se despende dinheiro, são os cortejos que não custaram um soluço.
As contrário, as homenagens com as quais se sentem felizes os Espíritos são aquelas que partem do íntimo. Quando eles “concorrem, no dia de finados, a se encontrarem com os amados da Terra”, vêm atraídos pelas recordações desses amados, pelas suas saudades, pelo seu afeto. É nessas homenagens que os Espíritos acha, contentamento.
E aí tem o pastor como é diamantina a distinção que não pôde fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário