José Herculano Pires
(Pesquisa enviada por Erealdo Rocelhou de Oliveira)
RESUMO
QUESTÕES INICIAIS
( ... ) As teorias
parapsicológicas, confirmadas pelas mais
rigorosas experiências
de laboratório pareciam inicialmente
contraditar os conceitos espíritas, firmados em meados
do século passado e por isso mesmo
suspeitos de insuficiência.
Todos os fenômenos mediúnicos reduziam-se ao plano mental, a ponto de substituir-se
as palavras alma e espírito pela palavra mente.
Instituía-se um mentalismo psicofisiológico que ameaçava todas as concepções espiritualistas do
homem.
Durou pouco essa ameaça. Após dez anos de pesquisas repetitivas sobre os fenômenos mais simples, como clarividência e telepatia, outros fenômenos, mais complexos e profundos, impuseram-se à atenção dos cautelosos pesquisadores, que começaram a
levantar, sem querer, as pontas do Véu de Ísis. Num instante a invasão das áreas universitárias
da América e da Europa, com
repercussões imediatas nos grandes centros culturais da Ásia, pelos fenômenos de aparições, vidência, manifestações tiptológicas e de levitação de objetos sem contato, bem como os de precognição e retrocognição, levaram o Prof.
Joseph Banks Rhine, da Universidade de
Duke ( EUA ) a proclamar com dados experimentais de inegável significação, que o pensamento não é físico, o mesmo aplicando à mente. Rhine se expunha ao
temporal de críticas e ironias, expondo
a Parapsicologia à excomunhão
cultural. Vassilev, da Universidade de Leningrado, propôs-se a provar o contrário, através de uma série de experiências, mas não o conseguiu.
( ... ) Afirma-se tudo a
respeito da Mediunidade:
( ... ) Ninguém se lembra da explicação
simples e clara de Kardec: é uma faculdade humana.
Procuramos demonstrar, neste livro, o que é em essência essa faculdade, como
funciona em nosso corpo e em relação com o mundo, os homens e os espíritos. Analisamos o seu papel nos casos de obsessão e
desobsessão, sua importância na vida diária e suas implicações psicológicas, sociológicas e antropológicas
e assim por diante.
( ... ) É verdade que todos têm o direito de ter suas idéias, suas opiniões, e até mesmo de expor seus possíveis sistemas. Mas ninguém tem o direito de fazer dessas coisas, dessas
interpretações ou visões pessoais, elementos capazes de integrar-se numa
doutrina rigorosamente cientifica. Agem com leviandade e imprudência os que desejam
transformar as suas opiniões em novas leis da Ciência Espírita. A evolução desta, o seu desenvolvimento real – só podem ser realizados em termos de pesquisa científica e análise filosófica, por criaturas lúcidas, equilibradas, conscientes de suas possibilidades e
seus limites, conhecedoras das exigências do processo científico. Fora dessas condições só poderemos desfigurar a doutrina e
ridicularizá-la aos olhos das pessoas de
bom-senso e culturalmente capacitadas.
Este livro não
é nem pretende ser
considerado como um tratado de mediunidade. Longe disso, é uma exposição dos problemas mediúnicos por alguém que os viveu e vive,
orientado-se nos seus meandros pela bússola
de Kardec, única realmente válida e aprovada pelo Espírito da Verdade, que simboliza a Sabedoria
Espiritual junto
à Sabedoria Humana. Os que
não compreendem a necessidade dessa conjugação para o trato eficaz dos
problemas espirituais não estão aptos a tratar de Espiritismo. Enganam-se a si
mesmos ao se considerarem mestres do que não conhecem. O Espiritismo é uma doutrina que abrange todo o conhecimento Humano, acrescentando-lhe as dimensões espirituais que lhe faltam para a
visualização da realidade total. O Mundo é o seu objeto, a razão é o seu método e a Mediunidade é o seu laboratório.
CAPÍTULO
I
CONCEITO
DE MEDIUNIDADE
Médium quer dizer
medianeiro, intermediário. Mediunidade é a faculdade humana, natural pela
qual se estabelecem as relações entre homens e espíritos. Não é um poder oculto que se possa
desenvolver através de práticas rituais ou pelo poder misterioso de um iniciado ou
de um guru.
( ... ) Geralmente o seu
desenvolvimento é cíclico, ou seja processa-se por
etapas sucessivas, em forma de espiral. As crianças a possuem, por assim dizer,
à flor da pele, mas
resguardada pela influência
benéfica e controladora dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjos da
guarda. Nessa fase infantil as
manifestações mediúnicas são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos seres
que a rodeiam, recebem as intuições orientadoras dos seus protetores, às vezes vêem e denunciam a presença de espíritos e não raro
transmitem avisos e recados dos espíritos aos familiares, de
maneira positiva e direta ou de maneira simbólica e indireta.
( ... ) Quando
passam dos sete ou oito anos integram-se melhor no condicionamento da
vida terrena, desligando-se progressivamente das
relações espirituais e dando mais
importância às relações humanas. O espírito se ajusta no seu
escafandro para enfrentar os problemas do mundo. Fecha-se o primeiro ciclo mediúnico, para a seguir abrir-se o segundo. Considera-se
então que a criança não tem mediunidade, a
fase anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantis.
É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze
anos, que se inicia o segundo ciclo.
( ... ) O terceiro ciclo
ocorre geralmente na passagem da adolescência para juventude, entre os dezoito e vinte e cinco
anos. É o tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e da Mediunidade, bem como da prática mediúnica
livre, nos centros e grupos espíritas. As sessões de educação mediúnica (impropriamente chamadas de desenvolvimento)
destinam-se apenas a médiuns já caracterizados por
manifestações espontâneas, portanto já desenvolvidos.
Há
ainda um
quarto ciclo, correspondente a mediunidades que só aparecem após a maturidade, na velhice ou na sua aproximação.
( ... ) Esse tipo de mediunidade tardia tem pouca
duração, constituindo uma espécie de preparação mediúnica para
morte. Restringe-se a fenômenos de vidência, comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e psicografia.
( ... ) A velhice nos devolve à proximidade do mundo espiritual
em posição semelhante à das
crianças.
( ... ) Durante o sono
como Kardec provou através de pesquisas ao longo
de mais de dez anos, desprendemo-nos do corpo que repousa e passamos ao plano
espiritual.
( ... ) A Psicologia procura explicar esses lapsos
fisiologicamente, mas as reações
orgânicas a
que atribui o fato não são causa e sim efeito de
um ato mediúnico de afastamento do espírito.
( ... ) A busca científica de uma essência orgânica da mediunidade nunca
deu nem dará resultados. Porque a
mediunidade tem sua essência na
liberdade no espírito.
Chegando a este ponto podemos
colocar o problema em termos mais precisos: a mediunidade é a manifestação do espírito através do corpo. No ato mediúnico tanto se manifesta o espírito do médium como um espírito ao qual ele atende e serve. Os problemas mediúnicos consistem, portanto, simplesmente na disciplinação
das relações espírito-corpo. É o que chamamos de
educação mediúnica.
( ... ) O
Inteligível, que é o espírito, o princípio inteligente do
Universo, dá a sua mensagem
inteligente através das infinitas formas da
Natureza, desde os reinos mineral, vegetal e animal, até o reino hominal, onde a
mediunidade se define em sua plenitude.
MEDIUNIDADE
ESTÁTICA
A Mediunidade é uma só, é um todo, mas pode ser encarada em seus vários aspectos funcionais, que são caracterizados como
formas variadas de sua manifestação. Kardec a dividiu, para efeito metodológico, em duas grandes áreas bem diferenciadas: a mediunidade de efeitos
inteligentes e a mediunidade de efeitos físicos.
Essa divisão prevaleceu nas ciências derivadas do Espiritismo. Charles Richet, fundador da Metapsíquica, estabeleceu nessa ciência a divisão das duas áreas com os nomes de Metapsíquica subjetiva e Metapsíquica objetiva, correspondendo exatamente à divisão espírita. Na Parapsicologia
atual, fundada por Rhine e McDougal, as duas áreas figuram com as denominações de: Psigama
( de fenômenos subjetivos ou mentais ) e Psicapa ( de fenômenos objetivos ou de efeitos físicos ).
( ... ) A palavra médium
também prevaleceu, chegando até mesmo à Parapsicologia Soviética, materialista, que a conserva em suas publicações
oficiais.
( ... ) Apesar desse critério, a palavra sensitivo, por exemplo, escolhida para
substituir médium, já foi abandonada por vários parapsicólogos, que voltaram à expressão médium, como vimos no caso soviético.
(
... ) Kardec notou a generalização da mediunidade e os
espíritos o socorreram, como se vê no Livro dos Médiuns, com uma especificação curiosa. Temos assim duas áreas de função
mediúnica
designadas como mediunidade generalizada e mediunato. A primeira corresponde à mediunidade natural, que todos os
seres humanos possuem e a segunda corresponde à mediunidade de compromisso, ou
seja, de médiuns investidos espiritualmente
de poderes mediúnicos para finalidades
específicas na encarnação. Como Kardec
mencionou a existência de
médiuns elétricos e várias vezes comparou a mediunidade com a eletricidade,
surgiu mais tarde entre alguns estudiosos, entre os quais Crawford, a idéia de uma divisão mais explícita, com a designação de mediunidade estática e mediunidade dinâmica. A primeira corresponde à mediunidade natural que todos
possuem e permanece geralmente em estase, com manifestações moderadas e quase
imperceptíveis. A segunda corresponde à mediunidade ativa, que exige
desenvolvimento e aplicação durante toda a vida do médium.
A falta de conhecimento
dessa divisão acarreta dificuldades e inconvenientes na prática mediúnica particularmente nos
trabalhos de Centros e Grupos. A mediunidade estática não é propriamente uma forma de energia
que permanece no organismo corporal em estado letárgico. É simplesmente a disposição natural do espírito para expandir-se, projetar-se e entrar em relação
com outros espíritos.
( ... ) A mediunidade estática funciona como imanente em nosso psiquismo. Faz parte
da nossa natureza, não é uma graça nem uma prova, é um elemento essencial da nossa
constituição humana.
Recorrem às casa espíritas
muitas pessoas perturbadas e até mesmo obsedadas, que em geral são consideradas como médiuns em fase de desenvolvimento. Muitas delas são apenas
vítimas de perseguição de espíritos inferiores resultantes de inquirições mentais. Por
esse ou outros motivos, essas criaturas estão realmente envolvidas num processo
de obsessão, mas não são médiuns em desenvolvimento. Precisam de passes, de
participação nas sessões, mas não de sentar-se à mesa mediúnica para desenvolver mediunidade. Essas pessoas,
tratadas devidamente, livram-se da obsessão mas não revelam mais os sintomas
mediúnicos decorrentes da obsessão.
Essas pessoas não estão investidas de mediunato, não precisam e nem podem
desenvolver a sua mediunidade estática.
As pessoas não dotadas de
mediunato não estão desprovidas dos recursos mediúnicos. Pelo contrário,
podem ser muito sensíveis e intuitivas,
dispondo de percepções eficazes em todas as circunstâncias.
Todos os rios levam suas águas para o mar. Todas as ciências psíquicas desembocam fatalmente no delta do Espiritismo. Não
podemos desprezar as suas pesquisas e as suas conclusões. Os parapsicólogos verdadeiros, que são cientistas universitários, não devem ser confundidos com sacerdotes
inconscientes que apresentam ao
público uma
deformação sectária e intencional da
Parapsicologia. Esses padres, frades e pastores que tripudiam sobre a ignorância e a ingenuidade do povo, são acionados por
interesses materiais evidentes e por entidades espirituais inferiores, que
servem da mediunidade estática deles mesmos para
levá-los a campanhas inglórias e a explorações deploráveis da boa fé dos fiéis. Mas a verdade é que estão nas malhas da
mediunidade que negam e combatem. A mediunidade estática dorme nas suas próprias entranhas, à espera de que se tornem capazes de percebê-la e compreendê-la.
CAPÍTULO
III
MEDIUNIDADE DINÂMICA
A mediunidade dinâmica não permanece em êxtase no organismo do médium. Não age de maneira discreta e sutil, como
mediunidade estática. Pelo contrário, extravasa agitada em fenômenos de captação projeção, não raro explodindo em casos
obsessivos. É a chamada mediunidade de serviço, destinada ao auxílio e ao socorro do próximo. Decorre de compromissos assumidos no plano
espiritual, seja para auxiliar indiscriminadamente os que necessitam de ajuda e
orientação, seja para o resgate de dívidas morais do passado
com entidades necessitadas, cujo estado inferior se deve, em parte ou
totalmente, a ações do médium em vidas anteriores.
O médium não desfruta apenas as vantagens
da mediunidade generalizada pois vê-se investido de uma missão
mediúnica a
que os Espíritos deram o nome de mediunato.
A situação do médium é bem diferente da comum.
( ... ) Não obstante o determinismo implícito no mediunato, o seu livre-arbítrio continua intato. Assim como escolheu e pediu essa
situação ao voltar à encarnação, por sua livre
vontade assim também poderá agora optar pelo cumprimento da missão ou pela sua
rejeição, arcando naturalmente com as conseqüências da fuga ao dever.
O mediunato é também concedido em casos de pura assistência ao próximo e ajuda à Humanidade, como nos mostra o exemplo histórico das meninas Boudin, Julia e Carolina, em Paris, cuja
mediunidade admirável garantiu o êxito da missão de Kardec. Mas o próprio Kardec não era médium, porque a sua missão era científica e não
mediúnica.
( ... ) A
mediunidade estática lhe permitia, nos últimos anos de trabalho, ser advertido diretamente pelos
espíritos de lapsos ocorridos em seus
escritos como se pode ver em suas anotações publicadas em Obras Póstumas.
Para se compreender
melhor a razão pela qual Kardec não teve um mediunato, basta lembrar o caso de
Swedenborg na Suécia e de Andrew Jackson
Davis nos Estados Unidos. O primeiro era um dos maiores sábios do século XVIII, amigo de Kant e foi um precursor do
Espiritismo. Mas, dotado de extraordinária vidência,
perdeu-se nas suas próprias visões, fascinado
pela realidade invisível, e acabou criando uma
seita eivada de absurdos.
O segundo era também vidente e lançou uma série
de livros em que o fantástico supera as
possibilidades do real.
( ... ) Não entendem o valor do Livro dos Médiuns e vivem à procura de novidades apresentadas em obras mediúnicas suspeitas.
( ... ) Poucos entendem o critério modelar de uma obra difícil como A Gênese e de um livro como O Evangelho Segundo o Espiritismo, em que as
questões explosivas da fé irracional e das influências mitológicas teriam de ser contornadas. Não mãos de um vidente esses livros não poderiam ser escritos
com a clareza racional em que foram, porque as visões místicas influiriam na sua elaboração.
A
vidência, como todas as
formas de mediunidade, pode ocorrer ocasionalmente a qualquer pessoa, mas a sua
ação permanente, nos casos de mediunato, pode bloquear a razão e excitar o
misticismo.
( ... ) Richet levantou o
problema do condicionamento da vidência à crença do vidente. Frederic
Myers demonstrou que a nossa mente está condicionada
para a interpretação das percepções sensoriais. A consciência supraliminar, onde funciona
a nossa mente de relação, está
voltada para
as condições do mundo em que vivemos. A consciência subliminar, que eqüivale ao inconsciente, destina-se a funcionar normalmente
na vida futura, ou seja, no plano espiritual.
( ... ) É pois, uma temeridade confiar-se na vidência para estabelecer novos princípios ou sistemas de prática espírita.
A
vidência auxilia nas
pesquisas, mas não pode ser o seu instrumento único. Os videntes que se colocam na posição de
conhecedores absolutos do outro mundo, esquecendo-se de que o seu equipamento
sensorial e mental pertence a este mundo, e se apresenta na condição de mestres
e reformadores da doutrina enganam-se a si mesmos e enganam aos outros.
Pode-se alegar a existência do mediunato da vidência. Mas esse mediunato jamais é concedido para as aventuras de
espíritos de vivos no plano
espiritual, porque isso seria condenar o médium uma situação de dualidade perigosa na vida terrena.
( ... ) As próprias obras mediúnicas
psicografadas, que descrevem com excesso de minúcias a vida no plano espiritual devem ser encaradas com
reserva pelos espíritas estudiosos.
( ... ) A codificação
não é obra de
vidência, mas de pesquisa
científica realizada por Kardec sob
orientação e
vigilância dos Espíritos Superiores.
( ... ) De tudo isso
resulta um acréscimo da responsabilidade
espírita para todos os que se deixam
levar pela fascinação das novidades. O espiritismo é um campo de estudos difícil e melindroso, e que não podemos descuidar um só instante da bússola da razão.
( ... ) A vaidade, a pretensão, o orgulho humano sempre
vazio e fácil de ser levado pelos ventos da
mistificação, desejo leviano de nos diferenciarmos da maioria, a ambição
doentia e tola de nos fantasiarmos de mestres podem levar-nos à traição à verdade. A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar
para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os
garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do
Espírito da Verdade. Se não confiamos
nela é melhor abandonarmos o
Espiritismo.
( ... ) A mediunidade dinâmica do mediunato exige o nosso esforço contínuo na luta para sustentação da verdade espírita no mundo.
( ... ) Num ambiente mediúnico dominado pelo desejo de novidades e pela expectativa
do maravilhoso, estamos sujeitos sempre a nos embriagar com o vinho das
ilusões. O principal dever dos médiuns resume-se em duas
palavras: fidelidade e vigilância. Se não formos fieis à doutrina e não estivermos sempre
vigilantes às ciladas das trevas,
estaremos sujeitos a seguir o caminho dos falsos profetas da Terra e da
erraticidade, que o cego da parábola levará ao barranco para cair com ele.
CAP
IV
A ENERGIA
MEDIÚNICA
Desde Kardec a teoria dos
fluidos tem provocado divergências entre os cientistas e os espíritos.
Chegou-se a criar uma prevenção contra a palavra fluido e alguns espíritas ligados a atividades científicas consideraram a teoria espírita a respeito, propondo modificações na terminologia
doutrinária O avanço rápido das ciências neste século mostrou que a razão
estava com Kardec.
( ... ) A Física Nuclear nos
apresenta uma imagem fluídica do Universo,
verdadeiro domínio dos fluidos. Eles se
apresentam como formas de energia nos campos de força que estruturam o aparente
vácuo dos espaços siderais, como
elementos mantenedores da vida nos processos fisiológicos, como fluxo de partículas infinitesimais, dotados de assombroso poder e até mesmo como elementos
constitutivos do tempo e do pensamento.
( ... ) A mediunidade em si não é um tipo específico de energia, mas se
processa, como tudo quanto existe, através
de energias espirituais e materiais em conjugação. O ato mediúnico tem hoje a sua dinâmica operatória bem conhecida, que foi explicada pelos espíritos a Kardec, à revelia das hipóteses
por este formuladas.
O espírito tem em si mesmo uma forma de energia pura e sutil
que não podemos captar e analisar através
de aparelhos materiais. Na teoria espírita, é o
principio inteligente, dotado de potencialidades insuspeitáveis. Em nosso estágio
evolutivo só conhecemos
o espírito por suas manifestações através de energias por ele usadas, mas essas energias não são o espírito e sim as forças de que ele
se serve.
( .. ) No Espiritismo nos socorremos da expressão princípio inteligente para definir essa essência e sua natureza, porque a
inteligência, como poder capaz de
penetrar na essência das
coisas e nos dar o conhecimento, é o seu aspecto mais evidente para nós. Na verdade, só nos conhecemos pelos efeitos do
que somos, não pelo que somos.
( ... ) A ação do espírito sobre a matéria,
que sofreu contestações sofísticas durante um século, apesar de sua evidencia em nossa própria estrutura orgânica,
foi ainda agora confirmada pelas pesquisas dos cientistas soviéticos na Universidade de Kirov, na URSS, materialistas e
desconhecedores da doutrina espírita.
( ... ) A
materialização não é um fenômeno físico, exigindo duzentos anos de funcionamento da Usina de
Urubupungá, mas um fenômeno fisiológico. A ação do espírito sobre o médium provoca a emanação
de ectoplasma do seu organismo. O ectoplasma, descoberto e denominado por
Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia,
não acumula matéria em grande quantidade
para formar um corpo físico real, mas apenas
reveste o perispírito ou corpo espiritual do espírito, dando-lhe a aparência de um corpo real.
( ... ) Toda a produção de fenômenos físicos no campo da
mediunidade é feita
por elaboração e aplicação de energias vitais e orgânicas do médium, com a colaboração involuntária dos próprios participantes da
reunião em que se verifica a experiência.
Os cientistas soviéticos,
fascinados pelo sucesso de suas pesquisas e alheios aos problemas ideológicos, constataram oficialmente, na famosa Universidade
de Kirov, que o homem possui um corpo energético que responde pela vitalidade e as funções do corpo
carnal. Verificaram que, nos casos de movimentação e levitação de objetos sem contato, esse
corpo energético expande correntes de energia
que impregnam os objetos a serem movidos à distância do médium. São essas energias, carregadas de matéria orgânica, que Richet chamou de
ectoplasma e que o Prof. Crawford, da Universidade de Belfast, catedrático de mecânica, conseguiu observar
em toda a sua complexa mecânica de expansão e ação,
descobrindo objetivamente o funcionamento de alavancas de ectoplasma na
produção dos fenômenos.
( ... ) As energias espirituais, que Rhine chamou de
extrafísicas, não estão sujeitas às leis físicas. Não sofrem a ação da gravidade, não se desgastam
na sua projeção a qualquer distância e não são interceptadas por nenhuma espécie de barreiras físicas.
CAP
V
O ATO MEDIÚNICO
O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psico-afetiva da comunicação. O
espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas
vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque vibratório, semelhante o de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica.
( ... ) O que se dá não é uma incorporação, mas uma
interpenetração psíquica.
O ato mediúnico natural é esse momento de síntese afetiva em que os dois planos da vida revelam o
segredo da morte: apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa.
O ato mediúnico normal é uma segunda ressurreição, que se
verifica precisamente no corpo espiritual que, segundo o Apóstolo Paulo, é o corpo da ressurreição.
( ... ) Nos casos de materialização, nada mais belo que
Lombroso com sua mãe materializada através
da mediunidade de Eusápia Paladino, na sessão a que fora levado pelo
Prof. Chiaia, de Milão. Eusápia era uma camponesa analfabeta
e mil vezes caluniada. Lombroso, o fundador da Antropologia Criminal,
retratou-se na revista Luce e Ombra de seus violentos artigos contra o
Espiritismo, e declarou comovido: “Nenhum gigante do
pensamento e da força poderia me fazer o que me fez esta pequena mulher
analfabeta: arrancar minha mãe do túmulo devolvê-la aos meus braços !”. Frederico Fígner introdutor do fonógrafo no Brasil, levou sua esposa desolada a Belém do Pará, na esperança de um reencontro com a
menina Rachel, sua filha, que haviam perdido, o que quase os levara à loucura, a ele e à esposa. Procuraram a médium Ana Prado, também mulher do campo, e numa sessão com ela a menina
apareceu materializada, estimulando os pais a enfrentarem o caso com
serenidade, pois ali estava viva, e falava e os beijava, e sentava-se em seus
colos, provando que não morrera. Fígner, ao voltar para o
Rio de Janeiro, dedicou-se dali por
diante ao Espiritismo, com a chama da fé acesa em seu coração e no coração da esposa, mas agora
uma fé inabalável, assentada na razão e nos fatos.
( ... ) Quando o ato mediúnico não tem a pureza e
a beleza de uma comunicação amorosa, tem o calor da solidariedade humana e é iluminado pela caridade cristã.
( ... ) O quadro é bem diferente dos que apresentamos acima. Não há beleza nem serenidade nos espíritos comunicantes, nem resplendor ou transparência em suas faces. Há desespero, dor, expressões de rebeldia ou ímpetos de vingança. ( ... ) Às vezes a autoridade do dirigente ou de um espírito elevado se faz sentir, para que os mais rebeldes
compreendam que estão sob o poder
persuasivo, mas enérgico.
( ... ) A técnica é de persuasão, de esclarecimento racional Uma menina de
quinze anos chega carregada pelos pais. Há uma
semana dormia em estado cataléptico. Às primeira tentativas de despertá-la, agita-se e levanta-se furiosa, aos gritos. Quatro ou
cinco homens não conseguem contê-la, parece dotada de força indomável. Mas pouco a pouco se acalma, chora baixinho e volta o seu estado natural de menina graciosa
e frágil. Retira-se da reunião como se
nada demais tivesse acontecido.
( ... ) A mediunidade
funciona como um radar sensibilíssimo voltado para os
caminhos perdidos.
( ... ) E o mediunato é o passaporte que Deus nos concede
para a liberação do passado através de um só ato, o mais belo e mais
honroso de todos, que é o ato
mediúnico.
( ... ) Chegamos assim à conclusão inevitável de que o presente
passa depressa, mas o passado reponta em cada esquina do presente e do futuro.
CAPÍTULO
VI
MEDIUNISMO
As formas primitivas de
mediunidade provêm das
selvas e das regiões geladas ou áridas em que a vida
humana permaneceu em condições rudimentares. O homem é um ser mediúnico e todo o seu desenvolvimento seguiu as linhas da
evolução da sua potencialidade mediúnica.
A idéia da
Divindade, de um poder superior que criou o mundo é inata no homem, como o demonstram
as pesquisas antropológicas.
( ... ) Os processos mágicos desenvolveram-se através das manifestações mediúnicas.
A expressão mediunismo, criada por Emmanuel designa as
formas primitivas de Mediunidade, que fundamentam as crenças e
religiões primitivas.
( ... ) A Mediunidade é o Mediunismo desenvolvido,
racionalizado e submetido à reflexão religiosa e filosófica e às pesquisas científicas necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e suas leis.
( ... ) O Mediunismo
divide-se em vários ramos,
correspondentes às nações africanas de que
procedem. E há graus evolutivos em suas praticas
mediúnicas. Nos terreiros de Umbanda
as práticas são mais elevadas, voltadas
para o bem. Nos de Quimbanda o sangue de animais e a queima de pólvora revelam a brutalidade dos ritos selvagens, que eram
práticas de defesa para as tribos e
no meio civilizado se tornaram práticas maléficas, dirigidas contra desafetos e rivais. Mas há os terreiros de linhas cruzadas, geralmente chamados de
Aruanda, onde tanto se pratica o bem para os amigos como o mal para os
inimigos.
As danças rituais do Candomblé africano encontram sua réplica nativa nas danças indígenas da Poracê.
( ... ) A Macumba, com seus despachos, é uma prática proveniente da mais remota antigüidade. Macumba é instrumento de sopro, geralmente de bambu, que se toca
para chamar os espíritos do mato, e o
despacho, ao contrário do que geralmente se
pensa, não é a oferenda de comidas e bebidas
que se coloca nas encruzilhadas e nas esquinas de ruas ( adaptação urbana do rito selvagem ) , mas o
envio de espíritos inferiores para
atacar as pessoas visadas. A oferenda é a paga que assegura a eficácia do ataque.
( ... ) Por sinal que encontramos nesse capítulo a ignorância ilustrada de sociólogos, antropólogos, psicólogos e médicos, que usam em seus
trabalhos e pesquisas a palavra Espiritismo para designar as manifestações do
animismo primitivo e do mediunismo selvagem.
( ... ) O Mediunismo é precisamente o instrumento
natural de que o homem dispõe para elevar-se ao plano da mediunidade,
transcendendo a sua condição tribal. Mas se o homem se entrega ao atavismo da
religiosidade mágica e por isso mesmo fanática, serve-se do mediunismo, nessas formas clássicas de civilizações mortas, para repetir os suicídios anteriores.
CAPÍTULO
VII
A MESA
E O PÃO
Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao
seu redor. Afastava assim qualquer resquício
de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico.
( ... ) Se quisermos deformar e ridicularizar a prática espírita, basta exigirmos a toalha branca na mesa, vestir os
médiuns de vestes brancas e
rituais, obrigá-los a formar a
corrente de mãos dadas e outras muitas tolices dessa espécie. É o que fazem os espíritos mistificadores, através de dirigentes supersticiosos e simplórios.
( ... ) Em todas as reuniões mediúnicas o ectoplasma se libera para ajudar as ligações
perispirituais entre médiuns e espíritos.
( ... ) O problema da concentração mental é também um dos menos
compreendidos. A concentração dos pensamentos numa reunião mediúnica não corresponde ao tipo de concentração individual de uma
pessoa num determinado problema a resolver ou num estudo a fazer.
( ... ) Todos devem voltar o seu pensamento para um alvo
superior, geralmente para
Jesus ( pois pensar em Deus é mais difícil ) [1] e todos devem manter a idéia de Jesus na mente. Sem esforço ou preocupação, como
quem se lembra saudoso de um amigo distante. Este estado mental de lembrança, não de uma imagem ou figura de Jesus, mas da sua
pessoa, dos seus atos, dos seus ensinos e do que ele representa para nós, deve ser mantido no decorrer da sessão.
( ... ) O sistema autoritário, em que o presidente determina aos médiuns receberam as comunicações, uma de cada vez, provém da recomendação do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla liberdade, [2] permitindo as conversações entre espíritos comunicantes, às vezes através de vários médiuns.[3] Léon Denis usava também de liberdade em suas sessões.
( ... ) É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor.
( ... ) No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso critério kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec: Instruções Práticas sobre Manifestações Espíritas e O Livro dos Médiuns. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do ensino da mediunidade. Livros como No
Invisível, de Léon Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais colocados como obras básicas da doutrina. Sem esse critério, muitos Centros e Grupos, e até mesmo grandes instituições, caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo
sacerdotal que desfiguram e ridicularizam o Espiritismo. Precisamos compreender
que lidamos com uma doutrina revolucionária,
que deve modificar a rotina espiritual da Terra, abrindo-lhe as perspectivas de
uma nova concepção do espírito. Sem isso, nossa
mesa só
terá pão murcho e envelhecido.
CAP
VIII
VAMPIRISMO
A obsessão é uma infestação da alma,
semelhante à
infecção do corpo carnal, produzida
por vírus e bactérias. A alma é o espírito enquanto encarnado.
Morto o corpo, a alma se liberta e reassume a sua condição livre de espírito. Dessa maneira, no Espiritismo não existe a chamada
alma do outro mundo. O espírito encarnado torna-se
alma de um corpo. Dizia o Padre Vieira, nos seus sermões: “Quereis ver o que é a alma? Olhai um corpo sem alma”.
( ... ) Kardec classificou a obsessão em três categorias: obsessão simples, subjugação e fascinação. O primeiro tipo se caracteriza por perturbações mentais
e alterações de comportamento, sem muita gravidade. O segundo, pelo domínio do corpo, produzindo-lhe os chamados tiques nervosos
e sujeitando-o a atitudes ridículas em público. O terceiro consiste no domínio hipnótico de corpo e alma,
através de um processo de fascinação que deforma a personalidade.
Nos relatos publicados na
Revista Espírita Kardec nos oferece uma visão
assustadora dos processos obsessivos no seu tempo, há mais de um século. O Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, médico e senador do Império, e posteriormente o Dr. Inácio Ferreira, diretor clínico do Hospital Espírita de Uberaba, publicaram importantes trabalhos sobre
os processos obsessivos no Brasil. Essas obras, A Loucura sob Nova Prisma, de
Bezerra, e Novos Rumos à Medicina, de Inácio Ferreira. Infelizmente, o nosso meio médico-espírita
não foi
muito além disso. O crescimento assustador dos
casos de obsessão fez surgir, só no Estado de São Paulo, mais de trinta Hospitais Psiquiátricos espíritas, hoje reunidos numa
Federação, e mais de vinte nos demais Estados.
( ... ) O desenvolvimento da Parapsicologia, que poderia
contribuir para dar um pouco de claridade a esse quadro sombrio foi tumultuado
entre nós pela baderna sectária de padres gananciosos e ignorantes, que conseguiram
desinteressar as áreas universitárias, temerosas de tratar do assunto. Um médico e intelectual paulista de renome chegou a publicar
artigos contra a criação de hospitais espíritas,
batendo na velha tecla reacionária da sua pianola de
superstições.
( ... ) Nesse panorama desolador proliferam os terreiros
do sincretismo com suas defumações
à pólvora, seus exorcismos leigos e sua terapêutica de herbanários, apoiada nos ritos selvagens do sangue de galinhas
pretas e gatos pretos.
( ... ) No capítulo trágico da obsessão em massa
temos o tópico especial do vampirismo.
( ... ) Na Idade Média,
como disse Conan Doyle, houve uma invasão de bárbaros, que os clérigos
combatiam com afogamento das vitimas nos rios e lagos e a queima dos hereges
vivos em praça pública, sobre montes de
lenha a que se ateava o fogo da purificação.
( ... ) Em nossos dias assistimos a um explodir de
recalques e frustrações nas águas sujas da pornografia
e da criminalidade erótica. Voltam os vampiros,
em bandos famintos, ansiosos pelo sangue das novas vítimas.
( ... ) São muitos os casos de sexualidade mórbida, exasperada pela atividade dos vampiros. Esta
denominação é dada aos espíritos inferiores que se deixaram arrastar nos delírios da sensualidade e continuam nessa situação após a morte. A Psiquiatria materialista, impotente diante
da enxurrada, incapaz de perceber a ação parasitária dos vampiros, desiste da cura dos desequilíbrios sexuais e cai vergonhosamente na aceitação desses
casos como normais estimulando as vítimas no desgaste
desesperado de suas energias vitais em favor do vampirismo.
( ... ) Os desvios sexuais têm procedências diversas. Suas raízes genésicas podem vir de profundidades insondáveis. A própria
filogênese do sexo, que começa
aparentemente no reino mineral, passando ao vegetal e ao animal, para depois
chegar no homem, apresentando enorme variação de formas, inclusive a autogênese dos vírus e das células e a bissexualidade
dos hermafroditas, justifica o aparecimento de desvios sexuais congênitos.
( ... ) A Psiquiatria materialista, que desconhece os
processos dinâmicos do espírito, pode considerar esses casos como irremediáveis e recorrer ao processo escuso de normalizar o
anormal. Mas o Espiritismo nos fornece os recursos do esclarecimento científico e racional do problema.
( ... ) Sabemos hoje com segurança que a sexualidade é um sistema de
polaridade não adstrito á forma especifica do aparelho sexual. [4] Na verdade, a sexualidade é a fonte única[5] dos dois sexos, o
masculino e o feminino. Para a mudança de sexo na reencarnação, em face da
necessidade de experiências
novas no plano evolutivo, basta a inversão da polaridade na adaptação do espírito ao novo corpo material. Essas inversões se processam
no perispírito, como ensina Kardec, pois é este e não o corpo o controlador de todo
o funcionamento orgânico e fisiológico do corpo material.
( ... ) A concepção de Balzac em Spirite, uma das mais belas obras
da sua série de romances filosóficos é mais aceitável, embora ainda não verídica: Spirite é um ser superior que reúne em sua personalidade, na fusão das almas gêmeas, as duas personalidades da
dupla polaridade: a masculina e a feminina. Mas essa fusão, essa reunião da
parelha humana num indivíduo único, aparece como a síntese dialética das duas metades
opostas e complementares, para a integração da unidade biológica da espécie. A unificação biológica, no esquema evolutivo, não pode implicar desajustes
e desequilíbrios que perturbem as conquistas
superiores da evolução psico-afetiva.
( ... ) O vampirismo cessa no momento em que o obsedado
se dispõe a reintegrar-se em si mesmo, na posse de sua personalidade, não
aceitando sugestões e infiltrações de vontade estranha em sua vontade pessoal e
soberana.
( ... ) A idéia
simbólica da
Mitologia, de que os deuses aspiravam as emanações das coisas que não mais
podiam comer ou beber é a
imagem exata da vampirização das criaturas encarnadas pelas entidades
desencarnadas inferiores, espíritos ainda em estágio evolutivo primário,
que buscam suprir a ausência do
seu corpo carnal com a exploração impiedosa e vil dos corpos alheios.
( ... ) Mas a verdade é que o vampirismo é uma parceria sinistra. Daí a necessidade de
se doutrinar primeiro o obsedado, despertando-lhe a consciência das suas
responsabilidades, para que ele feche a porta da sua vontade às insinuações
dos obsessores[6] .
( ... ) Mas se o obsedado não se quer curar, nada se pode
fazer.
( ... ) Chegou a hora em que esses fatos secretos devem
ser proclamados de cima dos telhados, segundo a previsão de Jesus registrada
nos Evangelhos. Mais do que nunca se comprova o adágio: “Ajuda-te que o Céu te ajudará”.
CAPÍTULO
IX
A MORAL
MEDIÚNICA
O fato de Kardec considerar que a Mediunidade não depende
da Moral, pois se relaciona com o corpo, serviu de motivo para explorações dos
inimigos gratuitos do Espiritismo. A afirmação kardeciana se confirma nas
pesquisas atuais da Parapsicologia, como já se confirmara nas pesquisas da Metapsíquica. Nas experiências espíritas posteriores a Kardec também se confirmou essa distinção. E isso porque, como se vê no Livro dos Médiuns, a mediunidade não é uma graça ou dom especial concedido a criaturas
privilegiadas, mas uma faculdade humana como as demais.
( ... ) O que gerou esse mau entendimento do ensino de
Kardec foi a crença ingênua de que Deus só concede
benefícios a
criaturas santificadas, quando os fatos nos mostram o contrário: as criaturas más,
perversas e viciadas são as que mais recebem os benefícios de Deus, que deseja desviá-las de seus erros pela transformação da consciência e não pela força, pois através desta a transformação seria forçada e não natural,
espontânea e verdadeira.
( ... ) Quanto à ligação da mediunidade com o corpo, que muitos espíritas não entenderam, confundindo-a com uma suposta
origem orgânica da mediunidade, trata-se de
coisa muito diferente disso. A mediunidade está ligada ao corpo pelo espírito que a ele se liga, mas não pertence ao corpo e sim
ao perispírito, que enquanto estivermos
encarnados faz parte do corpo e permite a ligação do espírito comunicante com o perispírito do médium.
( ... ) A existência da mediunidade, determinando mudanças no
comportamento dos médiuns, necessariamente dá origem à Moral Mediúnica. Sabemos que a Moral
é um sistema de regras ou
normas de conduta, derivadas dos costumes e das tradições de uma determinada
cultura.
( ... ) A negação materialista da Moral absoluta e a negação
positivista da Moral Metafísica tiveram então de
enfrentar a tese bergsoniana da Moral Consciencial. A Moral existe como
absoluta e metafísica nas aspirações de ordem, justiça, beleza e bondade dos
anseios humanos de transcendência. Em sentido geral, podemos dizer que a Moral é a busca da realização do Bem na
Terra.
( ... ) A Moral Mediúnica não é simples repetição dos preceitos evangélicos usados pelas religiões na medida de suas conveniências e aplicadas a sociedades no
resguardo de seus interesses. É a moral total ensinada e vivida por Jesus,
interpretada em profundidade e sem temor pelos que realmente a compreenderam,
como vemos no exemplo de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Kardec desvestiu os
Evangelhos de todos os adereços mitológicos e supersticiosos
dos textos clássicos ( escritos no
clima da era Mitológica ) para destacar
apenas o ensino moral do Cristo, que é a essência de toda espiritualidade verdadeira.
( ... ) E dessa fraude universal do direito e da verdade
surgiram os anti-evangelhos das concessões igrejeiras com o rendoso comércio das indulgência.
( ... ) Além disso, as pesquisas
kardecianas revelavam, confirmando Paulo, em contradição com os teólogos , que a ressurreição de Jesus não fora no corpo carnal, mas no
corpo espiritual, e que os mortos não esperam o dia do Juízo para ressuscitar, pois, ainda de acordo com Paulo,
ressuscitam logo após a morte. Kardec
lembrava que os teólogos não haviam
conseguido localizar o Purgatório, mas ele o fazia,
indicando que o lugar de purgação era a Terra, em nosso sistema solar, e mundos
de condições semelhantes às do nosso planeta, em outros sistemas. A vaidade humana sentia-se ferida,
na tola pretensão de estarmos, como queria o Dr. Pangloss, no melhor dos
mundos. Ruíam as pretensões igrejeiras ante
essas revelações baseadas em pesquisas sérias,
feitas com rigor científico, mas a Igreja
investia furiosa contra o Espiritismo, que lhe roubava o direito aos segredos
de Deus. Dali por diante, as criaturas de bom-senso não comprariam mais os
passaportes eclesiásticos para as mansões celestes.
( ... ) A Moral Mediúnica substitui o sacerdócio remunerado pelo mediunato gratuito.
( ... ) Onde entra o lucro, o interesse pessoal
desaparece a abnegação e com ela a mais
alta virtude espírita que é a doação de si mesmo em favor da causa humanitária.
( ... ) Os médiuns curadores são os
mais expostos à tentação do dinheiro, assediados por
laboratórios e até mesmo por hospitais que lhes
oferecem empregos generosos em seu quadro de funcionários, para explorar o seu nome e a sua mediunidade, com o
sofisma de que ali poderão trabalhar sem perigo e prestar maiores serviços em
casos incuráveis.
( ... ) Certas
instituições
tomam medidas extremadas como a divisão de homens e mulheres em grupos
separados em seus trabalho mediúnicos ou de palestras e
cursos. Trata-se de resquícios da moral hipócrita de tempos excessivamente místicos, em que os moralistas cristãos faziam como os
fariseus acusados por Jesus: coavam um mosquito e engoliam um camelo. Toda
forma de extremismo é sempre
negativa, denotando insegurança e desconfiança de tudo e de todos. Medidas
extremas como essa revelam falta de maturidade dos que as impõem e falta de
respeito pelos freqüentadores. Além disso, levam ao ridículo. Devemos lembrar-nos desta expressão feliz de
Kardec: O Espiritismo é uma questão de bom-senso.
CAPÍTULO
X
RELAÇÕES MEDIÚNICAS
( ... ) O médium isolado ou solitário é um barco à deriva em águas desconhecidas e
misteriosas. O médium ligado a uma
instituição é um barco ancorado, cuja segurança aparente o impede de
navegar. As águas doutrinárias são volumosas e instáveis como a do mar e o barco mediúnico precisa acostumar-se enfrentar os seus embates para
revelar sua resistência,
seu equilíbrio, sua potência e velocidade.
( ... ) A mediunidade oculta no recesso da família ou de um pequeno grupo de reuniões privativas
torna-se rotineira e estéril. O médium centraliza as atenções, converte-se numa criatura
mimada, considerada excepcional e por isso mesmo a salvo de erros e de críticas. Forja-se assim, em torno do médium, um círculo vicioso de reverência e adoração, de submissão supersticiosa, que o
transforma num ídolo ou num oráculo infalível. Essa infalibilidade artificial não o beneficia, nem
ao grupo mas apenas aos espíritos sistemáticos ou mistificadores, que mais hoje mais amanhã poderão levá-lo à obsessão. No ambiente de
beatice e temor assim formado, ele é, na verdade, uma vítima dos seus próprios
adoradores.
( ... ) Nessa posição está
exposto ao
envolvimento das entidades mistificadoras, que desviarão facilmente as suas
energias mediúnicas para o campo das
confusões doutrinárias e portanto do
aviltamento da doutrina.
( ... ) O médium
solitário
torna-se vulnerável à fascinação e à subjugação de entidades interessadas em
fazer o conhecimento espiritual retroceder às condições do passado monástico e teológico que o Espiritismo
rompeu para iniciar uma nova era da cultura terrena. As relações sociais no
Espiritismo, em campo aberto, têm por finalidade o apoio recíproco de médiuns, estudiosos e pesquisadores dos fenômenos mediúnicos, para troca de idéias e de experiências de maneira a facultar o desenvolvimento de uma
cultura espiritual desligada das superstições do passado obscurantista, em que
o isolamento orgulhoso das Igrejas em relação ao avanço científico separou a cultura religiosa da cultura geral.
( ... ) É o círculo vicioso em que caímos no movimento espírita brasileiro, infelizmente em conseqüência da nossa própria formação religiosa e da nossa falta
generalizada de conhecimentos filosóficos, que deu ênfase excessiva, entre nós, ao aspecto religioso do Espiritismo e às tendências místicas e mágicas do nosso povo.
( ... ) O resultado é o aparecimento de mestres doutrinários imbuídos de pretensões
revisionistas, inventores de novas práticas
e criadores de princípios estranhos à natureza do Espiritismo.
( ... ) As raízes místicas e mágicas da nossa formação religiosa levam as pessoas a
encararem os médiuns como criaturas
privilegiadas dotadas de dons sobrenaturais. Os médiuns, por sua vez, dificilmente compreendem que esse é um fator desfavorável à sua relação normal e incentivam essa falsa idéias com palavras e atitudes que brotam da vaidade
individual, do desejo de realmente passarem como dotados de condições
superiores às normais.
( ... ) Essa a causa do endeusamento dos médiuns, não raro desprovidos até mesmo dos predicados normais da
espécie. ( ... ) Médiuns e pregadores ou expositores espíritas sem humildade, sem o devido conhecimento de suas próprias deficiências, são espantalhos no arrozal do Espiritismo.
( ... ) Deixando-se levar na onda das novidades, os médiuns aceitam indicações de livros atualíssimos, desdenhando o mestre e pagando caro esse desdém, não raro por toda uma existência que poderia ter sido útil mas tornou-se nula e prejudicial.
( ... ) No caso dos obsessores e mistificadores pode ser
para experimentar a firmeza do médium, por atração de seus
pensamentos vaidosos ou maldosos; por motivo de ódios antigos; perseguição por motivos doutrinários; de parte de adeptos de seitas contrárias à doutrina; vingança relacionada com problemas do passado;
desejo de arrastar o médium a outros caminhos espirituais, afastando-o do
Espiritismo e assim por diante. O Livro dos Médiuns esclarece bem este assunto, a que nos referimos
indicando a variedade de motivações. É necessária a leitura do livro Obsessão de Kardec, e pesquisa na
coleção da Revista Espírita. Todos esses casos
podem ser prevenidos pelo médium através de um comportamento regular na vida, dedicando-se aos
estudos doutrinários sistemáticos para mais ampla compreensão das funções mediúnicas. ( ... ) Evitar estados de inconformação, tristeza
e aborrecimento, mantendo-se o mais possível
na disposição de tudo encarar com naturalidade, confiança e fé, na certeza de que os poderes superiores velam pelas
criaturas de boa-vontade, mas sem otimismos ilusórios ou esperanças de privilégios pessoais no trânsito
das experiências terrenas. A Lei do
Amor rege o Universo. Os que aprenderam a amar e perdoar, a orar e servir, não têm o que temer.
CAPÍTULO
XI
MEDIUNIDADE ZOOLÓGICA
O problema da mediunidade animal apareceu no tempo de
Kardec e foi objeto de estudos e debates na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, tanto os espíritos,
quanto Kardec e a Sociedade consideraram o assunto como sem fundamento. Os
animais são os nossos irmãos mais próximos na escala ontológica. Não só Darwin, como
Roussel Wallace, antropólogo espírita, consideraram o animal como o último elo da cadeia evolutiva que se encerra no homem.
Depois da Humanidade inicia-se um novo ciclo da evolução com a Angelitude. O
anjo é o homem-espiritual, último produto da evolução ôntica da Terra, que no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo é representado com asas e aura
luminosa. Não há descontinuidade na
evolução. Tudo se encadeia no Universo, como acentuou Kardec.
A
Ontogênese Espírita, ou seja, a teoria doutrinária da criação dos Seres ( Do grego: onto é Ser; logia e estudo, ciência) revela o processo evolutivo
a partir do reino mineral até o reino hominal. Essa teoria da evolução é mais audaciosa que a de Darwin. Léon Denis a definiu numa seqüência poética e naturalista: A alma dorme na pedra, sonha no
vegetal, agita-se no animal e acorda no homem. Entre cada uma dessas fases
existe uma zona intermediária, como se pode
verificar nos estudos científicos. Assim a teoria espírita da evolução considera o homem como um todo formado de espírito e matéria.
( ... ) Mas a mais refinada conquista da evolução, que
marca o homem com o endereço do plano angélico,
é a Mediunidade. Função sem órgão, resultante de todas as funções orgânicas e psíquicas
da espécie. A Mediunidade é a síntese por excelência, que consubstancia todo o
processo evolutivo da natureza. Querer atribuí-la a outras espécies que não a humana é simples absurdo.
( ... ) Os principais elementos que permitiram e
asseguraram o desabrochar dessa flor estranha na Terra só apareceram no homem: a
sensibilidade aprimorada ao extremo das possibilidades materiais, o psiquismo
requintado e sutil, a afetividade elaborada aos impulsos da transcendência, a vontade dirigida por
finalidades superiores, a mente racional e perquiridora, a consciência discriminadora e analítica, o juízo disciplinador
e avaliador que se avalia a si mesmo, o arquivo do imemorial como
substrato funcional da memória nas profundezas do
inconsciente, o pensamento criador e dominador do espaço e do tempo, a intuição
inata de Deus como o selo vivo e atuante do criador na criatura.
( ... ) A Psicologia
Animal está hoje suficientemente avançada
para nos mostrar que muitas manifestações da inteligência animal não passam de automatismo
mal interpretados. Observações prolongadas e minuciosas, experiências mil vezes repetidas sob
rigoroso controle revelaram as limitadas possibilidades de adaptação de animais
a funções humanas. A distância entre o animal e o
homem, segundo Kardec, pode ser compara à distância entre o homem e
Deus.
( ... ) As pesquisas
parapsicológicas atuais provaram que os
animais possuem percepção extra-sensorial que lhes permite perceber a presença
de entidades espirituais de nível inferior. Certas
faculdades dos animais são mais agudas que as nossas, como a da visão na águia e no lince, a do olfato e da audição nos cães, a da direção nas aves e animais
marinhos e assim por diante. São faculdades sensoriais desenvolvidas na medida
das necessidades de sobrevivência de certas espécies.
( ... ) Da mesma maneira
porque agem sobre os objetos inertes, movimentando-os através de suas próprias vibrações fluídicas ou por meio de energias ectoplásmicas de um médium, os espíritos podem agir sobre os animais e as plantas, na
produção de fenômenos de ordem física.
( ... ) A
sobrevivência da forma animal
confirma a teoria espírita a respeito, enquanto a psicocinesia revela a
possibilidade de controle dessas formas pelo poder mental dos espíritos.
( ... ) A tendência zoófila é muito difundida no meio espírita. Ao sentimento inato de amor pelos animais, os espíritas acrescentam os recursos doutrinários da sua racionalização. Vêem em cada animal uma alma em
desenvolvimento, um espírito primário a caminho da humanização. Essa visão é verdadeira e contribui muito para
melhorar a nossa maneira de encarar os animais como simples fornecedores de
carne para a nossa mesa. Mas a falta de maior conhecimento da doutrina leva a
maioria das pessoas zoófilas a extremos
ridicularizantes, como no caso da mediunidade animal.
( ... ) Kardec se refere,
no Livro dos Médiuns, a tentativas de
magnetizadores, na França, de magnetizar animais e desaconselha essa prática em vista dos motivos contra a mediunidade animal.
Entende mesmo que a transmissão de fluidos vitais humanos para o animal é perigosa, em virtude do grande
desnível evolutivo entre as duas espécies.
CAPÍTULO
XII
MEDICINA ESPÍRITA
A Medicina Espírita é um processo em desenvolvimento. Começou com Kardec e o
Dr. Demeure, em Paris, na segunda metade do século passado. As experiências e observações realizadas,
com médiuns terapeutas na clínica do Dr. Demeure figuram, em parte, na Revista Espírita, coleção de doze volumes dos doze anos em Kardec dirigiu e
redigiu, praticamente sozinho, os fascículos
mensais da publicação por ele fundada. A Medicina Espírita é uma decorrência natural da natureza e das finalidades do Espiritismo. ( ... ) O
materialismo dominante nas ciências e na Medicina repeliu a Medicina Espírita. ( ... ) Não deixou o tratado de Medicina Espírita e o de Educação e Pedagogia Espírita
que desejava elaborar. Completada a obra da Codificação do Espiritismo,
lançou-se ao campo das aplicações doutrinárias,
segundo suas próprias palavras, com a
elaboração do Livro A Gênese,
de importância fundamental nos três campos fundamentas do
Espiritismo. Mas deixou, com A Gênese, um modelo do que ele chamou aplicação dos princípios e dos dados do Espiritismo às diversas áreas da cultura.
( ... ) Charles Richet,
diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de França, Prêmio Nobel de Fisiologia, prestaria mais tarde sua homenagem a Kardec,
reconhecendo, no Tratado de Metapsíquica, o critério científico de Kardec, que
jamais expusera questões ou elaborara princípios que não se baseassem em rigorosas pesquisas.
(
... ) Hoje há várias associações de Medicina e Espiritismo e de médicos espíritas no Brasil e no
mundo, grandes redes hospitalares espíritas
e notáveis trabalhos publicados por
cientistas e médicos espíritas, particularmente nos Estados Unidos, na Inglaterra,
na Itália, na Alemanha e na Suíça. O
interesse das ciências
soviéticas também se manifestou, apesar das objeções ideológica, e o Dr. Wladimir Raikov, da Universidade de Moscou,
projetou-se mundialmente como investigador dos fenômenos mediúnicos
através da Parapsicologia,
interessando-se especialmente pelo problema da reencarnação. Sob a hábil designação de reencarrnações sugestivas,
como ocorrências de tipo psiquiátrico que precisam ser esclarecidas.
( ... ) A maior
conquista dos soviéticos nesse campo foi a
descoberta científica e tecnológica, na famosa Universidade de Kirov, no Afeganistão, da
existência do corpo bioplásmico das plantas, dos animais e do homem. Esse corpo,
que corresponde em estrutura e funções, plenamente, ao perispírito ou corpo espiritual do espiritismo, que representa
uma revolução copérnica na biologia e na Medicina.
( ... ) A
Medicina Espírita, portanto, é uma realidade inegável na atualidade científica do mundo, e sua biografia apresenta-se dramática implicando até mesmo problemas internacionais. Essa realidade se
enriqueceu com o episódio brasileiro do chamado
caso Arigó, do famoso médium curador de Congonha do Campo, Minas Gerais,
pesquisado por uma equipe de cientistas e médicos de várias Universidades
norte-americanas. As pesquisas provaram a existência real de diagnósticos, curas de doenças incuráveis, como casos de câncer desenganados, e intervenções cirúrgicas sem assepsia nem anestesia de qualquer espécie. Arigó foi caluniado, após a sua morte
acidental, por autoridades eclesiásticas, como charlatão, mas consagrado pelos cientistas
como um dos maiores casos de mediunidade curadora do mundo. Morreu num desastre
de automóvel, precisamente quando esperava
a visita de uma equipe de cientistas suíços e outra de cientistas japoneses
interessados em pesquisá-lo.
( ... ) A
Medicina Espírita não é uma aplicação pura e simples da mediunidade curadora a
casos de doenças incuráveis, nem uma forma de
curandeirismo. É o que Kardec chamava uma aplicação dos princípios espíritas no plano cultural No caso, aplicação específica à Medicina, o que só pode ser feito por médicos. O Espiritismo contribui com a mediunidade e a
Medicina com o saber e a experiência dos médicos. Há casos dessa dupla contribuição se conjugarem numa só pessoa: o caso dos médicos espíritas que são também médiuns.
( ... ) Entre todas as
formas de manifestações mediúnicas, a mais perigosa para os médiuns é a curadora. Não porque os exponha a riscos de saúde, que praticamente não existem numa mediunidade bem
controlada, mas porque os expõe à fascinação das vantagens materiais. Todo
médium curador é inevitavelmente assediado por
pessoas que querem agradá-lo, que o elogiam,
dizem-se seus amigos, dão-lhe presentes e assim por diante. Pouco a pouco o médium se deixa envolver, convence-se da sua importância, torna-se vaidoso e ambicioso.
( ... ) São muito variados os
tipos de mediunidade curadora, desde o simples passista e o receitista, o
vidente-diagnosticador, até o operador, o médium-cirurgião, que tanto pode agir com instrumentos ou apenas com imposição das mãos,
ou ainda os que praticam a cirugia-simpatética,
um dos fenômenos mais estranhos e complexos
de todo o fenomenismo paranormal.
( ... ) Anésio Siqueira, famoso na década de 30, sofreu grave enfermidade que o levou à proximidade da morte. Os médicos o desenganaram, de repente recuperou-se e começou a
fazer curas. Não conhecia o Espiritismo e
nunca o aprendeu, dava passes fumando, o cigarro entre os dedos, e realizou
curas espantosas, tanto espirituais (desobsessão) quanto materiais. José Arigó, roceiro, já na infância via e ouvia os espíritos, na adolescência começou a sentir terrores noturnos, foi perseguido por visões
assustadoras. Na juventude ( era católico ) empolgou-se pelo
ideal de pureza e santidade e ouvia vozes que lhe aconselhavam a castidade. Ao
entrar na maturidade, casou-se e passou por uma fase de equilíbrio em que se mostrava despreocupado, alegre e
brincalhão. Um dia teve de socorrer um amigo que se havia engasgado. Começou aí a sua espantosa mediunidade-cirúrgica.
( ... ) Na prática da cirurgia simpatética, Arigó agia sem tocar no doente. Procedia como a médium Bernarda Torrúbio, mulher do campo,
esposa de José Torrúbio, sitiante de Garça, na Alta
Paulista. Fazia uma aprece, pedindo assistência aos espíritos. Estendia as mãos sobre o doente, sem tocá-lo. Este sentia que mexiam por dentro em seus órgãos doentes, ocorriam-lhe ânsias de vômito, mas quem vomitava
era a médium. Vômito geralmente espesso,
com grande quantidade de pus e sangue e pedaços de matérias orgânicas. O doente se sentia
fraco, abatido como se tivesse passado por uma intervenção cirúrgica. As dores internas confirmavam essa impressão.
Durante uns poucos dias as dores continuavam, mas logo começavam a diminuir e
desapareciam. A recuperação era rápida e total.
( ... ) Nas experiências soviéticas os cientistas consideraram o ectoplasma como
energia radiante emitida pelo perispírito ou corpo espiritual
do médium. Crookes chamou-o de força psíquica e Notzing colheu porções de ectoplasma e submeteu-os a análise de laboratório,
provando que a porção morta desse elemento, dissociada do médium, compunha-se de células e outros
materiais orgânicos. Não há, pois, milagres no sentido místico da palavra, nessas ocorrências. Há leis naturais que pouco a pouco vão sendo esclarecidas
pelas pesquisas cientificas.
( ... ) Essa mediunidade
exige constante vigilância do médium no tocante aos seus deveres morais e espirituais e a
mais plena consciência de
suas responsabilidades doutrinarias.
CAPÍTULO
XIII
GRAU
DE MEDIUNIDADE
Existiria uma escala de
graus mediúnicos, no tocante ao poder ou
capacidade dos médiuns? Poderíamos, como na Psicologia
Experimental, medir a intensidade das percepções mediúnicas nos médiuns e determinar o
limiar das sensações ? Vários sistemas foram criados para
esse fim e alguns são adotados no meio espírita por dirigentes sistemáticos. A leitura da aura é uma técnica de avaliação das condições espirituais das pessoas
através da vidência. Mas é ponto pacífico no Espiritismo que a vidência não oferece nenhuma condição de
segurança para servir de instrumento de pesquisa. Quanto à aura, trata-se de uma irradiação perispiritual,
extrapolação de eflúvios de energias que, segundo as pesquisas atuais da
efluviografia, através das câmaras Kirlian de fotografia, em campos imantados por alta
freqüência
elétrica, revelam constantes
variações. Essas variações correspondem aos vários estados emocionais da criatura, que podem alterar-se
de uma maneira ou de outra pela simples tentativa de observá-la. Não
há, até o momento, nenhum meio
cientifico de se verificar objetivamente os graus de percepção mediúnica ou o grau de espiritualidade de uma pessoa.
Além disso, o vidente que examina a
aura de alguém sofre as mesmas
variações provenientes da instabilidade psi-orgânica e emocionais.
CAPÍTULO
XIV
MEDIUNIDADE PRÁTICA
Vida e Mediunidade são um
só
objeto
encarado de maneiras diferentes. Pensamos haver deixado isso bem claro no
correr destas páginas. Até agora ainda não compreendemos bem
esse problema, mas a sua compreensão neste momento em que as pesquisas científicas referendam a concepção espírita da vida e esta se apresenta como uma realidade mediúnica. O ato de viver é um ato mediúnico. Somos espíritos
que se manifestam através de corpos materiais.
Nossa vida é
uma alternância de sono e vigília.
( ... ) A noite e o dia
deixam de ser apenas fenômenos de rotação terrena,
para marcar também os ritmos da transcendência humana, que se passa entre
dois mundos solidários e contraditórios, nesse visão dialética da vida e da morte. Jaspers declara: “Eu sou existência”.
( ... ) O repouso noturno
favorece o repouso do corpo e consequentemente o desprendimento do espírito, que nada tem a recuperar no sono. O cansaço é um fenômeno físico, não espiritual. O cérebro
se cansa e desgasta, mas a mente, que não é física, nada sofre. Durante o ritmo noturno os espíritos suficientemente evoluídos recuperam a liberdade e entram em relação direta com
os espíritos libertos de mortos e de
vivos. A liberdade é atributo
do espírito.
( ... ) A noite, além
disso é propicia aos trabalhos
mentais e intelectuais, à cogitação filosófica, à busca serena da verdade que as
tropelias do dia obscurecem.
( ... ) Muitos espíritas
procuram técnicas de
libertação
em tradições religiosas de outros povos, sem compreenderem que as técnicas se justam a cada povo em sua maneira de ser, em suas
tradições, e que a nossa maneira e tradição ocidentais se ligam ao
Cristianismo.
(
... ) A prática espírita da vida supera a pouco e pouco a nossa insegurança,
os nossos desajustes, reequilibrando-nos em nossa personalidade. A mediunidade é a nossa bússola e devemos aplicá-la sem complicações em nossa conduta. Mantendo a mente
livre e confiante – livre do medo, das
desconfianças infundadas, da pretensão vaidosa, dos interesses mesquinhos, e
confiante nas leis da vida e na integridade do ser – tornando nossa mente aberta e flexível. Nossa potencialidade mediúnica nos proporcionará as intuições claras da realidade antes confusa, a captação fácil das sugestões amigas, a percepção direta e
profunda dos rumos a seguir em todas as situações.
( ... ) Quando concentramos
o pensamento de maneira tensa na solução de um problema, a nossa mente se fecha
sobre si mesma, como a carapaça de uma tartaruga que se defende de ameaça de
fora.
( ... ) A mediunidade não é apenas um meio de comunicação com os espíritos. Ela é a comunicação plena, aberta para as relações sociais e
para as relações espirituais. No capítulo destas, figura em
destaque, pela importância que assume em nosso
comportamento individual e social, a atividade mediúnica interior, em que a essência divina do homem se comunica
com a sua essência
humana. É esse o mais belo ato mediúnico, o fenômeno mais significativo da mediunidade, aquele que mais
distintamente nos revela a nossa imortalidade pessoal.
( ... ) Viver mediunicamente não é viver envolvido por um espírito estranho, mas viver na plenitude do nosso espírito aberto para as relações mediúnicas internas e as percepções mediúnicas externas. A tranquilidade, a segurança, o saber, o
equilíbrio que buscamos estão em nós mesmos. Podemos e devemos ser os médiuns da nossa natureza divina, soterrada em nós pelo nosso apego aos formalismos, à magia sacramental e a idolatria.
( ... ) A lição de Kardec é clara e tirada de seus estudos, de suas pesquisas, de sua
observação, de sua inteligência genial: ritos e palavras mágicas, sinais, objetos
sagrados, danças e cantos, queima de velas, plantas, pólvora e outros ingredientes nada valem para os espíritos. O que vale é o pensamento, o sentimento, a autoridade moral dos que
aplicam a mediunidade a serviço exclusivo do bem.
( ... ) Os espírito superiores – diz
Kardec – são como os homens superiores: não
se interessam por fantasias e não se interessam por nossos louvores
interesseiros. Estão prontos a auxiliar os que buscam a verdade, o conhecimento
legítimo, o amor puro, mas
distanciam-se dos que pensam conquistá-los
com homenagens tolas.
( ... ) Não tratamos dos médiuns específicos do mediunato, mas
dos médiuns comuns da mediunidade
generalizada. Não se trata de buscar o maravilhoso, mas de conhecer e
aproveitar na vida diária a maravilhosa
contribuição da faculdade mediúnica, que pode livrar-nos
de perturbações e obsessões de toda a espécie.
( ... ) E no tocante ao uso da mediunidade generalizada
ou estática, existente em todas as
criaturas, afirma-se que ela serve apenas para permitir casos de obsessão. Mas
se a mediunidade é uma
faculdade humana natural, como Kardec a classificou, é evidente que as suas funções se
desenvolvem em nós permanentemente, sem o
percebermos.
( ... ) Esse comodismo
favorece o aparecimento de pretensas inovações doutrinárias, sem a assimilação do espírito da doutrina. Por outro lado, a fuga deprimente dos
comodistas para o sincretismo e suas práticas
primarias do mediunismo. Para modificar essa situação temos de agitar as águas no bom sentido, chamando a atenção para aspectos da
doutrina que passam inteiramente despercebidos. Entre esses está o da mediunidade generalizada que procuramos tratar neste
capítulo em primeira abordagem.
( .. ) Os círculos mediúnicos com o paciente no meio pressupõe uma concentração de forças. Os médiuns já não são mais médiuns,
são pilhas
elétricas fornecedoras de energias.
Não são os espíritos que sabem o que o doente precisa. São os bisonhos
aprendizes de anatomia e fisiologia, de magnetismo e ginástica com subsídios de bailados rituais dos
templos egípcios. As pessoas que desejam
realmente iniciar-se no Espiritismo devem compreender, antes de tudo, que
Espiritismo é simplicidade
e bom-senso. Fora disso o que temos são encenações que desvirtuam a
doutrina. São essas invigilâncias que ameaçam a prática espírita. Ninguém deseja que os espíritas sejam ignorantes, mas é evidente que devem ser simples e
humildes, compreendendo que nem Salomão se vestia com a beleza das flores
simples do campo. Temos de superar o fermento dos fariseus, se quisermos
realmente fazer-nos dignos do Espiritismo.
CAPÍTULO
XV
MEDIUNIDADE E
RELIGIÃO
A
posição do
Espiritismo no quadro geral do conhecimento parece contraditória para muitas pessoas habituadas à sistemática cultural do nosso tempo. Algumas consideram utópica ou absurda a ligação das áreas clássicas da Ciência, da Filosofia e da Religião
num sistema doutrinário geral. Mas a Teoria
do Conhecimento ( Gnoseologia ou Epistemologia ) tem como objeto precisamente
essa ligação, necessária à elaboração de um sistema geral do saber.
( ... ) O Positivismo de Augusto Comte, fundado nos dados
da Ciência, pretendia arquivar
a Metafísica e toda a religiosidade, mas,
acabou levado pelas exigências sociais ( a necessidade de manter uma ordem social de fundamentos
morais ) ao desenvolvimento de uma Religião da Humanidade, em que o anseio do
positivo-concreto se pulverizou na concepção abstrata e metafísica da Deusa Humanidade. O culto positivista revestiu-se
de todos os aspectos das chamadas religiões positivas, com templos e rituais,
inclusive a celebração da missa positivista. O Marxismo, na mesma linha do exclusivismo científico, fundado numa análise exaustiva da estrutura capitalista, apoiou-se no
Materialismo Dialético, pretendendo
extirpar do mundo as concepções metafísicas e religiosas, mas
viu-se obrigado a criar a mística do proletariado e a
converter-se numa religião social em que o Homem se colocou no lugar de Deus e
o Estado se transformou numa igreja universal, estruturada no sistema de um
clero leigo, tendo como sustância vital a fé terrena nos poderes humanos,
desenvolvendo o culto do trabalho numa sistemática ideológica em que não faltam as
bênçãos e maldições.
No Sartrismo ( um
Existencialismo à moda
de Sartre ) o horror à Metafísica e à religiosidade não impediu o
recurso metafíco da dialética
hegeliana para explicar a projeção do ser na existência, com o reconhecimento inevitável da finalidade transcendente do ser. Para escapar às exigências lógicas dessa capitulação filosófica, Sartre capitulou de novo
ante a abstração total do nada.
( ... ) Parece claro e
inegável que a Doutrina Espírita não apresenta nenhuma contradição lógica ou epistemológica
nesse sentido, mostrando-se plenamente integrada nas exigências e nas leis da teoria do
conhecimento. As diversas áreas do saber não se
contradizem, apenas se complementam. E a Ciência Espírita, como todas as demais, iniciou-se com as pesquisas
fenomênicas. Não partiu das
deduções de
princípios abstratos, de nenhuma metafísica suspeita, mas da rigorosa pesquisa de fenômenos, dos quais, através do método indutivo, elevou-se
ao plano da teoria, formulação de um sistema do mundo que abrangia nada menos
do que toda a face oculta da própria realidade terrena.
As hipóteses iniciais de Kardec não eram
espíritas, eram materialistas. Mas a
pesquisa derribou essas hipóteses, deslocando o
pesquisador do campo científico dominante no seu
tempo para um novo campo, hoje confirmado pelas ciências em quase todos os seus
ramos.
( ... ) Os críticos dessa atitude racional dos espíritas fazem como os médicos da vacina de Pasteur, certos de que ele recorria a
seres inexistentes e inventados pela sua imaginação. A comparação é tanto mais certa quanto Pasteur e Kardec descobriram
mundos invisíveis que nos cercam e
podem agir sobre nós, causando-nos doenças
ou restabelecendo-nos a saúde.
( ... ) As sessões espíritas diferenciam-se das cerimônias religiosas das igrejas, em primeiro lugar, por se
basearem na fé racional;
em segundo, por se utilizarem de leis naturais e não de fórmulas sacramentais; em terceiro, por se apoiarem numa Ciência hoje confirmada pelas
investigações
científicas nos maiores centros
universitários do mundo. As aparências iludem, mas os homens de
cultura científica não costumam ficar nas
aparências. A prece espírita não se funda na suposição de sua eficácia milagrosa ( o que vale dizer mágica ) ou psicológica,
sugestiva, mas na certeza da ação conhecida de leis naturais que estruturam a
realidade visível e invisível em que vivemos. O físico e o químico não usam rituais para
obterem os fenômenos que desejam. Usam
os instrumentos e os ingredientes necessários.
Os espíritas também não possuem rituais, não crêem num suposto poder das fórmulas mágicas, mas usam os instrumentos e as energias necessárias à produção dos resultados que
buscam.
( ... ) A Física revelou a existência e o poder dos campos de
força, dos fluxos de energia, das correntes elétricas e magnéticas e mostrou como
podemos produzi-los, controlá-los e aplicá-los. A Ciência Espírita fez o mesmo com as
energias mentais, afetivas, volitivas da mente e de todo o psiquismo humano. Um
espírita estudioso, conhecedor de sua
doutrina e experiente nas práticas mediúnicas, sabe como lidar com essas forças e como utilizá-las. A fé que o anima não
é cega e formal, dogmática e emocional. É a fé do cientista em sua ciência: racional, experimental,
comprovada em milhões de aplicações eficazes em todo o mundo.
( ... ) A concentração mental que
favorece o clima de recolhimento ( um dos ingredientes da sessão ) exige que
todos dirijam o seu pensamento para um alvo superior. Pensar em Deus é mais difícil, pois a maioria pensaria apenas numa palavra. A
concentração não é individual, mas
coletiva. Todos os presentes pensando em Jesus, o pensament[7] o de todos se concentra numa idéia definida e respeitada por todos. Não se trata também de um fixação mental da figura de Jesus. Os dirigentes
avisados explicam que ninguém deve fixar uma imagem, pois isso exigiria esforço mental cansativo, tensão mental contrária ao fim desejado, que é a criação e
manutenção de um ambiente fluídico, ou seja, de vibrações serenas e estimuladoras.
Trata-se de uma técnica psicológica de resultados espirituais.[8] Na doutrinação (esclarecimento
dos espíritos perturbados, que perturbam
pessoas presentes ou ausentes) o nome de Jesus e os seus ensinos serão
constantemente lembrados, não por formalismo, mas porque essas lembranças tocam a sensibilidade dos espíritos. A doutrinação não é uma imposição,
não tem a
violência das práticas assustadoras do exorcismo. Trata-se de uma técnica persuasiva, tipicamente psicológica, visando desviar a mente dos espíritos doutrinados das
ideias fixas a que se apegam obstinadamente. Desviada a orientação mental das
imantações ao ódio, à vingança, à perversidade, ou mesmo à intenções sectárias e fanáticas, ou ainda às lembranças da vida que se findou, à lembrança do corpo já transformado em cadáver,
a mente do espírito se torna acessível às
renovações
necessárias que o levarão à normalidade.
( ... ) Sendo a
mediunidade uma faculdade humana decorrente da constituição do homem com espírito e corpo, deu origem às religiões naturais ou primitivas em
toda a Terra. Kardec assinala esse fato em suas obras, dando-lhe mais ênfase no Livro dos Médiuns. As pesquisas de antropólogos ingleses na Austrália e de franceses na África, seguidas dos magistrais estudos de Ernesto Bozzano
na Itália provaram a origem única de todas as religiões. Todas elas nascem e se
alimentam dos fatos mediúnicos.
( ... ) A Igreja Católica suspendeu o culto pneumático das igrejas apostólicas, que consistiam nas manifestações dos espíritos ( do grego: pneuma ) e eliminou o dogma da
reencarnação. Mas não conseguiu retirar dos textos sagrados do Judaísmo e dos Evangelhos esse princípio. Interpretações
teológicas
fizeram o mesmo nas Igrejas da Reforma. Não obstante, a própria eleição dos Papas Católicos guarda ainda hoje sua ligação com a mediunidade.
Formalmente, a escolha do novo Papa depende de inspiração do Espírito Santo.
( ... ) As aparições de santos e anjos são
consideradas como válidas em todo o mundo
cristão, judeu e islâmico. O Corão é um livro psicografado. O exorcismo judeu é feito para afastar o díbuki, alma penada que perturba as criaturas humanas.
Todas as religiões antigas, como assinala Kardec, inclusive as mitológicas, com seus oráculos
e pitonisas, eram mediúnicas. As seitas
japonesas infiltradas no Brasil são tipicamente mediúnicas.
CAPÍTULO
XVI
PROBLEMAS DA
DESOBSESSÃO
Se a obsessão como diz
Kardec, figura em primeiro plano entre os escolhos da prática mediúnica,
não é menos verdade que constitui o mais complexo problema do
campo doutrinário. A classificação sumária de Kardec em três tipos seqüentes de obsessão: a
obsessão
simples, a fascinação
a subjugação
abrange todo o quadro dos processos obsessivos.
( ... ) As técnicas psicanalíticas
devem muito ao Espiritismo, pois Freud tinha apenas um ano de idade quando
Kardec acentuou a importância do inconsciente nas
chamadas psicoses e neuroses, praticando a catarse em maior profundidade do que
a da catarse psicanalítica freudiana. Os que
temem a ocorrência de
comunicações anímicas nessas sessões
desconhecem o problema do animismo e suas relações com a obsessão.
As obsessões não surgem apenas na fase de eclosão e
desenvolvimento da mediunidade. As mais graves obsessões estão genesicamente ligadas
aos problemas anímicos das vítimas.
( ... ) Como dizer-se, então, segundo modernas e inconseqüentes teorias, que a doutrinação de espíritos sofredores e
vingativos cabe ao mundo espiritual e não ao nosso plano?
( ... ) Por exemplo, os
casos de homossexualismo adquirido, não congênito ou constitucional, da classificação psiquiátrica, decorrem de fatores educacionais mal dirigidos ou
de influências diversas
posteriores ao nascimento, que dão motivo à sintonia do paciente com espíritos obsessores vampirescos. O problema sexual é extremamente melindroso, pois
tanto o homem como a mulher dispõem de tendências de ambos os sexos, podendo
cair em desvios provocados por excitações de após
nascimento. No alcoolismo temos situação idêntica: tendências inatas e tendências
adquiridas, que atraem obsessores. Em todos os campos de atividades viciosas os
obsessores podem ser atraídos pelos obsedados que
se deixaram levar por excitações do meio em que se educaram ou em que vivem. As
más companhias que influem no ânimo de crianças, adolescentes e jovens, e até mesmo em adultos, podem levar
qualquer pessoa a situações penosas, e não são
apenas companhias encarnadas, mas também
espíritos viciosos. O simples fato de
morrer não modifica ninguém. O sensual continua
sensual depois da morte, o alcoólatra
não perde
seu vício, o bandido continua bandido.
A morte é apenas a libertação do
corpo material. Um descondicionamento, como diz Chico Xavier. Liberto do
escafandro de carne e osso, a criatura humana sente-se em seu corpo espiritual,
que é o perispírito, modelo energético
do corpo que deixou na Terra e responsável
por todas as funções vitais daquele corpo.
( ... ) Por isso é atraído por alguém que possa dar-lhe as sensações desejadas, aproxima-se
dele ou dela e estabelece-se entre ambos a indução mediúnica do vampirismo. A obsessão vampiresca é a mais difícil de se combater. Obsessor e obsedado formam uma
unidade sensorial dinâmica, apegada às sensações grosseiras do corpo material.
( ... )
Estabelecido esse ritmo de trocas, um pertence ao outro e dele depende. A
desobsessão é dificílima nesses casos, pois ambos são criaturas humanas
dotadas de livre-arbítrio. Se os dois
recusaram a doutrinação, esta muitas vezes parece
inútil,
ineficaz. Se um deles aceitar a doutrinação, o afastamento do obsessor torna-se
possível Se ambos a aceitarem, a
desobsessão se realiza com facilidade, às vezes surpreendente.
( ... ) Há uma tendência ao formalismo igrejeiro no
Espiritismo, cultivada por adeptos que prezam mais as aparências do que a verdade. O desejo
de fazer da doutrina uma elaboração refinada, com requintes e etiquetas sociais
na sua prática, leva muita gente a aceitar
inovações que, no entanto, só fazem rebaixá-la. Esquecem-se da
afirmação
categórica de Kardec: O espiritismo é uma questão de fundo e não de forma.
Tentam organizá-la em sistemas hierárquicos, dotá-la das chamadas
autoridades doutrinárias, impondo ao meio espírita uma disciplina cheia de exigências protocolares que lhe
tirariam o aspecto de simplicidade e naturalidade que a caracteriza.
( ... ) O requinte do ambiente excita a vaidade dos
dirigentes até mesmo
dos servidores das instituições, que acabam se fantasiando de mordomos de
castelos imperiais. Esse é um tipo de obsessão sutil que se infiltra lentamente nos
ambientes ansiosos por brilharecos sem sentido, levando os novos fariseus e
seus admiradores ingênuos a
perder as medidas do bom-senso. Criam-se, dessa maneira, focos obsessivos em
que as mistificações desbordantes em palavrórios enganadores são finalmente sobrepostos às obras fundamentais.
( ... ) Essa obsessão coletiva não tem solução. Foi ela
que transformou Casa do Caminho, de Jerusalém, no Estado Teocrático
do Vaticano.
( ... ) Iludem-se os que
pensam que o Espiritismo se engrandece com as pompas terrenas. Jesus não foi
sacerdote do Templo e Kardec nunca trocou a sua morada humilde da Rua dos Mártires, em Paris, pelo Palácio de Versalhes. Nem um nem outro veio falar aos
poderosos do mundo, mas aos sofredores necessitados de consolação.
( ... ) A obsessão vigia os indivíduos e os grupos espíritas em cada encruzilhada de gerações. Vale mais um
pequeno Centro que cuida dos obsedados do que uma suntuosa instituição em que
os tribunos retumbantes enchem os salões suntuosos com seu palavrório vazio. Cala mais no coração humano um gesto de humildade
pura do que a retórica antiquada dos
tribunos missionários. As grandezas
terrenas só agradam
aos obsessores, enquanto os obsedados pedem a misericórdia de uma palavra de amor.
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
LITERÁRIA
J. HERCULANO PIRES, nasceu em 25/09/1914 na antiga província de Avaré, no Estado de São
Paulo e desencarnou em 09/03/1979,
em São Paulo.
Em 1946 mudou-se para São Paulo e lançou seu primeiro
romance, O Caminho do Meio, que mereceu críticas elogiosas de Afonso Schimidt, Geraldo Vieira e Wilson
Martins.
Em 1958 bacharelou-se em filosofia pela Universidade de
São Paulo, e pela mesma Universidade licenciou-se em filosofia tendo publicado
uma tese existencial: O Ser e a
Serenidade. Autor de oitenta e um livros de Filosofia, Ensaios, Histórias, Psicologia, Espiritismo e Parapsicologia sendo a
sua maioria inteiramente dedicada ao estudo e à divulgação da Doutrina Espírita, e vários de parceria com
Chico Xavier. Lançou recentemente, a série de ensaios Pensamento
da Era Cósmica e a série de romances de Ficção Científica e Paranormal. Foi diretor-fundador da revista de
Educação Espírita publicada pela
Edicel. Em 1954 publicou Barrabás que mereceu Prêmio do Departamento Municipal de
Cultura de São Paulo em 1958, constituindo o primeiro volume da trilogia Caminhos do Espírito. Em 1975 publicou Lázaro e, com o romance Madalena, editado pela Edicel em
maio de 1979, a concluiu.
Ao desencarnar, deixou vários originais os quais vêm sendo publicados.
No livro Expoentes da codificação espírita[3] vê-se que Herculano Pires é autor de oito dezenas de livros, distribuídos por filosofia, ensaios, histórias, psicologia, parapsicologia e espiritismo, alguns em
parceria com o médium Francisco Cândido Xavier, e é considerado um dos autores mais críticos dentro do movimento espírita. A sua linha de pensamento era forte e racional,
combatendo os desvios e mistificações, sendo a maior característica do conjunto de suas obras a luta por demonstrar a
consistência do pensamento espírita e defender a valorização dos aspectos crítico e investigativo originalmente propostos por Kardec.
Em seus ensaios nota-se a preocupação em combater
interpretações e traduções deturpadas das obras de Kardec, inclusive aquelas
que surgiram no seio do movimento espírita
brasileiro ao longo do século XX.
Defendia o conceito de pureza doutrinária, segundo o qual era preciso preservar a doutrina de
todo tipo de influência
mística e esotérica.
Em monografias filosóficas, a exemplo de Introdução à filosofia espírita, propõe-se a esclarecer a contribuição do espiritismo para o desenvolvimento da
filosofia, em especial no tocante ao sentido da existência humana. Contrapõe-se
frontalmente ao niilismo e ao existencialismo materialista.
A maioria das suas obras é atualmente publicada pela Editora
Paideia (da Fundação Maria Virgínia e J. Herculano
Pires), a qual fundou na década de 1970 para
publicar suas obras.
A sua tradução dos livros de Kardec tem sido editada por
várias editoras, a exemplo da
Livraria Allan Kardec Editora (LAKE), da Editora Argentina ...
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