Estudos de
Multiplanos do Planeta, à luz do Espiritismo e do Apocalipse.
Mário
Frigéri
Disse
Jesus:
Na
casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois
vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. (João,
14:2 e 3)
1Capítulo 1
A Terra é um grande magneto
O livro Cidade no além (9. ed., IDE),2 escrito e ilustrado
a oito mãos (Francisco Cândido Xavier, Heigorina Cunha, André Luiz e Lucius),
não obstante sua aparente singeleza, é certamente um dos mais instigantes
dentre os que integram a bibliografia espírita de nosso país. Nele, o laborioso
e abençoado médium de Uberaba analisa os vários planos que compõem o campo
magnético do planeta Terra. E abona, ao que tudo indica, sua divisão em sete esferas,
“seguindo a tradicional concepção dos sete céus de que nos falam os
antigos estudiosos das coisas espirituais” (p. 68).
O assunto, evidentemente, não constitui maior novidade. Mas da
forma exótica e até certo ponto confusa pela qual vinha sendo apresentado —
principalmente pelas escolas filosóficas orientais — para esta nova formulação
simplificadora, o avanço é muito significativo.
As esferas são apresentadas à semelhança de globos que envolvem uns
aos outros, os maiores englobando os menores — como se fossem bolas de pequenas
proporções dentro de outras mais amplas. E todos se interpenetrando segundo uma
linha ascendente de evolução que tem origem no interior (ponto de menor
evolução) e se projeta para a periferia (ponto de maior evolução). Comparação
bem singela seria com uma cebola: cada camada ou túnica representaria uma
esfera. Mas não há limites que possam ser estabelecidos entre as esferas. O
conjunto forma um imenso globo magnético que, numa espécie de degradê
vibratório progressivo, vai da vibração mais pesada à mais leve, e cada ser
vivo paira em um desses níveis de acordo com seu peso específico espiritual.
Na citada obra, a denominação das esferas, começando da mais
interior para a mais exterior, é a seguinte (a 5ª é chamada, no original, de Arte
em geral ou Cultural e Ciência):
1ª – Crosta terrestre
2ª – Umbral grosso
3ª – Umbral médio
4ª – Umbral
5ª – Arte, Cultura e
Ciência
6ª – Amor Fraterno
Universal
7ª – Diretrizes do planeta
A explanação apresentada no decorrer deste livro tem por objetivo
aclarar, embora de forma sintética, o entendimento de cada uma dessas esferas,
bem como o seu posicionamento dentro do grande organismo chamado planeta Terra.
Comecemos pelas criteriosas considerações do médium de Uberaba,
que condensamos abaixo, calcadas principalmente nas elucidações de André Luiz
contidas em sua vasta obra que se inicia com Nosso lar, e que são muito
esclarecedoras:
I) “Na realidade, cada uma dessas divisões compreende outras, conforme
asseguram os Espíritos.”
II) “A primeira esfera comporta o Umbral ‘grosso’, mais
materializado, de regiões purgatoriais mais dolorosas e de cujas organizações comunitárias,
conquanto estejam tão próximas, temos poucas notícias.”
III) “A segunda esfera abriga o Umbral mais ameno, onde os
Espíritos do Bem localizam, com mais amplitude, sua assistência, e onde estão
situadas as Moradias [...].”
IV) “A terceira esfera, a rigor, ainda faz parte do Umbral, pois,
sendo de transição, abriga Espíritos necessitados de reencarnação.
Nessa terceira esfera se localiza a cidade Nosso Lar, num ponto
situado sobre a cidade do Rio de Janeiro e com uma altura que não podemos
definir, mas que se encontra na ionosfera [...].”
V) “Ao que se deduz das narrativas do citado Mensageiro, as
esferas espirituais se distinguem por vibrações distintas, que se apuram à medida
que se afastam do núcleo.
VI) “Sabemos que a Terra é um grande magneto que se projeta no
Espaço, mantendo um campo magnético ativo e diferenciado que comporta as
esferas espirituais, de modo que, por exemplo, quando se contrabalançam os
magnetismos da Terra e de Marte, tocando-se, os dois mundos se interpenetram,
pelas suas esferas extremas.”
VII) “Mas, da Crosta até esse limite, os continentes e os mares se
projetam, e onde o Espírito estiver situado pela sua identidade vibratória,
seja onde for nesse vasto espaço magnético, sob seus pés terá terra
firme e sobre sua cabeça céu aberto, já que seus sentidos não estarão aptos
para perceberem as esferas que lhe estão acima. Nessa posição terá a mesma
geografia planetária que nos corresponde e o mesmo horário nosso, pois estará
sob o mesmo fuso horário.”
VIII) “Lendo André Luiz, quando descreve a segunda e a terceira
esferas, percebemos que, em ambas, há chão firme, sólido, terra
fértil que se cobre de vegetação. Se assim é, fácil é perceber-se que, para
seus habitantes, nós estamos vivendo no interior da Terra.”
IX) “Percebe-se, também, nos livros de André Luiz, que os Espíritos
que estão acima podem transitar pelas esferas que lhes estão abaixo, mas os
Espíritos que estão nas esferas inferiores não podem, sozinhos, passar para as
esferas superiores.”
X) “O trânsito entre as esferas se faz por maneiras diversas. Por estradas
de luz, referidas pelos Espíritos como caminhos especiais, destinados a
transporte mais importante. Através dos chamados “campos de saída”, que são pontos
nos quais as duas esferas próximas se tocam. Pelas águas, de se supor as que
circundam os continentes. [...].”
XI) “Claro que se trata de alguns aspectos rudimentares dessa questão
importantíssima que é a das esferas espirituais da Terra. No futuro, por
certo, os Espíritos, sobre essa e outras questões importantes, farão mais luz,
ensejando-nos compreender mais um pouco o mundo que se encontra acima de nossa
fronteira vibratória. É o que se deduz da afirmação contida à página 85, do
livro Os mensageiros, 14ª edição, e que transcrevemos, encerrando este
capítulo: XII) “[...] Há, porém, André, outros mundos sutis, dentro dos mundos
grosseiros, maravilhosas esferas que se interpenetram. O olho humano
sofre variadas limitações e todas as lentes físicas reunidas não
conseguiriam surpreender o campo da alma, que exige o desenvolvimento das
faculdades espirituais para tornar-se perceptível. [...] Somente ao
homem de sentidos espirituais desenvolvidos é possível revelar alguns
pormenores das paisagens sob nossos olhos.
A maioria das criaturas ligadas à Crosta não entende estas
verdades, senão após perderem os laços físicos mais grosseiros. É da lei que
não devemos ver senão o que possamos observar com proveito” (p.
68-72).
Devem ser observadas, para admirar, as profundas deduções que o
médium extrai da mensagem transcendental. Com fina argúcia espiritual, penetra
o sentido da revelação, abrindo-nos os olhos para uma nova realidade. É
impressionante o que nos diz, quando, analisando o riquíssimo ditado mediúnico,
pondera que a Terra é um grande magneto que se projeta no espaço, mantendo um
campo magnético ativo e diferenciado que comporta as esferas espirituais,
e que, onde o espírito estiver situado, nesse vasto espaço magnético entre
as esferas, sob seus pés terá terra firme e sobre sua cabeça céu
aberto... E mais: para os habitantes das esferas acima da Crosta Terrestre,
nós estamos vivendo no interior da Terra! Ainda sobre o tema, encontramos
uma preciosa observação na palavra do Ministro Flácus: Comparada à grandeza,
inabordável para nós, de milhões de sóis que obedecem a leis soberanas e
divinas, em pleno Universo, a nossa Terra, com todas as esferas de
substância ultrafísica que a circundam, pode ser considerada qual
laranja minúscula, perante o Himalaia, e nós outros, confrontados com a
excelsitude dos Espíritos Superiores, que dominam na sabedoria e na santidade,
não passamos, por enquanto, de bactérias, controladas pelo impulso da fome e
pelo magnetismo do amor (LIB, p. 16).2
Em outra obra de sua coleção, André Luiz insere um item a que
intitula ESFERAS ESPIRITUAIS, e escreve o seguinte: Muitos comunicantes da Vida
Espiritual têm afirmado, em diversos países, que o plano imediato à
residência dos homens jaz subdividido em várias esferas. Assim é com
efeito, não do ponto de vista do espaço, mas sim sob o prisma de condições,
qual ocorre no globo de matéria mais densa, cujo dorso o homem pisa orgulhosamente (EDM, cap. 13, “Almas e fluidos”).
Nessa mesma esteira de esclarecimentos, escreve J. Arthur Findlay:
As ulteriores informações que obtive confirmam que o mundo real
contém sete esferas, junto à Terra, interpenetrando-se umas às outras, cada
uma tendo um plano ou superfície e uma atmosfera que representa, para seus
habitantes, um firmamento.
Olhando, daqui da Terra, para cima, olhamos através deles e, como
o mesmo se dá em cada plano, eles olham através do que lhes está acima, porém, não
veem Sol, nem estrelas, nem planetas, ou nuvens, apenas o firmamento. Não há
sombras nas esferas a que nos referimos, porque lá a luz não produz sombras. Para
os seus respectivos habitantes, é sólida a superfície de cada esfera; entretanto,
pelo pensamento, podem eles baixar suas vibrações e vir diretamente de plano em
plano até à Terra.
Quão poucos dentre nós se apercebem de que, quando olham para o
céu, estão olhando através de planos de densidades diferentes, que algum dia
habitaremos e onde os que já viveram na Terra estão vivendo uma existência
ativa e proveitosa!” (NLE, cap. 10, “Noites de instrução”).
Comentando também o assunto, Allan Kardec faz a seguinte
explanação: Os antigos acreditavam na existência de muitos céus superpostos, de
matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e tendo a
Terra por centro.
Girando essas esferas em torno da Terra, arrastavam consigo os
astros que se achavam em seu circuito.
Essa ideia, provinda da deficiência de conhecimentos astronômicos,
foi a de todas as teogonia, que fizeram dos céus, assim escalados, os diversos
degraus da bem-aventurança: o último deles era abrigo da suprema felicidade.
Segundo a opinião mais comum, havia sete céus e daí a expressão — estar
no sétimo céu — para exprimir perfeita felicidade.
Os muçulmanos admitem nove céus, em cada um dos quais se aumenta a
felicidade dos crentes.
O astrônomo Ptolomeu contava onze e denominava ao último Empíreo
por causa da luz brilhante que nele reina.
É este ainda hoje o nome poético dado ao lugar da glória eterna. A
teologia cristã reconhece três céus: o primeiro é o da região do ar e das nuvens;
o segundo, o espaço em que giram os astros, e o terceiro, para além deste, é a
morada do Altíssimo, a habitação dos que o contemplam face a face. É conforme a
esta crença que se diz que São Paulo foi alçado ao terceiro céu.
Quatro parágrafos adiante, Kardec conclui: “A Ciência, com a
lógica inexorável da observação e dos fatos, levou o seu archote às profundezas
do Espaço e mostrou a nulidade de todas essas teorias” (OCI, cap. 3).
Lendo essa apreciação de Kardec, temos a impressão inicial de que
a teoria das esferas não tem futuro. Mas não é assim. Nesta obra estamos
falando de coisa diferente. Kardec fala das esferas como se fossem “de matéria
sólida e transparente”, passíveis de ser verificadas pela ciência com sua instrumentação
física, enquanto nós, e os demais autores citados neste livro, falamos de esferas
fluídicas, invisíveis e impalpáveis ao ser humano. Quem olhar para os céus do
Rio de Janeiro, para admirar a Lua ou as estrelas, não percebe que seu olhar
está atravessando Nosso Lar e, acima de Nosso Lar, todas as esferas
ultrafísicas que envolvem o planeta.
As crenças mencionadas pelo ínclito Codificador eram
especulativas, místicas e contraditórias, imbuídas de profundo matiz religioso
(ou com as tintas “científicas” da época, no caso de Ptolomeu) e, portanto,
pouco racionais e incoerentes: falavam de sete céus, nove céus, onze céus, três
céus etc., demonstrando mais suposições abstratas e inventividade de seus
autores que raciocínio amadurecido e lógico.
Kardec, sempre escrupuloso em seus pareceres, mencionou, de
passagem, o assunto, sem nele deter seu olhar percuciente, mas encerrando-o sem
maiores delongas, com a fleuma de quem põe um ponto final numa frase. Não voltou
a ele em novos escritos, não se interessou mais pelo assunto, não criou nenhuma
teoria a respeito, como fez acerca de outros tópicos relevantes para o
Espiritismo naquela época, chegando a submeter, com louvável honestidade doutrinária,
algumas teorias pessoais ao crivo do leitor, para que não pesasse “sobre a
doutrina a responsabilidade delas” (AG, p. 12).
Se fizesse parte de sua missão aprofundar a sonda investigativa
nesse tema das esferas, ele chegaria, por certo, à mesma conclusão a que chegamos
hoje, em face da concordância universal das comunicações espirituais que falam
dessas esferas fluídicas.
Diante disso, e com a mesma honestidade doutrinária do Codificador,
podemos afirmar tranquilamente que a conclusão do ilustre Mestre estaria
correta, caso todos os céus mencionados por ele, nas várias crenças ou teorias
apresentadas, fossem constituídos de matéria semelhante à terrena, passíveis, portanto,
de comprovação científica. Não sendo assim, a ciência é incompetente para se pronunciar
a respeito das esferas ultrafísicas. Os instrumentos a serem empregados neste
caso (em face de as revelações recebidas sobre o assunto serem de ordem
espiritual) são os do espírito — os mesmos que Kardec empregou na codificação e
consolidação de nossa substanciosa Doutrina —, acima de tudo a análise, a
coerência, a razão, o raciocínio, a lógica, tudo, porém, iluminado pela fé,
pela intuição, pela inspiração e pela espiritualidade da alma.
Note-se, por fim, que até o momento falou-se apenas de esferas que
se iniciam a partir da Crosta terrestre (que habitamos) para cima.
E se esclarece, inclusive, a maneira como se transita de uma para a outra.
Veremos, no próximo capítulo, que há outras dimensões habitadas abaixo da
esfera onde nos encontramos.3
2 Nota do autor: Sobre títulos de livros em acrônimo, veja
Referências no final do livro.
3 Nota do autor: Em resposta à pergunta-sugestão formulada por
Kardec, na questão nº 28 de O livro dos espíritos, respondem as
entidades que lhe ditaram a Terceira Revelação: “As palavras pouco nos importam.
Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As
vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca
dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para
exprimir o que não vos fere os sentidos”.
Pondo em prática tão sábia orientação, alertamos que, quando empregarmos
os termos planeta, ou Terra, estaremos nos referindo ao gênero, isto é, ao
organismo de esferas chamado planeta Terra; e quando escrevermos Crosta, ou
Crosta terrestre, é à espécie que estamos aludindo, ou seja, a uma esfera
específica das sete que compõem o planeta.
Esta observação é oportuna na medida em que, hoje, empregam-se
normalmente os termos Terra, planeta ou planeta Terra como sendo exclusivamente
a Crosta que habitamos.
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