PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quarta-feira, dezembro 28, 2016

JESUS DE NAZARÉ - UMA NARRATIVA DA VIDA E DAS PARÁBOLAS

FREDERICO G. KREMER

5 - O MINISTÉRIO DO PRECURSOR

Havia quase cinco séculos que as vozes proféticas se calaram, após setecentos anos de opressão. No último livro do Velho Testamento, o profeta Malaquias, que vivera em Jerusalém por volta do século V a.C., prometera o retorno de Elias como Precursor do Messias, tão ansiosamente aguardado.
Eram tempos difíceis, pois o povo judeu, libertado da Babilônia numa primeira leva, por Ciro, em 538 a.C. e, no século seguinte, por Artaxerxes, retornou desanimado para Jerusalém. Malaquias tentou reavivar novamente a esperança com a promessa da chegada do Messias e do seu Precursor.
Por volta do ano 29 d.C., surgiu no horizonte religioso da Palestina um homem de vestimentas estranhas que começou a pregar na região sul do rio Jordão, nos arredores de Betânia ou Betabara. O vilarejo localizava-se junto ao vau de Hajlah, à margem do rio Jordão, perto da foz do rio no Mar Morto (esta Betânia não deve ser confundida com a do monte das Oliveiras).
O pequeno rio já tinha ressonâncias bíblicas importantes para Israel no tempo de Jesus, pois estava associado a alguns episódios cruciais para o povo judeu. Era o local dos novos começos e lembrava o profeta Elias. Melhor local para João realizar sua missão não havia. Ele retornava aos sítios mais caros para o seu espírito.
Profeta independente, original, ascético no que concerne à comida e ao estilo de vida, causou grande turbulência e forte impacto entre o povo judeu. Utilizando a mesma vestimenta do profeta Elias, ele anunciava a eminente chegada do Messias e exortava a renovação mental das criaturas para aceitarem a nova mensagem que estava por ser anunciada. Quem se comprometesse com essa renovação, modificando o seu modelo mental para aceitar um Messias servo, participava de um ritual de batismo no rio Jordão. O batismo já era realizado pelos judeus como símbolo de purificação corporal e estava na moda no século I d.C.
O ritual que marcava a ligação com Deus era a circuncisão, desde os tempos remotos de Abraão. Normalmente, os judeus consideravam o batismo um ritual para conversão dos pagãos e não gostaram da exigência de João, que era para todos e, em especial, para eles, que esperavam um Messias rei ou sacerdote. Podemos entender que o batismo de João marcava o compromisso com uma mudança de padrão mental, necessária para a aceitação do Messias e sua mensagem.
Como preparador dos caminhos do Salvador, a sua mensagem foi bem contundente. Era necessário o arrependimento, porque o juízo estava por chegar: “Raça de víboras! Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima?
Deem fruto que mostre arrependimento!”. E completaria: “O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Ninguém corta árvore na raiz e sim no tronco.
Entretanto, do tronco nascem novos brotos”. Para João, era essencial extirpar a raiz do homem velho, e a figura do machado lembra a necessidade do trabalho para a renovação inevitável.
Considerando o cenário da época, o discurso de João foi voltado para as autoridades religiosas e, pela veemência da sua palavra, como vimos acima, altamente perigoso e abriu caminho para a sua prisão por Herodes Antipas.
O “batizador” conhecia bem a crise espiritual em que se encontrava o povo e concentrou a força de seu olhar profético na raiz de tudo: o erro e a rebeldia de Israel.
João foi um arauto, a voz que clamou forte no deserto, pois tinha a força e as virtudes do Espírito de Elias. A humildade era marcante no seu comportamento.
João afirmou: “Depois de mim, vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de curvar-me e desamarrar as correias das suas sandálias”. Dele falou o profeta Isaías, cerca de setecentos e cinquenta anos antes: “Voz do que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor, tornai direito as suas veredas”.
A impressão causada por João Batista foi muito intensa, atraindo muitos da Judeia e da circunvizinhança do Jordão. Pregava as primícias do Reino de Deus com grande emoção. Sua força de espírito, veracidade e humildade envolviam as pessoas, tornando-o famoso em toda a região. Até o Sinédrio, o grande Conselho Sacerdotal, enviou uma delegação para interrogá-lo se ele era mesmo Elias. A pergunta foi mal formulada, expressando o desconhecimento da época. Evidentemente, sua resposta foi negativa, pois ele era João. Se tivessem perguntado se era o mesmo Espírito, a resposta seria afirmativa.
João não fez milagres, todavia era tido em honra pelo povo. Sua maneira de se vestir e o modo de vida e de pregação correspondiam ao que se esperava de um verdadeiro profeta. Adicionalmente, procurou trazer lições morais para seus discípulos. Na verdade, preparava o caminho para o Mestre que ensinaria lições muito mais complexas e difíceis de realizar.
Podemos citar como exemplo: “Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem”. Certamente, lição muito mais simples do que amar o inimigo, ou perdoar setenta vezes sete vezes.
De acordo com João, o mal corrompe tudo, inclusive a aliança com Deus. Entretanto, não pretendeu jamais mergulhar o povo no desespero; pelo contrário, convidou-o à conversão mental para receber o Messias, esperado havia muitos séculos.
Para avaliarmos a condição espiritual diferenciada de João, podemos citar uma passagem que bem caracteriza o seu espírito. Quando o Mestre iniciou seu ministério público, as pessoas começaram a segui-lo e não mais a João. Alguns discípulos de João ficaram melindrados e foram reclamar com ele. O grande Precursor afirmou: “É necessário que Ele cresça e eu diminua”. Era, sem dúvida, o homem que marcaria como ninguém a trajetória de Jesus.
João e Elias foram manifestações da mesma individualidade ou Espírito. Elias foi o profeta judeu na sua essência mais pura, ou seja, a criatura que velava pela aliança entre seu povo e Deus. Quem for à cidade israelense de Haifa poderá visitar a gruta de Elias, no monte Carmelo, local venerado por judeus, cristãos e mulçumanos.


Referências: Lc 3:1 a 18, Mc 1:1 a 8 e Jo 1:19 a 28

Nenhum comentário: