PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quinta-feira, novembro 05, 2015

Ângelo de Deus!

Se você fechar os olhos e imaginar as cenas, o coração lhe desfalecerá. O meu transtornou-se numa profunda dor, uma dor só amenizada pela lembrança de atos de suprema nobreza humana.
Deixe-me contar a história.
Dia destes, em Lages, um recém-nascido, um menininho, foi achado morto com um enorme ferimento nas costas no lixão da cidade.
 Isso não é raro entre nós, não são raras a maternidade irresponsável e a insensibilidade de pessoas despreparadas para a suprema gestação da vida.
Não havia referências sobre o menino.
Era apenas um corpinho de criança jogado no lixo por quem lhe devia ter dado mais que o sangue da vida, mas a vida em forma de amor.
Achado o pequeno corpo, foram chamados os policiais militares.
Um choque. Ainda que esses homens sejam fortes, resistentes, acostumados a ver a dor e a morte, sofreram.
Mais que sofreram, reagiram.
E é aqui que começa a ternura numa história de homicídio cruel.
Os Policiais Militares recolheram o corpinho do menino morto e não se conformaram com o "futuro" que lhe seria dado: o de ser enterrado como indigente, numa vala de terra, afastado da dignidade que deve envolver um corpo morto.
Nosso jornal contou que os sargentos Joel Lamin e João Paulo de Oliveira e mais quatro NOBRES Policiais Militares, cujos nomes não me chegaram, tomaram para si dar ao menino o que os pais não lhe deram: amor, ainda que morto.
Os Policiais não dispunham dos recursos para sepultar com dignidade o menininho, mas deram um jeito.
Primeiro, conseguiram os tijolos para a sepultura que o livrasse de um enterro indigente.
Depois foram em busca de roupinhas.
Uma loja os ajudou.
Pronto. Banharam o menino, como pais banham seus pequenos filhos: com cuidados e amor.
Depois o vestiram, imagine, leitor(a), aqueles Policiais Militares acostumados às duras lutas da segurança pública, vestindo uma criancinha morta, que ternura, que cena amorosa, Santo Deus!
Banhado e vestido o menino, batizaram-no com o nome de Ângelo de Deus, e o velaram.
Construída a sepultura, colocaram sobre ela uma placa com o nome que deram ao gurizinho: Ângelo de Deus.
E os seis Policiais Militares levaram o pequeno caixão ao cemitério, revezando-se para carregá-lo.
Meu Deus, que nobres!
E sabe o que mais fizeram esses Anjos Humanos, leitor(a)?
Puseram no caixãozinho um chocalho, um carrinho e balas para o menino levar...
Companheiros da PM de Lages, só posso me curvar e beijar-lhes as mãos.
Ah! sabem do Ângelo?
Está comendo balinhas, sacudindo o chocalho e sorrindo nos braços de Deus.
E acaba de piscar para vocês.
Luiz Carlos Prestes
Diário Catarinense
De: abrade-palestra@grupos.com.br


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