Se você fechar os olhos e imaginar as cenas, o coração lhe desfalecerá.
O meu transtornou-se numa profunda dor, uma dor só amenizada pela lembrança de
atos de suprema nobreza humana.
Deixe-me contar a história.
Dia destes, em Lages, um recém-nascido, um menininho, foi achado morto
com um enorme ferimento nas costas no lixão da cidade.
Isso não é raro entre nós, não
são raras a maternidade irresponsável e a insensibilidade de pessoas despreparadas para a suprema gestação da
vida.
Não havia referências sobre o menino.
Era apenas um corpinho de criança jogado no lixo por quem lhe devia ter
dado mais que o sangue da
vida, mas a vida em forma de amor.
Achado o pequeno corpo, foram chamados os policiais militares.
Um choque. Ainda que esses homens sejam fortes, resistentes, acostumados
a ver a dor e a morte, sofreram.
Mais que sofreram, reagiram.
E é aqui que começa a ternura numa história de homicídio cruel.
Os Policiais Militares recolheram o corpinho do menino morto e não se
conformaram com o "futuro" que lhe seria dado: o de ser enterrado
como indigente, numa vala de terra, afastado da dignidade que deve envolver um
corpo morto.
Nosso jornal contou que os sargentos Joel Lamin e João Paulo de
Oliveira e mais quatro NOBRES Policiais Militares, cujos nomes não me chegaram,
tomaram para si dar ao menino o que os pais não lhe deram: amor, ainda que
morto.
Os Policiais não dispunham dos recursos para sepultar com dignidade o menininho,
mas deram um jeito.
Primeiro, conseguiram os tijolos para a sepultura que o livrasse de um
enterro indigente.
Depois foram em busca de roupinhas.
Uma loja os ajudou.
Pronto. Banharam o menino, como pais banham seus pequenos filhos: com
cuidados e amor.
Depois o vestiram, imagine, leitor(a), aqueles Policiais Militares
acostumados às duras lutas da segurança pública, vestindo uma criancinha morta,
que ternura, que cena amorosa, Santo Deus!
Banhado e vestido o menino, batizaram-no com o nome de Ângelo de Deus, e
o velaram.
Construída a sepultura, colocaram sobre ela uma placa com o nome que
deram ao gurizinho: Ângelo de Deus.
E os seis Policiais Militares levaram o pequeno caixão ao cemitério, revezando-se
para carregá-lo.
Meu Deus, que nobres!
Puseram no caixãozinho um chocalho, um carrinho e balas para o menino
levar...
Companheiros da PM de Lages, só posso me curvar e beijar-lhes as mãos.
Ah! sabem do Ângelo?
Está comendo balinhas, sacudindo o chocalho e sorrindo nos braços de
Deus.
E acaba de piscar para vocês.
Luiz Carlos Prestes
Diário Catarinense
De:
abrade-palestra@grupos.com.br
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