NOSSOS FILHOS SÃO
ESPÍRITOS
HERMÍNIO C.
MIRANDA
7 – NASCER
É QUE É O PROBLEMA, E NÃO MORRER
AS EXCELENTES PESQUISAS da Dra. Wambach foram montadas em cima das seguintes perguntas básicas,
formuladas depois que a pessoa regride ao período imediatamente anterior ao do
seu nascimento:
1) Foi sua a decisão de nascer?
2) Alguém o ajudou a decidir?
Em caso positivo, qual o seu relacionamento com o conselheiro?
3) Como você se sente ante a
perspectiva de viver a próxima existência?
4) Há alguma razão pela qual
você tenha escolhido nascer na segunda metade do século XX?
5) Foi você que escolheu seu
sexo? Se foi, por que você decidiu ser homem (ou mulher)?
6) Qual o seu objetivo nesta
vida?
7) Caso você tenha conhecido
sua mãe em alguma existência anterior, que tipo de relacionamento tiveram?
8) E seu pai? Se você o
conheceu em alguma existência anterior, que tipo de relacionamento tinham?
9) Concentre-se no feto. Você
sente que está dentro dele, ou fora? Ou entrando e saindo? Em que momento sua
consciência passa a funcionar no feto?
10) Você tem consciência das
atitudes e sentimentos de sua mãe pouco antes de você nascer?
11) O que você sentiu ao
emergir do canal do nascimento?
Como se pode verificar, a Dra.
Wambach não está fantasiando, nem se dirigindo a uma “coisa”, a uma abstração
ou hipótese, ela está falando com uma
pessoa normal, inteligente, consciente, responsável, capaz de observar,
concluir e expor suas ideias coerentemente, como qualquer adulto razoavelmente
sensato e equilibrado. Ela não se dirige a um bebê que acaba de ser criado e
que, portanto, não teria consciência anterior de si mesmo, nem qualquer tipo de
relacionamento com mãe, pai e outras pessoas.
É uma pessoa que sabe dizer se decidiu espontaneamente viver outra
existência na carne ou se foi induzida (ou até forçada) a fazê-lo. Lembra-se
das pessoas com as quais conversou, programou sua vida e aconselhou-se quanto
aos seus objetivos, necessidades e projetos. É alguém que ponderou seriamente acerca
das responsabilidades de uma nova existência; que por alguma razão pessoal, bem
clara e explícita, resolveu nascer nesta época e não antes ou mais adiante; que
decidiu por um sexo ou outro, também por opção consciente; que, usualmente,
conhece, de outras vidas, sua mãe e seu pai e com eles já manteve relações de
parentesco, amizade ou até desavenças que precisam ser sanadas; que tem
consciência de sua ligação a um feto, ou seja, a um corpo físico em formação. Mais do
que isso tudo, porém, tem condições de captar, por algum processo ainda
obscuro, os sentimentos de sua futura mãe, de seu pai e demais pessoas, com
relação a ele, espírito renascente. E que, finalmente, é capaz de observar todo
o processo, analisá-lo com perfeita lucidez e concluir, ordenadamente, o que
acha de tudo aquilo.
Creio que precisamos examinar com mais vagar alguns desses dados
científicos, uma vez que são importantes demais para a eles nos referirmos
apenas em duas ou três frases apressadas. As informações neles contidas são de
vital significação para todos nós e, por isso, proponho conversarmos mais
adiante sobre o assunto. Antes, porém, parece oportuno passar os olhos em
alguns dados estatísticos colhidos pela brilhantíssima Dra. Helen Wambach.
Noventa por cento de seus pacientes mergulharam nesse fantástico depósito
de lembranças e emergiram com algumas surpresas para si mesmos e para a
competente psicóloga. Uma delas: a de que morrer até que é bom, nascer é que
não é nada interessante. “As duas mortes que tive, nas duas vidas (de que me
recordei) esta noite, foram experiências muito agradáveis”, escreve uma pessoa.
“Nascer é que parece uma tragédia”.
Quem diria, hem?
Outra inesperada informação para a Dra. Wambach: a de que nem um só de seus
750 pacientes (àquela altura) sentia que o “verdadeiro ser interior de cada um
fosse masculino ou feminino”. O que nos leva à evidência — por mim referida em O espiritismo e os problemas humanos —
de que a libido é uma forma de energia e o sexo, em si mesmo, a resultante de
uma polarização de tal energia.
Coloquemos mais uma de tais informações-surpresas: a consciência de cada
ser não provém do feto, não faz parte integrante dele; apenas está nele. “Eles existem, totalmente
conscientes, como entidades independentes do feto.” Na realidade o “corpo
fetal é restritivo e limitador”, e muitos preferiam “a liberdade da existência sem o corpo”. Em outras
palavras, era melhor não ter nascido.
O recém-nascido “sente-se como que
segregado, reduzido e solitário, em comparação com o estado intermediário entre
uma vida e outra”.
Mas, voltemos aos dados estatísticos.
1) 81% dos pacientes disseram que eles
próprios haviam decidido renascer. 19% afirmaram que não tinham lembrança de
nenhuma decisão ou que nada lhes ocorrera dizer, quando questionados com relação
a esse ponto.
2) Do total pesquisado, 68%
declaravam-se relutantes, tensos ou resignados ante a perspectiva de viver nova
existência. Somente 26% consideravam a nova oportunidade com certo otimismo,
mas, curiosamente, não estavam interessados em fazer da vida um contínuo fluxo
de prazeres e, sim, nutriam esperança de alcançar alguma conquista evolutiva.
3) 90% dos pesquisados informaram que
as mortes foram experiências agradáveis, mas que os nascimentos constituem momento
de desventura e tensão.
4) Ainda quanto aos
objetivos planejados para a vida a ser vivida, não observou a cientista nenhum
projeto especial de desenvolver talentos ou faculdades, mas,
“prioritariamente, aprender a relacionar-se com os outros e amar sem ser
exigente e possessivo”. Deste grupo, 28% tinham consciência de haver trazido
uma espécie de “mensagem” à humanidade, no sentido de que é preciso ser
solidário com o semelhante e “desenvolver o consciente superior”, ou seja, o
conceito de que somos todos, primariamente, seres espirituais. Os pacientes da Dra. Wambach foram “praticamente unânimes em rejeitar qualquer intenção voltada
para o aumento da riqueza, do status e
do poder.
5) 87% das pessoas consultadas
— uma taxa elevadíssima —declararam haver conhecido seus pais, amantes,
parentes e amigos de uma ou outra vida anterior. Nenhuma consistência encontrou
a doutora em apoio às teorias freudianas do complexo de Édipo e do complexo
de Electra, segundo os quais os filhos
experimentam forte atração sexual pelas mães e as filhas pelos pais.
(Observação nesse sentido consta, igualmente, de meu já citado livro “A memória e o tempo.”) O relacionamento
anterior pode ter sido o mais diversificado possível.
Como se depreende de tudo isso, nascer ainda constitui, para a maioria, uma
espécie de provação, mais um dever do que um prazer. Morrer, ao contrário, é um
processo de libertação, quanto ao confinamento na carne.
A mais dramática conclusão, porém, a que mais destacadamente ressalta dessa
pesquisa, é a de que a criança é um ser espiritual adulto, experiente,
consciente, dono de insuspeitado acervo de conhecimentos, envolvido em
deliberado projeto de vida, com metas, objetivos e propostas nitidamente
concebidos e programados. É, portanto, uma pessoa preexistente e sobrevivente,
conforme o espiritismo insiste em ensinar há mais de um século e como o
próprio Cristo ensinou há cerca de dois milênios.
Acho, porém, que ainda temos importantes aspectos a comentar sobre a
excelente pesquisa da Dra. Helen Wambach.
O leitor ainda está comigo? Vamos avançar um pouco mais? Ou já resolveu
jogar o livro fora e nem percebi quando você desceu do trem? Se desceu,
paciência. Lamento dizer que ficará por aí à espera de outro trem, que poderá
demorar mais do que você imagina. É claro, contudo, que a opção é sua, no uso e
gozo do seu sagrado direito ao livre-arbítrio.
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