9.
UNIÃO INFELIZ
Pergunta - Qual
o fim objetivado com a reencarnação?
Resposta -
Expiação. Melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?
Item n° 167, de "O livro dos Espíritos". Dolorosa, sem dúvida, a
união considerada menos feliz. E, claro, que não existe obrigatoriedade para
que alguém suporte, a contragosto, a truculência ou o peso de alguém,
ponderando-se que todo espírito é livre no pensamento para definir-se, quanto
às próprias resoluções. Que haja, porém, equilíbrio suficiente nos casais
unidos pelo compromisso afetivo, para que não percam a oportunidade de
construir a verdadeira libertação.
Indiscutivelmente,
os débitos que abraçamos são anotados na Contabilidade da Vida; todavia, antes
que a vida os registe por fora, grava em nós mesmos, em toda a extensão, o
montante e os característicos de nossas faltas. A pedra que atiramos no próximo
talvez não volte sobre nós em forma de pedra, mas permanece conosco na figura
de sofrimento. E, enquanto não se remove a causa da angústia, os efeitos dela perduram
sempre, tanto quanto não se extingue a moléstia, em definitivo, se não a eliminamos
na origem do mal. Nas ligações terrenas, encontramos as grandes alegrias; no
entanto, é também dentro delas que somos habitualmente defrontados pelas mais duras
provações. Isso porque, embora não percebamos de imediato, recebemos, quase sempre,
no companheiro ou na companheira da vida intima, os reflexos de nós próprios.
É natural que
todas as conjunções afetivas no mundo se nos figurem como sendo encantados
jardins, enaltecidos de beleza e perfume, lembrando livros de educação, cujo prefácio
nos enleva com a exaltação dos objetivos por atingir. A existência física, entretanto,
é processo específico de evolução, nas áreas do tempo, e assim como o aluno nenhuma
vantagem obterá da escola se não passa dos ornamentos exteriores do educandário em
que se matricula, o espírito encarnado nenhum proveito recolheria do casamento, caso
pretendesse imobilizar-se no êxtase do noivado. Os princípios cármicos desenovelam-se
com as horas. Provas, tentações, crises salvadoras ou situações expiatórias
surgem na ocasião exata, na ordem em que se nos recapitulam oportunidades e
experiências, qual ocorre à semente que, devidamente plantada, oferece o fruto
em tempo certo. O matrimônio pode ser precedido de doçura e esperança, mas isso
não impede que os dias subsequentes, em sua marcha incessante, tragam aos
cônjuges os resultados das próprias criações que deixaram para trás. A mudança
espera todas as criaturas nos caminhos do Universo, a fim de que a renovação
nos aprimore. A jovem suave que hoje nos fascina, para a ligação afetiva, em muitos
casos será talvez amanhã a mulher transformada, capaz de impor-nos dificuldades
enormes para a consecução da felicidade; no entanto, essa mesma jovem suave
foi, no passado - em existências já transcorridas -, a vítima de nós mesmos,
quando lhe infligimos os golpes de nossa própria deslealdade ou inconsequência,
convertendo-a na mulher temperamental ou infiel que nos cabe agora relevar e
retificar. O rapaz distinto que atrai presentemente a companheira, para os
laços da comunhão mais profunda, bastas vezes será provavelmente depois o homem
cruel e desorientado, suscetível de constrangê-la a carregar todo um calvário de
aflições, incompatíveis com os anseios de ventura que lhe palpitam na alma.
Esse mesmo rapaz distinto, porém, foi no pretérito - em existências que já se
foram – a vítima dela própria, quando, desregrada ou caprichosa, lhe desfigurou
o caráter, metamorfoseando-o no homem vicioso ou fingido que lhe compete tolerar
e reeducar. Toda vez que amamos alguém e nos entregamos a esse alguém, no ajuste
sexual, ansiando por não nos desligarmos desse alguém, para depois somente depois
- surpreender nesse alguém defeitos e nódoas que antes não víamos, estamos à frente
de criatura anteriormente dilapidada por nós, a ferir-nos justamente nos pontos
em que a prejudicamos, no passado, não só a cobrar-nos o pagamento de contas
certas, mas, sobretudo, a esmolar-nos compreensão e assistência, tolerância e
misericórdia, para que se refaça ante as leis do destino. A união suposta infeliz
deixa de ser, portanto, um cárcere de lágrimas para ser um educandário bendito,
onde o espírito equilibrado e afetuoso, longe de abraçar a deserção, aceita,
sempre que possível, o companheiro ou a companheira que mereceu ou de que
necessita, a fim de quitar-se com os princípios de causa e efeito, liberando-se
das sombras de ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para
os domínios da luz.
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