Hermínio Correa de
Miranda
*05 JAN 1920 - +
08 JUL 2013
Hermínio Corrêa de Miranda (Volta Redonda, 5 de janeiro de 1920) é um
pesquisador e escritor espírita brasileiro. Habitualmente assina Herminio C. Miranda.
Formou-se em Ciências Contábeis ,
tendo trabalhado na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar.
Seu primeiro livro, Diálogo
com as Sombras, foi publicado em 1976. Depois vieram muitos outros títulos,
sendo que seus direitos autorais foram sempre cedidos a instituições
filantrópicas.
Obras publicadas
Em ordem alfabética: A
Dama da Noite; A Irmã do Vizir; A Memória e o Tempo; A Noviça e o Faraó - A
Extraordinária História de Omm Sety; A Reencarnação na Bíblia; A Reinvenção da
Morte; Alquimia da Mente; Arquivos Psíquicos do Egito; As Duas Faces da Vida; As
Marcas do Cristo, vol I e II; As Mil Faces da Realidade Espiritual; As
Sete Vidas de Fénelon; Autismo, uma Leitura Espiritual; Candeias na Noite
Escura; Com Quem Tu Andas? (com Jorge Andréa e Suely Caldas Schubert); Condomínio
Espiritual; Cristianismo: A Mensagem Esquecida; Crônicas de Um e de Outro
(com Luciano dos Anjos); De Kennedy ao Homem Artificial (com Luciano dos
Anjos); Diálogo com as Sombras; Diversidade dos Carismas; Eu Sou Camille
Desmoulins (com Luciano dos Anjos); Guerrilheiros da Intolerância; Hahnemann,
o Apóstolo da Medicina Espiritual; Histórias que os Espíritos Contaram; Lembranças
do Futuro; Memória Cósmica; Nas Fronteiras do Além; Negritude e Genealidade; Nossos
Filhos são Espíritos; O Espiritismo e os Problemas Humanos (com Deolindo
Amorim); O Evangelho Gnóstico de Tomé; O Exilado; O Mistério de Patience
Worth; O Que é Fenômeno Mediúnico; Os Cátaros e a Heresía Católica; Reencarnação
e Imortalidade; Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos; e Swedenborg,
uma Análise Crítica.
Além destas, Herminio
traduziu e comentou as seguintes obras: A Feira dos Casamentos (de J. W.
Rochester, psicografada por Vera Ivanova Kryzhanovskaia); O Mistério de
Edwin Drood (de Charles Dickens, com final psicografado por Thomas P. James);
e Processo dos Espíritas (de Madame Pierre-Gaëtan Leymarie).
Um dos escritores espíritas mais lidos da
atualidade, também tradutor, Hermínio Correa de Miranda, nascido em 1920, tem
um fôlego para pesquisas e leituras tão amplo que não seria de todo equivocado
afirmar que é o escritor dos escritores. Equipara-se, talvez, neste aspecto e
em certa medida a Ernesto Bozzano. Em sua obra, extensa e também densa,
sobressaltam as referências bibliográficas, ao lado de suas preferências
temáticas e de uma preocupação constante com as conceituações, que deseja
colocar claras para melhor expressão do seu pensamento.
Contribui para isso a competente
capacidade de ler em diversas línguas e uma memória privilegiada que Miranda
demonstra possuir, valorizando sobremaneira o seu autodidatismo.
Tendo residido por algum tempo nos Estados
Unidos, a serviço profissional, aprimorou ali não só os seus conhecimentos do
inglês como também o gosto pela literatura profusa do país de Tio Sam, em
especial as obras relacionadas aos temas de sua preferência.
Miranda não é um pesquisador do tipo Ian
Stevensson ou Hernani Guimarães Andrade. Enquanto estes se preocupam com a
análise dos fatos em seus detalhes comprováveis, quando trata da reencarnação
Miranda se vale habitualmente de pesquisa biográfica com apoio em bibliografia
consistente, em que estão presentes, inclusive, obras de história. É bem
verdade que o seu livro mais denso sobre o tema - "Eu sou Camille
Desmoulins" - escrito em parceria com o sujet da pesquisa, Luciano dos Anjos,
conta com um outro tipo de apoio: a regressão de memória. É também verdadeiro o
fato de utilizar as experiências com regressão de memória em outras obras sobre
a reencarnação. Sua argumentação, entretanto, privilegia a comparação de dados
biográficos, no que é rigoroso se assim podemos nos expressar.
A seriedade de Miranda, nesta como em
outras obras, é incontestável. Correndo o risco de ser contestado, avança ele
na defesa de idéias próprias em alguns casos, inovando senão na originalidade
do assunto pelo menos na utilização de novas designações para fatos conhecidos,
como é o caso de seu "replay", nome que atribui ao fenômeno observado
por Ernesto Bozzano em "A Crise da Morte", a respeito das lembranças
que o indivíduo repassa no instante da desencarnação.
Seu pensamento é de que "o
historiador ou historiógrafo não deve imaginar fatos inexistentes para
preencher lacunas ou justificar a "sua" filosofia da História. Deve
limitar-se a narrar os fatos, tal como se apresentam na documentação existente
ou na melhor e mais verossímil tradição".
Ao lado de sua farta produção na linha da
reencarnação, Miranda revela-se igualmente interessado nos fatos mediúnicos,
privilegiado que foi pela convivência com alguns médiuns férteis em material de
análise. Sua capacidade de registrar as informações obtidas por esta via, bem
como de ampliá-las com pesquisas bibliográficas, permitiu-lhe escrever inúmeros
livros, numa relação de que desponta a série Histórias que os Espíritos
Contaram. Nestas obras surpreende o fato do autor trabalhar com a regressão de
memória nos espíritos manifestantes.
Esta relação íntima com o plano invisível,
que o autor diz ter durado algumas décadas em ambiente apartado do centro
espírita, principiou por uma constatação: "Ao iniciar-se a tarefa, o
conceito que eu formulava acerca dos espíritos era o dos livros que estudara
durante o período de instrução e formação. Para mim, seriam entidades que, de
certa forma, transcendiam a condição humana, quase como abstrações vivas,
situadas numa dimensão que meus sentidos não alcançavam. Mas não era nada
disso, os espíritos são gente como a gente! Sofrem, amam, riem e choram.
Experimentam aflições, desalentos, alegrias, esperanças, tudo igual".
Ainda no plano das vidas sucessivas,
Miranda acredita ser a reencarnação de um dos fiéis colaboradores de Martinho
Lutero ao tempo da Reforma, tendo por esta personalidade uma inusitada
admiração. Seus estudos sobre vidas anteriores incluem Lutero (este seria a
reencarnação de Paulo). Isto talvez explique, entre outras coisas, o também
grande interesse de Miranda pela teologia e, em especial, o Cristianismo,
valendo destacar aí os dois volumes de As Marcas do Cristo e ainda
Cristianismo: A Mensagem Esquecida.
Não se pode, portanto, deixar de mencionar
neste ponto duas coisas: sendo afeito ao estudo da teologia, Miranda não se
mostra um místico do tipo comum; apesar disso, é francamente partidário do
aspecto religioso do Espiritismo, revelando-se aqui um dos poucos momentos de
sua obra em que é contundente: "O Espiritismo está coerente com essa
mensagem imortal, e, por isso, implantou-se tão solidamente sobre alicerce de
três "pilotis": ciência, filosofia e religião. Hoje, examinando os
fatos do ponto de vista privilegiado da perspectiva, sabemos que o suporte religioso
é o mais importante dos três". Segue, portanto, a linha emanuelina, em que
não se contenta apenas em apontar sua visão, mas destaca o que entende ser o
aspecto primordial: o religioso. Eis que o confirma: "O Espiritismo (...)
se resume, em última instância, em uma proposta clara e objetiva de esforço
pessoal evolutivo para substituir religiões salvacionistas, dogmáticas e
irracionais. Fé racionalizada, purificada e sustentada pela experimentação,
continua sendo fé, mais do que nunca. Se isto não é religião, que seria,
afinal?".
Para finalizar, alguns aspectos curiosos em Hermínio Miranda :
1. Ele não é um escritor que se poderia
dizer popular. Conquanto em alguns instantes demonstre intenções nessa direção,
sua linguagem o trai, seu estilo é denso e portador de uma seriedade do tipo
que não se permite, leves que sejam, algumas pitadas de jocosidade. Às vezes
tenta, mas não logra sucesso. Por isso, seria interessante analisar a razão da
excelente vendagem de seus livros;
2. Miranda abusa das conceituações e dos esclarecimentos
tendo por base os dicionários e enciclopédias. Tem-se a impressão de que
escreve com o "Aurélio" e a "Britânica" ao lado, a eles
recorrendo constantemente. Isso pode significar, por exemplo, uma tendência ao
didatismo, ao mesmo tempo em que preocupação com o produto final da recepção do
leitor;
3. Verifica-se, também nele, uma quase
excessiva preocupação de convencer o leitor de que não deseja modificar sua
opinião acerca de determinados aspectos especialmente ligados à crença. Ao
analisar o conjunto de sua obra, este fato se destaca com certa nitidez,
contrastando com a firmeza com que defende suas opiniões.
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