VISÃO
ESPÍRITA DA BÍBLIA
J. HERCULANO PIRES
23 - ALEGORIA
DA QUEDA DO HOMEM NA BÍBLIA
O dogma da
queda do homem é sustentado no campo religioso como um dos mistérios de Deus,
impenetrável à inteligência humana. Seu fundamento bíblico é o Cap. III do
Gênesis. Todos conhecem a lenda poética da árvore proibida, no meio do jardim
do Éden, com a serpente demoníaca (a píton grega) enganando Eva, que leva Adão
ao pecado original da desobediência. Mas em virtude do dogmatismo fideísta das
religiões, poucas pessoas admitem a natureza alegórica desse conto ingênuo. O
símbolo está evidente, à flor da pele. Mas os que consideram a Bíblia como a
palavra de Deus não podem admiti-lo.
Entendem a
alegoria como realidade divina, tomando-a simplesmente ao pé da letra.
Kardec explica
em A Gênese, Cap. XII, toda a simbologia dessa passagem bíblica: Adão é a
personificação da Humanidade e sua falta representa a fragilidade humana; a árvore
da vida é o símbolo da vida espiritual, que desenvolve a consciência humana e o
livre-arbítrio da criatura; o fruto proibido está no meio do jardim de
delícias, porque é a tentação dos prazeres materiais; a desobediência de Adão e
Eva é a violação das leis de Deus pela
concupiscência do homem; a serpente é a imagem da perfídia, da maldade que incita
os outros ao erro.
Pergunta
Kardec: "Por que impor à fé ingênua da credulidade infantil, como verdades,
alegorias tão evidentes, falseando O seu julgamento e fazendo-as mais tarde encarar
a Bíblia como um conjunto de fábulas absurdas?" Além disso, Kardec estuda
o verdadeiro sentido dos termos bíblicos em sua origem hebraica e estabelece
comparações entre o texto sagrado e conhecidas alegorias mitológicas. A forma
das alegorias bíblicas é bela e o seu sentido é profundo. Mas essa beleza e
essa profundidade são transformadas em absurdo e ridículo pela interpretação
literal.
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