BRASIL, CORAÇÃO DO MUNDO, PÁTRIA
DO EVANGELHO
Psicografia de Francisco Cândido
Xavier
Pelo Espírito Humberto de Campos
19 - A
Independência
O movimento da emancipação percorria todos os departamentos de atividades
políticas da pátria; mas, por disposição natural, era no Rio de Janeiro,
cérebro do país, que fervilhavam as ideias libertárias, incendiando todos os
espíritos. Os mensageiros invisíveis desdobravam sua ação junto de todos os
elementos, preparando a fase final do trabalho da independência, através dos
processos pacíficos.
Os
patriotas enxergavam no príncipe D. Pedro a figura máxima, que deveria encarnar
o papel de libertador do reino do Brasil. O príncipe, porém, considerando as
tradições e laços de família, hesitava ainda em optar pela decisão suprema de
se separar, em caráter definitivo, da direção da metrópole.
Conhecendo
as ordens rigorosas das cortes de Lisboa, que determinavam o imediato regresso
de D. Pedro a Portugal, reúnem-se os cariocas para tomarem as providências de
possível execução e uma representação com mais de oito mil assinaturas é levada
ao príncipe regente, pelo Senado da Câmara, acompanhada de numerosa multidão, a
9 de janeiro de 1822. D. Pedro, diante da massa de povo, sente a assistência
espiritual dos companheiros de Ismael, que o incitam a completar a obra da
emancipação política da Pátria do Evangelho, recordando-lhe, simultaneamente,
as palavras do pai no instante das despedidas. Aquele povo já possuía a
consciência da sua maioridade e nunca mais suportaria o retrocesso à vida
colonial, integrado que se achava no patrimônio das suas conquistas e das suas
liberdades. Em face da realidade positiva, após alguns minutos de angustiosa
expectativa, o povo carioca recebia, por intermédio de José Clemente Pereira,129 a promessa formal do príncipe de que
ficaria no Brasil, contra todas as determinações das cortes de Lisboa, para o
bem da coletividade e para a felicidade geral da nação. Estava, assim,
proclamada a Independência do Brasil, com a sua audaciosa desobediência às
determinações da metrópole portuguesa.
Todo o
Rio de Janeiro se enche de esperança e de alegria. Mas as tropas fiéis a Lisboa
resolvem normalizar a situação, ameaçando abrir luta com os brasileiros, a fim
de se fazer cumprirem as ordens da Coroa. Jorge de Avilez,130
comandante da divisão, faz constar, imediatamente, os seus propósitos, e, a 11
de janeiro, as tropas portuguesas ocupam o Morro do Castelo, que ficava a
cavaleiro da cidade. Ameaçado de bombardeio, o povo carioca reúne as multidões
de milicianos, incorpora-os às tropas brasileiras e se posta contra o inimigo
no Campo de Santana. O perigo iminente faz tremer o coração fraterno da cidade.
Não fosse o auxílio do Alto, todos os propósitos de paz se teriam malogrado
numa pavorosa maré de ruína e de sangue. Ismael acode ao apelo das mães
desveladas e sofredoras e, com o seu coração angélico e santificado, penetra as
fortificações de Avilez e lhe faz sentir o caráter odioso das suas ameaças à
população. A verdade é que, sem um tiro, o chefe português obedeceu, com
humildade, à intimação do príncipe D. Pedro, capitulando a 13 de janeiro e
retirando-se com as suas tropas para a outra margem da Guanabara, até que
pudesse regressar com elas para Lisboa.
Os
patriotas, daí por diante, já não pensam noutra coisa que não seja a
organização política do Brasil. Todas as câmaras e núcleos culturais do país se
dirigem a D. Pedro em termos elogiosos, louvando-lhe a generosidade e
exaltando-lhe os méritos. Os homens eminentes da época, a cuja frente somos
forçados a colocar a figura de José Bonifácio,[1]131 como a expressão culminante dos Andradas,
auxiliam o Príncipe regente, sugerindo-lhe medidas e providências necessárias.
Chegando ao Rio por ocasião do grande triunfo do povo, após a memorável
resolução do “Fico”, José Bonifácio foi feito ministro do Reino do Brasil e dos
Negócios Estrangeiros. O patriarca da Independência adota as medidas políticas
que a situação exigia, inspirando, com êxito, o Príncipe regente nos seus
delicados encargos de governo.
Gonçalves
Ledo, frei Sampaio e José Clemente Pereira, paladinos da imprensa da época,
foram igualmente grandes propulsores do movimento da opinião, concentrando as energias
nacionais para a suprema afirmação da liberdade da pátria.
Todavia,
se a ação desses abnegados condutores do povo se fazia sentir desde Minas
Gerais até o Rio Grande do Sul, o predomínio dos portugueses, desde a Bahia até
o Amazonas, representava sério obstáculo ao incremento e consolidação do ideal
emancipacionista. O governo resolve contratar os serviços das tropas
mercenárias de Lorde Cochrane,132 o
cavaleiro andante da liberdade da América Latina. Muitas lutas se travam nas
costas baianas, e verdadeiros sacrifícios se impõem os mensageiros de Ismael,
que se multiplicam em todos os setores com o objetivo de conciliar seus irmãos
encarnados, dentro da harmonia e da paz, sempre com a finalidade de preservar a
unidade territorial do Brasil, para que se não fragmentasse o coração
geográfico do mundo.
José
Bonifácio aconselha a D. Pedro uma viagem a Minas Gerais, a fim de unificar o
sentimento geral em favor da independência e serenar a luta acerba dos
partidarismos. Em seguida, outra viagem, com os mesmos objetivos, realiza o
príncipe regente a São Paulo. Os bandeirantes, que no Brasil sempre caminharam
na vanguarda da emancipação e da autonomia, recebem-no com o entusiasmo da sua
paixão libertária e com a alegria da sua generosa hospitalidade, e, enquanto há
música e flores nos teatros e nas ruas paulistas, comemorando o acontecimento,
as falanges invisíveis se reúnem no Colégio de Piratininga. O conclave
espiritual se realiza sob a direção de Ismael, que deixa irradiar a luz
misericordiosa do seu coração. Ali se encontram heróis das lutas maranhenses e
pernambucanas, mineiros e paulistas, ouvindo-lhe a palavra cheia de ponderação
e de ensinamentos. Terminando a sua alocução pontilhada de grande sabedoria, o
mensageiro de Jesus sentenciou:
— A
independência do Brasil, meus irmãos, já se encontra definitivamente
proclamada. Desde 1808, ninguém lhe podia negar ou retirar essa liberdade. A
emancipação da Pátria do Evangelho consolidou-se, porém, com os fatos
verificados nestes últimos dias e, para não quebrarmos a força dos costumes
terrenos, escolheremos agora uma data que assinale aos pósteros essa liberdade
indestrutível.
Dirigindo-se
ao Tiradentes, que se encontrava presente, rematou:
— O nosso
irmão, martirizado há alguns anos pela grande causa, acompanhará D. Pedro em
seu regresso ao Rio e, ainda na terra generosa de São Paulo, auxiliará o seu
coração no grito supremo da liberdade. Uniremos assim, mais uma vez, as duas
grandes oficinas do progresso da pátria, para que sejam as registradoras do inesquecível
acontecimento nos fastos da História. O grito da emancipação partiu das
montanhas e deverá encontrar aqui o seu eco realizador. Agora, todos nós que
aqui nos reunimos, no sagrado Colégio de Piratininga, elevemos a Deus o nosso
coração em prece, pelo bem do Brasil.
Dali, do
âmbito silencioso daquelas paredes respeitáveis, saiu uma vibração nova de
fraternidade e de amor.
Tiradentes
acompanhou o príncipe nos seus dias faustosos, de volta ao Rio de Janeiro. Um
correio providencial leva ao conhecimento de D. Pedro as novas imposições das
cortes de Lisboa e ali mesmo, nas margens do Ipiranga, quando ninguém contava
com essa última declaração sua, ele deixa escapar o grito de “Independência ou
Morte!”, sem suspeitar de que era dócil instrumento de um emissário invisível,
que velava pela grandeza da pátria.
Eis por
que o 7 de setembro, com escassos comentários da história oficial, que
considerava a independência já realizada nas proclamações de 1o de agosto de 1822, passou à memória da
nacionalidade inteira como o Dia da Pátria e data inolvidável da sua liberdade.
Esse
fato, despercebido da maioria dos estudiosos, representa a adesão intuitiva do
povo aos elevados desígnios do mundo espiritual.
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