PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

domingo, novembro 30, 2014


                              CRIME  OU  CASTIGO 
                                                                     Maurício Roriz
                     “Cada criatura transita entre as próprias criações.”  (André Luiz)

     A frase em epígrafe foi recebida através da mediunidade de Chico Xavier e consta da página “tranquilidade”, publicada em “Mensagens de Saúde  Espiritual” pela Editora EME. Em apenas sete palavras o Espírito André Luiz formula uma belíssima síntese de um conceito procurado pelo homem de todas as épocas e de todas as civilizações: a Justiça Divina.
     Devido à acentuada influência de algumas religiões sobre nossas raízes culturais, ainda é muito forte entre nós a concepção antropomórfica de Deus. Esta concepção consiste em imaginar a Divindade com as formas e os atributos típicos dos seres humanos. Assim, a justiça Divina é concebida com as mesmas limitações apresentadas pela justiça dos homens: supõe-se que, durante todas as horas de todos os dias de nossas vidas, Deus se ocupe “pessoalmente”  de nos vigiar, nos julgar e, quando for o caso, nos punir. Equivocadamente supomos então que, se sofremos “é por vontade de Deus.”
     A Doutrina revelada pelos Espíritos e codificada por Kardec trouxe entendimento bem mais amplo e racional sobre tão importante questão. Ao criar o universo, Deus estabeleceu as Leis que viriam a reger todo o seu funcionamento.  Estas são as próprias Leis Naturais que a ciência humana vem, pouco a pouco, descobrindo ao longo dos séculos.  Nos acostumamos a procurar distinguir entre seus aspectos científicos, morais ou religiosos mas, em realidade, a Lei é una, completa, permanente e universal. Além disso, a Lei é autoaplicável, ou seja: se jogarmos uma pedra para cima, a mesma irá cair por efeito da gravidade, não será necessária a intervenção “pessoal” de Deus.
     Um processo semelhante rege também o relacionamento entre os indivíduos e é denominado Lei de Ação e Reação. Se agredimos qualquer criatura, mais cedo ou mais tarde seremos agredidos. Se agimos com amor, receberemos amor. Temos o livre arbítrio de decidir sobre o que semear mas se plantamos joio não poderemos colher trigo. A aplicação dessa lei de ação e reação também é automática, se dá através de nossa própria consciência. É por efeito de mecanismos como o remorso, por exemplo, que nos sentimos punidos. Com nossas energias mentais construímos os cenários em que vivemos e viveremos: “Pensamento e vontade – eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e, ao mesmo tempo, os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do “inferno” das paixões.” (Manuel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Franco em “Nos Bastidores da Obsessão”).
     A Lei de Ação e Reação, entre tanto, vem sendo, há séculos, confundida com conceitos vulgares como o da fatalidade ou do crime e castigo. “Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria das pessoas aceita e submete-se ao que poderia mudar a benefício próprio, autopunindo-se, e acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, a perfeição. Dominado pela conduta infantil dos prêmios e dos castigos, o indivíduo não amadurece o eu profundo, continuando sob o jugo dos caprichos do ego, confundindo  resignação com indiferença pela própria realização espiritual. (...) Liberando-se das imagens errôneas a respeito da vida, o ser deve assumir a realidade do processo da evolução e vencer-se, superando os fatores  de perturbação e de destruição.” (Joanna de Angelis, em “Autodescobrimento”, psicografia de Divaldo Franco).
     Ocorre-nos sugestiva história, narrada recentemente por uma amiga: na praça central de uma pequena cidade do interior costumava sentar-se um simpático velhinho , antigo morador local. Em certa ocasião um estranho dirigiu-se a ele:
     - Boa tarde, amigo. Acabo de mudar-me para essa cidade. Como são as pessoas daqui?
     - Como eram as pessoas do lugar onde você morava?
     - Eram ótimas, muito simpáticas e caridosas! – disse o homem.
     - Pois as daqui também são assim. – respondeu o velho.
     Na semana seguinte aparece outro forasteiro com a mesma questão:
     - Bom dia, senhor. Sou novo por aqui e gostaria de saber como são as pessoas dessa cidade.
     - Como eram as pessoas do lugar onde você morava?
     - Ah! Eram péssimas, muito antipáticas e egoístas!
     - Pois as daqui também são assim.
     Essa singela parábola ilustra o mesmo processo automático de aplicação da Lei. Muitos dentre nós estamos sempre culpando o lugar e as pessoas com quem convivemos, o que nos leva a uma interminável busca por novos amigos, nova igreja, novo emprego, nova cidade. Mas essas sucessivas mudanças nunca resolvem os nossos verdadeiros problemas pois estes são interiores, os carregamos conosco para onde vamos. Por tudo isso, nos ensina André Luiz que “cada criatura transita entre as próprias criações”.

    
   




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