O assunto é sobre relacionamento com outras pessoas, e conhecimento de
si mesmo. Como a parábola do semeador mostra diferentes estágios do espírito,
que podem ser aplicados a nos mesmos.
A lição de hoje é: seja indulgente com as falhas daquele que convive
contigo, se ele não segue o que você aconselha, ou se ele persiste em caminho
que você acha errado.
Para se viver em paz, é imprescindível aprendermos a respeitar a
privacidade – ou seja, a intimidade, a particularidade, a individualidade dos
demais.
Às vezes, por não gostarmos de
alguém, deixamos de ter consideração por essa pessoa. Mas, conforme já
abordado, muito embora não lhe destinemos o nosso afeto, ela merece respeito,
como ser humano que é.
No entanto, a situação
contrária também ocorre: por julgarmos que amamos muito uma pessoa, nos
sentimos no direito de invadir seus domínios, sua privacidade. Em muitas
relações, o amor se expressa através do sentimento de posse que uma pessoa
nutre em relação à outra, no qual, uma está sempre tentando – e até conseguindo
– submeter à outra à sua própria vontade, ao seu jeito de ser, sentir e pensar,
para que determinados caprichos possam lhe ser satisfeitos. Mas, entre a
capacidade se sentir amor e o respeito, este será sempre o mais importante,
porque respeito também significa tratar o outro com amor e dignidade.
A parábola é: Vieram as aves e levaram as sementes que caíram no
caminho, As que caíram no
pedregulho, nasceu rápido, mas morreu em seguida. As que caíram entre
os espinhos foram sufocadas pelo espinheiro. As que caíram em solo fértil deram
algumas um pouco, algumas um pouco mais, e algumas o máximo.
O Mestre aceitava plenamente a diversidade humana. Ele se opunha a
todo e qualquer “nivelamento psicológico” e, portanto, lançou a Parábola do
Semeador. Jesus, por compreender a imensa multiformidade evolucional dos
homens, exemplificou nessa parábola a “dessemelhança” das criaturas, comparando-as
aos diversos terrenos nos quais as sementes da Vida foram semeadas.
E o fez a fim de que entendêssemos que o melhor apoio que prestaríamos
a nossos companheiros de jornada seria simplesmente esperar em silêncio e com
paciência.
Na vida, não existe antecipação nem adiamento, somente o tempo
propício de cada um. A humanidade, em geral, recebe as sementes do crescimento
espiritual a todo o instante. Constantemente, a “Organização Divina” emite ideias
de progresso e desenvolvimento, devendo cada indivíduo absorver a sementeira de
acordo com suas possibilidades e habilidades existenciais.
A Natureza nos presenteia com uma diversidade incontável de flores,
que nos encantam e fascinam.
Certamente, não as depreciaríamos apenas por achar que vários botões
já deveriam ter desabrochado dentro de um prazo determinado por nós, nem as
repreenderíamos por suas tonalidades não ser todas iguais conforme nossa
maneira de ver. Não poderíamos sequer compará-las com outras flores de diferentes
jardins, por estarem ou não mais viçosas. Deixemos que elas possam germinar,
crescer e florir, segundo sua natureza e seu próprio ritmo espontâneo. Isso
será sempre mais óbvio.
Parece racional que ofereçamos a quem amamos o mesmo consentimento,
porque cada ser tem seu próprio “marco individual” nas estradas da vida, e não
nos é permitido violentar sua maneira de entender, comparando-o com outros, ou
forçando-o com nossa impaciência para que “cresçam” e “evoluam”, como nós
acharíamos que deveria ser.
Cada um de nós possui diferenças exteriores, tanto no aspecto físico
como na forma de se vestir, de sorrir, de falar, de olhar ou de se expressar.
Por que então haveríamos de florescer “a toque de caixa”?
Nossa ansiedade não faz com que as árvores dêm frutos instantâneos,
nem faz com que as roseiras floresçam mais céleres. Respeitemos, pois, as
possibilidades e as limitações de cada indivíduo.
As que caíram ao longo do caminho, e os pássaros as comeram,
representam as pessoas de mentalidade bloqueada e restringida, que recusam
todas as possibilidades de conhecimento que as conteste, ou mesmo, qualquer
forma que venha modificar sua vida ou interferir em seus horizontes
existenciais. São seres de compreensão e aceitação diminuta ou quase nula. São
comparáveis aos atalhos endurecidos e macerados pela ação do tempo.
O pedregal e o espinheiro representam a pouca base de nosso vaso
interior para a assimilação da palavra divina. Podemos comparar-nos ao aluno na
escola: quando não temos base, não conseguimos acompanhar o restante da classe outras
sementes caíram em lugares pedregosos, onde não havia muita terra, mas logo
brotaram. Ao surgir o sol, queimaram-se porque a terra era escassa e suas
raízes não eram suficientemente profundas.
Foram logo ressecadas porque não suportaram o “calor da prova”; e, por
serem qualificadas como pessoas de convicção “flutuante”, torraram rapidamente
seus projetos e intenções.
Nossas bases psicológicas foram recolhidas nas experiências do ontem.
São raízes do passado que nos dão manutenção no presente para ir adiante, nos
processos de iluminação interior.
Quando os “caules” não são suficientemente profundos e vetustos, há
bloqueios tanto em nossa consciência intelectual como na emocional. Um
mecanismo opera de forma a assimilar somente o que se pode digerir daquela
informação ou ensinamento recebido.
Assim, a disponibilidade de perceber a realidade das coisas funciona
nas bases do “potencial” e da “viabilidade evolutiva” e, portanto, impor às
pessoas que “sejam sensíveis” ou que “progridam”, além de desrespeito à
individualidade, é fator perigoso e destrutivo para exterminar qualquer tipo de
relacionamento.
A semente, no caso da parábola, está relacionada com a questão
intrínseca de ser religioso e ter uma religião. Ter uma religião é seguir o que
o pastor diz, o que o padre prega e o que os tribunos falam.
Ser religioso é modificar-se interiormente para as novas verdades.
Nesse sentido, o apontamento de Emmanuel é assaz pertinaz, pois diz que
"Nas experiências religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a
firmeza espiritual dos outros; enquanto o imprevidente descansa em bases
estranhas, provavelmente estará tranquilo, mas, se não possui raízes de
segurança em si mesmo, desviar-se-á nas épocas difíceis, com a finalidade de
procurar alicerces alheios".
Outra aplicação, não menos justa, é a que se pode fazer às diferentes
categorias de espíritas. Não nos oferece o símbolo dos que se apegam apenas aos
fenômenos materiais, não tirando dos mesmos nenhuma consequência, pois que
neles só vêm um objeto de curiosidade?
Dos que só procuram o brilho das comunicações espíritas,
interessando-se apenas enquanto satisfazem-lhes as imaginações, mas que, após
ouvi-las, continuam frios e indiferentes como antes?
Dos que acham muito bons os conselhos, e os admiram, mas para
aplicá-los aos outros e não a si mesmos? Os espinheiros que, ao crescer,
abafaram as sementes representam as “ideias sociais” que impermeabilizam a
mentalidade dos seres humanos, pois, no tempo do Mestre, as leis do “Torah” asfixiavam
e regulamentavam não somente a vida privada, mas também a pública.
Os indivíduos que não pensam por si mesmos acabam caindo nos domínios
das “normas e regras”, sem poder erguer em demasia a sua mente, restrita pelas ideias
vigentes, o que os sentencia a viver numa “frustração grupal”, visto que seu
grau de raciocínio não pode ultrapassar os níveis permitidos pela comunidade.
Jesus de Nazaré combateu sistematicamente os “espinhos da opressão” na
pessoa daqueles que observavam com rigor os rituais e determinações das leis,
em detrimento da pureza interior. Dessa forma, Ele desqualificou todo espírito
de casta entre as criaturas de sua época.
Compreendamos que a nós, somente, compete “semear”; sem esquecer,
porém, que o crescimento e a fartura na colheita dependem da “chuva da
determinação humana” e do “solo generoso” do ser, onde houve a semeadura.
Exposição do Irmão Orlei Moraes dos Santos no Instituto Espírita Amigo Germano
em 15 Set 14).
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