O
PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR
LÉON
DENIS
FEDERAÇÃO
ESPÍRITA BRASILEIRA – 32ª EDIÇÃO
TRECHO DO
XIII
AS VIDAS SUCESSIVAS
A REENCARNAÇÃO E SUAS LEIS
Temíveis são
certas atrações para as almas que procuram as condições de um renascimento, por
exemplo, as famílias de alcoólicos, de devassos, de dementes. Como conciliar a
noção de justiça com a encarnação dos seres em tais meios? Não há aí, em jogo,
razões psíquicas profundas e latentes e não são as causas físicas apenas uma
aparência? Vimos que a lei de afinidade aproxima os seres similares. Um passado
de culpas arrasta a alma atrasada para grupos que apresentam analogias com o
seu próprio estado fluídico e mental, estado que ela criou com os seus
pensamentos e ações.
Não há, nestes
problemas, nenhum lugar para a arbitrariedade ou para o acaso. É o mau uso
prolongado de seu livre-arbítrio, a procura constante de resultados egoístas ou
maléficos que atrai a alma para genitores semelhantes a si. Eles
fornecer-lhe-ão materiais em harmonia com o seu organismo fluídico, impregnados
das mesmas tendências grosseiras, próprios para a manifestação dos mesmos
apetites, dos mesmos desejos. Abrir-se-á nova existência, novo degrau de queda
para o vício e para a criminalidade. É a descida para o abismo.
Senhora do seu
destino, a alma tem de sujeitar-se ao estado de coisas que preparou, que
escolheu. Todavia, depois de haver feito de sua consciência um antro tenebroso,
um covil do mal, terá de transformá-lo em templo de luz. As faltas acumuladas
farão nascer sofrimentos mais vivos; suceder-se-ão mais penosas, mais dolorosas
as encarnações; o círculo de ferro apertar-se-á até que a alma, triturada pela
engrenagem das causas e dos efeitos que houver criado, compreenderá a
necessidade de reagir contra suas tendências, de vencer suas ruins paixões e de
mudar de caminho. Desde esse momento, por pouco que o arrependimento a
sensibilize, sentirá nascer em si forças, impulsões novas que a levarão para
meios mais adequados à sua obra de reparação, de renovação, e passo a passo irá
fazendo progressos. Raios e eflúvios penetrarão na alma arrependida e
enternecida, aspirações desconhecidas, necessidades de ação útil e de dedicação
hão de despertar nela. A lei de atração, que a impelia para as últimas camadas
sociais, reverterá em seu benefício e tornar-se-á o instrumento da sua
regeneração.
Entretanto, não
será sem custo que ela se levantará; a ascensão não prosseguirá sem dificuldades.
As faltas e os erros cometidos repercutem como causas de obstrução nas vias
futuras e o esforço terá de ser tanto mais enérgico e prolongado quanto mais
pesadas forem as responsabilidades, quanto mais extenso tiver sido o período de
resistência e obstinação no mal. Na escabrosa e íngreme subida, o passado
dominará por muito tempo o presente, e o seu peso fará vergar mais de uma vez os
ombros do caminhante; mas, do Alto, mãos piedosas estender-se-ão para ele e
ajudá-lo-ão a transpor as passagens mais escarpadas. “Há mais alegria no Céu
por um pecador que se arrepende do que por cem justos que perseveram.”
O nosso futuro
está em nossas mãos e as nossas facilidades para o bem aumentam na razão direta
dos nossos esforços para o praticarmos.
Toda vida nobre
e pura, toda missão superior é o resultado de um passado imenso de lutas, de
derrotas sofridas, de vitórias ganhas contra nós mesmos; é o remate de
trabalhos longos e pacientes, a acumulação de frutos de ciência e caridade
colhidos, um por um, no decurso das idades. Cada faculdade brilhante, cada
virtude sólida reclamou existências multíplices de trabalho obscuro, de
combates violentos entre o espírito e a carne, a paixão e o dever. Para chegar
ao talento, ao gênio, o pensamento teve de amadurecer lentamente através dos
séculos. O campo da inteligência, penosamente desbravado, a princípio apenas
deu escassas colheitas; depois, pouco a pouco, vieram as searas cada vez mais
ricas e abundantes.
Em cada regresso
ao Espaço procede-se ao balanço dos lucros e perdas; avaliam-se e firmam-se os
progressos. O ser examina-se e julga-se; perscruta minuciosamente a sua
história recente, em si mesmo escrita; passa em revista os frutos de
experiência e sabedoria que a sua última vida lhe proporcionou, para mais
profundamente assinalar-lhes a substância.
A vida do Espaço
é, para o Espírito que evoluiu, o período de exame, de recolhimento, em que as
faculdades, depois de se terem gasto no exterior, refletem-se, aplicam-se ao
estudo íntimo, ao interrogatório da consciência, ao inventário rigoroso da
beleza ou fealdade que há na alma.
A vida do Espaço
é a forma necessária e simétrica da vida terrestre, vida de equilíbrio, em que
as forças se reconstituem, em que as energias se retemperam, em que os
entusiasmos se reanimam, em que o ser se prepara para as futuras tarefas; é o
descanso depois do trabalho, a bonança depois da tormenta, a concentração
tranquila e serena depois da expansão ativa ou do conflito ardente.
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