O
PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR
LÈON
DENIS
FEDERAÇÃO
ESPÍRITA BRASILEIRA – 32ª EDIÇÃO
TRECHO DO III O PROBLEMA
DO SER
O primeiro problema que se apresenta ao pensamento é o do
próprio pensamento, ou, antes, do ser pensante. É isto, para todos nós, assunto
capital, que domina todos os outros e cuja solução nos reconduz às próprias
origens da Vida e do Universo.
Qual a natureza da nossa personalidade? Comporta um elemento
suscetível de sobreviver à morte? A esta resposta estão afetas todas as
apreensões, todas as esperanças da Humanidade.
O problema do ser e o problema da alma fundem-se num só. É a
alma que
fornece ao homem o seu princípio de vida e movimento. A alma humana é uma vontade livre e soberana, é a
unidade consciente que domina todos os
atributos, todas as funções, todos os
elementos materiais do ser, como a alma
divina domina, coordena e liga todas as
partes do Universo para harmonizá-las.
A alma é imortal, porque o nada não existe e nenhuma coisa
pode ser aniquilada, nenhuma individualidade pode deixar de ser. A dissolução
das formas materiais prova simplesmente uma coisa: que a alma é separada do organismo
por meio do qual comunicava com o meio terrestre. Não deixa, por esse fato, de
prosseguir a sua evolução em novas condições, sob formas mais perfeitas e sem
nada perder da sua identidade. De cada vez que ela abandona o seu corpo
terrestre, encontra-se novamente na vida do Espaço, unida ao seu corpo
espiritual, de que é inseparável, à forma imponderável que para si preparou com
os seus pensamentos e obras.
Esse corpo
sutil, essa duplicação fluídica existe em nós no estado permanente.
Embora
invisível, serve, entretanto, de molde ao nosso corpo material.
Este não
representa, no destino do ser, o papel mais importante. O corpo visível, o
corpo físico varia. Formado de acordo com as necessidades da vida terrestre, é
temporário e perecível; desagrega-se e dissolve-se quando morre. O corpo sutil
permanece; preexistindo ao nascimento, sobrevive às decomposições da campa e
acompanha a alma nas suas transmigrações. É o modelo, o tipo original, a
verdadeira forma humana, à qual vêm incorporar-se temporariamente as moléculas
da carne. Essa forma sutil, que se mantém no meio de todas as variações e de
todas as correntes materiais, mesmo durante a vida pode separar-se, em certas
condições, do corpo carnal, e também agir, aparecer, manifestar-se a distância,
como mais adiante veremos, de modo a provar de maneira irrecusável sua
existência independente.38
38 A
ciência fisiológica, a que escapa ainda a maior parte das leis da vida,
entreviu, no entanto, a existência do perispírito ou do corpo fluídico, que é
ao mesmo tempo o molde do corpo material, o vestuário da alma e o intermediário
obrigatório entre eles. Claude Bernard escreveu (Recherches sur les Problèmes de
la Physiologie): “Há como um desenho
preestabelecido de cada ser e de cada órgão, de modo
que, se considerado insuladamente, cada fenômeno do organismo é tributário das
forças gerais da Natureza, parecem eles revelar um laço especial, parecem dirigidos por alguma condição invisível pelo caminho que
seguem, na ordem
que os concatena”.
Sem a noção do corpo fluídico, a união da alma com o corpo
material torna-se incompreensível. Daí veio o enfraquecimento de certas teorias
espiritualistas, que consideravam a alma como “Espírito puro”.
Nem a razão nem a Ciência podem admitir um ser sem forma.
Leibniz, no prefácio das suas Nouvelles
Recherches sur la Raison Humaine,
dizia: “Creio, com a maior parte dos antigos, que todos os Espíritos, todas as almas, todas as substâncias
simples, ativas, estão sempre unidas a um corpo e que nunca existem almas completamente desprovidas deles”.
Enfim, existem numerosas provas, objetivas e subjetivas, da
existência do perispírito. São, em primeiro lugar, as sensações chamadas “de
integridade”, que acompanham sempre a amputação de qualquer membro.
Alguns magnetizadores afirmam que podem exercer influência
nos seus doentes, magnetizando o prolongamento fluídico dos membros amputados
(Carl du Prel, La Doctrine Monistique de l’Ame, cap. VI). Vêm depois as aparições dos fantasmas dos vivos.
Em muitos casos, o corpo fluídico, concretizado, tem impressionado placas
fotográficas, deixado impressões e moldagens em substâncias moles, traços no pó
e na fuligem, provocado o deslocamento de objetos, etc. (Ver No invisível, caps. XII
e XX.)
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