1. Atendimento a Espíritos portadores de
graves sofrimentos.
Incluímos nessa categoria: suicidas que planejaram a própria
desencarnação; perseguidores e obsessores endurecido; portadores de serias
deformações perispirituais (ovoidização e zoantropia).
1.1 Suicidas que planejaram a própria
desencarnação.
Os suicidas revelam sofrimentos atrozes em suas manifestações mediúnicas.
“Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda completamente imersa no que
poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal: vivazes lhes são as idéias
terrenas, a ponto de se acreditar encarnado”. (1) No além-túmulo passam por
terríveis “[...] suplicio pela sensação dos vermes que corroem o corpo, sem
falarmos da sua duração, que deverá equivaler ao tempo de vida abreviada”. (2)
Nessas condições, o diálogo deve ser saturado de ternura e de vibrações
amorosas. A compaixão
é o sentimento que deve predominar nessa conversa fraterna, durante a qual os trabalhadores
espirituais retiram da equipe mediúnica as energias magnéticas necessárias para
aliviar dores e reparar lesões perispirituais presentes nos suicidas.
O desabafo, carregado de remorso, é típico das manifestações mediúnicas
dos suicidas, ainda que todos, sem exceção, tenham recebido os primeiros
socorros nas instituições existentes no mundo espiritual. Os componentes do
grupo devem ouvi-los com paciência e ampará-los com bondade, envolvendo-os em
boas vibrações.
O desabafo de um suicida pode revelar-se confuso na sua primeira
manifestação na reunião mediúnica. Em comunicações posteriores, à medida que o
auxilio proveniente de ambos os planos de vida é por ele absorvido, consegue
expressar-se com mais clareza, ainda que se revele marcado pela dor, pelo
remorso e por fixações mentais. Nesta situação, o dialogador deverá agir com
muito tato na condução do esclarecimento, por não desconhecer as implicações
que o ato suicida resultará no planejamento das futuras reencarnações do
Espírito. A palavra fraterna do doutrinador lembrará ao sofredor que, ainda que
justiça divina se manifeste, por ser lei natural, não esta destituída da
Bondade e da Misericórdia; que Jesus afirmou “não ser os sãos que necessitam de
médico, mas sim os doentes”; que o amor é norma que rege o Universo, etc.
Importa considerar que nem todos os médiuns psicofônicos e de
esclarecimento (doutrinadores) revelam possuir condições, espirituais e
doutrinarias, para prestarem atendimento a Espíritos suicidas. Por outro lado,
não devemos esquecer que o trabalhado maior é realizado pelos benfeitores
espirituais que, a despeito de auxiliá-los com amor e dedicação, não os mantém
desinformados a respeito das futuras provações. Relacionamos, em seguida
algumas delas, retiradas da obra mediúnica recebida por Yvonne Pereira, Memórias
de um Suicida. (7)
•
O
suicida é um Espírito criminoso, falido nos compromissos que tinha para com as
Leis sabias, justas e imutáveis estabelecidas pelo Criador, e que se vê
obrigado a repetir a experiência na Terra, tomando corpo novo, uma vez que
destruiu aquele que a Lei lhe confiara para instrumento de auxilio na conquista
do próprio aperfeiçoamento.
•
O Espírito de um suicida voltará a novo corpo
terreno em condições muito penosas de sofrimento, agravadas pelas resultantes
do grande desequilíbrio que o desesperado gesto provocou no seu corpo astral,
isto é, no perispírito.
•
A volta
de um suicida a um novo corpo carnal é a lei. É lei inevitável, irrevogável! É
expiação irremediável, à qual terá de se submeter voluntariamente ou não.
•
Sucumbindo ao suicídio o homem rejeita e
destrói ensejo sagrado, facultado por lei, para a conquista de situações
honrosas e dignificantes para a própria consciência [...].
•
Na
Espiritualidade raramente o suicida permanecerá durante muito tempo. Descerá à
reencarnação prestamente, tal seja o acervo das danosas conseqüências
acarretadas; ou adiará o cumprimento daquela inalienável necessidade caso as
circunstancias atenuantes forneçam capacidade para o ingresso em cursos de
aprendizado edificante, que facilitarão as pelejas futuras em prol de sua mesma
reabilitação.
•
O
suicida é como que um clandestino da Espiritualidade. As leis que regulam a
harmonia do mundo invisível são contrariadas com sua presença [...]; e
tolerados são e amparados e convenientemente encaminhados porque a excelência das
mesmas [...] estabeleceu que a todos os pecadores sejam incessantemente
renovadas as oportunidades de corrigenda e reabilitação!
•
Renascendo
em novo corpo carnal, remontará o suicida à programação de trabalhos e prélios
diversos aos quais imaginou erradamente poder escapar pelos atalhos do
suicídio; experimentará novamente tarefas, provações semelhantes ou
absolutamente idênticas às que pretendera arredar; passará inevitavelmente pela
tentação do mesmo suicídio, porque ele mesmo se colocou nessa difícil circunstancia
carreando para a reencarnação expiatória as amargas seqüências do passado
delituoso![...].
•
O estado
indefinível, de angustia inconsolável, de inquietação aflitiva e tristeza e
insatisfações permanentes; as situações anormais que se decalcam e sucedem na
alma, na mente e na vida de um suicida reencarnado [...], após existências
expiatórias, testemunhos severos onde seus valores morais serão duramente
comprovados, acompanhando-se de lagrimas ininterruptas, realizações
nobilitantes, renuncias dolorosas de que se não poderá isentar...
Espíritos com
sérias deformações perispirituais
•
Ovoidização
No livro Libertação, o
Espírito André Luiz descreve os ovóides e o processo de ovoidização, a partir
de um posto de observação, localizado em região inferior do plano espiritual,
onde ele e seus companheiros, Gúbio e Elói, se encontravam.
Reparei, [...] não longe de
nós, como que ligadas às personalidades sob nosso exame, certas formas
indecisas, obscuras. Semelhavam-se a pequenas esferas ovóides, cada uma das
quais pouco maior que um crânio humano. Variavam profusamente nas
particularidades. Algumas denunciavam movimento próprio, ao jeito de grandes
amebas, respirando naquele clima espiritual; outras, contudo, pareciam em
repouso, aparentemente inertes, ligadas ao halo vital das personalidades em
movimento. [...] Grande numero de entidades [...] transportavam essas esferas
vivas, como que imantadas às irradiações que lhes eram próprias. [...] Nunca
havia observado, antes, tal fenômeno. [...] Inquieto, recorri ao instrutor
[Gúbio], rogando-lhe ajuda. [...]
-
Sabes [...] que o vaso perispirítico é também
transformável e perecível, embora estruturado em tipo de matéria mais
rarefeita. [...]
-
Viste
companheiros – prosseguiu o orientador -, que se desfizeram dele, rumo a
esferas sublimes, cuja grandeza por enquanto não nos é dado sondar, e
observastes irmãos que se submeteram a operações redutivas e desintegradoras
dos elementos perispiríticos para renascerem na carne terrestre. Os primeiros
são servidores enobrecidos e gloriosos, no dever bem cumprido, enquanto os
segundos são colegas nossos, que já merecem a reencarnação trabalhada por
valores intercessores, mas, tanto quanto ocorre aos companheiros respeitáveis
desses dois tipos, os ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos
também perdem, um dia, a forma perispiritual. Pela densidade da mente, saturada
de impulsos inferiores, não conseguem elevar-se e gravitam em derredor das
paixões absorventes que por muitos anos elegeram em centro de interesses
fundamentais. Grande número, nessas circunstâncias, mormente os participantes
de condenáveis delitos, imantam-se aos que se lhes associaram nos crimes. (10)
Os Espíritos em estado de
ovoidização “[...] dormitam em estranhos pesadelos. Registram-nos os apelos,
mas respondem-nos, de modo vago, dentro da nova forma em que se segregam,
incapazes que são, provisoriamente, de se exteriorizarem de maneira completa,
sem os veículos mais densos que perderam, com agravo de responsabilidade, na
inércia ou na pratica do mal”. (11) Importa considerar que entidades perversas
ou rebeldes podem mobilizar os Espíritos ovóides (11) e justapô-los ao
perispírito de quem deseja obsidiar, mantendo-os sob pernicioso comando mental,
como esclarece André Luiz, ao observar esquálida parasitada por três ovóides.
(12)
Provavelmente, não haverá
manifestação psicofônica, propriamente dita, de entidades que se encontram na
forma de ovóides, em razão das possíveis dificuldades que ocorreriam durante as
sintonias mediúnicas. Entretanto, nos grupos mediúnicos onde os participantes
demonstram segurança de conhecimento espírita e evangélico, firmeza moral e
aperfeiçoados recursos psíquicos, há médiuns que assinalam a presença deles,
trazidos à reunião por benfeitores espirituais a fim de se beneficiarem das
energias magnéticas dos encarnados. Entretanto, os médiuns psicofônicos
conseguem viabilizar a manifestação de Espíritos obsidiados que possuem ovóides
imantados no perispírito. Em geral, são comunicações difíceis e breves, que
acontecem no espaço de tempo necessário para o doutrinador envolvê-los nas
vibrações da prece e do passe.
•
Zoantropia
Trata-se de um processo obsessivo
utilizado por obsessores que dominam a técnica da hipnose, da sugestão mental e
da manipulação das energias magnéticas. Estes obsessores conseguem insinuar na
mente dos obsidiados idéias e imagens terríveis, com a finalidade de
modificar-lhes a forma perispirítica e dar-lhes a aparência semelhante a de um animal.
Um termo correlato à zoantropia é
a licantropia, que tem o significado de forma perispiritual semelhante a lobo.
No livro Libertação, há
referencias a respeito da ação perniciosa da hipnose sobre o perispírito de uma mulher
desencarnada, presa de remorsos pelos abortos que provocou. Sob o domínio do
magnetizador das trevas, autodenominado “julgador da justiça”, a pobre criatura
adquiriu a aparência de uma loba. A seguinte narrativa de André Luiz descreve
como ocorreu a transformação:
E incidindo toda a força
magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o
fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna:
-
Venha! Venha!
Com expressão de sonâmbula, a
infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da multidão e colocando-se, em baixo,
sob os raios positivos da atenção dele.
-
Confesse! Confesse! – determinou o desapiedado
julgador, conhecendo a organização frágil e passiva a que se dirigia. [...]
E como se estivesse sob a ação
de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar o íntimo, diante de nós, falou,
em voz alta e pausada:
- Matei quatro filhinhos
inocentes e tenros... e combinei o assassínio do meu intolerável esposo... O
crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto me demorei no corpo...
Tentei fugir-lhe através de todos os recursos, em vão... e por mais buscasse
afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me charfudei... no charco de
mim mesma... [...].
Em vigorosa demonstração de
poder, afirmou, triunfante, o magistrado:
-
Como libertar semelhante fera humana ao preço
de rogativas e lágrimas?
Em seguida, fixando sobre ela
as irradiações que lhe emanavam do temível olhar, asseverou peremptório:
-
A sentença foi lavrada por si mesma! Não
passa de uma loba, de uma loba...
À medida que repetia a
afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional
mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a
expressão fisionômica. Entortou-se-lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea,
para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão
revestia-lhe o rosto. Via-se, patente, naquela exibição de poder, o efeito do
hipnotismo sobre o corpo perispirítico. (9)
A obsessão por zoantropia
equivale à subjugação, exigindo-se tratamento medico e internação do obsidiado
em casas psiquiátricas. O passe, a prece, as irradiações mentais e a água
fluidificada são recursos espíritas que proporcionam significativo alivio ao
doente. Os obsessores podem ser atendidos nas reuniões mediúnicas que oferecem
condições, se for este o planejamento dos benfeitores espirituais.
A tarefa de atendimento a
Espíritos portadores de sérios problemas, como os citados neste Roteiro, não
deve ser confiada a iniciantes nos trabalhos mediúnicos. Requer espírito de
equipe, disciplina e educação da faculdade psíquica, harmonia intima e dedicação
ao estudo, além de verdadeiro esforço de melhoria moral, condições que são
adquiridas ao longo dos anos de prática mediúnica séria.
Na introdução deste Roteiro,
inserimos uma citação de Judas que nos alerta sobre a imprudência de emitir
opiniões erradas, de “dizer mal” – como afirma o autor da epístola – sobre
coisas que nada ou pouco sabemos. Muitas mágoas, perseguições e obsessores
surgidas no cenário da vida existem, e são alimentadas por tempo indefinido,
porque desconhecemos, na maioria das vezes, todos os ângulos dos
acontecimentos. Analisando a questão de perto, Emmanuel esclarece com
sabedoria:
Em todos os lugares,
encontramos pessoas sempre dispostas ao comentário desairoso e ingrato
relativamente ao que não sabem. Almas levianas e inconstantes, não dominam os
movimentos da vida, permanecendo subjugadas pela própria inconsciência. E são
essas justamente aquelas que, em suas manifestações instintivas, se portam, no
que sabem, como irracionais. Sua ação particular costuma corromper os assuntos mais
sagrados, insultar as tenções mais generosas e ridicularizar os feitos mais
nobres. Guardai-vos das atitudes dos murmuradores irresponsáveis. Concedeu-nos
o Cristo a luz do Evangelho, para que nossa analise não esteja fria e obscura.
O conhecimento com Jesus é a claridade transformadora da vida, conferindo-nos o
dom de entender a mensagem viva de cada ser e a significação de cada coisa, no
caminho infinito. Somente os que ajuízam, são capazes de produzir frutos de
perfeição com as dádivas de Deus que já possuem. (8)
- KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Segunda
Parte, Cap 5, item O Suicida da samaritana, n. 3
- ________, n. 18
- ________, O Livro dos espíritos. Questão 101
- MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as sombras.
Segunda parte, Cap 2, Item Deformações
- ________, Item Magnetizadores e hipnotizadores.
P 167
- ________, p 169
- PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suícida.
Primeira parte, capitulo: O reconhecimento
- XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida.
Cap 48
- ________, Libertacao. Cap 6, p 86-88
- ________, p 104-106
- ________, p 109
- ________, Cap 7
- ________, Nos domínios da mediunidade/ Cap 7, p
76
- ________, p 77
- XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo,
Desobsessão. Cap 33, p 130
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