Uma
lei tão simples em seus princípios quanto admirável em seus efeitos preside à
classificação das almas no espaço.
Quanto
mais sutis e rarefeitas são as moléculas constitutivas do perispírito tanto
mais rápida é a desencarnação, tanto mais vastos são os horizontes que se
rasgam ao Espírito. Devido ao seu peso fluídico e às suas afinidades, ele se
eleva para os grupos espirituais que lhe são similares. Sua natureza e seu grau
de depuração determinam-lhe nível e classe no meio que lhe é próprio. Com
alguma exatidão tem-se comparado a situação dos Espíritos no espaço à dos
balões cheios de gases de densidades diferentes que, em virtude de seus pesos
específicos, se elevam a alturas diversas. Mas, cumpre que nos apressemos em
acrescentar que o Espírito é dotado de liberdade e, portanto, não estando
imobilizado em nenhum ponto, pode, dentro de certos limites, deslocar-se e
percorrer os páramos etéreos.
Pode,
em qualquer tempo, modificar suas tendências, transformar-se pelo trabalho ou
pela prova, e, conseguintemente, elevar-se à vontade na escala dos seres.
É,
pois, uma lei natural, análoga às leis da atração e da gravidade, a que fixa a
sorte das almas depois da morte. O Espírito impuro, acabrunhado pela densidade
de seus fluidos materiais, confina-se nas camadas inferiores da atmosfera,
enquanto a alma virtuosa, de envoltório depurado e sutil, arremessa-se, alegre,
rápida como o pensamento, pelo azul infinito.
É
também em si mesmo – e não fora de si, é em sua própria consciência que o
Espírito encontra sua recompensa ou seu castigo. Ele é seu próprio juiz. Caído
o vestuário de carne, a luz penetra-o e sua alma aparece nua, deixando ver o
quadro vivo de seus atos, de suas vontades, de seus desejos.
Momento
solene, exame cheio de angústia e, muitas vezes, de desilusão.
As
recordações despertam em tropel e a vida inteira desenrola-se com seu cortejo
de faltas, de fraquezas, de misérias. Da infância à morte, tudo, pensamentos,
palavras, ações, tudo sai da sombra, reaparece à luz, anima-se e revive. O ser
contempla-se a si mesmo, revê, uma a uma, através dos tempos, suas existências
passadas, suas quedas, suas ascensões, suas fases inumeráveis. Conta os
estágios franqueados, mede o caminho percorrido, compara o bem e o mal
realizados. Do fundo do passado obscuro, surgem, a seu apelo, como outros
tantos fantasmas, as formas que revestiu através das vidas sucessivas. Em uma
visão clara, sua recordação abraça as longas perspectivas das idades
decorridas; evoca as cenas sanguinolentas, apaixonadas, dolorosas, as
dedicações e os crimes; reconhece a causa dos processos executados, das expiações
sofridas, o motivo da sua posição atual. Vê a correlação que existe, unindo
suas vidas passadas aos anéis de uma longa cadeia desenrolando-se pelos
séculos. Para si, o passado explica o presente e este deixa prever o futuro.
Eis para o Espírito a hora da verdadeira tortura
moral.
Essa evocação do passado traz-lhe a sentença temível, a increpação da sua
própria consciência, espécie de julgamento de Deus. Por mais lacerante que
seja, esse exame é necessário porque pode ser o ponto de partida de resoluções
salutares e da reabilitação.
O
grau de depuração do Espírito, a posição que ocupa no Espaço representam a soma
de seus progressos realizados e dão a medida do seu valor moral. É nisto que
consiste a sentença infalível que lhe decide a sorte, sem apelo. Harmonia
profunda! Simplicidade maravilhosa que as instituições humanas não poderiam
reproduzir; o princípio de afinidade regula todas as coisas e fixa a cada qual
o seu lugar. Nada de julgamento,
nada
de tribunal, apenas existe a lei imutável executando-se por si própria, pelo
jogo natural das forças espirituais e segundo o emprego que delas faz a alma
livre e responsável.
Todo
pensamento tem uma forma, e essa forma, criada pela vontade, fotografa-se em
nós como em um espelho onde as imagens se gravam por si mesmas. Nosso
envoltório fluídico reflete e guarda, como em um registro, todos os fatos da nossa existência. Esse
registro está fechado durante a vida, porque a carne é a espessa capa que nos
oculta o seu conteúdo. Mas, por ocasião da morte, ele abre-se repentinamente e
as suas páginas distendem-se aos nossos olhos.
O
Espírito desencarnado traz, portanto, em si, visível para todos, seu céu ou seu
inferno. A prova irrecusável da sua elevação ou da sua inferioridade está
inscrita em seu corpo fluídico. Testemunhas benévolas ou terríveis, as nossas
obras, os nossos desígnios justificam-nos ou acusam-nos, sem que coisa alguma
possa fazer calar as suas vozes. Daí o suplício do mau que, acreditando estarem
os seus pérfidos desejos, os seus atos culpáveis profundamente ocultos, os vê,
então, brotar aos olhos de todos; daí os seus remorsos quando, sem cessar,
repassam diante de si os anos ociosos e estéreis, as horas impregnadas no
deboche e no crime, assim como as vítimas lacrimosas, sacrificadas a seus
instintos brutais. Daí também a felicidade do Espírito elevado, que consagrou
toda a sua vida a ajudar e a consolar seus irmãos.
Para
distrair-se dos cuidados, das preocupações morais, o homem tem o trabalho, o
estudo, o sono. Para o Espírito não há mais esses recursos.
Desprendido
dos laços corporais, acha-se incessantemente em face do quadro fiel e vivo do
seu passado. Assim, os amargores e pesares contínuos, que então decorrem,
despertam-lhe, na maior parte dos casos, o desejo de, em breve, tomar um corpo
carnal para combater, sofrer e resgatar esse passado acusador.
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