"Quem se encontra a si mesmo é senhor de si."
Bhagavad Gita
O que leva
um homem a ser identificado como MAHÃTMA, ou seja, GRANDE ALMA? O que leva um
homem a ser amado e respeitado pelos mais humildes e até pelos poderosos,
incluindo seus inimigos? O que leva um homem de índole violenta a se tornar um
mar de serenidade? O que leva um homem de físico frágil a ser visto e temido
como se fosse um gigante ? O que leva um homem a vencer as paixões, superar
suas deficiências, crescer internamente e transformar-se, renascendo em vida?
A análise da
vida de Mohandas Karamchand Gandhi, com certeza, poderá nos auxiliar nas
respostas a estas perguntas. Quando Gandhi nasceu, em 1869, fazia poucos anos
que a Índia havia passado para o controle político do Império Britânico (1858).
O país, com cerca de 200 milhões de habitantes já naquela época, era uma terra
de contrastes aparentemente insolúveis. De um lado estavam os hindus de castas
superiores, descendentes dos Árias (palavra que em sânscrito quer dizer
"nobre"), de outro "os intocáveis", a casta mais inferior e
cuja ascensão estava condicionada ao conformismo e a esperança de evoluir em
uma vida futura. Conviviam os hindus, numa aparente harmonia, com os
muçulmanos, que, embora minoria, dominavam política e economicamente a Índia,
antes da chegada dos ingleses.
A religião
oficial, o Hinduísmo, tem sua origem nos livros sagrados mais antigos que se
conhecem (os Vedas, palavra que significa "Saber"). A religião dos
Vedas, conhecida como Brahmanismo (de Brahma, primeiro ser vivo criado) ao
fundir-se com elementos da cultura e tradições dos povos que habitavam a região
antes dos Árias, deu origem ao Hinduísmo. Esta religião tem alcance mais étnico
do que doutrinário, não possuindo hierarquia sacerdotal e nem rituais bem
definidos. As questões filosóficas são priorizadas em relação às religiosas e
embora possua milhões de adeptos, o Hinduísmo não se universalizou como as outras
grandes religiões, restringindo-se sua ação à própria Índia.
Quando os
ingleses chegaram, claros, altos, fortes, comedores de carne e bebedores de
álcool, encontraram uma Índia que ainda possuía marajás, com toda sua
opulência, e uma maioria da população esfarrapada, vivendo isolada em pequenos
vilarejos. Os ingleses vieram com o intuito de dominar e subjugar o povo
indiano, considerando suas tradições e religião um amontoado de crendices. Não
questionaram, porém, o sistema de castas, já que lhes pareceu ser altamente
interessante do ponto de vista sócio-econômico e dentro da ótica do
colonizador.
Gandhi
nasceu, portanto, em meio a um turbilhão, onde as antigas tradições e a própria
Índia estavam ameaçadas de se descaracterizar e de perder a sua identidade.
Filho de um
político inexpressivo e de uma mãe devota, aspecto que no futuro ele parece
procurar sintetizar quando dirá, referindo-se a si próprio, que não passa de um
político que está tentando ser santo, Gandhi tem uma vida comum, recebendo uma
formação sempre baseada nos preceitos do Hinduísmo, cujos três pilares são: o
DEVER, o CONHECIMENTO e a DEVOÇÃO.
Sua vida
passará a ter, segundo ele próprio, algum significado, quando é enviado para
estudar Direito em Londres. Gandhi chega à metrópole desejando ardentemente ser
um inglês. Esmera-se no trajar e nas maneiras, mas logo percebe que a cor da
sua pele e seu inglês sofrível, traem sua origem. A discriminação estará então
presente em cada momento de sua vida acadêmica. Terá, no entanto, uma agradável
surpresa: ao procurar adequar sua alimentação à seus costumes, entra em contato
com a Sociedade Vegetariana de Londres e, por extensão, com a nascente
Sociedade Teosófica de Madame Blavatsky e Annie Besant. Verifica que os
intelectuais ingleses o tratam como um igual e o respeitam como ser humano. E,
mais ainda, conhecem e admiram os livros sagrados de sua religião. Este contato
trará constrangimento para Gandhi pois os ingleses querem discutir passagens do
Bhagavad Gita (Sublime Canção) e ele terá que admitir que nunca o leu pois não
conseguiu aprender o sânscrito, limitando-se seu conhecimento a citações feitas
pelo seu pai e sua mãe. Uma tradução inglesa lhe é dada de presente e uma porta
se abre. O jovem Gandhi, já então casado e pai de um filho, maravilha-se com a
leitura desta e de outras inúmeras obras. Sua vida reclusa na Inglaterra vai se
limitar a estudos e leitura. Mas Gandhi não é um leitor comum. Analisa e
reflete sobre o que está lendo, fazendo anotações e verificando se as idéias e
pensamentos são condizentes com os seus princípios. Ele que já tinha a Devoção,
estava adquirindo o Conhecimento e preparando-se para dar início ao que
considerava o seu Dever.
Retornando a
Índia, já diplomado, Gandhi vai passar pelas agruras de um recém formado. Mas,
dois acontecimentos irão influenciar decisivamente sua vida que até então
corria normalmente sem nenhuma grande ruptura.
Tímido,
indeciso, apático, Gandhi parece não ter futuro como advogado. Um dia, após
muita insistência do irmão, resolve interceder por ele junto ao agente
britânico. Gandhi argumenta que havia sido cometida uma injustiça, mas o alto
funcionário não lhe dá ouvidos. Gandhi torna-se insistente e, literalmente, é
jogado no olho da rua.
Este
incidente, como Gandhi admitirá futuramente, dará início a sua transformação
pessoal. Pela primeira vez, diz ele, toma consciência não do que deve ser
feito, mas sim daquilo com que ele não deve compactuar. Começa a ficar claro o
seu horror ao servilismo, a subserviência e, mais ainda, vai nascendo dentro
dele um sentimento de que é preciso fazer alguma coisa, é preciso existir...
Quase que
imediatamente, outra porta se abre e Gandhi recebe um convite para defender
algumas causas de comerciantes indianos na África do Sul. Aceita o desafio e
para lá segue a fim de ficar por pouco tempo, mas sua permanência nesse país
será de longos 21 anos. Quando retornar à Índia, será um novo homem.
O segundo
incidente acontece logo após sua chegada a África do Sul. Dirigindo-se a
Pretória, num trem noturno, onde defenderia uma causa, Gandhi, embora portasse
seu bilhete de primeira classe, é questionado por um branco que lhe diz que ali
não é o seu lugar. Como Gandhi recusa-se a sair, o passageiro resolve chamar
dois funcionários da ferrovia. Gandhi mostra-se inabalável, mas quando o trem
para na estação de Maritzburg, os policiais são chamados e Gandhi é atirado,
junto com sua bagagem, na plataforma da estação. Tiram-lhe o sobretudo e levam
sua bagagem, mas Gandhi não cede. Passa a noite no frio banco da estação, mas
nega-se a pedir por aquilo que é seu direito. Não se curva à injustiça, não se
dobra ao preconceito, não se omite.
Uma
verdadeira alquimia passa a ocorrer então em sua alma. O fraco cede lugar ao
forte; o tímido ao corajoso; o omisso conformista ao ser ávido por justiça. As
mudanças no seu interior refletem no seu exterior. Seu físico frágil parece se
alterar. Seu porte aos poucos vai se assemelhando ao de um gigante. Sua voz
adquire um novo timbre. Sua velha inimiga , a timidez, está dominada e surge o
organizador, o líder. Ele tem objetivos e ele se conhece. AÇÃO, pois!
Um novo ser
começa a ser moldado. Os instintos passam a ser dominados. A índole violenta
cede à calma e à tranquilidade. Mas, como agir contra a violência, o
preconceito, a discriminação? Que armas usar? Seguramente não aquelas que são
as mesmas do opressor. Não adianta simplesmente tentar mudar a lei dos homens.
Não é este o caminho! É preciso primeiro mudar o homem! Tirá-lo da escuridão!
Não derrotar seus opositores, mas torná-los seus aliados. Injustiça? Não!
Hipocrisia? Não! Dependência? Não!
Não pensem
que foi fácil esta sua lapidação interna e este seu agir consciente. Estivesse
ele a cata de aplausos e teria desistido. Tivesse ele uma base pouca sólida e
no seu primeiro aprisionamento esmoreceria. Buscasse ele apenas o sucesso
profissional e material e ele teria voltado realizado para a sua pátria. Mas
Gandhi estava determinado a por em prática aquilo que ele reconhecia como
verdade.
Começa, na
África do Sul, a por em prática suas idéias. Continua porém a ler e estudar. Lê
as principais obras das outras religiões e identifica-se imediatamente com o
Sermão da Montanha. Duas obras, porém, foram por ele reconhecidas como de
grande influência na sua vida. Uma delas chamava-se "Até o Último" e
seu autor era um crítico de arte inglês de nome John Ruskin. Em seu livro
Ruskin defendia o desapego aos bens materiais, a vida simples, a volta a
natureza, a auto-suficiência e, principalmente, a apologia que fazia dos
trabalhos feitos manualmente. O outro livro, um opúsculo, Gandhi leu quando
estava na prisão e tratava-se do "Manual da Desobediência Civil" do
filósofo transcendentalista americano Henry David Thoreau. Thoreau escreveu
esta obra logo após ser preso por negar-se a recolher impostos para um governo
que, no seu entender, era hipócrita e imoral. Referia-se Thoreau ao fato de que
o dinheiro arrecadado através dos impostos, destinava-se a financiar a guerra
de conquista e expansão que os Estados Unidos travavam com o México e à
manutenção do regime escravocrata. Thoreau defendia a supremacia da
individualidade e o respeito pelo ser humano antes de qualquer outra coisa.
Acreditava que se um só homem desse o exemplo, com o tempo e sem o uso da
violência, a verdade e o bem triunfariam. Diz Thoreau Penso que devemos ser
primeiro homens e depois súditos. Sob um governo que aprisiona alguém
injustamente, o verdadeiro lugar do homem justo é também a prisão. Dirá Gandhi:
O verdadeiro caminho para a felicidade está em ir para a prisão e lá suportar
sofrimentos e privações, no interesse da própria pátria e da própria religião.
Ralph Waldo Emerson que formava com Thoreau o pilar dos rebeldes
transcendentalistas da Nova Inglaterra, assim se expressou sobre seu amigo: Não
me recordo de um único ser humano que haja continuadamente negado a autoridade
das leis, baseando-se no simples fundamento de sua própria natureza moral.
Mas, o que
mais encantaria Gandhi, seria o fato de que tanto Ruskin como Thoreau não
ficaram apenas nas palavras. Ambos colocaram suas idéias em prática. Ruskin,
homem de posses, doou todos os seus bens e dedicou parte de sua existência à
vida comunitária. Thoreau abandona a cidade e constroe com as próprias mãos uma
cabana às margens do lago Walden, onde viverá por mais de dois anos em extrema
comunhão com a natureza, numa demonstração cabal de auto-suficiência. Esta
experiência de Thoreau gerará um livro, que na edição brasileira contém o
Manual da Desobediência Civil, denominado "Walden ou a Vida nos
Bosques", obra que será considerada um dos cem livros mais importantes
para a formação do caráter e educação de um homem. Em seu Walden Thoreau faz
inúmeras citações do Bhagavad Gita e dos Upanishads hindus e Gandhi admira
ainda mais o americano que morrera sete anos antes do seu nascimento e que,
naquela terra longínqua e ainda inóspita, tanto soubera absorver os
conhecimentos dos livros sagrados de sua religião. Mas estranhos são os elos
desta cadeia que primeiro farão Thoreau render homenagens a filosofia hindu e
depois será a vez de Gandhi reconhecer em Thoreau o mestre que lhe deixaria
profundas impressões.
Os anos de
Gandhi na África do Sul foram todos dedicados a sua pacífica porém irredutível
luta pelos direitos sociais e igualdade de tratamento dos imigrantes hindus.
Mas Gandhi
não quer apenas reformular as leis dos homens, quer, isto sim, mudar a mente
dos opositores. Colocar luz na escuridão em que vivem. Assim, primeiro trata de
dar o seu exemplo pessoal de desprendimento e de altruísmo. Depois procura
mostrar aos ingleses que eles se dizem cristãos mas estão muito longe de Cristo
e de suas ações. Diz que eles se dizem democratas e se lançam em guerras
sangrentas para defender a democracia que eles não conseguem implantar em sua
própria casa, ou seja na África do Sul e na Índia.
Mas Gandhi
irá desenvolver uma ação baseada em um princípio filosófico que nascerá de seu
âmago. Algo que ele sente nitidamente mas que ele ainda não consegue ver com
clareza, a ponto de não conseguir encontrar uma palavra para definir aquele
sentimento. Gandhi quer pagar o mal com o bem, quer sedimentar a paciência até
ver o opositor como seu aliado, quer ver a justiça triunfar e ser reconhecida
pelos olhos de todos. Desobedecer as leis injustas, sem uso da violência,
aceitando sem reagir as sanções impostas a quem as violou. Gandhi entra então
na política para cumprir o seu dever, para dar o exemplo ou, em suas próprias
palavras,: Meu patriotismo é subserviente à minha religião. Irá encontrar
finalmente um nome que caracterizaria adequadamente a sua prática filosófica: "SATYAGRAHA".
Satya significa verdade e Agraha força. Para os ocidentais, porém, a tradução
destas palavras compostas varia conforme o entendimento de cada um. Para uns
era a "força da verdade", para outros a "alma-força", para
outros ainda a "procura da verdade" ou a "resistência não
violenta".
A Satyagraha
colocada em prática irá mostrar que Gandhi estava com a razão. Lenta e
progressivamente ele vai conquistando seus objetivos e deixará a África do Sul
vitorioso amado e respeitado. Sua fama já transcende as fronteiras e seu nome
passa a ter um significado, uma marca, uma identificação com os princípios que
defende. Quando regressa à Índia, surge um novo homem, desprovido de seus bens
materiais mas com a bagagem repleta de ações concretas em prol de seus semelhantes.
Recepcionado como um herói, é saudado pelo poeta Tagore que vê nele um MAHÃTMA,
homem cujo Eu foi transformado pela sabedoria e moldado pela prática do
conhecimento adquirido.
Gandhi
caminha pela Índia buscando conhecer a alma do povo. Suas vestes simples de
camponês, sua serenidade, sua paciência, sua fortaleza imanente, se identificam
de imediato com os homens mais simples. Gandhi quer que a Índia primeiro mude
para depois fazer jus a sua libertação. Mas a Índia só mudará se os hindus
mudarem.
Combate os
casamentos precoces e o sistema de castas, procura incrementar os hábitos de
higiene, a alimentação correta e prega a união das diferentes etnias e dos
diferentes grupos religiosos em torno de um ideal comum. "Nós reforçamos o
domínio dos ingleses pela discórdia entre nós mesmos, diz ele.
Gandhi vai
viver em um ashram, que na Índia antiga era o retiro dos monges. Lá, como ele
já fizera na África do Sul, pratica seus ideais de vida comunitária e de
auto-suficiência. Este local, que abrigava pessoas de todas as raças e de todos
os credos, se tornou o coração da Índia, o epicentro das emoções que
percorreriam em ondas todo o país. Lá estava Gandhi, com suas vestes brancas,
fiando em sua roca. Inabalável, impertubável, mostrando aos indianos que sua
terra tantas vezes conquistada obteria, se todos se mantivessem firmes em seus
propósitos, a sua independência. Gandhi estava restabelecendo a confiança
perdida, preparando sua terra e seu povo para a grande responsabilidade que
viria a seguir: a experiência da liberdade. Aquele que não é capaz de governar
a si mesmo, não será capaz de governar os outros, resume ele.
A Ahimsa, ou
seja, a não violência, a sua inseparável irmã a Satyagraha, a Desobediência
Civil e a Não-Cooperação, minaram, aos poucos a resistência dos ingleses. Claro
que nem tudo foram rosas. Houve massacres, sangue de inocentes que correu, atos
de vandalismo e vinganças exacerbadas. A tudo Gandhi respondia com sua grande
energia interna. Estava sempre a frente dos movimentos e a prisão não raramente
era o seu destino.(Gadhi passou exatos 2.338 dias de sua vida na prisão).
Dois
episódios ilustram bem a sua conduta: Em uma manifestação pacífica dos hindus,
os soldados ingleses se descontrolam e atiram na multidão. Este gesto vai gerar
uma onda incontrolável de violência de parte a parte. Gandhi teme perder o
controle da situação e passa a jejuar até que a situação se normalize. Seu
corpo enfraquece mas sua determinação de só voltar a se alimentar quando a
violência cessasse, espalha-se por toda a Índia. E, como num passe de mágica, a
situação se reverte. Os hindus cada vez mais preocupados com a saúde do Mahãtma
começam a jejuar, orar por sua vida já então em risco e, para provar a
honestidade de seus propósitos, oferecem flores aos soldados ingleses. As
notícias então chegam ao debilitado Gandhi que sorri e pede um pouco de suco de
frutas.
O
acontecimento seguinte, conhecido como o "episódio do sal", teve
início nos conturbados anos de 1928/29/30. Nesta época a Índia estava em
ebulição. Os ânimos extremamente exaltados, geravam violências de lado a lado.
Os membros do Congresso indiano achavam que a hora da libertação já havia
chegado. Os ingleses, por sua vez, não cediam. A responsabilidade é então
jogada sobre Gandhi. A Índia vivia momentos de expectativa. Gandhi recolhe-se
ao ashram para meditar sobre a situação. Dentro de pouco tempo o estrategista
da paz e da não violência arma uma jogada magistral.
Começa por
escrever aos mandatários ingleses expondo franca e abertamente suas idéias de
desobediência civil: Nada a não ser a não-violência organizada pode conter a
violência organizada do governo britânico... Essa não violência será
concretizada na desobediência civil... Minha ambição é, nada menos, a de
converter o povo britânico por meio da não-violência, e assim induzi-lo a ver o
dano que tem causado à Índia. A carta ao vice-rei prossegue com uma
advertência: Mas se minha carta não causa emoção alguma ao vosso coração,
tomarei a iniciativa com os cooperadores do ashram, de desrespeitar as
determinações da lei do sal... Cabe a vós frustrar meu desígnio, pelo recurso
de me prender. Espero que haja dezenas de milhares de pessoas prontas, de modo
disciplinado, a tomar a mesma atitude depois de mim. Gandhi tomou a questão do
sal como exemplo da exploração econômica que os ingleses exerciam sobre os
hindus, notadamente sobre os sacrificados camponeses. Gandhi dizia que não
podia se conformar que o sal, uma dádiva da natureza, fosse monopolizado pelos
ingleses com uma alta incidência de impostos. Logo o sal, tão necessário para
repor os minerais desprendidos pelos trabalhadores braçais no causticante clima
da Índia. O problema, que era de Gandhi, passou então a ser dos ingleses. O que
responder àquele homem? Que argumentos contrapor? Em nome do que prendê-lo? O
silêncio então foi a resposta dos ingleses. Mas jornalistas de todo o mundo
passaram a acompanhar os fatos. Todos queriam saber como aquela luta de Davi e
Golias terminaria. Vencido o prazo, setenta e oito homens do ashram, Gandhi à
frente, saíram em marcha em direção ao sul, em direção ao mar. Marchamos em
nome de Deus, disse ele. Gandhi, já então com sessenta e um anos de idade,
caminhava diariamente mais de vinte quilômetros e não demonstrava sinais de
cansaço, pelo contrário, ao passar pelas aldeias era incentivado e homenageado.
Muitos a ele se juntavam. Ao fim dos 370 quilômetros percorridos, havia um
verdadeiro exército da não-violência. Então Gandhi, sozinho, entrou na água e
ao voltar à praia apanhou um bocado de sal deixado pelas ondas. Esta marcha
trouxe duas consequências imediatas: mostrou aos indianos porque e como
poderiam buscar a liberdade, e mostrou aos ingleses que a independência da
Índia era apenas uma questão de tempo.
E assim foi,
até que mais mortes, mais prisões, mais violências, foram aos poucos cedendo
terreno aos que estavam do lado da Verdade e da Justiça. Por extensão, a
Liberdade viria.
Em 1947,
formalizou-se a independência, mas não como Gandhi queria. Muçulmanos e hindus
não conseguiam se unir e, dessa forma, duas novas nações nasceriam : a Índia e
o Paquistão. Em meio as manifestações de euforia, um homem, Gandhi, recusava-se
a participar das comemorações. Ele sentia que a Paz não viria. Os homens já
estavam novamente dando sinais de que os seus instintos primitivos estavam
ressurgindo. Ao Mahãtma cabia apenas orar e jejuar. E foi no caminho para sua
oração diária que três balas disparadas quase a queima roupa deram a Gandhi a
Paz que ele tanto almejara.
Bibliografia Consultada:
Fischer,
Louis - Gandhi
Diversos
autores - Gandhi Por Ele Mesmo
Zimmer,
Heinrich - Filosofias da Índia
Schuré,
Édouard - Os Grandes Iniciados (Rama e Krishna)
Pompeu,
Renato - A Filosofia ainda viva dos hindus
Instituição: Pró-vida
Colaboração
dos alunos: João Francisco Aranh, José Newton Bereta, Nilza Helena Bereta
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