O ANJO, O SANTO E O PECADOR
O pecador escutava a
orientação de um santo, que vivia, genuflexo, à porta de templo antigo, quando, junto aos dois, um anjo surgiu na
forma de homem, travando-se
breve conversação entre eles.
O ANJO – Amigo, Deus
seja louvado!
O SANTO – Louvado
seja Deus!
O PECADOR – Louvado
seja!
O ANJO – (Dirigindo-se ao santo) – Vejo que permaneceis em oração e animo-me
a solicitar-vos apoio fraternal.
O SANTO – Espero o
Altíssimo em adoração, dia e noite.
O ANJO – Em nome dele, rogo o socorro de alguém para um que agoniza num lupanar.
O SANTO – Não posso
abeirar-me de lugares impuros...
O PECADOR – Sou um
pobre penitente e posso ajudar-vos, senhor.
O ANJO – Igualmente, agora, desencarnou infortunado homicida,
entre as paredes cárcere.
Quem me emprestará
mãos amigas para dar-lhe sepulcro?
O SANTO – Tenho horror aos criminosos...
O PECADOR – Senhor,
disponde de mim.
O ANJO – Infeliz mulher embriagou-se num bar próximo. Precisamos
removê-la, antes que a
morte prematura lhe arrebate o tesouro da existência.
O SANTO – Altos princípios não me permitem respirar no clima das
prostitutas...
O PECADOR – Daí vossas ordens,
senhor!
O ANJO – Não longe daqui, triste menina, abandonada pelo
companheiro a quem se confiou, pretende afogar-se... É imperioso lhe estenda alguém braços fortes
para que se recupere, salvando-se-lhe também o pequenino em vias de nascer.
O SANTO – Não me compete buscar os delinquentes senão para corrigi-los.
O PECADOR – Determinai, senhor, como devo fazer.
O ANJO – Um irmão nosso, viciado
no furto, planeja assaltar, na presente semana, o lar de viúva indefesa...
Necessitamos do concurso de quem o dissuada de semelhante propósito,
aconselhando-o com amor.
O SANTO – Como descer ao nível de um ladrão?
O PECADOR – Ensinai-me como devo falar com ele.
Sem vacilar. O anjo tomou o braço do pecador
prestativo e ambos se afastaram, deixando o santo em meditação, chumbado ao
solo.
Enovelaram-se anos e anos na roca do tempo,
que tudo alterara. O átrio mostrava-se diferente. O santuário perdera o aspecto primitivo e
a morte despojara o santo de seu corpo macerado por cilício e jejum, mas o crente imaculado aí se mantinha em Espírito, na postura de
reverência.
Certo dia, sensibilizando mais intensamente
as antenas da prece, viu que alguém descia da Altura, a estender-lhe o coração em brando
sorriso.
O santo reconheceu-o.
Era o pecador, nimbado de luz.
-
Que fizeste para adquirir tanta
glória? – perguntou-lhe, assombrado.
-
O ressurgido, afagando-lhe a
cabeça. Afirmou simplesmente: caminhei.
Contos desta e doutra vida – Francisco Cândido
Xavier, Cap. 24, p. 115-117
Pelo Espírito Irmão X
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