A escolha do corpo
Na contradição 14ª embaraça-se o nosso distinto amigo por dizerem os ensinamentos espíritas “que o Espírito não pode lamentar-se de estar reencarnado, porque ignora, não sabe que escolhe um corpo”, e, mais adiante, que “o Espírito escolhe um corpo”, etc.
E o autor, por fim, conclui:
Como é isto: o Espírito é que escolhe ou é Deus? Se é Deus, para que esperar tempos e tempos para que um Espírito tenha oportunidade de escolher novo corpo, como ensina o n. 349? Se o Espírito é que escolhe como ignora que escolhe? Francamente isto é uma grande confusão.
Não há dúvida nenhuma de que a confusão é grande, mas não foram os Espírito quem a fez.
Perguntando o A. se o Espírito quem escolhe ou é Deus, parece que no Kardec se diz, ora que Deus escolhe,ora que quem escolhe são os Espíritos. No ponto em apreço, pelo menos na transcrição, não se fala em Deus (1) ; deixemos, pois, de lado essa dúvida. Nem mesmo compreende mos por que, sendo a escolha feita por deus, o espírito não poderia “esperar tempos e tempos”...
De fato, um pouco confuso.
Agora, a pergunta final: “Se o Espírito é que escolhe,como ignora que escolhe?”
Acompanhe-nos o autor ao trecho citado de Kardec e leiamos:
(1)Nem sempre são os Espíritos que escolhem . Há casos de exceção a que nos reportaremos se houver necessidade.
“O Espírito não pode lamentar-se de estar reencarnado porque ignora, não sabe que escolhe um corpo”.
Aí tem o meu bom amigo. O Espírito, que ignora, é o que está reencarnado, como diz a transcrição, ou melhor, como se acha em “O Livro dos Espíritos”: “O Espírito, uma vez ENCARNADO, não pode arrepender-se de uma escolha de que não tem consciência.”
Não pode haver confusão nisso. O Espírito que escolhe é o Espírito livre; o que não sabe que escolhe e o “encarnado”. Impossível confundir a ação e arbítrio do Espírito no espaço, com a inconsciência do Espírito na Terra.
O que se da é o seguinte: o Espírito, no espaço, escolhe ( é a regra, mas que comporta exceções), escolhe o corpo que lhe há de servir de ergástulo. Encarnado, porém, já não sabe que a escolha foi sua e não pode arrepender-se de um ato de que não tem consciência.
Se, pois, há confusão, não é, certamente, dos ensinamentos espirituais.
Envoltórios do Espírito
Uma das mais interessantes perplexidades do autor, é a eu se encontra na 15ª contradição. Leiamo-la:
15. Já vimos acima que os Espíritos fazem da matéria laço que prende o Espírito, como fazem do perispírito laço que une matéria e Espírito. Pois bem, à pág.150, n. 367, ensina-se que a matéria é apenas envoltório do Espírito como o vestuário o é do corpo. E à pág. 34, ns. 93-95, declara-se que perispírito é o envoltório do Espírito!
E o nosso amigo exclama, por fim, em tom de quem vai deixar o Espiritismo para sempre confundido:
Mas, por amor à lógica, senhores kardecistas, qual é o envoltório do Espírito: a matéria ou o perispírito:
Por amor à lógica, como se vê, o envoltório de qualquer coisa só pode ser um.
Dois envoltórios, três envoltorios, dez envoltórios, isto e coisa que a lógica não admite.
Se um fabricante de pianos nos manda o seu instrumento, como e costume, envolvido em várias camadas de papéis, e em panos, e numa folha de zinco, e ainda numa caixa de madeira, temos o escritor a indagar: “mas por amor à lógica, Srs. industriais, qual é o envoltório do piano: o papel, o pano, o zinco ou a madeira:”
Por maneira que, fazendo um embrulho, só lhe temos que aduzir um envoltório. Se colocarmos qualquer objeto numa caixinha, estamos impossibilitados de lhe pôr um papel por fora.
E para dar um exemplo mais ao pé do caso, lembremos a dificuldade em que se vão encontrar os naturalistas e anatomistas para nos falarem das membranas que envolvem o cérebro. Por amor à lógica, elas só podem ser uma, mas, por amos à verdade, elas são três. Assim é que se nos diz que o cérebro é envolvido pela dura-máter, pela pia-máter e pela aracnóide; e ainda podíamos falar do crânio e do couro cabeludo.
Como a lógica, porém, não nos permite tal ensinamento, só nos resta jogar o nosso epítome de história natural pela primeira janela que encontrarmos e ficar a ver como se vai ajeitar o criador, para amoldar a constituição do corpo humano à constituição doutrinária do digno reverendo.
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Poderíamos, a respeito do ponto, explicar um pouco o que o Espírito queria dizer com a palavra envoltório, a única que melhor daria idéia da relação de espaço entre espírito, perispírito e matéria. Mas o assunto não é pertinente, no momento.
Dois envoltórios, três envoltorios, dez envoltórios, isto e coisa que a lógica não admite.
Se um fabricante de pianos nos manda o seu instrumento, como e costume, envolvido em várias camadas de papéis, e em panos, e numa folha de zinco, e ainda numa caixa de madeira, temos o escritor a indagar: “mas por amor à lógica, Srs. industriais, qual é o envoltório do piano: o papel, o pano, o zinco ou a madeira:”
Por maneira que, fazendo um embrulho, só lhe temos que aduzir um envoltório. Se colocarmos qualquer objeto numa caixinha, estamos impossibilitados de lhe pôr um papel por fora.
E para dar um exemplo mais ao pé do caso, lembremos a dificuldade em que se vão encontrar os naturalistas e anatomistas para nos falarem das membranas que envolvem o cérebro. Por amor à lógica, elas só podem ser uma, mas, por amos à verdade, elas são três. Assim é que se nos diz que o cérebro é envolvido pela dura-máter, pela pia-máter e pela aracnóide; e ainda podíamos falar do crânio e do couro cabeludo.
Como a lógica, porém, não nos permite tal ensinamento, só nos resta jogar o nosso epítome de história natural pela primeira janela que encontrarmos e ficar a ver como se vai ajeitar o criador, para amoldar a constituição do corpo humano à constituição doutrinária do digno reverendo.
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Poderíamos, a respeito do ponto, explicar um pouco o que o Espírito queria dizer com a palavra envoltório, a única que melhor daria idéia da relação de espaço entre espírito, perispírito e matéria. Mas o assunto não é pertinente, no momento.
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