Sem dúvida, a primeira célula, ao sujeitar-se a uma alteração do meio onde estava ( por exemplo, aumento de temperatura, frio, redução do teor de oxigênio, modificação da salinidade ou da acidez, etc..) cessou temporariamente suas atividades vitais; por outras palavras, imobilizou-se. Um protozoário ou alga, unicelulares, sofre inibição ( suspensão dos movimentos ) em resposta ao impacto de um agente externo perturbador. Aí está a primitiva raiz biológica do fenômeno emocional do medo”. Como exprime Mira y Lopes.
Com o desenvolvimento do sistema nervoso, as reações passam a ser condicionadas e desaparece a necessidade da ação direta dos fatores depressores. O animal, daí por diante, antecipa o efeito destes últimos; estabelece ele, inconscientemente, uma relação entre as circunstâncias e a ação danosa ( reflexo condicionado ), de modo que bastará um estímulo ligado a esta para que se desencadeie a reação inibidora ( redução das manifestações vitais ). Por outras palavras, antes de sofrer algo – ocorre a previsão do possível dano. E isto constitui o que se chama medo, perfeitamente notório nos vertebrados. ( p. 61 )
Pensa Mira y Lopes que o animal foge, não porque tenha medo, mas para escapar a este, deixando de ser vítima indefesa e assumindo atitude capaz de livrá-lo sem maiores danos. Em suma, ele fugiria por ter medo do medo. ( p. 63 )
Segue-se que o medo, e as conseqüentes reações de fuga e defesa, desempenhou papel importante no curso da evolução das espécies, porquanto, em nível animal e humano inferior, a luta é fator evolutivo, levando ao desenvolvimento da inteligência concreta, mediante a qual o ser vivo ganha novas possibilidades de intensificar o próprio progresso em nível mais elevado. ( p. 69 )
Dessa multidão de formas conscientes da emoção medrosa, distingue Mira y Lopes as seguintes modalidades básicas. Medo instintivo, equivalente à forma primitiva de manifestar-se a inibição sob a ação direta de um fator mesológico nocivo; surge rápida e automaticamente, sendo idêntico em todos os seres: quando percebido, já emergiu a areação ( o cavalo treme e sua ao ver cobra ou pressentir onça; o raio desperta movimentos de temor em muitos homens, etc. ). Medo racional, condicionado pela experiência e baseado na razão, ocorre quando se fala dele; é a reação ante o perigo, enquanto o primeiro o é perante o dano, donde a tendência à fuga prévia, profilática (“prudência”); por ser pensado antes de ser sentido, dá tempo de organizar a reação (“precaução”). Medo imaginário, já referido, em que o objeto se encontra ligado ao estímulo fobígeno por meio de uma cadeia de associações longa e distorcida, razão do absurdo e insensatez de que se reveste; aqui temos as superstições, de gente tanto culta quanto inculta, e as fobias. O medo é contagioso entre pessoas do mesmo nível psíquico ( multidões em fuga a um grito de alarme, mesmo falso ). ( p. 71 )
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