Da festa à fresta
31 de dezembro de 2020: o dia que encerra o ano. Até então, nas experiências conhecidas de todos nós, o instante da virada era a certeza, na maioria das vezes, de festa, alegria, beira da praia, 7 ondinhas e todos os rituais que sempre nos auxiliaram a fazer essa passagem amiúde significativa entre um ano que termina e outro que nasce. Contudo, março chegou diferente e alterou o ritmo e o rumo de nossas vidas. Fizemos uma curva e dobramos num beco desconhecido e pouco iluminado. Era o escuro do nosso tempo.Tantas coisas de lá para cá aconteceram. O que verte hoje é a certeza da impermanência das coisas, do valor dos laços, dos abraços e das pessoas anônimas que dão sustentação ao nosso existir. Elas tornaram, nesse estado de terror, a nossa vida possível. São os anônimos e as anônimas desse país: cientistas, motoboys e motogirls, garis, professores, jornalistas, coveiros, cozinheiras, motoristas, todos os profissionais de saúde, artistas e analistas!Anônimos e anônimas que se dedicaram à tarefa tão humana que é cuidar. Quem cuida se compadece do outro. Mas esse ano testemunhamos inúmeras notícias aviltantes que vão na contramão disso, explicitando a desumanização e o incompadecimento, que significa ausência de compaixão. A compaixão é uma palavra tão fundamental na vida coletiva e significa "sentir dor com o outro". Por motivo de compaixão, hoje vou virar a noite olhando pela fresta da janela, com o olhar orientado, em parte para dentro de mim, e a outra parte, para o alto. Vou pedir às deusas e aos deuses, à ancestralidade, que nos ofereçam a sabedoria para adotarmos em 2021. Ao tentar escutá-los, eu me junto com a metade da população brasileira que é capaz de suportar a realidade e as frustrações que dela advêm, que também vai olhar pela fresta tentando espiar quando a resposta virá, ou seja, a vacina. Fresta diz respeito a "qualquer abertura estreita que permita a passagem de luz e de ar". Nesse duelo entre a vida e a morte, minha homenagem é para os mais de 193.000 seres humanos que se foram. Precisamos de ar e de luz! "Há uma fenda em tudo. É por aí que a luz entra". Leonard Cohen. Feliz 2021! (Matéria escrita por nossa Amiga-Irmã RENATA, Psicóloga).
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