A Quarentena
Antonio Carlos Santos Rosa
Os assessores do Plano Sideral foram convocados por Jesus para uma reunião de urgência em um dos belos salões da espiritualidade. Havia ansiedade e curiosidade ao mesmo tempo. Qual a razão da premência? Que poderia estar acontecendo ou ter acontecido que não se sabia?
Os dozes assessores do Mestre tomaram seus lugares e Jesus acomodou-se na cabeceira da ampla mesa, lugar que lhe cabia. Notou logo a preocupação de sua equipe. Quando todos se acalmaram
fez uma prece ao Pai Eterno rogando para todos os presentes fé, sabedoria, compreensão e amor na extensão mais pura do termo. Silêncio profundo preencheu o belo espaço. Vibrações elevadas de correntes face a sentida prece do Sublime Peregrino, levaram muitos as lágrimas.
Quebrando o silêncio, o Mestre sereno, mas firme, falou:
- Meus filhos, como é do conhecimento de todos a situação porque passa nosso planeta terra é preocupante. Com guerras fratricidas, prevalência do crime organizado, império das
drogas, prostituição em todos os níveis sociais e, ao mesmo tempo a desesperança dos desamparados pela cegueira de algumas, ditas instituições cristãs.
Pausadamente, mas firme, Jesus prosseguiu, o povo da Terra, apesar de muitos esforços, ainda não se deu conta da situação, crianças abandonadas pelos próprios pais, gente morando debaixo de pontes e elevadas, morrendo a míngua pela fome e pelo usos de drogas para o deleite financeiro de uma camada cega pelos valores materiais. O que é pior, a desagregação das famílias,
casais separados ou em fase de separação, a moral, os bons costumes e os valores familiares abandonados e desprezados. De repente parou. Havia lágrimas em seus olhos. Novamente profundo e longo silêncio, quebrado pelo voz do Mestre;
- Quero ouvi-los e silenciou.
Timidamente um dos presentes propôs:
- Amado Mestre, penso que necessitamos enviar ao
planeta, durante algum tempo, oradores treinados nos propósitos de vossa Seara para alertá-los.
- Filho, respondeu o Mestre, quantos já mandamos e quantos já vem falando em meu nome e, simplesmente, usando meu Evangelho, sem obras, nem resultado nenhum. A reunião seguiu fraternalmente acalorada com muitas sugestões mas sem nenhuma alternativa que motivasse um sorriso de esperança em Jesus.
Quando a confiança estava esmaecendo, um dos assessores que mantivera-se
calado durante todo o tempo, pediu a palavra e disse: Mestre, em minhas últimas encarnações tive a felicidade de ser educado em famílias cuja regra maior era a disciplina. Lembro que meus pais me oportunizaram tudo para que eu escolhesse a carreira desejada. Na última, fui Maestro por opção própria. Estudei muito música e, pela disciplina imposta em meu trabalho e aos meus colegas, tive sucesso. A Terra amado Mestre, está acomodada, desleixada, apartada, sem disciplina e sem valores morais. As trevas estão festejando a
invasão nos templos e nas famílias.
Jesus acomodou-se melhor em sua cadeira e perguntou:
- Meu caro Francisco, qual é então a sua proposta?
O jovem assessor sorrindo disse:
Sublime! No planeta, em função do veloz desenvolvimento da tecnologia da informação, alguns termos já são comum a todas as pessoas, como por exemplo, viralizar que significa espalhar, expandir.
Jesus fez um movimento como se quisesse falar, mas Francisco carinhosamente interrompeu.
- Mestre, mais algumas palavras e terei minha proposição. Em vosso Evangelho e nas palavras de vossos missionários, o processo reencarnatório tem como fundamento o núcleo familiar esquecido por aqueles que deveriam proteger, amparar, agregar, desenvolver o abrigo doméstico.
Respirou fundo e propôs, nosso desafio é integrar, novamente, a família e seus valores. Palavras, discursos, palestras, leituras e pregações nada
resolveram. Proponho uma ação mundial que agregue as pessoas por um bom tempo, integradas e aproximadas por alguma necessidade maior, qual seja, uma doença viral que assuste e obrigue todos a se recolherem em seus lares. Falarem, conversarem, partilharem seus medos, suas dúvidas, seus receios e depois de longa quarentena, solidificarem seus laços de fraternidade familiar. Tenho certeza deverão reaprender, solidamente, a Lei do Amor. Jesus, com um largo sorriso, levantou-se na direção de Francisco e abraçou-o carinhosamente, enquanto os
demais aplaudiam calorosamente a alternativa, chamada mais tarde de Coronavirus.
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