Revue Spirite,
1859, pg. 176: “Os espíritos são o que são, e não podemos mudar a ordem das
coisas; não sendo todos perfeitos, não
aceitamos suas palavras senão sob reserva de verificação e não com a credulidade
das crianças; nós julgamos, comparamos, deduzimos as consequências de
nossas observações, e os próprios erros deles são para nós ensinamentos, porque
não abrimos mão de nosso discernimento.
Essas observações
aplicam-se igualmente a todas as teorias cientificas que os espíritos podem
transmitir. Seria demasiado cômodo ter apenas de interroga-los para encontrar a
ciência totalmente construída, e para possuir todos os segredos da indústria:
não vamos adquirir a ciência senão ao preço do trabalho e de pesquisas; a
missão deles não é nos libertar dessa obrigação. Sabemos além, disso que não
somente nenhum deles sabe tudo, mas que existem entre eles falsos eruditos,
como entre nós, que acreditam saber o que não sabem, e falam do que ignoram
como o atrevimento mais imperturbável. Um espírito poderia, portanto, dizer que
é o Sol que gira e não a Terra, e sua teoria nem por isso seria verdadeira só
porque veio de um espírito. Que aqueles que nos atribuem uma credulidade tão
pueril saibam, portanto que nós consideramos toda opinião expressa por um
espírito como uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de
havê-la submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria
ciência espírita nos fornece”.
Revue Spirite,
1859, pg. 178: “Nossos estudos nos ensinam que o mundo invisível que nos rodeia
reage constantemente com o mundo visível; eles nos mostram isso como uma das
potencias da natureza; conhecer os efeitos desse poder oculto que nos domina e
nos subjuga apesar de nós não é ter a chave de mais de um problema, a
explicação de uma multidão de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos
podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter os meios de preservar
disso, como o conhecimento das propriedades que a eletricidade nos deu os meios
de atenuar os efeitos desastrosos do relâmpago? Se sucumbirmos então, só
poderemos responsabilizar a nós mesmos, porque não teremos ignorância como
desculpa. O perigo está no domínio que os maus espíritos ganham sobre os indivíduos,
e esse domínio não é somente funesto do ponto de vista dos interesses da vida
material. A experiência nos ensina que a pessoa nunca se abandona a sua
dominação impunemente; pois as intenções deles jamais podem ser boas. Uma de
suas táticas para atingir seus fins é a desunião, porque eles sabem muito bem
que conseguirão facilmente a vantagem diante de uma pessoa que está sem apoio;
assim, o primeiro cuidado dos espíritos, quando querem se apoderar de alguém, é
sempre o de lhe inspirar desconfiança e distanciamento em relação a quem possa
desmascará-los, esclarecendo a pessoa por meio de conselhos salutares; uma vez
senhores do terreno, eles podem fasciná-la à vontade com promessas sedutoras, subjuga-la
lisonjeando suas inclinações, explorando para isso todos os pontos fracos para
melhor fazê-la sentir em seguida o amargor das decepções, golpeá-la em seus
efeitos, humilhá-la em seu orgulho, e com frequência elevá-la um instante para
então precipitá-la de mais alto.”
Para prevenir
contra tais perigos Allan Kardec nos dá um sábio conselho:
Revue Spirite,
1859, pg. 180: “Para começar direi que, conforme o conselho deles – o conselho
de seus guias -, jamais aceito coisa
alguma sem exame e sem controle; não adoto uma ideia senão quando ela me parece
racional, lógica, se estiver de acordo com os fatos e as observações, se nada
de sério vier contradizê-la. Mas meu julgamento não pode ser um critério infalível;
a concordância que encontrei numa multidão de pessoas mais esclarecidas que eu
é uma primeira garantia para mim; encontro uma outra não menos preponderante no
caráter das comunicações que me foram feitas desde que e ocupo do espiritismo.
Jamais, posso dizê-lo, se infiltrou nas minhas comunicações uma única dessas
palavras, um único desses sinais pelos quais se traem, sempre os espíritos
inferiores, mesmo os mais astuciosos; jamais dominação; jamais conselhos equívocos
ou contrários à caridade e à benevolência, jamais prescrições ridículas; longe
disso, não encontrei nelas senão pensamentos grandes, nobres , sublimes, livres
de pequenez e de mesquinharias; em uma palavra, as relações deles comigo, nas
menores ou nas maiores coisas, sempre foram tais que, se tivesse sido um homem
que me tivesse falado, eu o consideraria o melhor, o mais sábio, o mais
prudente, o mais moral e o mais esclarecido dos homens. Eis, senhores, os
motivos de minha confiança, corroboradora pela identidade do ensinamento dado a
uma multidão de outras pessoas antes e depois da publicação de minhas obras...”
(Continua...).
Nenhum comentário:
Postar um comentário