A PLURALIDADE DOS
MUNDOS HABITADOS
4ª EDIÇÃO, PÁGINA 106
CAMILLE FLAMMARION
( * 26 FEV 1842 + 04 JUN 1925 )
“O POETA DOS CÉUS”
ATRIBUTOS DE DEUS
[...]
Malgrado nossa incapacidade de
conhecê-lo e nossa fraqueza diante d'Ele, afirmamos o Ser supremo. Nós não o
compreendemos mais que o inseto compreende o Sol; não sabemos nem quem Ele é,
nem como Ele é, nem por que modo Ele age, nem o que é Sua presciência e Sua
ubiquidade; não sabemos nada, absolutamente nada d'Ele; melhor dizendo: nada
podemos saber, porque somos a sombra, e Ele é a luz, porque nós somos o finito
e Ele é o infinito. Seu esplendor ofusca nossa retina demasiado fraca; Sua maneira de ser é
incognoscível para nosso pobre entendimento; as condições de Sua realidade são
inacessíveis à nossa compreensão limitada, a ponto de nenhuma ciência parecer
elevar-nos ao Seu conhecimento. É verdade, segundo a palavra célebre de Bacon,
que pouca ciência afasta de Deus, e muita ciência, a Ele
remete; mas não é verdade que uma ciência ou outra algum dia poderá nos fazer
conhecer a Natureza do Ser incriado. Em uma só palavra, Ele é o Absoluto, e nós
apenas somos, conhecemos e podemos conhecer relativos. É nos fortemente
impedido criar uma imagem de Deus; é uma impossibilidade inerente a nossa própria natureza. Não,
não sabemos nada d'Ele; mas nós O contemplamos lá no alto, do fundo de nosso
abismo, e apenas pensar em Sua eterna existência nos aterra e nos aniquila; mas
nós O vemos clara e distintamente sob todas as formas dos seres, escutamos Sua
voz em todas as harmonias da Natureza, e nossa lógica quer uma causa primeira e
uma causa final nas obras criadas.
Não quereis uma causa primeira,
porque um nada anterior à criação vos pareceria incompreensível, e daí concluís
a eternidade do mundo; não quereis causa final, porque a causalidade
final permanece misteriosa e obscura, e conduz o homem a erros manifestos. Mas o que é que chamais e
que todos nós chamamos de causas finais? Crede de boa-fé que as verdadeiras
causas finais e o verdadeiro destino dos seres sejam os que alimentamos em
nossos pequenos cérebros? Crede de boa-fé que o plano geral do imenso Universo
possa ser conhecido por nós, pobres átomos? Ainda confundis a ordem universal
dos seres com vossos sistemas de classificação? Não
imaginais que o homem e toda sua história, toda sua ciência, todo seu destino
aqui, não é mais que o jogo efêmero de uma libélula esvoaçando por um instante
sobre o oceano sem limite do espaço e do tempo, e que, para julgar as coisas em
sua ordem verdadeira, ser-nos-ia preciso conhecer o conjunto do mundo?
[...]
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