PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quarta-feira, novembro 02, 2016

EVANGELHO NO TRABALHO

REFLEXÕES SOBRE JERÔNIMO MENDONÇA RIBEIRO, “O GIGANTE DEITADO” 
Jerônimo Mendonça Ribeiro nasceu em Ituiutaba, MG, no dia 01 de novembro de 1939. Filho de Altíno Mendonça e Antonia Olímpia de Jesus, sendo nono filho de uma irmandade de dez filhos, teve uma infância pobre cheia de privação e seus Pais eram muito pobres, analfabetos, lutavam arduamente pela sobrevivência: a mãe lavando roupa para fora e o pai fazendo “bicos” pelas fazendas; conta em uma de suas histórias com muito humor, que o único par de sapatos que teve em sua adolescência foi achado no lixo, quando tentava entrar no cinema.
Com treze anos foi levado a conhecer a igreja presbiteriana foi protestante até os 15 anos, era um membro ativo, dava até palestras. Após a desencarnação de sua avó, começou a se debater mentalmente no problema cruciante da morte e do destino da alma, tendo ele um espírito indagador, não se sujeitou aos horizontes estreitos da igreja no que tange a crença em Deus, o conceito de uma vida única e de uma salvação limitada. A amizade com um espírita fê-lo converter-se à doutrina espírita. O amigo esclareceu-lhe as dúvidas da vida além-túmulo e conseguiu acalmá-lo. Já na puberdade, Jerônimo começou a sentir dores nas articulações, especialmente nos joelhos e tornozelos. Esses pontos de seu corpo passaram a “inchar” e já aos dezoito anos andava com dificuldade. Teve vários empregos, porém as dores agravaram, não lhe deram tréguas e o impediram de permanecer por muito tempo num mesmo trabalho e era sempre obrigado a se afastar. Foi ele balconista, entregador de jornal, redator-chefe de uma revista e professor.
Seu passatempo preferido era o cinema, era fascinado pelo Tarzan, sendo este o seu apelido. Enquanto sua saúde lhe permitiu, participou ativamente das excursões com os jovens de uma Mocidade Espírita, estava ele com dezesseis anos. Desde jovem já mostrava interesse pelo Espiritismo, freqüentando o Centro Espírita que tinha na cidade. E isto foi de grande auxílio para ele, pois aos 18 anos de idade se defrontava com uma das primeiras grandes provações que tinha de vencer, passou a sofrer uma doença, não muito rara, a artrite reumatóide, que causava enormes dores e dificuldade de locomoção, quadro este que foi se agravando até que aos 20 anos de idade ficou definitivamente de cama. Certo dia foi ao cinema assistir “... E o Vento Levou”, mas não havia nenhuma poltrona vazia. Jerônimo ficou quatro horas em pé no fundo da sala e ao terminar o filme estava petrificado, com grande vibração de dor nos membros inferiores. Foi aí que começou a jornada dolorosa e difícil da paralisia, como ele mesmo conta em sua autobiografia. Passou três meses deitado, plenamente impossibilitado de se locomover. Depois usou muletas por algum tempo enquanto ia lecionar. Porém, acabou mesmo tendo que ficar numa cama ortopédica, acometida de artrite reumatóide progressiva. O quadro enfermo de Jerônimo era tão desolador que mesmo sob efeito medicamentos, seus amigos tiveram que fabricar uma cama especial e colocar sobre seu peito um saco de areia de 30 kg para que ele pudesse suportar a dor. Recebeu de um amigo a doação de uma Kombi para poder ser levado às palestras.
Jerônimo tornou-se orador espírita. Podemos dizer que ele conseguiu transformar seu leito numa tribuna ambulante (deu palestras pelo Brasil todo) e por meio dela conseguiu realizar um grande e valioso trabalho. Quem o conheceu afirma que ele estava sempre rindo, gostava de um bom papo e de cantar também. Certa vez, o Dr. Fritz disse-lhe que ele tinha a doença de três cês – cama, carma e calma. Os amigos sempre levavam Jerônimo ao cinema e também a outros lugares para se distrair. Estando, certa ocasião, justamente num cinema, uma moça tropeçou em sua cama e “explodiu”: “Mas não é possível! Aonde eu vou, está o aleijado! Vou a uma festa, o aleijado lá! Esse aleijado me persegue! Aonde eu vou, ele está!” Jerônimo pensou consigo: “E agora?! A moça está revoltada, nervosa mesmo. Tenho que lhe dar uma resposta, mas não quero irritá-la mais ainda. O que dizer?” E saiu com essa: “Mas também, minha filha, você não para em casa, hein!” Ela olhou-o atônita e começou a rir. Riram juntos. Ficaram amigos.
Permaneceu cerca de trinta e dois anos preso ao leito, paralítico e com a agravante perda da visão. Quase não dormia, aproveitou para estudar bastante o Espiritismo. Quando ficou cego, amigos liam para ele. Nunca lhe faltaram bons amigos. Mas certa vez, um repórter lhe perguntou o que é a felicidade. Ele respondeu assim: “A felicidade, para mim, deitado há tanto tempo nesta cama sem poder me mexer, seria poder virar de lado”. Em outra ocasião, ele disse: “Casei-me com a Doutrina Espírita no civil e com a dor no religioso”.
Em uma outra passagem de sua vida, quando nos dá um exemplo de que não devemos cultivar o orgulho, pode ser percebida por ocasião de um “enterro”, quando o cortejo seguia para o cemitério, sua Kombi estava logo atrás. Retirado o caixão, quando as pessoas se dirigiam para o local, um alcoolizado que passava, vendo os amigos lhe carregando a cama, exclamou: “Nossa! Dois defuntos! Esqueceram o caixão deste!” Ele aprendeu a não se revoltar com comentários infelizes. Gostava de citar uma frase de Cairbar Schutel: “Melindres é orgulho ferido”.
Jerônimo deixou a Terra em direção ao Plano Espiritual em 26 de novembro de 1989. Dentre outras instituições, como creches, Jerônimo fundou os centros Espíritas Seara de Jesus, Manoel Augusto da Silva e Lar espírita Pouso do Amanhecer. Escreveu os livros: Crepúsculo de um Coração, Cadeira de Rodas, Nas pegadas de um Anjo, Escada de Luz, De mãos dadas com Jesus e Quatorze anos depois (em co-autoria).
O exemplo edificante de Jerônimo Mendonça, e a sua dedicação ao bem, terá sido por certo passaporte para uma feliz recepção na Pátria Espiritual. Que possamos refletir sobre essa vida aqui na Terra e nos convencermos, de uma vez por todas, o quanto somos ricos e nunca tão pobres que não possamos ajudar quem quer que seja.


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