PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

quarta-feira, novembro 11, 2015

Gabriel Delanne - A Evolução Anímica - A VIDA

CAPITULO I
A VIDA
Estudo da vida
Vamos resumir os trabalhos mais recentes sobre o assun­to (5). Para todos os seres, a vida resulta das relações existentes entre a sua constituição física e o mundo exterior. O organismo é preestabelecido, pois que provém dos ancestrais, por filiação.
A ação das leis físico-químicas, ao contrário, varia segundo as circunstâncias. A essa oposição de forças, Claude Bernard denomina conflito vital. (6)
"Não é - diz ele - por uma luta contra as condições cósmicas que o organismo se mantém e se desenvolve, mas, muito ao contrário, por uma "adaptação", um acordo. O ser vivo não constitui exceção à grande harmonia natural, que faz que as coisas se adaptem umas às outras. Ele, o ser vivo, não rompe nenhum acordo, não está nem em contradição nem em luta com as forças cósmicas. Muito pelo contrário, ele faz parte do concerto universal, e a vida do animal, por exemplo, não passa de fragmento da vida total do Universo."
Esse conflito vital origina duas espécies de fenômenos:
1-Fenômenos de destruição orgânica, isto é, de desorgani­zação ou desassimilação;
2-Fenômenos de criação orgânica, indiferentemente cha­mados organização, síntese orgânica ou assimilação.
Destruição orgânica
Coisa curiosa são os fatos de destruição, porque são os mais aparentes, aos quais, geralmente, se liga à ideia de vida. A des­truição orgânica é, com efeito, determinada pela função do ser vivente. Quando, no homem ou no animal, sobrevém um mo­vimento, uma parte da substância ativa do músculo se destrói ou se queima; quando sensibilidade e vontade se manifestam, há um desgaste de nervos; quando se utiliza o pensamento, é porção de cérebro que se consome. Poder-se-á, então, dizer que jamais a mesma matéria serve duas vezes à vida. Realizado um ato, a matéria que lhe serviu à produção deixa de existir. Rea­pareça o fenômeno, é matéria nova que a ele concorre.
“A usura molecular é sempre proporcional à intensidade das manifestações vitais. A alteração material será tanto mais pro­funda ou considerável, quanto mais ativa se mostre à vida”.
“A desassimilação expulsa das profundezas do organismo substâncias tanto mais oxidadas pela combustão vital, quanto mais enérgico se verifique o funcionamento dos órgãos. Essas” oxidações, ou combustões, engendram o calor animal, produzem o ácido carbônico que se exala pelos pulmões, além de outros produtos eliminados por diferentes glândulas da economia. O corpo se gasta e sofre consumação e perda de peso, que tra­duzem e medem a intensidade das funções. Por toda parte, a bem dizer, a destruição físico-química liga-se à atividade funcional, e nós podemos encarar como axioma. fisiológico a seguin­te proposição: toda manifestação de um fenômeno vital liga-se, necessariamente, a uma destruição orgânica." (7)
Essa destruição é sempre devida a uma combustão, ou a uma fermentação.

Criação orgânica
Os fenômenos de criação orgânica são atos plásticos, que se completam nos órgãos em repouso, e os regeneram. A síntese assimiladora reúne os materiais e as reservas que o funcionamento deve despender. É um trabalho íntimo, silencioso, nada havendo que o possa trair exteriormente.
A viveza com que se nos apresentam, externamente, os efeitos da destruição orgânica, ilude-nos a ponto de lhes chamarmos fenômenos vitais, quando, na realidade, são letais, por isso que se engendram destruindo tecidos.
“Não somos impressionados pelos fenômenos da vida. A reparação de órgãos e tecidos opera-se íntima, silenciosamente, fora de nossas vistas. Só o embriogenista, acompanhando o desenvolvimento do ser vivo, apreende permutas e fases reveladoras desse trabalho surdo. É aqui, um depósito de matéria; ali, uma formação de invólucro, ou núcleo; acolá, uma divisão, uma multiplicação, uma renovação”.
"Muito pelo contrário, os fenômenos de destruição, ou de morte vital, saltam-nos à vista e é por eles, aliás, que costumamos caracterizar a vida. Entretanto, quando se opera um movimento e um músculo se contrai; quando vontade e sensibilidade se manifestam; quando o pensamento se exerce; quando a glândula segrega, o que se dá é consumo de substância muscular, nervosa, cerebral: portanto, fenômenos de destruição e morte." (8)
Em todo o curso da existência, essas destruições e criações são simultâneas, conexas, inseparáveis. Ouçamos sempre o eminente fisiologista:
"As duas ordens de fenômenos de destruição e criação, apenas se concebem separáveis e divisíveis, espiritualmente falando. Por natureza, elas se encontram estreitamente ligadas e cooperam em todo o ser vivente numa entrosagem que jamais se poderia romper. As duas operatórias são absolutamente conexas e inseparáveis, no sentido de que a destruição é condicional imprescindível da renovação. Os atos destrutivos são os precursores e instigadores daqueles por que as partes se restauram e renascem, ou seja, dos de renovação orgânica. Dos dois tipos de fenômenos, o que se poderia dizer o mais vital, o fenômeno de criação orgânica, está, portanto, de algum modo subordinado ao fenômeno físico-químico da destruição."

Propriedades gerais dos seres vivos
As propriedades gerais dos seres vivos, as que os distinguem da matéria bruta dos corpos inorgânicos, contam-se por quatro: organização, geração, nutrição e evolução.
Dessas quatro propriedades fundamentais, a Ciência não ex­plica claramente mais do que uma - a nutrição, se bem que, ainda aqui, o fenômeno mediante o qual as células selecionam, no sangue, os materiais que lhes são úteis, não está bem estudado.
Veremos dentro em breve que organização e evolução não podem ser compreendidas só pelo jogo das leis físico-químicas.
E, quanto à reprodução, se é certo que lhe conhecemos o mecanismo, a causa continua sendo um mistério.

Condições gerais de manutenção da vida
Todos os seres vivos têm necessidade, para manifestarem sua existência, das mesmas condições exteriores, e nada há que melhor demonstre a unidade vital, a identidade da vida nos se­res organizados, vegetais ou animais, do que a carência das quatro seguintes condições: 1.a umidade, 2.a calor, 3.a ar, 4.a uma determinada composição química do ambiente.

A umidade
Indispensável é a água na constituição do meio em que evolui o ser vivente. Como princípio constituinte, entra ela na composição dos tecidos, e, ao demais, serve para dissolver grande número de substâncias, sem as quais as reações químicas incessantes, de que é laboratório o corpo, não poderiam efetuar-se. A utilidade funcional da água evidencia-se, o bastante, pelos célebres jejuadores Merlatti, Succi e o Dr. Tanner, que pude­ram vingar longos períodos de 30 a 40 dias sem comer, mas, bebendo,água destilada. Experiências feitas com cães mostraram que eles resistiam durante 30 dias à privação de alimento, desde que se lhes dessa água. A subtração deste elemento ocasional, em certos roteiros, curiosos fenômenos de vida latente: esses animais, convenientemente privados de água, perdem todas as propriedades vitais, ao menos na aparência, e podem assim permanecer anos a fio. Desde, porém, que se lhes restitua um pouco de água, recomeçam a viver como antes, dado que a pri­vação não tenha ultrapassado certos limites. No homem, o coeficiente de água contida no corpo é de 90%, o que só por si representa o seu alto valor substancial na economia orgânica.

O ar
O ar, ou melhor, o oxigênio que lhe compõe a parte respirável, é necessário à maioria dos seres vivos, mesmo aos inferiores, quais as leveduras ou micodermas. Pasteur mostrou que os microrganismos originam fermentações, em se apropriando do oxigênio. Experiências feitas em coelhos evidenciaram que o animal sucumbe quando a proporção do oxigênio, de 21/104, diminui de 3 a 5/100

O calor
É o terceiro dos elementos que entretêm os corpos vivos. Sabemos que a vida dos vegetais se mantém em correlação ínti­ma com a temperatura ambiente. O frio intenso congela os líquidos do organismo e desmancha os tecidos. Há, mesmo, para cada animal, uma temperatura média, correspondente ao má­ximo de vida. Os elementos do corpo, nos animais superiores, são assaz delicados, e os limites extremos, entre os quais a vida pode manter-se, são, a seu turno, convizinho. Não pode a temperatura interna do organismo descer abaixo de 20 graus nem se elevar acima de 45 graus, para os humanos, e de 50 graus, para as aves. Assim, nos animais superiores há uma temperatura média, que se mantém constante, graças a um conjunto de mecanismos governados pelo sistema nervoso. Sem essa fixidez, a função vital jamais poderia executar-se.

Condições químicas do meio
Para bem compreendermos o alcance dessa condição, é preciso não esquecer que denominamos organismo vivo tanto à célula componente dos tecidos vegetais e animais, como a esses mesmos vegetais e animais. De fato, a célula é bem um ser vivo: organiza-se, reproduz, alimenta-se e evolui, tal como o animal superior.
Após os trabalhos de Schleiden, em 1838, de Schwann, em 1839, de Prévost e Dumas, em 1842, de Kolliker, em 1844 e, mais tarde, de Max Schultze, sabe-se que, a partir da célula livre e única, por Haeckel chamada "plastídio", até o homem, todos os corpos vivos não passam de associações de células, idênticas em natureza e composição, mas gozando de propriedades dife­rentes, conforme o lugar ocupado no organismo.
Assim, os mais variados tecidos do corpo: ossos, nervos, músculos, pele, unhas, cabelos, córnea ocular, etc., formam-se de agregados celulares.
A seguir, veremos que a natureza oferece todos os graus de complexidade na reunião desses elementos orgânicos primá­rios, peculiares a todo ser vivente. Isto posto, voltemos à quarta condição. Além de calor, ar e água, torna-se indispensável que o meio liquido que banha as células contenha certas substân­cias indispensáveis à sua nutrição. Durante muito tempo se acreditou que tal meio variava conforme a natureza do ser. Investigações contemporâneas permitiram, porém, verificar que o meio era uniforme para todos os organismos vivos, devendo conter:
1.° - Substâncias azotadas, nas quais entram azoto, carbono, oxigênio e hidrogênio.
2.° - Substâncias ternárias, ou seja compostas dos três ele­mentos - carbono, oxigênio e hidrogênio.
3.° - Substâncias minerais, como sejam os fosfatos, a cal, o sal, etc.
Uma circunstância, a bem fixar, é que essas três espécies de substâncias, quaisquer que sejam as formas de que se revis­tam, são indispensáveis ao entretenimento da vida. Com essas matérias-primas fabricam os organismos tudo o que lhes aproveita à vida do corpo. Essas condições aqui estudadas devem realizar-se na esfera de contacto e influência imediata sobre a partícula vivente, entrando com ela em conflito.
Somos, então, levados a distinguir dois meios, a saber:
1. - O meio cósmico ambiente, ou exterior, com o qual estão em relação todos os seres elementares.
2. - O meio interior, que serve de intermediário entre o mun­do exterior e a substância viva.
Se quisermos bem considerar as partes verdadeiramente vivas dos tecidos, isto é, as células, notarão que elas se resguardam das influências ambientes; que se banha num liquido interior que as isola, protege e que serve de intermediário entre elas e o meio cósmico. Esse meio interior é o sangue.
Não, diga-se, o sangue in totum, mas o plasma sanguíneo, ou seja aquela parte fluida que compreende todos os líquidos intersticiais, fonte e confluente de todas as permutas endos­móticas
Absurdo não fora, então, dizer-se que o pássaro não vive no ar atmosférico, nem o peixe na água, nem a minhoca na terra.
Ar, água e terra são, por assim dizer, um segundo envol­tório do corpo, sendo o sangue o primeiro, visto ser ele que envolve imediatamente os genuínos elementos vitais - as células.
Não é, pois, de modo direto que o exterior influencia esses seres complexos, que são os animais superiores, qual se dá com os corpos brutos ou com os seres vivos mais simples.
Há um intermediário forçado que se interpõe entre o agente físico e o elemento anatômico. (9)
O que acabamos de ver, basta para mostrar que a vida física está na dependência do meio exterior, e que o velho adágio - mens sana in corpore sano - é de uma veridicidade abso­luta. Para que a alma possa manifestar as suas faculdades, sem constrangimento, preciso se lhe faz a integridade da subs­tância corporal.







Nenhum comentário: