VIDA
APÓS A VIDA
(Mensagem de Clara Nunes publicada na Revista
Allan Kardec, n. 32)
A Cantora Clara Nunes desencarnou com
apenas 39 anos, no Rio de Janeiro/RJ em abril de 1983, numa aparentemente
simples cirurgia de varizes. Era casada com o compositor Paulo Cesar Pinheiro.
Clara Nunes, devido às suas músicas com
base no afro-brasileiro, era uma sensível mística e a Umbanda enchia-lhe a
alma, porém, alcançou Kardec, através de suas obras, bem como as psicografadas
por Francisco Cândido Xavier. Um ano e cinco meses após seu desencarne enviou
uma mensagem de pleno equilíbrio, aos seus familiares através de Chico Xavier:
“Querida Maria,
Eu pressentia que o encontro através de
notícias seria primeiramente com você. Somente você teria suficiente disposição
para viajar de Caetanópolis até aqui, no objetivo de atingir o nosso
intercâmbio.
Descrever-lhe o que se passou comigo é
impossível agora. Aquela anestesia suave que me fazia sorrir se transformou
numa outra espécie de repouso que me fazia dormir.
Sonhava com vocês todos e me via de
regresso à infância. Cantava. Era uma alegria que me situava num mundo
fantástico. Melodias e cores, lembranças e vozes se mesclavam e eu me perdia
naquele êxtase desconhecido. Não cuidava de mim. Lembrava-me dos que ficavam,
mas ainda não sabia se a mudança seria definitiva.
Conte ao nosso querido Paulo a minha
experiência. Tantos dias no descanso, ignorando o que vinha a ser tudo aquilo
que se me apresentava à imaginação por fantasia que desconhecia como deslindar.
Peço a você solicitar ao Paulo me perdoe
se lhes transmito as presentes notícias com a fidelidade possível.
Acordei num barco engalanado de flores,
seguida de outras embarcações nas quais muitos irmãos entoavam hinos que me
eram estranhos, hinos em que o amor por Iemanjá era a tônica de todas as
palavras. Os amigos que me seguiam falavam de libertação e vitória.
Muito pouco a pouco, me conscientizei e
passei, da euforia ao pranto de saudade, porque a memória despertara para a
vida na retaguarda e o nosso Paulo se fazia o centro de minhas recordações.
Queria-o ali naquela abordagem maravilhosa, pois os barcos se abeiravam de
certa praia encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a
guarneciam.
Quando o barco que me conduzia ancorou
suavemente, uma entidade de grande porte se dirigiu a mim com paternal bondade
e me convidou a pisar na terra firme. Ali estavam o meu pai Manoel e a nossa
mãezinha Amélia. Os abraços que nos assinalavam as lágrimas de alegria pareciam
sem fim. Era muita saudade acumulada no coração.
Ali, passei ao convívio de meus pais e os
meus guardiões retornavam ao mar alto. Retomei a nossa vida natural e, em
companhia de meu pai Manoel, pude rever você e os irmãos todos, comovendo-me ao
abraçar a nossa Valdemira que me pareceu
um anjo preso ao corpo.
Querida irmã, não disponho das palavras
exatas que me correspondam às emoções. Peço a você reconfortar o nosso Paulo e
dizer-lhe que não perdi o sonho de meu filhinho que nascesse na Terra de nossa
união e de nosso amor...
O futuro é Luz de Deus. Quem sabe virá
para nós uma vida renovada e diferente, na qual possamos realmente
pertencer-nos para as minhas lindas realizações?
Você
diga ao meu poeta e beletrista querido, que estou contente por vê-lo
fortalecido e resistente, exceção feita aos copinhos que ele conhece e que
estou vendo agora um tanto aumentados.
Desejo que ele saiba que o meu amor pelo
esposo e noivo permanente, que ele continua sendo para mim, está brilhando em
meu coração, em meu coração que continua cantando fora do outro coração que me
prendia.
A cigarra, por vezes, canta com tanta
persistência em louvor a Deus e a Natureza que se perde nas cordas que lhe
coordenam a cantiga, caindo ao chão desencantada.
O meu coração da vida física não suportou
a extensão das melodias que me faziam viver e, uma simples renovação para
tratamento justo, me fez repousar nas maravilhas diferentes a que fui conduzida.
Espero que o nosso Paulo consiga ouvir-me
nesta letras.
Agradeço a ele as atitudes dignas com que
me acompanhou até o fim do corpo, tanto quanto agradeço a você e às nossas
irmãs e irmãos o respeito com que me honraram a memória, abstendo-se de
reclamações indébitas junto aos médicos humanitários que se dispuseram a
servir-nos.
Muitas saudades e lembranças a todos os
nossos e pra você um beijo fraternal com as muitas saudades de sua Clara”.
(Mensagem psicografada pelo
médium Francisco Cândido Xavier – Anuário Espírita 1997).
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