HÁ 50 ANOS DESENCARNAVA CAMILLE FLAMMARION
Artigo escrito por ocasião da
passagem dos cinquenta anos de desencarne de
Camille Flammarion
FONTE: RIE
– julho e novembro de 1975
No
dia 04 de junho de 1925, em seu laboratório astronômico situado em Juvisy-sur-Orge, desencarnava Camille
Flammarion, chamado “o poeta das estrelas”.
Em
sua biografia ele diz ter nascido em Montigny-le-Roi a 26 de fevereiro de 1842. Estava portanto com 83
anos. Flammarion foi enterrado no vasto parque do observatório de Juvissy. Sua
esposa, Mme. Gabrielle Camille Flammarion, passou a dirigir o observatório até
há dois anos, quando igualmente desencarnou. Ignora-se em que mãos se encontra
Juvissy atualmente.
Há
em torno da desencarnação de Camille Flammarion um curioso incidente ocorrido
na residência de Léon Denis, em Tours. Quem faz a narrativa é Mlle. Claire
Beaumard, que, durante o período que
antecedeu à desencarnação do notável
escritor espírita, foi sua secretária. Em seu livro de reminiscências
Mlle. Beaumard narra que começou a trabalhar com Denis na manhã mesma em que os
sinos de Tours badalavam o fim da guerra de 1914. De 1918 – término da guerra,
à 1925, medeiam sete anos durante os quais participara como uma pessoa familiar
em todos os incidentes havidos na casa de Denis. É assim que narra as sessões
mediúnicas e nas quais através de uma dama dotada de uma mediunidade invulgar,
o espírito de Allan Kardec se manifestava estimulando e fazendo preciosas
sugestões a Léon Denis.
Abrimos
aqui um parêntese para lembrar que em 1925 Allan Kardec ainda não se encontrava encarnado, pois que
era o guia espiritual do grupo de Léon
Denis, em Tours, França. As pessoas que se qualificam como reencarnação de
Allan Kardec, devem ter nascido depois de 1925.
Léon
Denis foi convidado para ser o Presidente de Honra do Congresso Espírita
Internacional de Paris, a realizar-se entre 6 e 13 de setembro de 1925 e que
pode ser considerado o mais relevante dos Congressos espíritas jamais
realizados. Denis, entretanto, ao receber o ofício se mostrou aborrecido:
estava velho, cansado e quase cego. No decorrer da sessão, composta de um grupo
muito reduzido e do qual Mlle. Beaumard
fazia parte, ao se manifestar o espírito de Allan Kardec, Denis lhe disse tudo
quando o preocupava, alegando que Camille Flammarion poderia perfeitamente
substituí-lo.
Kardec,
que enaltecera o acontecimento, julgava que Denis deveria aceitar o convite.
Mas o escritor mostrou-se hesitante.
Estou
muito velho e as forças me faltam para
chegar até Paris, bastante distante de Tours. E falta-me vista. Além disso
sinto-me cansado e sem forças para arcar com tal empreendimento. Vou sugerir
que convidem Camille Flammarion.
Camille
Flammarion não estará lá! – Redargüiu o Espírito comunicante.
Mas
como? Flammarion não estará lá? Será possível que deixe de comparecer?
Camille
Flammarion não estará lá!
E
não deu outras explicações. Denis se conformou e escreveu ao secretário do Congresso
agradecendo e aceitando a atribuição.
Como
se sabe Léon Denis é considerado o grande propagandista do Espiritismo, aquele
que levava ao povo a consoladora
doutrina. Seus livros eram muito procurados pelo povo sofredor que suportara a
luta e as atribulações de uma guerra feroz e terrível.
Meses
se passaram e, sempre nas sessões de Tours, Allan Kardec incentivava o
amigo para a reunião magna em Paris, ao mesmo tempo que fazia sugestões para o
derradeiro livro de Denis, “O Gênio Celta e o Mundo Invisível” no qual o
escritor encarnado faz uma apologia do celtismo, conferindo-lhe especial atenção
e estabelecendo curiosos paralelos entre as doutrinas célticas e o próprio
Cristianismo.O trabalho corria a meio quando uma triste notícia abalou o meio
espírita: Camille Flammarion desencarnara no dia 04 de junho de 1925.
Então
Léon Denis compreendeu o motivo pelo qual Allan Kardec, naquela especial
sessão em Tours, insistira duas vezes em que Camille Flammarion não estaria
presente ao Congresso. E foi assim que, em um domingo, 6 de setembro de 1925 Léon
Denis discursava dando as boas-vindas aos congressistas.
Falando-se
a rigor, Camille Flammarion nunca foi espírita.
Há
dois anos ao ser entrevistada em Juvissy, Mme. Flammarion insistia em dizer que
o esposo fora apenas um metapsiquista. Flammarion se tornou conhecido mercê de
suas obras versando sobre a astronomia, ciência que com rara felicidade,
deixava ao alcance de todos, o que lhe valeu o cognome de “Poeta das estrelas”.
Suas primeiras experiências no terreno do Espiritismo ocorreram em novembro de
1861. Harmonizou-se a tal ponto com Kardec e sua esposa que, na cerimônia
fúnebre que se seguiu à desencarnação do Codificador do Espiritismo, foi ele o
encarregado da despedida fúnebre no Cemitério de Pére-Lachaise. O seu discurso
decorre em clima de respeito e louvor e se tornou uma peça de oratória
procurada até nos dias de hoje.
Seu
primeiro livro, “A Pluralidade dos mundos habitados” veio à luz ao mesmo
tempo que “O livro dos Espíritos”, de Allan
Kardec. Dai para a frente os dois sábios passaram a se visitar e Flammarion se
tornou membro da Sociedade de
Estudos Psicológicos, da qual Kardec era
o Presidente.
As
sessões semanais da sociedade consistiam principalmente de escritos inspirados.
Flammarion tentou a experiência e depois de várias tentativas foi bem sucedido.
Os assuntos das mensagens por ele recebidas versavam quase sempre sobre
astronomia e traziam a assinatura de Galileu.
Aqui
fazemos um parêntese para reproduzir o parecer de alguns investigadores
espíritas os quais sugerem que Flammarion era médium de si mesmo; sendo uma
reencarnação de Galileu, através de um mecanismo psicológico desconhecido,
psicografava o que o seu subconsciente, como Galileu redigia.
O
próprio Flammarion acreditava que os resultados por ele obtidos eram o produto de
seu intelecto, duvidando que o ilustre florentino tivesse algo a ver com as
mensagens por ele grafada. Essas mensagens ficaram em poder da Sociedade e
foram publicadas em 1867 na obra de Allan Kardec, “A Gênese”, no capitulo
denominado “Uranografia Geral”.
Flammarion
tinha entrada livre nos principais círculos espíritas parisienses e, por vezes
era feito Secretário Honorário dos mesmos.
Não
obstante não se tornou espírita. Em uma entrevista fornecida à Revue Spirite,
pouco tempo antes de desencarnar, sua esposa declarou: Entre Kardec e
Flammarion houve um conflito de opiniões.
Homem
de ciências Flammarion julgava que a Sociedade deveria ser transformada em um
núcleo de pesquisas; Kardec entretanto, já convicto da realidade da
sobrevivência espiritual, procurava ordenar o trabalho de modo a que atendesse às
necessidades do homem, construindo todo um arcabouço ético e moral.
Ele
não pretendia que a Sociedade se dedicasse longamente às pesquisas, provando o
que já havia sido provado enquanto a multidão, lá fora, gemesse e chorasse
procurando um caminho seguro para o seu enriquecimento moral.
Não
obstante, Flammarion dedicou-se durante dois anos de pesquisas no campo da
psicografia, da prancheta e da tiptologia, tornado pública a sua conclusão de
que o método empregado por Kardec na Sociedade permitia uma margem de dúvidas e
que a escrita automática não provava a intervenção de uma outra mente vinda do
Mundo Espiritual.
Em
1865, sob o título de Forças Naturais Desconhecidas, publicou o seu primeiro
livro dedicado à pesquisa psíquica, uma monografia de 150 páginas na qual lê-se
um estudo dos fenômenos obtidos pelos irmãos Davenport e outros médiuns.
Nessa
primeira obra ele cria um neologismo, “psiquismo”, que foi logo em seguida
adotado pelos pesquisadores do paranormal. Flammarion, sem admitir a
sobrevivência e manifestações dos desencarnados, admite o que ele denomina
“forças”, e escreve:
“Essas forças
são tão reais quanto a atração e a gravitação e são tão invisíveis
quanto ela”.
Seu livro “Misteriosas Forças Psíquicas”, publicado em 1906
é uma espécie
de aproveitamento acrescido de sua obra inicial.
No discurso
fúnebre proferido junto ao túmulo de Allan Kardec, a 30 de março de
1869, afirmava:
“O Espiritismo não é uma religião.
É uma ciência a
respeito da qual mal conhecemos o “a-b-c”.
Foi um dos assistentes dos fenômenos nas sessões de
Mme. Girardin, realizadas na residência de Victor Hugo, durante o exílio deste
último na ilha de Jersey. Investigou a tiptologia no decorrer de um longo
período, atuando a famosa médium, Mlle. Huete, na Rua Mont Thabor.
Embora afirmassem que a médium várias vezes fora
apanhada fraudando, Flammarion escreve:
“Freqüentes vezes nós obtivemos
batidas de várias espécies, como ruídos de tambores
ou torrentes de chuvas, efeitos
esses que seriam impossível à médium imitar. Vários
fenômenos incluindo a levitação
da mesa foram observados em plena luz do dia. As
comunicações eram assinadas por
nomes ilustres e, por vezes, escritas de trás para a
frente”.
Em
1899, através dos “Annales politiques et Litteraises, do Petit Marseilles”, e
da “Revue des Revues”, propôs que os
leitores colaborassem com ele para uma pesquisa que tinha em mente. Obteve o
seguinte resultado: de 4280 pessoas que atenderam ao seu apelo, 1824
responderam que já tinham vistos fantasmas. Dessem total Flammarion estudou 786
casos que apresentavam valor incontestável.
SER OU NÃO SER
Há
uma discussão sobre a questão: era Camille Flammarion espírita ou era, conforme
sua esposa, Mme. Flammarion, declarou a imprensa, tão somente um metapsiquista?
A resposta parece ser respondida em oposição à de sua mulher, por J.
Malgras. Ao organizar sua obra, Les Pionniers
du Spiritisme em France.
J.
Malgras escreveu, em 1905, a Flammarion solicitando o seu depoimento.
A resposta foi a seguinte:
26 de janeiro de 1905
Parece-me
que eu não poderia fazer nada melhor, para responder à vossa solicitação do que
vos enviar às conclusões de minha obra L’Inconnu. Elas resumem o conjunto de
minhas observações conforme vós as encontrareis abaixo:
A
observação positiva prova a existência de um mundo psíquico tão real quanto o
mundo conhecido por nossos sentidos físicos.
1º)
A alma existe como um ser real, independente do corpo;
2º)
Ela é dotada de faculdade ainda desconhecidas pela ciência;
3ª)
Ela pode agir e perceber à distância sem o intermédio dos sentidos;
4ª)
O futuro è preparado, antecipadamente, determinado por causas que o
constituirão. A alma, por vezes, o percebe.
Outras
observações já foram apresentadas, notadamente no que concerne aos duplos dos
vivos, o corpo etéreo ou astral e as manifestações dos mortos; mas as quatro
questões que precedem, me parecem afirmadas e demonstradas.
Quanto
às explicações, a sabedoria diz não serem exigidas; elas não são necessárias
para se admitirem os fatos; é-se crédulo, em geral, sobre este ponto de ilusão
tão singulares.
Por
exemplo, no tempo dos possessos de Loudun ou dos convulsionários de
Saint-Médard, os efeitos da
sugestão e do hipnotismo eram desconhecidos e se declarava que os fenômenos
eram ou fraudulentos ou diabólicos.
Ora,
não são nem uma nem outra coisa.
Hoje,
vários se explicam e ouve-se dizer a respeito de ambos os casos: "foi hipnotismo, foi a sugestão, foi o
subconsciente”.
Outro
erro: pode-se tratar nem de um nem dos outros.
Não
fechemos o círculo de nossas concepções, nem estabeleçamos escolas nem sistemas
e não pretendamos que tudo deva ser explicado para ser admitido.
A
ciência esta longe de ter dito sua última palavra em qualquer campo que seja.
O
que podemos pensar, hoje em dia, é que de tudo que fazia parte das
superstições, dos erros, das ilusões, das farsas, das malícias, das mentiras,
das mistificações, resta um saldo de fatos psíquicos verdadeiros, dignos da
atenção dos pesquisadores; isto quer dizer que entramos na investigação de todo
um mundo, tão antigo quanto a humanidade, mas ainda novo para o método cientifico
experimental que começa, só agora, a se fazer sentir e, simultaneamente, em todos os países.Lembremos, também,
que esses fatos são excepcionais.
Os
fenômenos psíquicos de toda a ordem, aliás deixando de pertencer ao domínio
mórbido das superstições e das fantasmagorias ocultas e sendo estudado à luz
dos métodos experimentais, não deixaram por isso de permanecer anormais e
excepcionais. É preciso não se esquecer disso, negligenciando o espírito
crítico, sem o qual a razão humana seria apenas um erro e não se deve,
outrossim, considerá-los apenas como motivos de estudos interessantes para o
conhecimento de nós mesmos. Com efeito, é preciso reconhecer que o que
conhecemos de menos é a nossa própria natureza.
A
máxima de Sócrates: “Conhece-te a ti
mesmo”, pode sempre inspirar mais nobres sentimentos.Todo o autor tem almas a
seu encargo. Não se deve dizer tudo quanto se sabe. Talvez não se deva nunca
dizer tudo quanto se sabe, porém, mesmo na vida normal de cada dia não se
deveria dizer tudo quanto se sabe.
Estudemos,
pois, trabalhemos e esperemos. O conjunto dos fatos psíquicos mostra que
vivemos no centro de um mundo invisível no seio da qual se exercem forças
desconhecidas, o que está de acordo com
o que sabemos sobre o limite de nossos sentidos terrestres e sobre os fenômenos
da natureza.
Camille
Flammarion
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