LUIS
LAMENNAIS
PLATÃO
AGOSTINHO

PAULO
DURAÇÃO DAS PENAS FUTURAS
Questão 1004 de O Livro dos Espíritos: Em que se baseia a
duração dos sofrimentos do culpado? Resposta: “No tempo necessário a que se
melhore. Sendo o estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de
purificação do Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do
tempo que ele gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos
se lhe depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza”. São Luis.
Poderão durar eternamente os sofrimentos do Espírito? Questão
1006.Resposta: “Poderiam, se ele pudesse ser eternamente mau, isto é, se jamais
se arrependesse e melhorasse, sofreria, eternamente. Mas, Deus não criou seres
tendo por destino permanecerem votados perpetuamente ao mal. Apenas os criou a
todos simples e ignorantes, tendo todos, no entanto, que progredir em tempo
mais ou menos longo conforme decorrer da vontade de cada um. Mais ou menos
tardia pode ser a vontade, do mesmo modo que há crianças mais ou menos
precoces, porem cedo ou tarde, ela aparece por efeito da irresistível
necessidade que o Espírito sente de sair da inferioridade e de se tornar feliz.
Eminentemente sábia e magnânima é, pois, a lei que rege a duração das penas,
porquanto subordina essa duração aos esforços do Espírito. Jamais o priva do
seu livre-arbítrio: se deste faz mau uso, sofre as consequências. ” São Luis.
“Há-os de arrependimento muito tardio; porém, pretender-se
que nunca se melhorarão fora negar a lei do progresso e dizer que a criança não
pode tornar-se homem. ” São Luis. Resposta
a questão 1007 de O Livro dos Espíritos.
Questão 1008 Depende sempre da vontade do Espírito a duração
das penas? Algumas não haverá que lhe sejam impostas por tempo determinado?
Resposta: “Sim, ao Espírito podem ser impostas penas ór determinado tempo; mas,
Deus, que só quer o bem de suas criaturas, acolhe sempre o arrependimento e
infrutífero jamais fica o desejo que o Espírito manifeste de se melhorar. ” São Luis
“Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes
se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a
negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando
de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendei bem esta palavra?
Sofrimentos, torturas sem fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O
vosso juízo não repela semelhante ideia? Que os antigos tenham considerado o
Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na
ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens.
Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes
primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas.
Poderia ele carecer das qualidades cuja posse prescreve, como um dever, às
criaturas? Não haverá contradição em se lhe atribuir a bondade infinita e a vingança
também infinita? Dizeis que, acima de tudo, ele é justo e que o homem não lhe
compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e ele não seria bom,
se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o
direito de fazer justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio
de compreende-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços
do culpado não está toa a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se
encontra a verdade desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras. ” Santo Agostinho.
“Aplicai-vos, por todos os meios ao vosso alcance, em
combater, em aniquilar a ideia da eternidade das penas, ideia blasfematória da
justiça e da bondade de Deus, gérmen fecundo da incredulidade, do materialismo
e da indiferença que invadiram as massas humanas, desde que as inteligências
começaram a desenvolver-se. O Espírito, prestes a esclarecer-se, ou mesmo
apenas desbastado, logo lhe aprendeu a monstruosa injustiça. Sua razão a repele
e, então, raro é que não englobe no mesmo repudio a pena que o revolta e o Deus
a quem a atribui. Daí os males sem conto que hão desabado sobre vós e aos quais
vimos trazer remédio. Tanto mais fácil será a tarefa que vos apontamos, quanto
é certo que todas as autoridades em quem se apoiam os defensores de tal crença
evitaram todas pronunciar-se formalmente a respeito. Nem os concílios, nem os
Pais da Igreja resolveram essa grave questão. Muito embora, segundo os
Evangelistas e tomadas ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo ele
tenha ameaçado os culpados com um fogo que se não extingue, com um fogo eterno,
absolutamente nada se encontra nas suas palavras capaz de provar que os haja
condenado eternamente. ”
Pobres ovelhas desgarradas, aprendei a ver aproximar-se de
vós o Bom Pastor, que, longe de vos banir para todo o sempre de sua presença,
vem pessoalmente ao vosso encontro, para vos conduzir ao aprisco. Filhos
pródigos, deixai o vosso voluntário exílio; encaminhai vossos passos para a
morada paterna. O Pai vos estende os braços e está sempre pronto a festejar o
vosso regresso ao seio da família”. Lamennais.
“Guerras de palavras! Guerras de palavras! Ainda não basta
sangue que tendes feito correr! Será ainda preciso que se reacendam as
fogueiras? Discutem sobre palavras: eternidade das penas, eternidade dos
castigos. Ignorais então eu o que hoje entendeis por eternidade não é o que os antigos entendiam e designavam por esse
termo? Consulte o teólogo as fontes e lá descobrirá, como todos vós, que o
texto hebreu não atribuía esta
significação ao vocábulo que os gregos, os latinos e os modernos traduziam por
penas sem-fim, irremissíveis. Eternidade
dos castigos corresponde à eternidade do mal. Sim, enquanto existir o mal entre
os homens, os castigos subsistirão. Importa que os textos sagrados se
interpretem no sentido relativo. A eternidade das penas é, pois, relativa e não
absoluta. Chegue o dia em que todos os homens, pelo arrependimento, se revistam
da túnica da inocência e desde esse dia deixara de haver gemidos e ranger de
dentes. Limitada tendes, é certo a vossa razão humana, porém, tal como a tendes,
ela é uma dádiva de Deus e, com o auxílio dessa razão, nenhum homem de boa-fé
haverá que de outra forma compreenda a eternidade dos castigos. Pois que! Fora
necessário a de ter-se por eterno o mal. Somente Deus é eterno e não poderia
ter criado o mal eterno; do contrário, forçoso seria tirar-se lhe o mais
magnifico dos seus atributos: o soberano poder, porquanto não é soberanamente poderoso
aquele que cria um elemento destruidor de suas obras. Humanidade! Humanidade!
Não mergulheis mais os teus tristes olhares nas profundezas da Terra,
procurando ai castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus
intrinsecamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo”. Platão.
“Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade.
Para atingi-lo, três coisas são necessárias: a Justiça, o Amor e a Ciência. Três
coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. Pois
bem! Digo-vos em verdade, que mentis a estes princípios fundamentais,
comprometendo a ideia de Deus, com o lhe exagerardes a severidade. Duplamente a
comprometeis, deixando que no Espírito da criatura penetre a suposição de que
há nela mais clemencia, mais virtude, amor e verdadeira justiça, do que
atribuís ao ser infinito. Destruís mesmo a ideia do inferno, tornando-o
ridículo e inadmissível às vossas crenças, como o é aos vossos corações o
horrendo espetáculo das execuções, das fogueiras e das torturas da Idade Média!
Pois que! Quando banida se acha para sempre das legislações humanas a era das
cegas represálias, é que esperais mantê-la no ideal? Oh! Crede-me, crede-me,
irmãos em Deus e em Jesus-Cristo, crede-me: ou vos resignais a deixar que
pereçam nas vossas mãos todos os vossos dogmas, de preferência a que se
modifiquem, ou, então, vivificai-vos, abrindo-os aos benfazejos eflúvios que os
Bons, neste momento, derramam neles. A ideia do inferno, com as suas fornalhas
ardentes, com as suas caldeiras a ferver, pôde ser tolerada, isto é perdoável
num século de ferro; porém, no século dezenove, não passa de vão fantasma, próprio,
quando muito, para amedrontar criancinhas e em que estas, crescendo um pouco,
logo deixam de crer. Se persistirdes nessa mitologia aterradora, engendrareis a
incredulidade, mãe de toda a desorganização social. Tremo, entrevendo toda uma
ordem social abalada e a ruir sobre os seus fundamentos, por falta de sanção
penal. Homens de fé ardente e viva, vanguardeiros do dia da luz, mãos a oba,
não para manter fábulas que envelheceram e se desacreditaram, mas para
reavivar, revivificar a verdadeira sanção penal, sob formas condizentes com os
vossos costumes, os vossos sentimentos e as luzes da vossa época.
Quem é, com efeito, culpado? É aquele que, por um desvio, por
um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no
culto harmonioso do belo, do bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus,
por Jesus-Cristo.
Que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso
movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade,
pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma,
pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto da salvação. O
castigo só tem pôr fim a reabilitação, a redenção. Querê-los eterno, por uma
falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.
Oh! Em verdade vos digo, cessai, cessai de pôr em paralelo,
na sua eternidade, o Bem, essência do Criador, com o Mal, essência da criatura.
Fora criar uma penalidade injustificável. Afirmai, ao contrário, o abrandamento
gradual dos castigos e das penas pelas transgressões e consagrareis a unidade
divina, tendo unidos o sentimento e a razão”. Paulo, apóstolo.



Nenhum comentário:
Postar um comentário