NOTÍCIAS
LIVRO:
Falando à Terra, Chico Xavier, Ed FEB.
Abel Gomes: Professor, jornalista, cronista e poeta
mineiro. Foi propagandista valoroso e devotado do Espiritismo e de Esperanto,
legando à literatura pátria páginas cheias de beleza e simplicidade. Viveu uma
vida de exemplos evangélicos.
(Continuação): “... Mas, em nos referindo aqui aos
vencedores, não será lícito esquecer os irmãos que se transferem para o mundo
espiritual com a vitória incompleta no campo das realizações a que se
consagram.
Nem todos se retiram da Terra na posição de heróis. 
A perfeita sublimação é obra dos séculos incessantes.
Notamos, em toda parte, homens e mulheres de boa-vontade inequívoca
na aceitação das verdades divinas e que, no entanto, não conseguem aplica-las,
de pronto ou de todo, à própria vida.
Aqui, vemos companheiros que já conseguem livrar-se dos laços
asfixiantes da cobiça, na zona do dinheiro, vivendo em louvável desprendimento
das posses materiais, prendendo-se, no entanto, à sexualidade, ainda incapazes
de quebrar os aguilhões que os ferretoam nesse domínio; outros, aquietados em
perfeita serenidade, extinguiram, na profundeza anímica, os últimos resquícios das
ardentes paixões carnais, contudo, apegam-se a míseros vinténs, convertendo a
vida num culto lastimável e exclusivo ao ouro que o chão reclamará. Muitos
ensinam o bem, com vigor e beleza nas palavras e com atitudes e atos que os
desabonam, não obstante as intenções respeitáveis que os animam, demonstrando
incapacidade no reger os próprios pensamentos e desintegrando com o verbo
impulsivo as boas obras que executam com as mãos. Não raros pratica o bem, mas
simplesmente para com aqueles a quem se inclina pela simpatia, negando-se a
ajudar quantos lhes penetram os círculos do agrado pessoal. Inúmeras pessoas se
reconfortam com o ensino religioso de santificação em seu interior, mas o
renegam na esfera de ação objetiva. Existem os que suportam o trabalho pela
Humanidade, durante certo número de anos, relegando-se, em seguida, a longo período
de inércia.
De todos eles, porém, toma o Governo da Vida boa conta dos serviços,
pequenos ou grandes, que hajam prestado, porquanto é da Lei que até as menores
sementes da nossa vida mental produzam a seu tempo.
Velho conhecido de minhas relações particulares assassinou
certo companheiro de luta, em deplorável momento de insânia, e, não obstante
ver-se livre da justiça humana, que o restituiu à liberdade, experimentou longo
martírio da consciência dilacerada, entregando-se, por mais de quatro decênios,
à caridade com trabalho ativo pelo bem do próximo.
Com semelhante procedimento, granjeou a admiração e o carinho
de vários benfeitores da Espiritualidade Superior, que o acolheram, solícitos,
quando afastado da experiência física, situando-o em lugar respeitável, a fim
de que pudesse prosseguir na obra retificadora. Pelos fios da amizade e da
colaboração que soube tecer, em volta do coração, para solucionar o seu caso,
conseguiu recursos para ir no encalço da vítima, que a insubmissão havia
desterrado para fundo despenhadeiro de trevas e animalidade. Não se fez dela
reconhecido, de pronto, de modo a lhe não perturbar os sentimentos,
auxiliando-a a assumir a aposição de simpatia necessária à receptividade dos benefícios
de que era portador; e, após lutar intensivamente pela sua transformação moral,
em favor do necessário alçamento, voltará as lides da carne, a fim de recebê-la
nos braços paternos.
Tendo subtraído ao irmão a oportunidade de viver e lutar no
campo terrestre, restituir-lhe-á o corpo perdido, ajudando-o a desenvolver-se
para a educação, entre as dádivas da existência comum.
Sofrerão juntos, a princípio, quando de volta à matéria
espessa, as velhas antipatias do pretérito, mas o homicida regenerado
conseguiu, por seus méritos, a graça de ser par e, nessa condição, é justo
esperar-lhe a vitória porque, na qualidade de progenitor, sentirá sublime
alegria em renunciar e sacrificar-se.
Quando os antigos inimigos adquirem o ensejo da convivência os
elos da consanguinidade, apreciável mérito já lhes assinala o caminho
evolutivo, porquanto, sob o mesmo teto, quando aceitam os imperativos do
verdadeiro amor, podem solidificar os alicerces da perfeita união. 
Quem conquistou o dom de ajudar, sem pedir remuneração,
penetrou o caminho de acesso efetivo à Espiritualidade Superior.
O crime passional do amigo a que me reporto não lhe valeu o
inferno sem-fim, segundo ensina a antiga teologia, mas custou-lhe vastíssimos padecimentos,
em benefício do reajuste, com enorme despesa de tempo, de vez que, se houvesse
suportado o adversário, com paciência, prescindiria de tantas e tão longas canseiras
de reparação.
Lembro-me aqui, igualmente, de velho lidador que se rodeou de
muitos servidores, dos quais reclamava obediência passiva, embora prestando incontestáveis
benefícios à paisagem que o viu nascer.
Amparou a terra e estabeleceu para as gerações mais novas a
instrução rudimentar, com o que instituiu grandes vantagens para muitas almas,
atraindo a simpatia de vários benfeitores do Plano Superior; mas era demasiado
cruel para com as criaturas que presumia inferiores. E, em razão disso,
instalou, com a autoridade de que dispunha, condenável sistema de punição para
trabalhadores que julgava relapsos. Com a medida infeliz, alguns servos se
viram depressa minados pela tuberculose fata. 
Invocada por suas exigências, a morte visitou-lhe a
propriedade, ceifando existências diversas e perturbando muitos programas da
Direção Mais Alta para o futuro. Atingindo a esfera espiritual, viu-se pungido
de acerbo remorso, mas, se errara por um lado, exagerando o castigo a homens
pobres, que ele não socorrera nem educara suficientemente, colaborara com
segurança e decisão por um padrão mais elevado de vida, no círculo que o vira
renascer, fazendo quanto lhe era possível pelo progresso comum.
Suas qualidades nobres acusavam superávit sobre as
imperfeições, o Governo Superior concedeu-lhe uma reencarnação expressiva, em
que lhe será facultado um título de médico, através do qual pretende o velho
lidador consagrar-se aos corpos doentes, muito especialmente no que se refere à
tisiologia, aprendendo a ajudar aos companheiros de luta humana e amenizando o
próprio coração.
A vida é uma corrente sagrada de elos perfeitos que vai do
capo subatômico até Deus, e, cada vez que, impenitentes ou distraídos, lhe
dilaceramos a harmonia, despendemos força, habilidade e tempo no reajuste.
A maneira que nos desenvolvemos em sabedoria e amor, consideramos
a perda dos minutos como sendo a mais lastimável e ruinosa de todas.
Dolorosa é a estagnação para que acorda em plena jornada; e,
compreendendo-se que a responsabilidade corre paralela ao conhecimento, o
serviço de reestruturação nem sempre é fácil ou acessível.
Ninguém suponha, contudo, deserdado ou esquecido, nem
acredite se cifre na morte do corpo a definitiva solução dos problemas do
espírito.
Continuamos aprendendo e progredindo, além da decomposição do
corpo carnal.
Em qualquer lugar e sob quaisquer condições, estamos dentro
da Eternidade.
Guardamos, cada dia, a colheita dos recursos e das emoções
que estamos realmente plantando.
Não existe infelicidade, senão aquela que decretamos para nós
mesmos.
As posições no mundo são provas ou prêmios, expiações ou experiências.
Todos possuímos créditos e todos estamos endividados, segundo
as qualidades enobrecedoras e as imperfeições deprimentes, suscetíveis de serem
analisadas em nossa conta pessoal.
Além do sepulcro, onde o denso veículo abandonado é simples resíduo
da alma imperecível, outras organizações associativas se levantam, nas quais a
entidade humana, quando ajustada à lei natural do progresso, encontra clima propício
às suas aspirações de amor e as suas necessidade de estudo.
Lares de luz, ninhos abençoados de união, aguardam aqueles
que se estimam e se congregam nos mesmos laços afins.
A face planetária é um todo imenso onde selvas, oceanos e desertos
guardam alguns núcleos de inteligência humana civilizada, comparativamente
reduzidos ante a amplitude do solo. Assim, a região que denominamos “espaço”,
nas vizinhanças do mundo, é um conjunto de natureza viva, acolhendo colônia de
ação evolutiva, círculos de trabalho regenerador e cidades esplêndidas, onde o
espírito da boa-vontade e da ciência encontra largos horizontes à alegria e à
pesquisa, no aprimoramento e no progresso.
Quanto mais sublimada a consciência e o coração, mais luz
divina a criatura poderá refletir.
Ante o irmão, que parte na direção da experiência que nos
seja desconhecia, façamos, pois silencia, quando não seja possível auxilia-lo com
expressões de estimulo, na certeza de que a vida é infinita e de que nossa alma
é imortal.
 
 

 
 
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