PENTATEUCO KARDEQUIANO

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OBRAS BÁSICAS

quinta-feira, janeiro 23, 2014

O PROBLEMADO SER, DO DESTINO E DA DOR - LÉON DENIS - X A MORTE, 3º CASO

O PROBLEMADO SER, DO DESTINO E DA DOR
LÉON DENIS
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA  –  32ª EDIÇÃO

TRECHO  DO  X  A  MORTE

3o caso — O Dr. Paul Edwards escrevia, em abril de 1903, ao diretor do Light, de Londres:
Aí por volta do ano de 1887, quando eu habitava uma cidade da Califórnia, fui          
chamado para junto da cabeceira de uma amiga a quem dedicava grande estima
e que se achava na hora extrema, em consequência  de uma doença do peito.
Toda gente sabia que essa mulher pura e nobre, essa mãe exemplar estava   
votada a morte iminente. Ela acabou também por assim o compreender e quis
então preparar-se para o grande momento. Tendo mandado vir os filhos para
junto do leito, beijava ora um, ora outro, mandando depois retirarem-se.
O marido aproximou-se por último para dar-lhe e receber o adeus supremo.
Achou-a na plena posse das suas faculdades intelectuais.
Ela começou por dizer:
— Newton (era o nome do marido), não chores, porque eu não sofro e tenho a
alma pronta e serena. Amei-te na Terra; continuarei a amar-te depois de partir.
É meu intento vir até ti, se me for possível; se não puder, velarei do Céu por ti,
por meus filhos, esperando a tua vinda.
Agora, o meu mais vivo desejo é ir-me embora... Avisto algumas sombras que
se agitam em volta de nós... todas vestidas de branco... Ouço uma melodia
deliciosa... Oh! aí está a minha Sadie! Está perto de mim e sabe perfeitamente
quem eu sou. (Sadie era uma filhinha que ela perderahavia dez anos.)
— Sissy — disse-lhe o marido —, minha Sissy, não vês que estás sonhando?!
— Ah! meu caro — respondeu a doente — , por que me chamaste?
Agora, custar-me-á mais a ir-me embora. Sentia-me tão feliz no Além, era tão              
delicioso, tão belo! Três minutos depois, aproximadamente, acrescentou a
agonizante:
— Vou-me novamente embora e, desta vez, não voltarei, ainda que me chames.
Durou esta cena oito minutos. Via-se bem que a agonizante gozava da visão
completa dos dois mundos ao mesmo tempo, porque falava das figuras que se
moviam ao seu derredor no Além, e, simultaneamente, dirigia a palavra aos
mortais deste mundo... Nunca me sucedeu assistir à morte mais impressionante,
mais solene.
Os Annales relatam igualmente grande número de casos em que o doente percebe aparições de defuntos, cujo falecimento ignorava. Cinco casos sensacionais encontram-se nos Proceedings of the S. P. R., de Londres.
Esses casos apoiam-se em testemunhos de alto valor.
O Sr. Ernesto Bozzano, ao terminar a sua exposição, pergunta se esses fenômenos poderiam ser explicados pela subconsciência ou pela leitura do pensamento. Conclui pela negativa e assim se exprime:115
Estas hipóteses pouco se recomendam pela simplicidade e não têm o dom
de convencer facilmente um investigador imparcial. É claro que, com
semelhantes teorias, tão embrulhadas e muito mais engenhosas do quesérias,
se ultrapassam as fronteiras da indução científica para entrar-se a todo pano
no domínio ilimitado do fantástico.116

Enfim, eis dois outros fatos publicados pelos Annales des Sciences Psychiques, de maio de 1911. Eles apresentam certos traços de analogia com os precedentes e, além disso, se enriquecem de pormenores, que nos ensinam como se opera, na morte, a separação entre o corpo fluídico e o corpo material.
A Sra. Florence Marryat escreve o que se segue no The Spirits’ World (O mundo dos espíritos, 128):
Conto entre meus mais caros amigos uma jovem, pertencente às altas
classes da aristocracia, dotada de maravilhosas faculdades mediúnicas.
Teve ela, há alguns anos, a infelicidade de perder sua irmã mais velha, então
com 20 anos, em consequência de uma forte pleurisia.
Edith (designarei por esse nome a jovem médium) não quis afastar-se
um só instante da cabeceira de sua irmã, e aí, em estado de clarividência,
pôde assistir ao processo de separação do Espírito da parte material.
Contava-me ela que a pobre doente, em seus últimos dias de vida terrestre,
se tinha tornado inquieta, sobre-excitada, delirante, voltando-se
incessantemente no leito e pronunciando palavras sem sentido.
Foi então que Edith começou a perceber uma espécie de ligeira
nebulosidade semelhante a fumaça, que, condensando-se gradualmente
acima da cabeça, acabou por assumir as proporções, as formas e os
traços da irmã moribunda, de modo a se lhe assemelhar por completo.
Essa forma flutuava no ar, a pouca distância da doente.
À medida que o dia declinava, a agitação da enferma minorava, sendo
substituída à tarde por prostração profunda, precursora da agonia.
Edith contemplava avidamente a irmã: o rosto tornara-se lívido, o olhar
obscurecia-se, mas, ao alto, a forma fluídica purpureava-se e parecia
animar-se gradualmente com a vida que abandonava o corpo.
Um momento depois, a criança jazia inerte e sem conhecimento sobre
os travesseiros, mas a forma se transformara em Espírito vivo. Cordões
de luz, no entanto, semelhantes a florescências elétricas, ligavam-se ainda
ao coração, ao cérebro e aos outros órgãos vitais.
Chegando o momento supremo, o Espírito oscilou algum tempo de um
lado a outro, para vir em seguida colocar-se ao lado do corpo inanimado.
Ele era, em aparência, muito fraco e mal podia suster-se.
E, enquanto Edith contemplava esta cena, eis que se apresentaram
duas formas luminosas, nas quais reconheceu seu pai e sua avó, mortos
ambos nessa mesma casa. Aproximaram-se do Espírito recém-nascido,
sustentaram-no afetuosamente e o abraçaram. Depois, arrancaram-lhe
os cordões de luz que o ligavam ainda ao corpo, e, apertando-o sempre
nos braços, dirigiram-se à janela e desapareceram.                                                                   W. Stainton Moses, pastor da Igreja Anglicana e um dos mais célebres médiuns de nossa época, publicou em Light:
Tive, recentemente e pela primeira vez na vida, ocasião de estudar
os processos de transição do Espírito. Aprendi tantas coisas dessa
experiência, que me louvo por ser útil a outros contando o que vi...
Tratava-se de um parente próximo meu, de quase 80 anos. Eu tinha
percebido, por certos sintomas, que seu fim estava próximo e corri
a preencher meu triste e último dever...
Graças a meus sentidos espirituais, podia verificar que em torno
e acima de seu corpo se formava a aura nebulosa com a qual o
Espírito devia preparar seu corpo espiritual; e percebia que ela ia
aumentando de volume e densidade, posto que submetida a maiores
ou menores variações, segundo as oscilações experimentadas na
vitalidade do moribundo.
Pude assim notar que, por vezes, um ligeiro alimento tomado pelo
doente ou uma influência magnética desprendida por pessoa que
dele se aproximasse, tinha como resultado avivar momentaneamente
o corpo. A aura parecia, pois, continuamente em fluxo e refluxo.
Assisti a esse espetáculo durante 12 dias e 12 noites e, se bem que ao
sétimo dia já o corpo tivesse dado sinais de sua iminente dissolução,
a flutuação da vitalidade espiritual em via de exteriorização persistia.
Pelo contrário, a cor da aura tinha mudado; esta última tomava, além
disso, formas cada vez mais definidas, à medida que a hora da libertação
se aproximava para o Espírito.
Vinte e quatro horas, somente, antes da morte, quando o corpo jazia
inerte, foi que o processo de libertação progrediu. No momento
supremo vi aparecer formas dos “anjos da guarda”, que se chegaram
ao moribundo e sem nenhum esforço separaram o Espírito do corpo
consumido. Quando, enfim, se quebraram os cordões magnéticos, os
traços do defunto, nos quais se liam os sofrimentos experimentados,
serenaram completamente e se impregnaram de inefável expressão de
paz e de repouso.




115 115 Annales des Sciences Psychiques, março de 1906, p. 171.
116 116 Notemos mais estes testemunhos: “Outro fato que se deve assinalar e de que fui testemunha”, disse
o Dr. Haas, presidente da Sociedade dos Estudos Psíquicos de Nancy, “é que, muitas vezes, poucos
instantes antes de morrer, alguns alienados recobram lucidez completa”. (Bulletin de la Société des Études
Psychiques de Nancy, 1906, p. 56.) O Dr. Teste (Manuel Pratique du Magnétisme Animal) declara,
igualmente, ter encontrado loucos que, na agonia, isto é, quando a consciência passa ao corpo fluídico,
recuperaram a razão.

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