Um
milionário do estado de São Paulo montou recentemente um cenário curioso e
instigante. (1) Ele anunciou nas redes sociais que enterraria seu carro Bentley
(de quase  1 milhão de reais) , no quintal da sua mansão. Para isso,
convidou a imprensa e cavou a cova com uma escavadeira, deixando um espaço
reservado para o “velório”. Todavia, durante a celebração revelou para os
presentes o real propósito do “enterro” do carrão. Disse que as pessoas estão
sepultando algo bem mais valioso que seu Bentley. Assinalou que enterrar um
coração, um rim, um fígado e outros órgãos, isso sim é loucura. Órgãos humanos
podem salvar a vida de várias pessoas. Proferiu que seu Bentley não é mais
valioso que órgãos humanos.  Portanto, não era louco para enterrar o
carro, apenas promoveu o “funeral” , a fim de chamar atenção para a causa
“doação de órgãos”, afirmando-se doador. 
Sobre o assunto doação de órgãos
para transplante há poucas informações concernentes sobrevindas dos Espíritos,
até porque é uma prática muito recente da ciência médica. Nos exercícios
médicos de todas as especialidades, o transplante de órgãos é a que demonstra,
com maior clareza, a estreita relação entre a morte e a nova vida. Sabemos
haver espíritas que são avessos à doação de seus próprios órgãos após a
desencarnação. Entretanto, a doação de órgãos para transplantes é
doutrinariamente correta. “Se a misericórdia divina nos confere uma organização
física sadia, é justo e válido, depois de nos havermos utilizado desse
patrimônio, oferecê-lo, graças as conquistas valiosas da ciência e da
tecnologia, aos que vieram em carência a fim de continuarem a jornada.”(2)
É importante fazermos a seguinte
reflexão: se, hoje, somos doadores, amanhã, poderemos ser (ou nossos familiares
e amigos) receptores de órgãos. “Para a maioria das pessoas, a questão da
doação é tão remota e distante quanto à morte. Mas, para quem está na “fila”
esperando um órgão para transplante, ele significa a única possibilidade de
vida! “Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de
prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual
o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a
plenitude – que é a vida em si mesma, estuante e real.” (3)
Em de entrevista, à TV Tupi, em
agosto de 1964, publicada na Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38,
Francisco Cândido Xavier comenta o seguinte: “transplante de órgãos, na opinião
dos Espíritos sábios, é um problema da ciência muito legítimo, muito natural e
deve ser levado adiante.” Os Espíritos, segundo Chico Xavier, “não acreditam
que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais. Pois é muito
natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos
prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com
proveito”. “(4)
Questão que também
invariavelmente é levantada é a rejeição do organismo após a cirurgia. O
Espírito André Luiz considera “a rejeição como um problema claramente
compreensível, pois o órgão do corpo espiritual está presente no receptor. O
órgão perispiritual provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos
imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir.”(5)
Especialistas, a partir 1967, “desenvolveram várias drogas imunossupressoras
(ciclosporina, azatiaprina e corticóides), para reduzir a possibilidade de
rejeição, passando então os receptores de órgãos a terem uma maior
sobrevida.”(6) Estatisticamente, o que há é que “a taxa de prolongamento de
vida dos transplantes é extremamente elevada. Isso graças não só às técnicas
médicas, sempre se aperfeiçoando, mas também pelos esquemas imunossupressores
que se desenvolveram e se ampliaram consideravelmente, existindo atualmente
esquemas que levam a zero por cento (0%) a rejeição celular aguda na fase
inicial do transplante, que é quando ocorrem.”(7)
André Luiz explica que “quando a
célula é retirada da sua estrutura formadora, no corpo humano, indo
laboratorialmente para outro ambiente energético, ela perde o comando mental
que a orientava e passa, dessa forma, a individualizar-se; ao ser implantada em
outro organismo [por transplante, por exemplo], tenderá a adaptar-se ao novo
comando [espiritual] que a revitalizará e a seguir coordenará sua
trajetória.”(8)
Outra coisa importante é que não
há reflexos traumatizantes ou cerceadores no perispírito, em correspondência à
mutilação do corpo carnal, ou seja, o doador de córneas, por exemplo, não
regressará “cego” ao Mundo Espiritual. Se fosse regra geral haver impacto do
corpo físico doador no corpo espiritual, o que seria daqueles que têm o corpo
carbonizado pelo fogo ou pulverizado numa explosão? O que dizer da cremação,
que reduz o cadáver a cinzas? A doação de órgãos para transplantes não afetará
o corpo espiritual do doador, a menos que acreditemos ser injusta a Lei de Deus
e estarmos no Planeta à deriva da Sua Suprema Vontade. Lembremos que nos Estatutos
do Criador não há espaço para a injustiça e o transplante de órgãos (conquista
da ciência) é valiosa oportunidade, dentre tantas outras, colocada à disposição
do homem para o exercício do amor.
Jorge Hessen
Referências bibliográficas:
(1) Disponível em
 http://ego.globo.com/famosos/noticia/2013/09/enterro-do-carro-de-chiquinho-scarpa-e-acao-favor-de-campanha.html
acesso em 30/10/2013
(2) Franco, Divaldo Pereira. Seara de Luz, Salvador: Editora LEAL
[o livro apresenta uma série de entrevistas ocorridas com Divaldo entre 1971 e
1990.]-
(3) Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, ditado pelo Espírito
Joanna de Angelis. Salvador/BA: Ed. LEAL, 1999, Cf. Cap. Transplantes de Órgãos
(4) Entrevista de Francisco Cândido Xavier, à TV Tupi, em agosto
de 1964, publicada na Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38,
(5) Cf. Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38
(6) Folha de S.Paulo, A3, “Opinião”, 15.Maio.2001
(7) Entrevista com o Prof. Dr. Flávio Jota de Paula Médico da
Unidade de Transplante Renal do HC/FMUSP. 1º Secretário da Associação
Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Diretor da I Mini Maratona de
Transplantados de Órgãos do Brasil. Publicado em Prática Hospitalar ano IV n º
24 nov-dez/2002
(8) Xavier, Francisco Cândido. Evolução em dois Mundos – Ditado
pelo Espírito André Luiz. 5ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed FEB, 1972, cap.
“Células e Corpo Espiritual”
 
 
 
 
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