PELO ESPÍRITO: ANDRÉ
LUIZ
PSICOGRAFIA:
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
CAPÍTULO 19 - PASSES
"O CASO DE DÉCIMA VEZ"
[...] Em seguida,
Anacleto passou a atender um cavalheiro, cujos rins pareciam envolvidos em
crepe negro, tal a densidade da matéria mental fulminante que os cercava.
Aplicou-lhe passes longitudinais, com muito carinho, e, finda a operação, observou-me:
– Um dia, compreenderá o homem comum a importância do
pensamento. Por agora, é muito difícil revelar-lhe o sublime poder da mente.
O chefe da assistência magnética ia estender-se, talvez, em considerações
educativas, mas um dos cooperadores do serviço aproximou-se e notificou-lhe
atencioso:
– Estimaria receber a sua orientação em um caso de “décima vez”.
Trata-se do nosso conhecido, que apresenta graves perturbações no baço.
Extremamente surpreendido, acompanhei Anacleto, que se
dirigiu para um dos recantos da sala.
À nossa frente estava um cavalheiro idoso, que o Orientador examinou
com atenção. Por minha vez, observei-lhe o fígado e o baço, que acusavam enorme
desequilíbrio.
– Lastimável! – exclamou o chefe do auxílio, depois de longa
perquirição. – Entretanto, apenas poderemos aliviá-lo.
Agora, após dez vezes de socorro completo, reciso
deixá-lo entregue a si mesmo, até que adote nova resolução.
E, dirigindo-se ao auxiliar, acentuou:
– Poderá oferecer-lhe melhoras, mas não deve alijar a carga de
forças destruidoras que o nosso rebelde amigo acumulou para si mesmo. Nossa
missão é de amparar os que erraram, e não de fortalecer os erros.
Percebendo-me o espanto, Anacleto explicou:
– Nosso esforço é também educativo e não podemos
desconsiderar a dor que instrui e ajuda a transformar o homem para
o bem. Nas normas do serviço que devemos atender, nesta Casa, é imprescindível
ajuizar das causas na extirpação dos males alheios. Há pessoas que procuram o
sofrimento, a perturbação, o desequilíbrio, e é razoável que sejam punidas
pelas consequências de seus próprios atos. Quando encontramos enfermos dessa condição,
salvamo-los dos fluidos deletérios em que se envolvem por deliberação própria,
por dez vezes consecutivas, a título de benemerência espiritual. Todavia, se as
dez oportunidades voam sem proveito para os interessados, temos instruções superiores
para entregá-los à sua própria obra, a fim de que aprendam consigo mesmos.
Poderemos aliviá-los, mas nunca libertá-los.
Depois de ligeira pausa e sentindo que eu não me atreveria a
interromper-lhe os
preciosos ensinamentos, Anacleto prosseguiu:
– Este homem, não obstante simpatizar com as nossas atividades
espiritualizantes, é
portador de um temperamento menos simpático, por extremamente caprichoso.
Estima as rixas frequentes, as discussões apaixonadas, o império de seus pontos
de vista. Não se acautela
contra o ato de encolerizar-se e desperta incessantemente a cólera e a mágoa
dos que lhe desfrutam a companhia.
Tornou-se, por isso mesmo, o centro de convergência de intensas
vibrações destruidoras. Veio ao nosso grupo em busca de melhoras, e, desde há
muitas semanas, buscamos orientá-lo no serviço do amor cristão, chamando-lhe a
consciência à prática
de obrigações necessárias ao seu próprio bem-estar. O
infeliz, porém, não nos ouve. Adquire ódios com facilidade temível e não percebe
a perigosa posição em que se confina. Frequenta-nos há pouco mais de três meses
e, durante esse tempo, já lhe fizemos as dez operações de socorro magnético
integral, alijando-lhe as cargas malignas, não só dos pensamentos de angústia e
represália que ele provoca nos outros, mas também dos pensamentos cruéis que
fabrica para si. Agora, temos de interromper o serviço de libertação por algum
tempo. A sós com a sua experiência forte, aprenderá lições novas e ganhará
muitos valores. Mais tarde, receberá, de novo, o socorro completo.
Profundamente edificado com o processo educativo, ousei perguntar:
– Qual a medida de tempo estipulada para os casos dessa natureza?
O interlocutor, porém, assumindo atitude discreta, contornou
a pergunta e respondeu:
– Varia de acordo com os motivos. O efeito obedece à causa.
Anacleto prosseguia auxiliando, enquanto eu me perdia em
profundas considerações de ordem superior. Depois de partir os laços carnais,
compreendemos, com mais clareza e intensidade, a função da dor no campo da
justiça edificante. Aquela permanência de minutos, junto ao serviço de
assistência magnética, renovava-me as concepções referentemente a socorros e corrigendas.
O Senhor ama sempre, mas não perde a ocasião de aperfeiçoar, polir, educar...
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