NO INVISÍVEL
- LÉON DENIS
XX -
Aparições e materializações de Espíritos
São os
fenômenos de aparição e materialização os que mais vivamente impressionam os
experimentadores. Nas manifestações de que precedentemente nos ocupamos, o
Espírito atua por meio de objetos materiais ou de organismos estranhos. Vamos
agora apreciá-lo diretamente em ação. Cônscio de que entre as provas de sua
sobrevivência nenhuma é mais convincente que sua vida terrestre - vai procurar
o Espírito reconstituir essa forma por meio dos elementos fluídicos e da força
vital hauridos nos
assistentes.
Em certas
sessões, na presença de médiuns dotados de considerável força psíquica, vêem-se
formar mãos, rostos, bustos e mesmo corpos inteiros, que têm todas as
aparências de vida: calor, tangibilidade, movimento. Essas mãos nos tocam, nos acariciam ou
batem; mudam de lugar os objetos e fazem vibrar os instrumentos de música; esses rostos
se animam e falam; esses corpos se movem e passeiam por entre os assistentes.
Pode-se agarrá-los, palpá-los; depois, eles se desvanecem num repente, passando
do estado sólido ao fluídico, após efêmera duração.
Assim como os
fenômenos de incorporação nos iniciam nas leis profundas da Psicologia, a
reconstituição das formas de Espíritos nos vai familiarizar com os estados
menos conhecidos da matéria. Mostrando-nos que ação pode a vontade exercer
sobre os imponderáveis,
ela nos fará penetrar nos mais íntimos segredos da Criação, ou, antes, da
renovação perpétua do Universo.
Sabemos que o
fluido universal, ou fluido cósmico etéreo, representa o estado mais simples da
matéria; sua sutileza é tal que escapa a toda análise. E, entretanto, desse
fluido procedem, mediante condensações graduais, todos os corpos sólidos e
pesados que constituem a base da matéria terrestre. Esses corpos não são tão
densos, tão compactos como parecem. Com a maior facilidade os atravessam os
fluidos, assim como os próprios Espíritos. Estes, pela concentração da vontade,
secundados pela força psíquica, os podem
desagregar, dissociar-lhes os elementos, restituí-los ao estado fluídico, depois transportá-los e os reconstituir em seu
primitivo estado. Assim se explica o fenômeno dos
transportes.
Percorrendo
sucessivos graus de sua rarefação, a matéria passa do sólido ao líquido, depois
ao estado gasoso, e finalmente ao estado de fluido. Os corpos mais duros podem
assim voltar ao estado etéreo e invisível. Em sentido inverso, o fluido mais
sutil se pode gradualmente converter em corpo tangível e opaco. Toda a Natureza
nos mostra o
encadeamento das transformações que conduzem a matéria, do éter mais puro ao
mais grosseiro estado físico.
A medida que
se rarefaz e se torna mais sutil, a matéria adquire novas propriedades,
potências de intensidade progressiva. Disso nos fornecem exemplos os
explosivos, as
radiações de certas substâncias, o poder de penetração dos raios catódicos, a
ação a grande
distância das ondas hertzianas. Por eles, somos levados a considerar o éter
cósmico o meio em que a matéria e a energia se confundem, o grande foco das
atividades dinâmicas, a fonte das inesgotáveis forças que a vontade divina
impulsiona e donde se expandem, em ondas
incessantes, as harmonias da vida e do pensamento eterno.
Pois bem! - e
aqui vai a questão adquirir amplitude inesperada - a ação exercida pelo poder
criador sobre o fluido universal para engendrar sistemas de mundos, vamos de
novo encontrá-la num plano mais modesto, porém submetida a leis idênticas, na
ação do Espírito a
reconstituir as formas transitórias que estabelecerão, aos olhos dos homens,
sua existência e identidade.
As próprias
nebulosidades, agregados de matéria cósmica condensada, germens de mundos, e que na profundeza dos espaços nos
mostram os telescópios, vão reaparecer na primeira fase das materializações de
Espíritos. assim que a experimentação espírita conduz às mais vastas
conseqüências. A ação do Espírito sobre a matéria nos pode fazer compreender de
que modo se elaboram os astros e se consuma a obra gigantesca do Cosmo.
Na maior
parte das sessões, distinguem-se, ao começo, cúmulos nebulosos em forma de ovo;
depois, listões fluídicos brilhantes, que se desprendem, quer das paredes e do soalho, quer das
próprias pessoas, se avolumam pouco a pouco, se alongam e se tornam formas
espectrais.
As
materializações são infinitamente graduadas. Os Espíritos condensam suas formas de modo a, em
primeiro lugar, serem percebidos pelos médiuns videntes. Estes descrevem a
fisionomia dos manifestantes, e o que descrevem é depois confirmado pela
fotografia, tanto à claridade do dia como à luz do magnésio 189. Sabe-se que a placa sensível é mais
impressionável que o olho humano. Num grau superior a materialização se completa; o Espírito
torna-se visível para todos; deixa-se pesar; seus membros podem deixar
impressões, moldes, em substâncias plásticas.
Em tudo isso
a fiscalização deve ser muito rigorosa. É preciso preservar-se cuidadosamente
de todas as causas de erro ou ilusão. Convém por isso recorrer, tanto quanto possível,
aos aparelhos registradores e à fotografia.
Vejamos, em
primeiro lugar, os casos em que foi possível conseguir na placa as imagens de
Espíritos, invisíveis para os assistentes.
Se têm sido
cometidos numerosos abusos e fraudes, nessa ordem de fatos são abundantes, em compensação, as
experiências e os testemunhos sérios
O acadêmico
inglês Russel Wallace, experimentando em sua própria casa, com pessoa de sua
família, obteve uma fotografia do Espírito de sua mãe, em que um desvio do
lábio constituía uma prova convincente de identidade. O médium vidente havia
descrito a aparição antes de terminada a "pose", e verificou-se que
era exata a descrição. 190
O pintor
Tissot, célebre pelas ilustrações de sua "Vida de Jesus", obteve uma
prova que não é menos admirável: a fotografia de um grupo composto do corpo
físico e do corpo fluídico do médium, desdobrado, simultaneamente, com a de um
Espírito desencarnado e o do experimentador. 191
Análogas
comprovações foram feitas pelos Doutores Thompson e Moroni, pelos professores
Boutlerov e Rossi-Pagnoni e pelo Sr. Beattie, de Bristol. Todos eles adotaram
as mais minuciosas precauções. Pode ler-se em "Animismo e
Espiritismo", de Aksakof, cap. I, a narrativa minuciosa das
experiências do Sr. Beattie.
Na primeira
série dessas experiências, uma forma humana se desenhou na placa à décima oitava exposição.
Mais tarde, o Dr. Thompson se associou às investigações, e obteve-se uma série de cabeças, perfis e
formas humanas, ao começo vagas, depois cada vez
mais distintas, todas as quais haviam sido previamente descritas pelo médium em
transe. As vezes operava-se às escuras. Aqui está o que diz Aksakof 192
"Nessas
experiências nos achamos em presença, não de simples aparições luminosas, mas
de condensações de uma certa matéria, invisível à nossa vista, e que ou é de si
mesma luminosa ou reflete na placa fotográfica os raios de luz, à ação dos
quais a nossa retina
é insensível. Que se trata aqui de uma certa matéria, prova-o o fato de que ora
é tão pouco compacta que deixa ver através das formas das pessoas presentes, ora é tão densa que cobre
a imagem dos assistentes. Num dos casos a forma aparecida é negra."
Como se vê,
Aksakof acredita conosco que se não poderiam explicar essas manifestações sem a
existência de um fluido, ou éter, substância manipulada por seres inteligentes
invisíveis. É o que imprime ao fenômeno - pensa ele - um duplo caráter, ao mesmo tempo material,
no estrito sentido da palavra, e intelectual, pela intervenção de uma vontade
que trabalha artificialmente essa matéria invisível, com determinado fim.
Mumler,
fotógrafo profissional, obtinha nas placas as imagens de pessoas falecidas.
Intentaram-lhe um processo por dolo, mas não pôde ser descoberta fraude alguma e o fotógrafo ganhou
a questão.
Não somente o
inquérito judiciário estabeleceu o fato da produção, nas placas, de figuras humanas
invisíveis à vista desarmada, como também doze testemunhas declararam ter
reconhecido nessas figuras as imagens de parentes seus já falecidos. Mais ainda: cinco testemunhas, entre
as quais o grande juiz Edmonds, depuseram que haviam sido produzidas, e foram
reconhecidas, imagens de pessoas que em vida nunca se tinham fotografado 193. Obteve-se mesmo, no caso do Senhor
Bronson Murray 194, a efígie de pessoas
falecidas, na ausência de toda testemunha que as houvesse conhecido na Terra.
Conseguiu-se
fotografar as sucessivas fases de uma materialização. Em meu poder conservo uma
série de reproduções, que devo à gentileza do Sr. Volpi, diretor do
"Vessillo", de Roma, cuja integridade está acima de qualquer
suspeita. Representam as aparições graduais da forma de um Espírito, muito vaga
à primeira. exposição, depois cada vez mais condensada, e, por último, visível
para o médium, ao mesmo tempo que impressiona a placa fotográfica.
189 Aksakof -
"Animismo e Espiritismo", cap. I.
190 A.
Russel Wallace - "Les Miracles et le Moderne Spiritualisme", pág.
255.
191 "Revue Parisiense", junho de 1899.
192 Aksakof, ob. cit., cap. I.
193
Aksakof. ob. cit., cap. I.
194 Idem , Ibidem.
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