PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

sábado, fevereiro 19, 2011

ATENDIMENTO FRATERNO

PERFIL DO ATENDENTE FRATERNO

Equipe do Projeto

Uma descoberta importante feita por profissionais da Psicologia foi que a eficácia da ajuda possível de ser prestada a alguém por um terapeuta não depende tanto da escola psicológica a que o mesmo está vinculado, mas, sobretudo, a valores subjetivos relacionados com o seu comportamento — diríamos, seu carisma, o amor que irradia — que o torna uma pessoa dotada de qualidades interpessoais relevantes e qualidades íntimas (força interior) que o credenciam para o trabalho.

Em sendo uma pessoa tolerante (sem ser conivente), expressará um respeito e uma aceitação incondicionais em relação ao ajudado, separando sempre o ser, o Espírito, da problemática que o inquieto, que deverá ser vista como um jugo, um acessório incômodo que a personalidade assumiu e, portanto, temporário, que nada tem a ver com aquele ser de humanas paixões, mas de essência divina, que lhe cabe amar com todas as veras de seu sentimento.

De posse dessa compreensão terá facilidade em ser autêntico (sem ser grosseiro), pois no espaço do Atendimento Fraterno não há campo para dissimulação da parte de quem atende que deverá expressar sentimentos com sinceridade e interesse real de ajudar. Quando dizemos sinceridade, não estamos aconselhando que a pretexto de ser real, se deixe de guardar as conveniências e o bom tom.

O atendente fraterno será sempre uma pessoa comedida e discreta, dosando aquela informação cujo teor integral o ajudado não teria ainda condições de suportar. Somente assim ele inspirará confiança e perceberá adequadamente os sentimentos e emoções do outro a quem ajuda, recebendo a inspiração dos bons Espíritos e transformando aquela vivência confusa e deformada da pessoa a quem atende em algo compreensível e passível de renovação.

É um dos objetivos do Atendimento Fraterno levar o atendido a essa compreensão de si mesmo (ainda que em níveis superficiais, no início) para que ele atendido — seja capaz de flexibilizar suas crenças pouco racionais e lógicas e alterar os seus valores, a forma de ver a vida e a própria situação, tornando-se mais otimista, para, a partir daí, fazer uma programação de vida, traçar um roteiro evolutivo que envolva a superação das dificuldades na ocasião apresentadas.

Não cabe ao atendente fraterno passar receitas prontas, encaminhar soluções que saiam exclusivamente de sua cabeça. É preciso a adesão, a “cumplicidade” do atendido, que deverá estar disposto a assumir a rédea da própria vida. Bom mesmo será quando o ajudado tomar a orientação que recebe (discretamente) como uma descoberta sua, porque, nesse caso, ele se aplicará com mais energia ao esforço pela superação de obstáculos. Voltaremos a esse assunto mais adiante, no capítulo seguinte.

É da responsabilidade da Direção da Casa estabelecer o perfil ideal do atendente fraterno, que será passado ao Coordenador do serviço que, por sua vez, se incumbirá de organizar um processo seletivo capaz de identificar esses valores humanos e incorporá-los ao trabalho.

Digamos que um perfil apropriado englobaria duas ordens de requisitos: os humanos básicos e os de natureza doutrinária.

Entre os primeiros alinham-se as seguintes qualidades: saber ajudar-se, ou seja, a pessoa já ter uma equação de vida bem delineada; interesse fraternal por outras pessoas, que sintetizaremos com a expressão: gostar de gente; bom repertório de conhecimentos, não apenas do ponto de vista informativo, mas também vivencial; hábito de oração e de estudo — oração para mantê-lo na sintonia com os bons Espíritos, e estudo para mantê-lo atualizado e em condição de compreender as pessoas; ser pessoa moralizada, ou seja, estar conscientemente vivendo mais em função da essência — o Espírito — que da aparência — a vida transitória do corpo e dos prazeres —; equanimidade, ponderação, equilíbrio emocional, paciência e segurança, que constituem um leque de conquistas emocionais e psíquicas que o capacitam a lidar com situações desafiadoras.

Entre os requisitos doutrinários ou relacionados com a vivência espírita incluiríamos: integração nas atividades do Centro e conhecimento da sua estrutura de funcionamento; familiaridade com o Evangelho de Jesus; conhecimento da Doutrina Espírita — obras básicas da Codificação e obras complementares sobre mediunidade e obsessão/desobsessão, especialmente as de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda; obras sobre educação e comportamento humano — e, por fim, competência para aplicar passes.

No primeiro grupo de requisitos, os referentes às qualidades humanas, numeras outras além das apresentadas poderiam ser aventadas. Em verdade, toda e qualquer qualidade humana soma para a eficiência do atendimento. A nossa intenção não é, nem poderia ser, esgotá-las, mas levantar o rol das principais, segundo nossa óptica.

Algumas qualidades e requisitos não foram incluídos por estarem relacionados com o próprio crescimento do atendente na tarefa e que se adquirem com a prática. Entre estes está a empatia que é o sentir dentro, ou seja, profundamente, a sensibilidade para intuir ou perceber a experiência do outro. Este tema será objeto de um estudo mais detalhado no capítulo 7. O Atendimento Fraterno, conquanto seja uma atividade que requer dos atendentes a posse de habilidades interpessoais, na dinâmica da Casa Espírita assume um caráter eminentemente inspirativo, em que atendentes e atendidos são auxiliados pelos bons Espíritos que se vinculam à tarefa, os primeiros, recebendo intuições quanto à natureza dos problemas enfocados e as sugestões a serem fornecidas para a solução dos mesmos e os segundos, recebendo o apoio emocional indispensável, a fim de que tenham confiança para se desvelarem.

AS FASES DO ATENDIMENTO

A Equipe do Projeto

Uma questão levantada por psicólogos foi identificar que habilidades possuem as pessoas denominadas significativas (as que têm jeito para ajudar) que as tornam interessantes em relação às demais e se essas habilidades poderiam ser sistematizadas, a fim de ensinadas em cursos formais para profissionais da ajuda ou, informalmente, para quantos se interessam pelos outros. Acreditando ser isso possível, Robert R. Carkhuff definiu os grupos principais dessas habilidades interpessoais, conforme citadas na Obra de Clara Feldmam: Construindo a Relação de Ajuda:

ATENDER: expressar de forma indireta (não verbalmente) disponibilidade e interesse pelo ajudado;

RESPONDER: demonstrar, por gestos e palavras, compreensão por ele, correspondendo-lhe à expectativa pessoal;

PERSONALIZAR: conscientizá-lo de que é uma pessoa ativa, com responsabilidade no seu problema, e capaz de solucioná-lo;

ORIENTAR: saber avaliar, com ele, as alternativas de ação possíveis, de modo a facilitar-lhe a escolha (que é dele) da ação transformadora.

Estamos denominando esses quatro grupos de habilidades do atendente fraterno ou ajudador, fases do processo de ajuda, porque elas estão seqüenciadas e ordenadas de forma invariável. Uma depende da outra, a primeira sendo pré-requisito para a segunda e assim por diante. Por exemplo: não se pode orientar sem antes personalizar, ou seja: delinear metas para ajudar o atendido sem antes levá-lo à compreensão de sua experiência, da mesma forma que o personalizar depende de um conveniente responder, este de um adequado atender, tendo-se como certo que a má preparação de cada uma dessas fases pode comprometer irremediavelmente a fase seguinte e o próprio atendimento.

Estabeleceu, ainda, o psicólogo americano citado. que a cada grupo de habilidades (ou fases) referidas corresponde uma reação favorável no ajudado, que deve ser cuidadosamente observada.

Assim sendo, quando o ajudador (atendente fraterno) atende, e atende bem, o ajudado envolve-se, ou seja, adquire a capacidade de se entregar, confiante, ao processo de ajuda. Quando o ajudador responde bem, o ajudado explora-se, ou seja: adquire a condição emocional para perceber a situação em que se encontra naquele momento em que pede ajuda. Durante o personalizar deve acontecer o processo do compreender no ajudado ou seja:

— ele ir mais fundo no exame de si mesmo a ponto de estabelecer, pela reflexão, ligações de causa e efeito entre os vários elementos presentes na sua

experiência de vida de modo a definir aonde quer chegar. Por fim, a capacidade de orientar abre, no ajudado, a possibilidade para o agir, que é o

movimento interno da alma para sair de uma posição psicológica desfavorável

para outra mais adequada e felicitadora.

Essa trajetória, que vai do envolver-se à ação trans-formadora, talvez não aconteça plenamente num único encontro. Que hajam outros, não necessariamente com o mesmo atendente fraterno, e, por isso, voltamos a enfatizar a importância de se dispor, no Centro Espírita, de uma equipe coesa e que vibre em uníssono sob a regência de idênticos princípios.

Quando nos referimos a um termo para o processo, não falamos de modo absoluto, porque o processo formal do Serviço cede lugar naturalmente para a vivência espírita, (quando o ajudado adere ou se vincula) ou para a atuação social para onde converge, em última análise, o produto do Atendimento Fraterno. Isto se consubstancia no fato de que um dos efeitos mais salutares que ocorre naquele que passou pelo Atendimento Fraterno, e honestamente se permitiu ser ajudado, é a capacidade que adquire de escolher, de futuro, novos e eficientes ajudadores, acelerando o seu processo de transformação íntima e crescimento espiritual.

Agora, é de obrigação, para maior clareza, que detalhemos as habilidades de que se compõem cada grupo ou fase do processo de ajuda:

ATENDER envolve desde o cuidado com o ambiente físico (decoração, conforto, pessoal de recepção) ao próprio comportamento de polidez e de interesse do Atendente, que deverá saber receber, ter postura adequada durante a entrevista, aproximar-se (não criar distâncias por superioridade ou excesso de formalismo), prestar atenção (concentrando-se para ouvir bem e

observar as reações do outro).

Queremos particularizar, neste tópico, uma habilidade especial: o saber ouvir, que, além de impressionar positivamente pelo grau de empatia que vincula ajudador e ajudado, assegura, através da memorização, a evocação dos elementos fáticos e opinativos que o ajudado expressa, favorecendo a orientação.

Nada pior do que um ajudador que não presta atenção e que a cada momento precisa recapitular com perguntas o que ouviu.

É nessa fase do ouvir que começa a brotar na mente do Atendente a inspiração dos bons Espíritos, que deve ser guardada para, no momento próprio, nas fases seguintes, do atendimento, basear a sua orientação.

RESPONDER não significa tão somente a devolução de respostas às perguntas formuladas pelo atendido. Responder perguntas é só uma parte desta fase. Responder é identificar e confirmar com o próprio ajudado o seu problema principal, escoimando-o dos acessórios inúteis de sua mente em confusão. E expressar com os próprios, os sentimentos do outro. É, enfim, perceber a linguagem corporal do outro e o que ela representa como mensagem a ser correspondida adequadamente.

Não há destaque no Atendimento Fraterno para o ato de perguntar como iniciativa do atendente, porque a ele pouco é dado perguntar, só o devendo fazer nas seguintes ocasiões:

— Quando não entendeu;

— Quando o ajudado, mesmo estimulado, não consegue se expressar, não consegue traduzir seus sentimentos ou está perdido no âmbito de suas divagações.

PERSONALIZAR é o momento do ajudado se descobrir como pessoa, perceber o fato de que não é um passivo diante de sua experiência, mas um atuante, uma pessoa responsável por seus atos, pensamentos e emoções, alcançando a compreensão de que os outros podem ser, tão somente, agentes estimuladores dessas emoções (positivas ou negativas). A partir dai, torna-se consciência de deficiências que precisam ser alijadas e qualidades a ser aperfeiçoadas no esforço da reconquista do equilíbrio íntimo.

Este é um processo muitas vezes doloroso, mas necessário, por ser a antecâmara do autodescobrimento, que só pode ser alcançado pelos caminhos do amor, quando o atendente é capaz de passar essa chama divina, através de palavras e atitudes gentis, e quando o atendido é capaz de recebê-la através de uma entrega confiante e esperançosa.

É por esta razão que se afirma serem as duas fases iniciais do atendimento, o atender e o responder, praticamente definidoras do sucesso da ajuda, pois estes são os momentos do contato pessoa a pessoa em que o amor deve penetrar a alma do atendido predispondo-o à transformação. É preciso que haja uma certa instantaneidade, como uma reação química, para que esse fogo divino — o amor — passe de um indivíduo para outro, sendo esta a razão para o sucesso dos Atendentes Fraternos carismáticos e afetuosos.

Implantada a confiança pelo amor, o parto do auto-descobrimento se dá, em níveis mínimos que sejam compatíveis com o estágio consciencial de cada um; predisposto estará o atendido para receber a orientação, como um campo a ser semeado, prenunciando uma colheita futura de bênçãos. Isto porque a semente — a Doutrina Espírita — é de excelente qualidade.

ORIENTAR será a parte mais fácil, se o Atendente conhece a Doutrina, cabendo-lhe organizar a sua expressão de forma clara e simples para transferi-la para o atendido como informações práticas, a partir das quais se definirá um plano de ação, que o atendido deverá seguir por iniciativa própria, objetivando a solução almejada.

Bibliografia:

Clara Feldman de Miranda.

Márcio Lúcio de Miranda — Construindo a Relação de Ajuda — Edição

Crescer, Belo Horizonte, MG.

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