PENTATEUCO KARDEQUIANO

PENTATEUCO  KARDEQUIANO
OBRAS BÁSICAS

sexta-feira, abril 13, 2007

Supostas contradições do Espiritismo – 1ª PARTE

À Margem do Espiritismo - Carlos Imbassahy * 09 SET 1883 + 04 AGO 1969

Vamos analisar aqui a obra do rev. M..., que conseguiu enfeixar, num seu livrinho, grande número de contradições do Espiritismo, sendo, talvez, o seu maior coletor.
Cá estamos na árdua tarefa: árdua, não pela sua dificuldade, senão pelo longo caminho a percorrer, acompanhando, ponto por ponto, todas as razões apresentadas pelo nosso caro irmão em Jesus.
A 1ª razão, enfeixada num capítulo, denomina-se “O Espiritismo peca pela base”. E a base desse pecado do Espiritismo – di-lo o pastor -, está na dificuldade de identificação dos Espíritos e, conseguintemente, no trabalho que compete ao homem para firmar a verdade.
O Reverendo não queria ter grandes trabalhos: a verdade deveria estar-lhe ao alcance da mão, como frutas opimas em árvore de pequeno tamanho. Só assim ele compreenderia o Espiritismo.
A 2ª razão por que o Reverendo não pode ser espírita está em ser “O Espiritismo contraditório”.
É este o título do 2º capítulo. Aí o autor apresenta 18 contradições que foi apanhar aos livros de Allan Kardec e que são, a seu ver, “o sinal mais evidente do erro, da falência moral”!
Os Espíritos que eram os ensinamentos kardecianos “se contradizem a olhos vistos” e o Reverendo passa a demonstrar:
Cristo: homem-Deus
3. O Evangelho dos Espíritos diz: “Longe, bem longe de nós, filhos, as crenças retrógradas que fazem de um Deus homem.” Mas “O Livro dos Espíritos”, n. 1009, afirma: “Jesus-Cristo, o Homem-Deus”. Qual das duas proposições é verdadeira na boca dos “guias” de além-túmulo? Ambas, bom amigo. Quando se fala no homem-Deus, quer-se dizer o homem que tem qualidades de Deus, atributos de Deus, virtudes de Deus. Está isto muito longe da afirmativa de que o homem é Deus. É ainda uma questão de letra. Lendo-se toda inteira a comunicação do apóstolo, na qual está a expressão, para logo se lhe vê o espírito e se percebe que o comunicante nunca pretendera que fosse Deus a figura do Cristo, “o arquétipo humano”, como lhe chama. Quando alguém, aludindo a um aviador notável, fala no “homem-pássaro”, ninguém irá supor que se trate de um verdadeiro pássaro com garras, bico e penas, senão de um homem que teve feitos de pássaro. A imagem é fulgentíssima àquele que não tem a mira posta em fazer crítica demolidora. Com o firmar que o ser humano não é um animal, na sua significação zoológica, não ficamos impedidos de usar das muitas frases com que damos a entender as qualidades, vícios ou instintos que ele ainda possui. O homem-tigre, o homem-rato, o homem-gato, o homem-raposa, o homem-macaco, o homem-abutre, o homem-elefante, o homem-carneiro, o homem-borboleta, o homem-toupeira, o homem-preguiça, o homem-condor, o homem-águia, são expressões usuais, e quem as emprega quer dizer que o homem possui, daqueles irracionais, os atributos: - do tigre a fereza, do rato a ladroagem, do gato a agilidade, da raposa, a astúcia, do macaco as artimanhas, do abutre a rapacidade, do elefante a corpulência, do carneiro a submissão, da borboleta a inconstância, da toupeira a estolidez, da preguiça a indolência, do condor os remígios, da águia a realiza.

Espírito e perispírito
Passemos, agora, à 4ª contradição. Consiste ela na definição dada a “espírito” e “perispírito”, dizendo os guias que aquele era “matéria quintessenciada” e este “como quintessência da matéria”.
Onde há contradição nisto, não sabemos. O com que, talvez, se atrigasse o pastor, foi sobre a semelhança das definições. Tratar-se-ia, então, de pobreza de linguagem, nunca, porém, de idéias que se opõem.
Aliás, é perfeitamente explicável e justificável o fato: espírito e perispírito são mais ou menos da mesma natureza; ambos desconhecidos para nós, ambos difíceis de definir. Na impossibilidade de achar, no vocabulário humano, expressão capaz de nos dar uma idéia perfeita do que fosse um e outro, é possível que o comunicante não tivesse outro recurso senão o de lançar mão de frases que quase se equivalem.

Fieira do mal
E como de minimus non curat pretor, vamos à contradição 5ª. É do autor o seguinte tópico: “O Livro dos Espírito”, pág. 46: “Todos os Espíritos passam pela fieira do mal para chegarem ao bem?” Resposta: “Pela do mal, não; pela ignorância, sim” Agora, pág. 48: “Os Espíritos chegados ao supremo grau, depois de haverem passado pelo mal, etc.”
Quem poderá entender isto? passam ou não passam os Espíritos pela estrada do mal?
Entenderá quem ler com atenção, quem não cortar as frase, quem não suprimir uma interrogação, quem não confundir uma pergunta com uma resposta, quem não tomar uma indagação do consulente como uma definição do espaço.
Vamos completar a última frase, a da pág. 48, tal como se encontra no Kardec, e veremos que é imperdoável a dúvida.
126. Os Espíritos chegados ao supremo grau, depois de haverem passado pelo mal, têm aos olhos de Deus menos merecimento que os outros?
Trata-se, como se vê, de uma pergunta. A suposta frase contraditória não é uma resposta dos Espíritos, senão uma explicação que se lhes pede.

A figura simbólica de Adão
Passemos à contradição 6ª.
Esta reside no fato de dizerem os Espíritos que – “aquele a quem chamais Adão não foi o 1º homem nem o único que povoou a Terra”, e em nota declarar o Kardec: “Alguns Espíritos consideram Adão um mito.” E o autor então interroga: - Adão foi homem ou não foi homem? Foi só figura ou o que é que foi?
Antes de entrar na suposta divergência digamos que, ainda mesmo que ela existisse, natural seria que determinados Espíritos dessem um ensinamento a Kardec e este, lealmente, viesse declarar a opinião dos outros.
É como se nós fizéssemos um obra baseada nos testemunhos e pareceres dos doutos e em certa passagem declarássemos:
A e B afirmam isto, mas C e D opinam aquilo. Infirmava essa divergência o valor total da obra ou seu autor poderia ser inquinado de contraditório?
Mas, nem este caso mesmo se nos oferece. Para bem compreender-se o assunto, digamos, em síntese, como se teria dado o chamado pecado original:
Viviam felizes os seres ou alguns seres; moravam em regiões edênicas; manifestando-se-lhes a volição, desobedeceram às prescrições do Senhor e enveredaram pelo mal. Foram, então, expulsos para mundos inferiores, vindo para a Terra, estes que têm sido os nossos companheiros de infortúnio.
Não era uma criatura, mas muitas criaturas; todas tocaram no fruto proibido – o que lhes era vedado pelo Pai. – Foram banidos do Paraíso, que era essa região onde não estavam submetidos às provas de agora.
Compreende-se, pois, que digam uns que aquele a que chamamos Adão, isto é, aquele que procedeu como Adão, que foi expulso como Adão, não fosse o único – visto como, de fato, foram muitos.
Não erram, porém, os que consideram um mito a descrição bíblica, porque os fatos não se passaram segundo a letra, e, tais como nos são descritos, fogem à realidade dos acontecimentos; não deixam de ser uma alegoria.
E aí têm como Adão representa muitos adões, como o adão único pode ser um símbolo.
É preciso ler a obra complementar de Roustaing para podermos apreciar devidamente o episódio da gênese.
Então se compreenderá perfeitamente que não há ai contradição alguma.

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